CULTURA E SOCIEDADE - ANTHONY GIDDENS
O que se segue é um resumo do capítulo Cultura e Sociedade do livro Sociologia do sociólogo britânico Anthony Giddens. Neste capítulo, Giddens considera a cultura, o processo de socialização, o desenvolvimento das sociedades e a natureza da mudança social. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.
A cultura refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos pertencentes a essa sociedade; inclui o modo como se vestem, as suas formas de casamento e de família, os seus padrões de trabalho, cerimônias religiosas e atividades de lazer. Podemos distinguir conceptualmente entre “cultura” e “sociedade”, mas há conexões muito estreitas entre essas duas noções. Uma sociedade é um sistema de interpelações que envolve os indivíduos coletivamente.
A cultura de uma sociedade engloba tanto os aspectos intangíveis (as crenças, as ideias e os valores que constituem o teor da cultura) como os aspectos tangíveis (os objetos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse conteúdo). Os valores e normas são ideias que definem o que é importante, útil e desejável, determinando como os membros de uma determinada cultura devem se comportar. As normas e os valores culturais mudam frequentemente ao longo do tempo.
Além do fato de as normas e valores mudarem ao longo do tempo, as crenças e práticas de uma cultura diferem uma de outra, de modo que há uma grande diversidade cultural. As formas aceitas de comportamento variam grandemente de cultura para cultura, contrastando frequentemente de um modo radical com o que as pessoas das sociedades ocidentais consideram “normal”. Podemos distinguir dois tipos de sociedade: (i) sociedades monoculturais: são culturalmente uniformes, caracterizando-se por elevados níveis de homogeneidade cultural; (ii) sociedades multiculturais: sociedades culturalmente diversificadas. Podemos chamar de subculturas, segmentos de uma sociedade que se distinguem do resto da sociedade em virtude dos seus padrões culturais. Também podemos falar de contraculturas, grupos que rejeitam a maior parte das normas e dos valores vigentes numa sociedade.
Todas as culturas têm um padrão de comportamento próprio, que parece estranho a pessoas de outros contextos cultivais. Chamamos de etnocentrismo a atitude de julgar as outras culturas tomando como medida de comparação a nossa. Em contraste, chamamos de relativismo cultural, a postura que nos leva a analisar uma situação segundo os padrões de outra cultura, suspendendo os nossos valores culturais bem enraizados. Por um lado, é importante o esforço para não aplicar os nossos próprios padrões culturais a pessoas que vivem em contextos muito diferentes. Por outro lado, é inquietante ter que aceitar explicações culturais para situações que vão contra as normas e valores que temos como assentes.
A cultura pertence aos aspectos da sociedade que são aprendidos. Chamamos de socialização, o processo através do qual as crianças, ou outros novos membros da sociedade, aprendem o modo de vida da sociedade em que vivem. Podemos distinguir duas fases da socialização: (i) socialização primária: decorre durante a infância e constitui o período mais intenso de aprendizagem cultural, nesta fase, a família é o principal agente de socialização; (ii) socialização secundária: decorre desde um momento mais tardio na infância até à idade adulta, as escolas, os grupos de pares, instituições, os meios de comunicação e eventualmente o local de trabalho, tornam-se forças de socialização de um indivíduo.
Por intermédio do processo de socialização, os indivíduos aprendem os seus papéis sociais. Chamamos de papéis sociais às expectativas socialmente definidas seguidas pelas pessoas de uma determinada posição social. Os papéis sociais não são inalteráveis, os indivíduos não se limitam a desempenhar papéis, a socialização é um processo pelo qual os seres humanos se tornam agentes. As influencias sociais não devem ser usadas para negar a individualidade ou livre-arbítrio dos seres humanos.
Cada um de nós, no decurso da socialização, desenvolve um sentido de identidade e a capacidade para pensar e agir de forma independente. A identidade está relacionada com os entendimentos que as pessoas têm acerca de quem são e do que é importante para elas. O gênero, a orientação sexual, a classe social, a nacionalidade ou a etnicidade são algumas das principais fontes de identidade. Podemos distinguir dois tipos de identidade: (i) identidade social: características que os outros atribuem a um indivíduo; (ii) identidade pessoal: modo como o indivíduo define suas características próprias.
Podemos considerar agora os principais tipos de sociedade que existiram no passado e que ainda se podem encontrar hoje em dia no mundo. Comecemos pelas sociedades pré-modernas: (i) caçadores-coletores: sociedades que retiravam o seu sustento da caça, pesca e coleta de plantas silvestres comestíveis; (ii) sociedades pastoris: vivem sobretudo dos seus rebanhos; (iii) sociedades agrárias: cultivam plantas (praticam agricultura); (iv) estados tradicionais: baseavam-se no desenvolvimento de cidades, apresentando desigualdades muito acentuadas em termos de riqueza e poder, e estavam associadas à governação de reis e imperadores.
Quanto ao mundo moderno, podemos falar de sociedades industriais, tais como: (i) sociedades do primeiro mundo: baseadas na produção industrial e, de uma forma geral, na iniciativa privada; (ii) sociedades do segundo mundo: baseadas na indústria, mas com um sistema económico centralizado e estatal; (iii) sociedades do terceiro mundo: em que a maioria da população trabalha na agricultura, utilizando métodos tradicionais de produção; (iv) países recém-industrializados: antigas sociedades do Terceiro Mundo, mas que na atualidade baseadas na produção industrial e geralmente na livre iniciativa.
Ao longo dos últimos dois séculos, os teóricos sociais tentaram desenvolver uma teoria geral que explicasse a natureza da mudança social. Acontece que nenhuma teoria isoladamente consegue explicar a diversidade do desenvolvimento social humano. Podemos, no entanto, identificar três fatores principais que têm influenciado consistentemente a mudança social: (i) o meio ambiente: condições físicas exercem influência na organização social humana; (ii) organização política: a existência de agências políticas próprias afeta fortemente o rumo que determinada sociedade toma; (iii) fatores culturais: envolvem os efeitos da religião, dos sistemas de comunicação e da liderança.
Nos últimos dois séculos, o período da modernidade, se tem assistido uma tremenda aceleração no ritmo da mudança social. Os fatores responsáveis por esta aceleração são: (i) influências econômicas: a indústria moderna é fundamentalmente diferente da dos sistemas de produção anteriores, na medida em que implica a expansão contínua da produção e uma acumulação crescente da riqueza; (ii) influências políticas: a luta das nações para expandir o seu poder, aumentar a sua riqueza e triunfar militarmente sobre os seus competidores tem sido, nos últimos dois ou três séculos, uma potente fonte de mudança; (iii) influências culturais: o desenvolvimento da ciência e a secularização do pensamento contribuíram para o carácter crítico e inovador da perspectiva moderna.
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