TEXTOS BÍBLICOS ABSURDOS
O objetivo deste artigo é apresentar alguns textos bíblicos absurdos para que a gente possa entender que não podemos adotar a Bíblia como uma regra absoluta de fé e prática. A teologia tradicional, especialmente protestante, adota o que podemos chamar de “biblicismo”. Biblicismo é a crença de que a Bíblia Sagrada é a Palavra inerrante de Deus sobre a qual devemos pautar toda nossa vida. É verdade que a Bíblia pode, de alguma forma, revelar o divino e conter dados históricos, valores morais e conteúdos doutrinários importantes. No entanto, uma consideração de alguns dos textos absurdos da Bíblia será suficiente para considerar que não podemos tomar a Bíblia como sinônimo de “Palavra de Deus”. Veremos que muitas vezes a Bíblia está errada.
A BÍBLIA E O TERRAPLANISMO
O primeiro ponto a ser observado é que muitas crenças bíblicas se mostraram falsas diante das descobertas da ciência moderna. Um exemplo disso está no fato de que, em diversas passagens, a Bíblia ensina que a Terra é plana. De acordo com a Bíblia, o Céu é uma abóboda sólida circular, uma espécie de domo de metal na qual estão fixadas as estrelas. É essa abóboda circular que Gênesis 1, 6 ao 8 chama de “firmamento” ou que Isaías 40,22 denomina como “círculo da Terra”, sobre o qual se encontraria o trono de Deus. De acordo com Jó 37,18, a abóboda celeste ou domo é “dura como um espelho de bronze”.
Além disso, a Terra seria uma superfície plana limitada circularmente: “Marcou um limite circular sobre a superfície das águas, onde a luz e as trevas se confinam” (Jó 26,10) Seguindo o modelo geocêntrico, a Bíblia também ensina que o Sol gira em torno da Terra. O texto mais famoso em relação a isso evidentemente é Josué 10,12, que diz assim: “O sol parou, e a lua ficou imóvel até que o povo se vingou totalmente dos seus inimigos, derrotando-os. Ora, não está isto escrito no Livro de Jasar, dos Justos? O sol se aquietou no meio do céu e não se apressou a pôr-se no horizonte, quase um dia inteiro.” Essa terra plana estaria, de acordo com a Bíblia, sustentada sobre colunas: “Deus é quem sacode a terra do seu lugar, de modo que as suas colunas estremecem!” (Jó 9,6).
A BÍBLIA E A ESCRAVIDÃO
Outra evidência de que a Bíblia erra, está em seu apoio à escravidão. Sabemos que a escravidão é errada porque o ser humano é um fim em si mesmo, de modo que ele não pode ser tratado como propriedade. Isso não se aplica só à moderna escravidão cruel espanhola, mas a todo tipo de escravidão. Jean-Jacques Rousseau escreveu no Contrato Social: “A liberdade é um direito natural do homem de modo que a escravidão é sempre ilegítima.” Logo, o fato da Bíblia apoiar a escravidão revela que ela apoia práticas evidentemente imorais. Consideremos alguns dos textos bíblicos favoráveis à escravidão:
1. Deus mandou uma escrava fugitiva, voltar e se sujeitar obedientemente à sua dona: "Disse-lhe então o Anjo do Senhor: 'Volte à sua senhora e sujeite-se a ela'". - Gênesis 16,9;
2. Uma das formas de Deus abençoar uma pessoa no Antigo Testamento era enchendo-a de escravos: "O Senhor tem abençoado muito ao meu senhor, o qual se tem engrandecido; deu-lhe rebanhos e gado, prata e ouro, escravos e escravas, camelos e jumentos." - Gênesis 24,35;
3. Um senhor tinha direito de bater no seu escravo desde que isso não o matasse no mesmo dia: "Se alguém ferir a pauladas o seu escravo, e ele morrer na hora, o que bateu será castigado. Mas, se o escravo morrer só um ou dois dias depois, o dono não será castigado, porque ele é propriedade do seu senhor." - Êxodo 21,20 e 21;
4. Deus ordenou que os israelitas escravizassem povos conquistados: "Se os seus habitantes aceitarem, e abrirem suas portas, serão seus escravos e se sujeitarão a trabalhos forçados." - Deuteronômio 20,11;
5. Um escravo deve ser castigado fisicamente: "Meras palavras não bastam para corrigir o escravo; mesmo que entenda, não reagirá bem."- Provérbios 29,19
6. Um escravo deve ter submissão total ao seu dono: "Escravos, em tudo obedeçam àqueles que são seus donos aqui na terra." - Colossenses 3,22
A BÍBLIA E O MACHISMO
Outro dado que nos revela que a Bíblia erra são as diversas passagens que ensinam o dogma da inata inferioridade da mulher. De acordo com esse dogma, o clero, o ministério, o episcopado, o presbiterato ou o pastorado é uma atividade restrita ao homem; no contexto eclesiástico as mulheres devem ser vetadas ao silêncio "pois não lhes era permitido falar em público, nem ensinar" e em casa devem se manter submissas e obedientes aos seus maridos. E há também toda uma vigilância exclusiva à vestimenta feminina estabelecida no Novo Testamento (confira: 1 Timóteo 2, 9-10 e 1 Pedro 3,3-4).
Deus ordena na Bíblia que uma mulher vítima de estupro case-se com seu estuprador: "Se um homem se encontrar com uma moça sem compromisso de casamento e a violentar, e eles forem descobertos, ele terá que casar-se com a moça, pois a violentou. Jamais poderá divorciar-se dela." (Deuteronômio 22, 28-19). Em alguns casos, a vítima de estupro deveria ser punida, por exemplo, se a vítima não tivesse gritado, ela deveria ser apedrejada até a morte: "Então trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis, até que morram; a moça, porquanto não gritou" (Deuteronômio 22,24). No Novo Testamento, as mulheres são proibidas de falar ou ensinar nos cultos (1 Coríntios 14,34; 1 Timóteo 2, 11-15). Requer-se que as mulheres tratem seus maridos como "senhores", obedecendo-os à semelhança dos escravos e sendo submissas em tudo (1 Pedro 3, 1-6).
O teólogo George Knight no livro A Lei de Deus e a Mulher na Igreja escreveu: "[a Bíblia]...'exclui' qualquer possibilidade de ordenação de mulheres para o pastorado ou para o presbiterato. Ele não permite isso! Isso está claro no fato de que, se afirmamos, baseados na Bíblia, que a mulher não pode exercer a 'autoridade de ensinar as Escrituras' na Igreja, isso consequentemente a proíbe de ser uma 'pastora', porque ela não pode exercer uma autoridade que é própria do homem... Concluímos também, obviamente, que a mulher não pode ser eleita 'presbítera' ou 'diaconisa' "
Ele ainda observa que, de acordo com a Bíblia, uma mulher deve permanecer calada no culto: "A mulher pode ser convidada a ir à frente para conduzir toda a congregação a Deus em oração?' Temos de lembrar que Paulo proíbe não só o ensinar, mas como o exercer autoridade. Quando alguém lê as Escrituras, como o pastor, por exemplo, nós temos uma pessoa que é uma autoridade sobre nós. O mesmo se deduz em relação à oração pública. Quando alguém nos conduz em oração, esta pessoa também está exercendo autoridade. Então, de acordo com a Palavra, o ler as Escrituras ou orar sobre a congregação, isso significa autoridade e, como tal, não é permitido à mulher."
O teólogo Vincent Cheung observou que ser a mulher submissa ao marido requer que ela seja obediente a ele em tudo. Ele escreveu em sua Teologia Sistemática: “Ao invés de supor que a sujeição não inclui obediência, deveríamos permitir que o ensino bíblico com respeito à autoridade absoluta de Cristo sobre os crentes e a igreja ditassem o significado da submissão. E visto que os crentes e a igreja devem obedecer a Cristo em sua submissão a ele, as esposas também devem obedecer aos seus maridos ‘em tudo’”.
Ele explica ainda que, de acordo com a Bíblia, a esposa deve permanecer submissa até mesmo se seu marido não for bom e amoroso. Ele pontua: “Pode ser verdade que é difícil obedecer a muitos homens, mas também é verdade que muitas mulheres são difíceis de se amar. Contudo, Deus capacita mulheres cristãs a obedecerem a seus maridos como a igreja deve obedecer a Cristo. Em todo caso, toda pessoa é responsável para com Deus, a despeito do que o outro [cônjuge] faz... O fato de um marido não ser amoroso não serve de escusa à desobediência da esposa, e um marido deve amar sua esposa a despeito de seus defeitos.”
O TERRÍVEL DEUS JAVÉ
Outro dado que nos assusta na Bíblia é o Deus-Javé, o famoso Deus do Antigo Testamento. Richard Dawkins, em Deus, um Delírio, escreveu “O Deus do Antigo Testamento é talvez o personagem mais desagradável da ficção: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo.”
Ele não está exagerando, Javé é um Deus que exige pena de morte para mulheres que cometam adultério, pessoas que adorem outros deuses que não ele, homens que façam sexo com homens e filhos que sejam desobedientes aos pais. Javé, em algumas situações, não parecer ver problema em matar crianças. 1 Reis 2, 23 narra a seguinte situação: "Uns meninos saíram da cidade, e zombavam do profeta chamando-o de calvo. Voltando-se, o profeta olhou para eles e os amaldiçoou em nome de Javé. Então, duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois meninos." E, em 1 Samuel 15,3, Deus deu a seguinte ordem: "Não tenha dó nem piedade. Mate todos os homens e mulheres, crianças e até bebês de peito" .
Quando pessoas no povo hebreu passaram a adorar deuses que não o "Deus verdadeiro", a ordem divina foi: "Assim diz Javé, o Deus de Israel: ‘Agarre cada um de vós sua própria espada, percorra o acampamento todo, de tenda em tenda, e mate seu irmão, seu parente, seu amigo e seu vizinho!'” (Êxodo 32,27). Ainda podemos citar a discriminação de Javé em relação a pessoas com deficiência: "Pois nenhum homem que tiver algum defeito se chegará para oferecer pão a Deus: como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos" (Levítico 21,18). Outro texto curioso é aquele em que Javé decide transformar uma mulher em uma estátua de sal só porque ela olhou para trás: "E a mulher de Ló olhou para trás e foi transformada numa estátua de sal." (Gênesis 19,26).
Diante de um Deus desse tipo, não nos assusta que servos seus façam orações dizendo coisas como: "Bem-aventurado aquele que pegar as suas crianças e esmagá-las contra as pedras!" (Salmos 136(137),9), ou que seus fiéis seguidores manifestem tamanha xenofobia: "Eu repreendi aqueles homens e os amaldiçoei; espanquei alguns deles e arranquei os seus cabelos. E exigi em nome de Deus que fizessem a promessa de que nunca mais nem eles nem os seus filhos casariam com estrangeiras." - Números 13,25.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espero que este artigo seja suficiente para entendermos que a Bíblia não pode ser lida como um livro sagrado de verdades absolutas e universais. A Bíblia erra, nem sempre diz a verdade e apresenta valores claramente imorais e inaceitáveis. Isso não significa negar o valor e importância da Bíblia, mas sim reconhecer que ela não pode ser lida de maneira literal, antes ela precisa ser lida de maneira crítica e questionadora.
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