A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS - SIGMUND FREUD (RESUMO)
O que se segue é um resumo de A Interpretação dos Sonhos (1899) de Sigmund Freud. O livro aborda os processos envolvidos na formação dos sonhos. A divisão do resumo segue a estrutura de capítulos dos livros. A primeira parte faz uma revisão da literatura sobre os sonhos, a segunda parte considera o método de interpretação dos sonhos, a terceira parte apresenta brevemente a teoria de que o sonho é uma realização de desejo, a quarta parte lida com a objeção de que existem sonhos desprazerosos que não parecem se enquadrar na teoria do sonho como realização de desejo, a quinta parte discute a questão do material e das fontes dos sonhos, a sexta parte trata de quatro operações que estão envolvidas na formação dos sonhos e a sétima e última parte traz uma discussão mais elaborada dos processos psicológicos que atuam na formação dos sonhos. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.
I. A LITERATURA CIENTÍFICA QUE TRATA DOS PROBLEMAS DOS SONHOS
A literatura científica já produziu diversos trabalhos a respeito dos problemas dos sonhos. Sabe-se que na Antiguidade clássica, os sonhos estavam relacionados com a crença na revelação de deuses e demônios. No entanto, com Aristóteles, o sonho já passa a ser objeto de um estudo psicológico, sendo o sonho entendido como uma atividade mental de quem está dormindo.
No segundo século depois de Cristo, encontramos uma classificação dos sonhos que foi adotada por Artemidoro de Daldis e depois por Macróbio, segundo a qual haveriam duas classes de sonho: (i) sonhos relacionados com o passado ou presente: abrangeriam os sonhos de saciação (insomnia) que reproduzem diretamente uma certa representação ou seu oposto, e pesadelos (jantsmata), que seriam os sonhos que emprestariam uma extensão fantástica à representação; (ii) sonhos relacionados com o futuro: abrangeria as profecias (oraculum), previsões (visio) e sonhos simbólicos (somnium).
No pensamento científico moderno, alguns tem defendido que nos sonhos nos vemos afastados do mundo da consciência de vigília enquanto outros entendem o sonho como um prolongamento da vigília. Há ainda quem defenda que os sonhos geralmente são influenciados por nossas paixões. Apesar dessa discussão, parece ser um fato estabelecido que todo material que compõe o conteúdo de um sonho é derivado da experiência. Uma das fontes de onde os sonhos retiram seu material é a experiência da infância. No entanto, sabe-se também que na maioria dos sonhos se encontram elementos derivados dos últimos dias antes de sua ocorrência. Outro fator interessante é que nos sonhos aparecem elementos considerados irrelevantes ou que passaram despercebidos no estado de vigília.
Há ainda uma teoria segundo a qual os sonhos são o resultado de uma perturbação do sono, a maioria dos estudiosos entendem que as causas que perturbam o sono, que seriam as fontes dos sonhos, poderiam ser de muitas espécies, incluindo tanto estímulos somáticos (internos e externos) quanto excitações mentais.
Sabemos também que por vezes esquecemos o que sonhamos após acordarmos, muitas vezes sabemos que sonhamos sem saber o que sonhamos. Um neurologista chamado Adolf Strümpell apresentou as seguintes causas para o esquecimento dos sonhos: (i) muitas imagens oníricas são esquecidas por serem fracas demais, enquanto outras imagens mais fortes, adjacentes a elas, são recordadas; (ii) tendemos facilmente a esquecer imagens oníricas únicas enquanto lembramos mais facilmente das que se repetem; (iii) faltam a muitos sonhos inteligibilidade e ordem o que dificulta que se possa recordá-los; (iv) as composições oníricas muitas vezes não estão relacionadas com imagens que nos chamam atenção na vigília; (v) após o despertar, o mundo dos sentidos exerce pressão e se apossa imediatamente da atenção com uma força à qual muito poucas imagens oníricas conseguem resistir; (vi) tendemos a esquecer nossos sonhos porque geralmente temos pouco interesse neles.
Os estudiosos retratam o processo da formação dos sonhos mais ou menos da seguinte maneira: os estímulos sensoriais gerados durante o sono despertam na mente diversas representações que aparecem sobre sob a forma de ilusões, essas representações vinculam-se por meio de associações e, também por associações, convocam uma outra série de representações. Todo esse material é então trabalhado, na medida do possível, pelas faculdades mentais de organização e pensamento que ainda restam. Tem sido observado que as associações que ligam as representações oníricas entre si são de natureza muito especial e diferem das que funcionam no pensamento da vigília, podendo até ter semelhança com o modo que as imagens se associam em certos distúrbios mentais.
Outra questão que tem sido observada em relação aos sonhos é o surgimento noturno de impulsos que são considerados imorais. Ao que aparece, durante a vigília os impulsos imorais têm um poder inibido, enquanto no sono essas inibições não teriam tanta força. Desse modo, nos sonhos se concretizam aqueles desejos moralmente condenáveis que durante a vigília não podemos concretizar.
Podemos dividir as teorias dos sonhos em três grupos: (i) as teorias segundo as quais a totalidade psíquica continua nos sonhos: a mente, de acordo com essas teorias, não dorme, e seu aparelho permanece intacto; (ii) as teorias que pressupõem que os sonhos implicam um rebaixamento da atividade psíquica: essas teorias defendem que um afrouxamento das conexões e um empobrecimento do material acessível; (iii) o as teorias que entendem que no sonho a psique está no livre emprego de suas forças, sem as limitações da vigília: essas teorias atribuem à mente no sonho uma capacidade de inclinação para desenvolver atividades psíquicas especiais de que, na vida de vigília, ela é total ou basicamente incapaz.
Outra questão discutida pela literatura científica é a relação entre os sonhos e os distúrbios mentais. Sobre essa relação podemos considerar três coisas: (i) as conexões etiológicas e clínicas: às vezes um sonho representa um estado psicótico, ou o introduz, ou é um remanescente dele; (ii) as modificações a que está sujeita a vida onírica nos casos de doença mental: fizeram-se poucas pesquisas sobre as modificações que ocorrem na vida onírica durante as psicoses crônicas, uma questão, no entanto, que foi observada é que na recuperação de doenças mentais, embora o funcionamento seja normal durante a vigília, a vida onírica ainda se acha sob influência da psicose e; (iii) as ligações intrínsecas entre os sonhos e as psicoses: os sonhos e psicoses são análogos, sendo afins, em ambos há uma suspensão da autoconsciência, uma modificação na percepção dos sentidos, associações de imagens e representações de forma própria e especial e, alterações de traços da personalidade.
II. MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
Os sonhos são passíveis de serem interpretados. O mundo leigo tem se servido de dois métodos essencialmente diferentes na tentativa de interpretar os sonhos: (i) interpretação simbólica dos sonhos: considera o conteúdo do sonho como um todo e busca substituí-lo por outro conteúdo que seja inteligível, análogo ao original; (ii) decifração dos sonhos: trata os sonhos como uma espécie de criptografia em que cada signo pode ser traduzido por outro signo de significado conhecido, de acordo com o código fixo.
A interpretação psicanalítica dos sonhos parte do princípio de que o que deve ser tomado como objeto de atenção não é o sonho como um todo, mas partes separadas de seu conteúdo. Assim, o método de interpretação dos sonhos se aproxima mais do método de decifração do que da interpretação simbólica, pois se considera os sonhos, desde o início, como tendo um caráter múltiplo, como sendo conglomerados de formações psíquicas.
III. O SONHO É A REALIZAÇÃO DE UM DESEJO
Um sonho pode representar um desejo como realizado. Os sonhos muitas vezes se revelam, sem qualquer disfarce, como realizações de desejos. Os sonhos que só podem ser compreendidos como realizações de desejos e que trazem seu sentido de maneira clara, sem nenhum disfarce, encontram-se sobre as mais frequentes e variadas condições.
IV. A DISTORÇÃO NOS SONHOS
Quando se afirma que todo sonho é uma realização de desejo, logo parece surgir uma objeção, pois muitos sonhos são desagradáveis ou tem conteúdos relacionados com o medo. No entanto, esta objeção pode ser respondida se considerarmos uma distinção entre os conteúdos manifestos e os conteúdos latentes dos sonhos. É verdade que o sonho como ele se mostra pode ter conteúdos que são aflitivos, no entanto, os conteúdos latentes, isto é, os conteúdos por traz da formação do sonho, é que representam a realização de um desejo.
Os conteúdos dos sonhos, relacionados a um desejo reprimido, precisam se disfarçar, distorcendo-se, para que possam passar pela censura psíquica. Assim, os sonhos recebem sua forma em cada ser humano mediante a ação de duas forças psíquicas, sendo que uma dessas forças constrói o desejo que é expresso pelo sonho, enquanto a outra exerce uma censura sobre esse desejo onírico, de modo a distorcê-lo. É por isso que os sonhos requerem ser decifrados, pois representam a realização de um desejo secreto latente que no conteúdo manifesto aparece sob disfarce.
V. O MATERIAL E AS FONTES DOS SONHOS
Sabemos que os sonhos mostram uma clara preferência pelas impressões dos dias imediatamente anteriores; que eles fazem sua escolha com base em diferentes princípios de nossa memória da vigília, já que não relembram o que é essencial e importante, mas o que é acessório e despercebido e; que os sonhos têm à sua disposição as impressões mais primitivas da nossa infância e até fazem surgir detalhes desse período de nossa vida que, mais uma vez, parecem-nos triviais e que, em nosso estado de vigília, acreditamos terem caído no esquecimento a muito tempo.
Existem alguns sonhos que são mais comuns, são os sonhos típicos, exemplos de sonhos típicos são: (i) sonhos embaraçosos de estar despido: são sonhos que revelam desejos exibicionistas; (ii) sonhos sobre a morte de pessoas queridas: são sonhos que revelam o desejo de que a pessoa em questão venha a morrer; (iii) sonhos de estar voando ou caindo: esses sonhos reproduzem impressões da infância que se relacionam com jogos que envolvem movimento e que podem dar lugar a sensações sexuais; (iv) sonhos com provas e exames: esses sonhos podem revelar medos infantis de ser castigado, o desejo de ser punido.
VI. O TRABALHO DO SONHO
O sonho é um quebra-cabeça pictográfico, resultando de conteúdos latentes que se disfarçam e se distorcem, tornando-se manifestos em formas disfarçadas e codificadas. Esse processo na formação do sonho envolve os seguintes trabalhos: (i) trabalho de condensação: uma grande quantidade de conteúdo latente é comprimida de modo a caber em um sonho curto; (ii) o trabalho de deslocamento: é o processo por meio do qual um conteúdo latente significativo é substituído por um conteúdo manifesto associado aparentemente irrelevante; (iii) simbolização: os sonhos se valem de simbolismos para a representação disfarçada de seus pensamentos latentes; (iv) dramatização: transformação dos pensamentos em situações, de modo que os conteúdos são representados em imagens sensoriais e de modo que a estrutura do sonho possua uma fachada racional e inteligível.
VII. A PSICOLOGIA DOS PROCESSOS ONÍRICOS
Quando consideramos os sonhos, já vimos que nos esquecemos de muitas coisas que sonhamos. Podemos entender agora que a censura psíquica desempenha um importante papel nesse esquecimento. O estado de sono possibilita a formação de sonhos porque reduz o poder da censura psíquica. No entanto, o esquecimento do sonho surge no sentido de atender aos propósitos da resistência.
Conseguimos compreender até aqui que os sonhos são atos psíquicos tão importantes quanto quaisquer outros; sua força propulsora é, na totalidade dos casos, um desejo que busca realizar-se; o fato de não serem reconhecíveis como desejos, bem como suas múltiplas peculiaridades e absurdos, devem-se à influência da censura psíquica a que foram submetidos durante o processo de sua formação; à parte a necessidade de fugir a essa censura, outros fatores que contribuíram para sua formação foram a exigência de condensação de seu material psíquico, o trabalho de deslocamento, a simbolização e a dramatização.
O impulso para formação dos sonhos surge do inconsciente, os conteúdos do inconsciente se esforçam para avançar em direção ao pré-consciente e a partir daí alcançar a consciência. Nos sonhos, a excitação se move em direção retrocedente, ao invés de se propagar para a extremidade motora do aparelho psíquico, ela se movimenta no sensorial e, por fim, atinge o sistema perceptivo, esse movimento pode ser chamado de regressão. Assim, podemos entender a regressão como o processo em que uma representação é retransformada na imagem sensorial de que originariamente derivou. Na regressão, a trama dos pensamentos oníricos decompõe-se em sua matéria-prima.
Já consideramos que os sonhos são a realização de um desejo. Podemos agora pontuar que três são as possíveis fontes para os desejos que se realizam nos sonhos: (i) é possível que o desejo tenha sido despertado durante o dia e, por motivos externos, não tenha sido satisfeito; nesse caso, um desejo reconhecido do qual o sujeito não se ocupou fica pendente para a noite, trata-se de um desejo localizados no pré-consciente; (ii) é possível que o desejo tenha surgido durante o dia, mas tenha sido repudiado; nesse caso, o que fica pendente é um desejo de que a pessoa não se ocupou, mas que foi suprimido, trata-se de um desejo que tenha sido forçado a recuar do sistema pré-consciente para o inconsciente; (iii) o desejo pode não ter nenhuma ligação com a vida diurna e ser um daqueles desejos que só à noite emergem da parte suprimida da psique e se tornam ativos em nós, trata-se de um desejo incapaz de transpor o sistema inconsciente; (iv) pode tratar-se de um desejo atual que surge durante a noite.
Como já considerado, embora o sonho seja a realização de um desejo, esse desejo pode se distorcer de tão modo que o sonho tenha um conteúdo aflitivo. Quando o sonho recebe um material que é o oposto completo de uma realização de desejo, o sonho pode se comportar de dois modos: (i) o trabalho do sonho pode ter êxito em substituir todas as representações aflitivas por seus contrários e em suprimir os afetos desprazerosos ligados a elas, o resultado é um sonho puro de satisfação, uma “realização de desejo” palpável; (ii) as representações aflitivas, modificadas em maior ou menor grau, mas mesmo assim bem reconhecíveis, podem ganhar acesso ao conteúdo manifesto do sonho, esses sonhos de conteúdo aflitivo podem ser vivenciados com indiferença ou acompanhados pela totalidade do afeto aflitivo que seu conteúdo de representações parece justificar, ou podem até levar ao desenvolvimento de angústia e ao despertar.
Mesmo esses sonhos desprazerosos são uma realização de desejo. Um desejo inconsciente e recalcado, cuja realização o ego do sonhador não poderia deixar de vivenciar como aflitivo, aproveitou a oportunidade que lhe foi oferecida pela catexia persistente dos restos diurnos penosos da véspera; emprestou-lhes seu apoio e assim lhes facultou penetrarem num sonho. Os sonhos desprazerosos podem ser também “sonhos de punição”, nos quais se realiza o desejo do sonhador de ser punido por uma moção de desejo recalcada e proibida. A característica essencial dos sonhos de punição, é que, no caso deles, o desejo formador do sonho não é um desejo inconsciente derivado do recalcado, do sistema inconsciente, mas um desejo punitivo que reage contra este e pertence ao ego, embora seja, ao mesmo tempo, um desejo pré-consciente.
Durante toda a noite, o pré-consciente concentra-se no desejo de dormir. No sono, o desejo inconsciente se liga aos restos de energia da vigília e efetua uma transferência para eles, desperta então um desejo transferido para o material recente, ou um desejo recente, depois de suprimido, ganha vida nova ao receber um reforço do inconsciente. Este desejo procura ganhar acesso à consciência pela via normal tomada pelos processos de pensamento, através do pré-consciente. Entretanto, choca-se com a censura, que ainda está operando e a cuja influência então se submete. Nesse ponto, ele adota a distorção, seu avanço subsequente, porém, é detido pelo estado de sono em que se acha o pré-consciente. O processo onírico, consequentemente, entra num caminho regressivo, no curso de seu trajeto regressivo, o processo onírico adquire o atributo da representabilidade e busca ser notado pela consciência.
Quando o conteúdo do processo onírico se torna perceptivo, ele consegue atrair a atenção para si e é notado pela consciência. Uma vez que o sonho se tornou uma percepção, ele se acha em condições de excitar a consciência, através das qualidades que agora adquiriu. Uma parte da energia disponível no pré-consciente é dirigida para dar atenção ao que está causando excitação, o que dá a todo sono um efeito despertante.
A elaboração dos sonhos leva tempo, a primeira parte da elaboração onírica pode ter seu início até mesmo durante o dia, e às vezes mais que isto, a segunda parte dessa elaboração, que envolve as distorções pela censura, progride durante toda a noite. Assim, por traz de um sonho que manifestamente é curto, há um longo processo de elaboração operada pela atividade inconsciente da imaginação. Na elaboração onírica há duas formas de processos psíquicos: um deles produz pensamentos oníricos perfeitamente racionais, enquanto que o outro trata esses pensamentos de uma maneira que é desconcertante e irracional.
Para entender melhor a formação do sonho podemos falar de dois sistemas psíquicos em ação, um primeiro sistema na frente do aparelho que recebe os estímulos perceptivos e um segundo sistema por trás do primeiro, que transforma as excitações passageiras do primeiro sistema em traços permanentes. Assim, podemos falar de um processo primário, que consiste na atividade do primeiro sistema em se dirigir para garantir a livre descarga das quantidades de excitação e um processo secundário relacionado ao segundo sistema que, por meio das ocupações emanadas dele, obtém êxito na inibição e em transformar a ocupação numa ocupação quiescente.
O sistema psíquico evita lembranças de desprazer, como resultado do princípio de desprazer, o primeiro sistema se mostra incapaz de trazer algo desagradável para o contexto de seus pensamentos enquanto ocupa lembranças de tal forma que há uma inibição de sua descarga na direção do desenvolvimento de desprazer. Desse modo, a ocupação do segundo sistema implica em uma inibição simultânea da descarga de excitação. O fato de que o segundo sistema só pode ocupar uma representação se encontrar-se em posição de inibir o desenvolvimento de desprazer que pode provir dele revela a operação do recalque.
O recalque consiste numa transformação de afeto, a realização dos desejos que não podem ser inibidos ao invés de gerar um afeto de prazer, produz desprazer. Quando o recalque é bem-sucedido, há uma retirada de forças de ocupação do pré-consciente, no entanto, quando o recalque falha, o desejo inconsciente recalcado recebe um reforço orgânico forçando seu caminho em direção ao pré-consciente. A partir de então, os pensamentos inconscientes recalcados tornam-se sujeitos ao processo primário, visando a descarga.
Ao considerar esses processos, é importante compreender que a realidade psíquica é uma forma especial de existência que não deve ser confundida com a realidade material. O inconsciente é a base geral da vida psíquica. O inconsciente é a esfera mais ampla, que inclui em si a esfera menor do consciente. Tudo o que é consciente tem um estágio preliminar inconsciente, ao passo que aquilo que é inconsciente pode permanecer nesse estágio e, não obstante, reclamar que lhe seja atribuído o valor pleno de um processo psíquico. O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica; em sua natureza mais íntima, ele nos é tão desconhecido quanto a realidade do mundo externo, e é tão incompletamente apresentado pelos dados da consciência quanto o é o mundo externo pelas comunicações de nossos órgãos sensoriais.
Comentários