AVALIAÇÃO CRÍTICA DO PRESSUPOSICIONALISMO


O objetivo deste texto é fazer uma avaliação crítica da abordagem apologética reformada conhecida como pressuposicionalismo. Como existem formas diversas de pressuposicionalismo, será feita uma apresentação breve dessas diferentes abordagens, considerando criticamente seus problemas. 

I. A APOLOGÉTICA PRESSUPOSICIONALISTA 

pressuposicionalismo é uma abordagem apologética alternativa ao evidencialismo. O evidencialismo consiste em buscar provar a existência de Deus a partir da natureza no sentido do mundo sensível ou a partir das leis naturais da razão. 
No entanto, Immanuel Kant, na Crítica da Razão Pura, mostrou que os argumentos evidencialistas são insuficientes para provar a existência de Deus. Na Dialética Transcendental: Ideal da Razão Pura,  Kant agrupa os argumentos racionais para a existência de Deus em três grupos, mostrando a insuficiência de cada um: (i) as provas ontológicas: que sustentam que sendo Deus perfeito ele deve necessariamente existir, porque a existência seria uma perfeição, argumentos desse tipo se mostram falhos devido à suposição equivocada de que a existência seria uma perfeição, pois existir não é um predicado real, mas a posição de uma coisa; (ii) as provas cosmológicas: que sustentam que dado a contingência do mundo ele requer uma Causa necessária para existir, o erro desses argumentos está em ignorar que o princípio da causalidade só possui validade de aplicação no mundo sensível; (iii) as provas físico-teológicas: que entendem que a ordem do mundo requer a existência de uma Inteligência criadora, argumentos que ignoram que nenhuma experiência com o mundo poderia fornecer material suficiente para formar uma ideia tão elevada quanto a ideia de Deus. 
Ciente da insuficiência da apologética evidencialista, o pressuposicionalismo se propõe a reivindicar a existência de Deus e a verdade do Cristianismo de outro modo. Ele faz isso recorrendo especialmente a dois argumentos:  
(i) argumento reductio ad absurdumpretende mostrar que compreensões de mundo não-cristãs são incoerentes e autocontraditórias, pois tais compreensões acabariam caindo no irracionalismo e no relativismo;   
(ii) argumento coerentista: pretende mostrar que a visão de mundo cristã se constitui como um sistema de crenças coerente em si mesmo, cujos pressupostos e conclusões estão em harmonia e que isso é uma prova que justifica o sistema inteiro.  
Dado a essa perspectiva de coerência de um sistema de crença ou visão de mundo, o pressuposicionalismo não pretende simplesmente dizer que a existência de Deus é evidente, ele pretende mais do que isso, pretende dizer que ou aceitamos o sistema inteiro de crenças, isto é, toda a cosmovisão cristã, ou estaremos condenados ao irracionalismo e ao relativismo. Significa, basicamente, que ou você abraça toda a religião cristã, ou a própria possibilidade do conhecimento estrará perdida. Entendido de maneira geral a apologética pressuposicional, consideremos agora as diferentes abordagens pressuposicionalistas a partir de uma apresentação breve e de uma avaliação crítica: 

II. PRESSUPOSICIONALISMO ESCRITURALISTA 

            De acordo com o pressuposicionalismo escrituralista, somente a visão de mundo cristã pode fornecer um sistema de crenças abrangente, lógico e coerente e todo esse sistema precisa ter como base somente a Bíblia lida de forma fundamentalista. Esse tipo de pressuposicionalismo é defendido por pensadores como Gordon ClarckGary Crampton e Vincent Cheung. 
escrituralismo de Gordon Clarck se baseia em quatro pressupostos: (i) pressuposto epistemológico: a verdade está revelada de maneira proposicional na Bíblia, que é a nossa única fonte de conhecimento seguro; (ii) pressuposto metafísico: a realidade está configurada em conformidade com as leis universais da lógica e o próprio Deus pensa e age somente de acordo com essas leis; (iii) pressuposto ético: a distinção entre certo e errado é estabelecida pelos mandamentos de Deus (teoria do comando divino); (iv) pressuposto político: as leis do Estado devem se basear na Bíblia, não numa lei natural ou no consentimento democrático. 
O problema dessa abordagem é que ela constitui uma forma extremada de biblicismo. Chega-se até mesmo a descartar qualquer verdade que não seja extraída exegeticamente das Escrituras, o que inclui até mesmo lançar fora todo conhecimento secular ou mesmo científico como falacioso. Vincent Cheung diz até que o cristão não deve confiar no conhecimento que advém dos sentidos, pois todo conhecimento verdadeiro vem de proposições das Escrituras que são comunicadas de forma imaterial à mente do leitor. A Bíblia passa a ter que ser requisitada para tudo, para justificar qualquer conhecimento, mesmo no campo das teorias científicas, éticas ou políticas. Eu já disse em um outro texto: 

“Os biblicitas têm a ideia errada de que a Bíblia lida de maneira literalista fornece um sistema fechado, completo e absoluto que foi legado aos tempos futuros como conteúdos doutrinais dogmáticos, que estabelecido este sistema ter-se-ia resolvido de uma vez por todas o essencial para as gerações vindouras. Só se consegue superar esta abordagem quando não se fica repetindo simplesmente o que foi dito, ou seja, quando não se apela simplesmente de maneira dogmática para um credo anterior. A dogmática cristã só nos remete ao essencial se ela mesma é levada a se atualizar por meio do vivo processo de evolução histórica.” 

III. PRESSUPOSICIONALISMO DO PARADOXO 

Enquanto o pressuposcionalismo escrituralista defende que até Deus pensa e age de acordo com as leis da lógica, o pressuposicionalismo do paradoxo entende que a lógica está sujeita a Deus e que as verdades cristãs têm elementos paradoxais. Essa abordagem já encontra suas sementes em G. K. Chesterton. Em Ortodoxia no capítulo Paradoxos do Cristianismo, Chesterton argumenta que a ortodoxia consiste exatamente em aceitar duas verdades que parecem irreconciliáveis, enquanto optar somente por uma delas conduz à heresia. Por exemplo, a teologia requer que acreditemos tanto que Jesus é plenamente humano quanto que ele é plenamente divino, dizer que ele é apenas humano é arianismo, dizer que ele é apenas divino seria docetismo, a ortodoxia estaria em aceitar as duas verdades antagônicas. 
No entanto, o pressuposicionalismo do paradoxo foi proposto no campo reformado por Cornelius Van Til. A partir do livro Apologética Cristã de Cornelius Van Til, podemos resumir sua abordagem em cinco pontos: (i) coerentismo: as crenças cristãs formam um sistema integrado em que as partes estão relacionadas entre si; (ii) biblicismo: não há nada no universo sobre o que os seres humanos possam ter informação verdadeira a menos que se recorra à Bíblia; (iii) dualidade metafísica: o ser de Deus e o ser do Universo são de tipos diferentes; (iv) epistemologia derivada: Deus tem conhecimento autocontido e o ser humano tem conhecimento derivado; (v) ética do comando divino: a vontade de Deus é o poder final e exclusivamente determinante do certo e errado. 
É importante notar que a teoria ética do comando divino, isto é, de que é Deus quem por Sua vontade determina o certo e errado, ela mesma é que acaba por cair no perigo do relativismo e do subjetivismo, dado que se é Deus quem determina o certo e errado como ele quer, então o certo e errado não são objetivos. Isso é curioso porque o relativismo ou subjetivismo ético é autocontraditório, portanto incoerente. Se temos uma incoerência na ética reformada, então, o sistema de crenças ou cosmovisão em questão não se sustenta. 
Mas podemos aqui criticar o próprio coerentismo. O coerentismo consiste em entender que uma visão de mundo se torna verdadeira se as conclusões resultantes de seus pressupostos constituem com eles um todo coerente. Immanuel Kant já estava ciente do erro do coerentismo, ele escreveu na Crítica da Razão Pura:  

''Porque ainda que um conhecimento concorde completamente com a forma lógica (quer dizer, que não esteja em contradição consigo mesmo), pode muito bem suceder que contradiga ao objeto. O critério simplesmente lógico da verdade, a saber: a concordância de um conhecimento com as leis universais e formais do entendimento e da razão, será pois a condição 'sine qua non', quer dizer, negativa, de toda verdade; mais longe não pode ir a Lógica, faltando-lhe uma pedra de toque, pela qual possa descobrir o erro, que alcance ao conteúdo e não à forma.''  

coerentismo encontra sua ilustração na imagem do Barão de Münchhausen, que tenta salvar-se da areia movediça puxando o próprio rabixo, isto é, a justificação epistêmica do pressuposicionalismo é buscada num recurso de legitimação circular. 

IV. PRESSUPOSICIONALISMO EXISTENCIAL 

Esta abordagem existencial tem suas raízes em duas figuras:  Søren Kierkegaard Blaise Pascal. Em Conceito da AngústiaKierkegaard defende que a verdade é a subjetividade, na medida em que deve ser colocada pelo próprio sujeito. O ser humano depara-se com a verdade da própria subjetividade quando é levado a encontrar um sentido para sua existência diante da angústia ou desespero. Só a fé é capaz de dar um sentido à existência e é a fé que possibilita a ação formadora da angústia, pois a angústia coloca o ser humano diante de suas possibilidades existenciais. Em O Desespero Humano, Kierkegaard diz que o desespero, sem a fé, pode levar à negação do Cristianismo. Basicamente, o argumento é que sem a fé no Cristianismo, a vida não tem sentido e o que resta é a angústia e o desespero. 
Blaise Pascal entende que a fé é uma dadiva divina e não algo que surge de uma avaliação de evidências e provas racionais. Em Pensamentos, Pascal também adota a compreensão das verdades do Cristianismo como sendo marcadas pelo paradoxo. Ele é conhecido, ainda, por ter proposto o chamado argumento da aposta: “O homem nada tem a perder apostando na existência de Deus. Se o homem crer em Deus e estiver certo, ele terá um ganho infinito, caso esteja errado isso terá um custo insignificante. Assim, acreditar em Deus é mais vantajoso do que negar sua existência.” 
Kierkegaard e Pascal não são propriamente pressuposicionalistas e ambos têm ideias geniais, no entanto, suas ideias influenciaram Francis Schaeffer para quem, sem a cosmovisão cristã, a vida seria absurda e sem sentido.  Schaeffer entende que o pensamento ocidental cruzou o que ele chama de “linha do desespero”, isto é, na modernidade o modo de pensar do ocidente ganhou uma nova configuração em que a racionalidade foi superada em nome do irracionalismo, do existencialismo ateu e do misticismo. Ele também chama essa mudança de “morte da razão”, que significa também o fim da compreensão de que a vida tenha um sentido. 
O argumento existencial, portanto, é o de que Deus deve existir, pois caso contrário estaríamos condenados ao sofrimento de uma vida sem sentido. Sigmund Freud, no entanto, analisou esse tipo de argumento e observou que a ideia de um sentido para a vida só pode ser colocada sobre um sentimento de pura soberba. Aliás, se a vida não tiver finalidade e se simplesmente ela não surgiu com uma, não altera em nada dizer que ela não tem sentido porque simplesmente ela não "deveria" ter.  
Alguns insistem que esse tipo de constatação é por demais pessimista. Mas eu diria justamente que o que se tem é o contrário: o fato da vida não ter sentido é positivo, alguns chamam isso de "niilismo otimista". Os religiosos dizem que Deus determinou a finalidade da nossa vida, mas o niilismo otimista nos diz que nenhuma finalidade nos foi imposta de fora e é justamente isso o que permite que eu mesmo possa dar um sentido para minha vida. 
Freud pontua que a ideia de que a vida precisa ter um sentido parte de um sentimento de orgulho do ser humano em se achar especial, ninguém fala, por exemplo, sobre o sentido da vida dos animais e quando se fala algo, como que a finalidade dos animais é nos servir, novamente se faz uma afirmação baseada na soberba humana. Freud conclui, então, que "a ideia de uma finalidade na vida existe em função do sistema religioso" (Mal-estar na Civilização) e o sistema religioso, para Freud, nada mais é que um paliativo para tornar a existência neste mundo suportável. 

V. PRESSUPOSICIONALISMO DAS ESFERAS 

          A abordagem das esferas foi proposta por Herman Dooyeweerd e Abraham Kuyper. A partir da obra No Crepúsculo do pensamento de Dooyeweerd, podemos resumir sua visão nos seguintes pontos: (i) pensamento teonônico: o pensamento filosófico não deve ser autônomo, mas biblicamente orientado; (ii) dependência do ego: o ego humano central não é nada em si mesmo, antes tem sua origem em Deus; (iiianti-idolatria: quando o ego humano busca explicar sua origem em modalidades temporais, ele constrói ídolos; (iv) senso divino: o ego humano tem um impulso religioso natural; (v) biblicismo: a Bíblia deve ser o único ponto de partida para a filosofia cristã; (vi) esquema tripartídico: a força motriz espiritual central de todo pensamento cristão é o esquema criação, queda e redenção; (vii) pontos dialéticos de tensão: há uma tensão entre fé e cultura, entre o pensamento cristão e as filosofias não-cristãs; (viii) sentido histórico: a cultura e a história só passam a ter sentido por que Cristo se tornou o centro da história e porque o Reino de Deus é o fim da História. 
ego humano tem, para Dooyeweerd, sua origem em Deus e essa origem seria demonstrada pelo fato de que o ser humano possui um impulso religioso natural. No entanto, Sigmund Freud, em Esboço de Psicanálise, ao analisar a origem do ego e do sentimento religioso, chegou a conclusões diferentes. Freud observa que a mais antiga instância humana é o Id, constituído por nossas pulsões inatas. É sob a influência do mundo externo, que uma camada do Id se modifica dando origem ao Ego, que passa a ser o mediador entre o Id e o mundo exterior. 
Se o ego tem uma origem psicológica e não uma origem supratemporal absoluta em Deus, qual é a origem do sentimento religioso do ego? João Calvino dizia que esse sentimento é natural e o chamou, nas Institutas, de sensus divinitatisFreud, no entanto, em Mal-estar na Civilização, observa que o ego primitivo possui a percepção de constituir uma totalidade indiferenciada com o mundo, o bebê não separa o seu ego do mundo externo, no início o ego abarca tudo, sendo todo abrangente. É dessa fase primitiva que viria o que Freud chama de “sentimento oceânico”, que consiste no sentimento de unidade cósmica com o divino. Logo, o sentimento religioso do ego, que Dooyeweerd identifica, tem, para Freud, origem nesse estado primitivo do desenvolvimento psicológico. 
No entanto, é preciso reconhecer aqui que o pressuposicionalismo dooyeweerdiano-kuyperiano tem algumas vantagens e uma delas é a distinção da esfera política em relação à esfera religiosa. Enquanto boa parte dos pressuposcionalistas defenderam uma espécie de Estado teocrático (teonomista), a abordagem das esferas apresenta-se muito mais favorável ao Estado democrático de direito. Abraham Kuyper escreveu em Calvinismo: 

"Vocês não podem privar da liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa àquele cuja consciência difere da sua, mais ainda, vocês não podem nem mesmo pensar nisto. É inevitável que eles, a partir de seu ponto de vista, derrubem tudo quanto em sua opinião é santo. Em vez de buscar auxilio para sua consciência científica em queixas deprimidas, ou em sentimentos místicos, ou em trabalho não confessional, a energia e o cuidado de nossos antagonistas deve ser sentida por todo erudito cristão como um claro incentivo a si mesmo para também voltar-se para seus próprios princípios em sua reflexão, para renovar toda investigação científica sobre as linhas desses princípios e para saturar a imprensa com a carga de seus estudos convincentes." 

O problema é que, como todos os demais pressuposicionalismos, a abordagem da esfera mantém a ideia de que todos os aspectos do conhecimento e campos da existência devem se submeter à “cosmovisão cristã” entendida como sinônimo de “Calvinismo”.  Em Calvinismo, Abraham Kuyper escreveu: 

"O Calvinismo 'não se deteve' numa ordem eclesiástica, porém expandiu-se em um 'sistema de vida'. E não esgotou sua energia numa construção dogmática, mas criou uma 'vida' e uma cosmovisão tal, que foi e ainda é capaz de ajustar-se às necessidades de cada estágio do desenvolvimento humano, em cada um de seus departamentos. Ele elevou nossa Religião Cristã ao seu mais alto esplendor espiritual; criou uma ordem eclesiástica que tornou-se a pré-formação da confederação de estados; provou ser o anjo da guarda da ciência; emancipou a arte; divulgou um esquema político que deu a luz o governo constitucional tanto na Europa como na América; encorajou a agricultura e a indústria, o comércio e a navegação; colocou uma marca completamente cristã sobre a vida da família e sobre os laços familiares; através de seu alto padrão moral promoveu pureza em nossos círculos sociais; e para produzir este multiforme efeito colocou sob a Igreja e o Estado, sob a sociedade e a vida da família uma concepção filosófica fundamental estritamente derivada de seu princípio dominante, e portanto, completamente própria."  

No entanto, essa compreensão do Cristianismo como uma cosmovisão ao invés de uma religião é um equívoco, vindo de uma assimilação distorcida da noção de cosmovisão desenvolvida por Wilhelm Dilthey e pela Fenomenologia. Em Teoria das Cosmovisões, Dilthey apresenta as cosmovisões como formas de lidar com as contradições da vida, ele distingue as cosmovisões religiosas, baseadas naquilo que não pode ser alcançado pelo conhecimento, mas somente pela fé, das cosmovisões metafísicas (ou filosóficas), que buscam um saber de validade universal, como o naturalismo e o idealismo. O problema é que ao invés de entender o Cristianismo como uma cosmovisão religiosa, os pressuposicionalistas o interpretam como uma cosmovisão metafísica. 
Martin Heidegger, na segunda parte de sua Introdução à Filosofia intitulada Filosofia e Cosmovisão, não pensa a cosmovisão como um sistema de crenças totalizantes, mas como uma modalidade do ser-aí ou Dasein, que é o modo de ser especificamente humano. Para Heidegger, o ser-aí não tem cosmovisão, ele é cosmovisão. 
Podemos entender assim que o Cristianismo não é uma Cosmovisão, no sentido de propor uma visão de mundo. O Cristianismo não constrói uma visão de mundo com os resultados dos estudos teológicos, com a formulação de uma totalidade que oriente todos os aspectos da vida prática, nem com as exigências políticas de seu tempo com o propósito de dar ao indivíduo uma concepção inteira de mundo. Uma tal produção de uma Cosmovisão não é apenas artificial, secundária e ineficaz, mas uma ilusão fundamental a respeito do caráter do próprio conhecimento, uma ilusão de que podemos ter um esquema de compreensão da realidade completo, absoluto, coerente e abrangente quando a verdade é que não podemos ter tamanha pretensão. O Cristianismo não se trata de pintar quadros do mundo, desenhas imagens da realidade ou gerar sistemas totalizantes de compreensão, mas de conquistar a história universal por meio da redenção da própria história. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Um último problema que podemos apresentar em relação ao pressuposicionalismo é que ele acaba por estabelecer uma certa independência do sistema de crenças em relação à realidade, uma crença não é verdadeira porque ela faz-ver a realidade tal qual ela se mostra em si mesma, mas sim porque ela se encontra dentro de uma configuração autocoerente de significações. Isso abre caminho para aquilo que é característico da ideologia religiosa: a substituição da realidade concreta por um mundo de idealidades construído a partir de um processo de sedimentação de ideias.  
É por isso que Karl Marx, em A Ideologia Alemã, vai propor que a verdade precisa ser concreta, tem de estar alicerçada, não em pressupostos ideológicos e dogmáticos, mas em pressupostos reais. Ele diz: "Nós partimos da observação empírica e concebemos as ideias como produtos de sujeitos reais e concretos. Entendemos que a produção de ideias, de representações e da consciência, está entrelaçada com a atividade material e a vida real dos humanos, partimos de pessoas reais, de carne e osso, em suas condições reais de vida. Os pressupostos de nossa crítica são os indivíduos reais, em suas condições materiais de vida." 


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