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AMOR LÍQUIDO - ZYGMUNT BAUMAN (RESUMO)



O que se segue é um resumo do livro Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman. Neste livro, Baumann considera como as relações humanas se tornaram cada vez mais frágeis e flexíveis na sociedade contemporânea ou “pós-moderna”, que ele designa como modernidade líquida. O resumo, como o livro, se divide em quatro partes: (i) apaixonar-se e desapaixonar-se; (ii) dentro e fora da caixa de ferramentas da sociabilidade; (iii) sobre a dificuldade de amar o próximo e; (ivconvívio destruído. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 

I. APAIXONAR-SE E DESAPAIXONAR-SE 

amor realizado e a morte são muito semelhantes entre si. Nem no amor nem na morte pode-se penetrar duas vezes, cada chegada de um dos dois é sempre única, mas também definitiva: não suporta repetição. O amor e a morte não têm história própria. São eventos que ocorrem no tempo humano, eventos distintos, não conectados com eventos “similares”. Também não se pode aprender a amar, tal como não se pode aprender a morrer. 
Em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro. Amar significa abrir-se ao destino, abrir-se ao destino significa, em última instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que se incorpora no Outro, o companheiro no amor. Sem humildade e coragem não há amor. O amor é uma relação com a alteridade, com o mistério, o amor consiste na intransponível dualidade dos seres. 
No entanto, o amor possui uma fragilidade. Todo amor empenha-se em subjugar, mas quando triunfa encontra a derradeira derrota. Todo amor luta para enterrar as fontes de sua precariedade e incerteza, mas, se obtém êxito, logo começa a se enfraquecer e definhar. Eros (o amor) é possuído pelo fantasma de Tanatos (a morte). O amor pode ser, e frequentemente é, tão atemorizante quanto a morte. Assim, a tentação de apaixonar-se é grande e poderosa, mas também o é a atração de escapar. 
O amor é irmão do desejo, mas os dois são opostos. Desejo é vontade de consumir: absorver, devorar, ingerir, digerir, isto é, aniquilar. O desejo não precisa ser instigado por nada mais do que a presença da alteridade, é uma compulsão a preencher a lacuna que separa da alteridade. O amor, por outro lado, é a vontade de cuidar, e de preservar o objeto cuidado. No amor, o eu é transplantado para o mundo. O eu que ama se expande doando-se ao objeto amado. Se o desejo quer consumir, o amor quer possuir. Enquanto a realização do desejo coincide com a aniquilação de seu objeto, o amor cresce com a aquisição deste e se realiza na sua durabilidade. 
No entanto, tal como o desejo, o amor é uma ameaça ao seu objeto. O desejo destrói seu objeto, destruindo a si mesmo nesse processo; a rede protetora carinhosamente tecida pelo amor em torno de seu objeto, por outro lado, escraviza esse objeto. O amor aprisiona na busca de proteger seu objeto. O caráter aprisionante da possessividade amorosa pode se manifestar em algumas perversões, duas delas são: (i) tentar agradar um ao outro enquanto se continua fugindo do problema: consiste em amar o outro permitindo que ele continue sendo como ele é, sem contradizer o outro mesmo quando ele age mal; (ii) tentar mudar o outro: consiste em buscar fazer o outro ser como achamos que ele deveria ser. 
Em relação ao amor, é importante falar também da afinidade. "Afinidade" é parentesco qualificad. A escolha é o fator qualificante: ela transforma o parentesco em afinidade. A menos que a escolha seja reafirmada diariamente e novas ações continuem a ser empreendidas para confirmá-la, a afinidade vai definhando, murchando e se deteriorando até se desintegrar. A afinidade é uma ponte que conduz ao abrigo seguro do parentesco. 

II. DENTRO E FORA DA CAIXA DE FERRAMENTAS DA SOCIABILIDADE 

encontro dos sexos é o terreno em que natureza e cultura se deparam um com o outro pela primeira vez. É, além disso, o ponto de partida, a origem de toda cultura. O sexo foi o primeiro ingrediente de que o Homo sapiens foi naturalmente dotado sobre o qual foram talhadas distinções artificiais, convencionais e arbitrárias: a atividade básica de toda cultura, em particular, o ato fundador da cultura, o tabu do incesto. 
Das muitas tendências, inclinações e propensões "naturais" dos seres humanos, o desejo sexual foi e continua sendo a mais óbvia, indubitável e incontestavelmente social. Ele se estende na direção de outro ser humano, exige sua presença e se esforça para transformá-la em união. Ele anseia por convívio. A arte erótica, criação eminentemente cultural, guiou a partir de então o impulso sexual na direção de sua satisfação no convívio humano. 
A arte erótica consiste em que o que o prazer é levado em consideração em relação a si mesmo. Nossa cultura ocidental, no entanto, não produziu uma arte erótica, mas uma ciência sexual, um discurso científico sobre o sexo. Atualmente a medicina compete com o sexo pela responsabilidade da "reprodução". Houve uma época em que os filhos eram produtores, devendo somar-se à força de trabalho da família. Atualmente, no entanto, os filhos se tornaram objeto de consumo emocional. 
O que caracteriza o consumismo não é acumular bens, mas usá-los e descartá-los em seguida a fim de abrir espaço para outros bens e usos. As relações humanas são, assim, configuradas pelos princípios do consumismo, caracterizado mais pelo uso e pelo descarte de bens do que propriamente por seu acúmulo. A vida consumista favorece a leveza e a velocidade. A prática sexual, por sua, se conformou a esse modo de vida, sendo marcado pela rotatividade.  
No âmbito das teorias de gênero, tanto sexo quanto gênero são entendidos como inteiramente determinados pela cultura. Nessas teorias, o essencial é a concepção da identidade sexual como algo fluido, flexível e alterável, sendo marcada por uma incompletude e ausência de finalidade. O efeito disso é manter o ser humano em perpétuo movimento, empurrado à frente ("esse tipo de sexualidade não conseguiu produzir a experiência culminante que me disseram que traria") e puxado para trás ("outros tipos que vi e ouvi estão ao meu alcance"). 
No início da modernidade, a ciência sexual buscou diferenciar a sexualidade normal da perversão. Na modernidade líquida, por outro lado, os poderes constituídos não mais parecem interessados em traçar a fronteira entre o “sexo correto" e o "perverso”. Com exceção da pedofilia, nenhuma atividade sexual é mais considerada perversão e a repressão sexual e necessidade de sublimação dos instintos sexuais foi superada. 
Na modernidade líquida, o que importa é a quantidade mais do que a qualidade das relações, as conexões tendem a ser demasiadamente breves e banais para poderem condensar-se em laços, como se evidencia pela fragilidade das relações virtuais. O desvanecimento das habilidades de sociabilidade é reforçado e acelerado pela tendência, inspirada no estilo de vida consumista dominante, a tratar os outros seres humanos como objetos de consumo e a julgá-los, segundo o padrão desses objetos, pelo volume de prazer que provavelmente oferecem e em termos de seu "valor monetário".  

III. SOBRE A DIFICULDADE DE AMAR O PRÓXIMO 

“Amar o próximo como a si mesmo" é um dos preceitos fundamentais da vida civilizada. É também o que mais contraria o tipo de razão que a civilização promove: a razão do interesse próprio e da busca da felicidade. Aceitar o preceito do amor ao próximo é o ato de origem da humanidade. Também é a passagem decisiva do instinto de sobrevivência para a moralidade. "Amar o próximo como a si mesmo" coloca o amor-próprio como um dado indiscutível, como algo que sempre esteve ali. O amor-próprio é uma questão de sobrevivência, e a sobrevivência não precisa de mandamentos, mas amar o próximo como se ama a si mesmo torna a sobrevivência humana diferente daquela de qualquer outra criatura viva. 
O que amamos em nosso amor-próprio é o estado, ou a esperança, de sermos amados. De sermos objetos dignos do amor. Para termos amor-próprio, precisamos ser amados. A recusa do amor, a negação do status de objeto digno do amor, alimenta a autoaversão. O amor-próprio é construído a partir do amor que nos é oferecido por outros. A exortação a "amar o próximo como a si mesmo" evoca o desejo do próximo de ter reconhecida, admitida e confirmada a sua dignidade de portar um valor singular, insubstituível e não-descartável.  
Amar o próximo como amamos a nós mesmos significaria então respeitar a singularidade de cada um: o valor de nossas diferenças, que enriquecem o mundo que habitamos em conjunto e assim o tornam um lugar mais fascinante e agradável. Amar o próximo como amamos a nós mesmos significaria então respeitar a singularidade de cada um: o valor de nossas diferenças, que enriquecem o mundo que habitamos em conjunto e assim o tornam um lugar mais fascinante e agradável. 

IV. CONVÍVIO DESTRUÍDO 

Um espectro paira sobre o planeta: o espectro da xenofobia. Suspeitas e animosidades tribais, antigas e novas, jamais extintas e recentemente descongeladas, misturaram-se e fundiram-se a uma nova preocupação, a da segurança, destilada das incertezas e intranquilidades da existência líquido-moderna. A xenofobia manifesta na crise global relacionada aos refugiados, podemos entender essa crise em analogia ao problema da produção de lixo humano. 
A modernidade produziu desde o início, e continua a produzir, enormes quantidades de lixo humano e isso especialmente em dois ramos da indústria moderna(i) o da produção e reprodução da ordem social: todo modelo de ordem é seletivo e exige que se cortem as partes da matéria-prima humana que sejam inadequadas para a nova ordem; (ii) o do progresso econômico: que exige a incapacitação, o desmantelamento e a aniquilação final de certo número de formas e meios de os seres humanos ganharem a vida. 
Devido à grande produção de lixo humano, vivemos uma crise na indústria de tratamento de lixo. Juntamente com o produto pretendido, toda fábrica gera lixo. A fábrica da moderna soberania de base territorial não foi exceção. O progressivo preenchimento do mundo, e assim, consequentemente, o impulso a admitir que a totalidade do planeta era de fato iminente, sofreu retaliação com o conjunto formado pelo território, nação e Estado. Esse conjunto apresenta-se como soberania no sentido de definir os limites da humanidade, de modo que, as vidas dos seres humanos que caíram ou foram jogados para fora desses limites não valem a pena. 
No entanto, a intensa produção de lixo fez surgir uma indústria de tratamento eficiente, por meio da reciclagem. Apesar das quantidades crescentes de detritos humanos acumulados pelo fervor e dedicação de incluir/excluir, desencadeados e consistentemente reforçados pelo princípio e pela prática do conjunto território/Estado/nação, puderam ser legitimamente desprezados como uma irritação transitória, em vez de serem vistos e tratados como presságios de uma catástrofe iminente. 
Há, no entanto, salpicadas em toda parte do mundo, "guarnições de extraterritorialidade", aterros sanitários para o lixo não-despejado e ainda não-reciclado da terra de fronteira global.  O conjunto território/Estado/nação também produziu seu lixo, as sobras da globalização, os marginais do processo de globalização: os refugiados, os migrantes voluntários e involuntários. Os refugiados se veem sob fogo cruzado, mais exatamente, numa encruzilhada. Eles são expulsos à força ou afugentados de seus países nativos, mas sua entrada é recusada em todos os outros. 
Os refugiados se tornaram, à imagem caricatural da nova elite do poder no mundo globalizado, a epítome daquela extraterritorialidade em que se fincam as raízes da atual precariedade da condição humana, que tem lugar de destaque entre os temores e ansiedades de nossos dias. Esses temores e ansiedades, procurando em vão por outros escoadouros, despejaram-se sobre o ressentimento e o medo que os refugiados provocam. Não podem ser desativados nem dispersos num confronto direto com a outra encarnação da extraterritorialidade, a elite global flutuando além do alcance do controle humano, poderosa demais para que se possa enfrentá-la. Os refugiados, ao contrário, são um alvo fixo em que se descarregar o excesso de angústia. 
Os refugos do processo de globalização acabam terminando em campos de refugiados. Ficam presos nos campos de refugiados sob um estatuto de não-direitos. Não são ninguém. Tendo abandonado, voluntariamente ou à força, seu ambiente antigo e familiar, os refugiados tendem a ser despidos das identidades definidas, sustentadas e reproduzidas por aquele meio. 

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Bruno dos Santos Queiroz

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