CRÍTICA DA RAZÃO PURA (RESUMO)





       O que se segue é um breve resumo da Crítica da Razão Pura. A Crítica da razão pura é uma crítica realizada pela Razão pura sobre as pretensões da razão pura. Foi escrita pelo filósofo prussiano Immanuel Kant, cuja teoria do conhecimento operou uma grande revolução no pensamento filosófico. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

INTRODUÇÃO 

      Por razãocompreende-se a faculdade que conecta os juízos do entendimento e unifica nosso conhecimento. Por entendimento compreende-se a faculdade que forma conceitos dos objetos e faz juízos sobre eles. A função do entendimento é pensar e pensar é combinar representações. 
       Todos as nossas representações são produzidas por objetos que afetam nossos sentidos. A capacidade de receber os efeitos que um objeto tem sobre nós é chamada de sensibilidade. A função da sensibilidade é intuir. A intuição é a receptividade da  mente que permite a um objeto individual ser dado ao conhecimento. Assim, o conhecimento requer intuição e pensamento. Todo o nosso conhecimento começa pelos sentidos, daí passa ao entendimento e termina na razão.
       O conhecimento pode ser distinguido entre conhecimento a posteriori (ou conhecimento empírico) e conhecimento a priori. conhecimento a posteriori ou conhecimento empírico é aquele que tem sua origem na experiência. O conhecimento a priori é aquele que é  adquirido independentemente de qualquer experiência. O conhecimento a priori pode ser (i) puro: é aquele que não possui absolutamente nada de empírico ou (ii) impuro: é aquele que depende de alguns outros conhecimentos adquiridos anteriormente pela experiência. A Razão pura é, por isso, a que contém os princípios para conhecer algo absolutamente “a priori”.  
       Nossos juízos (que conectam um sujeito ao predicado) podem ser distinguidos entre analíticos ou sintéticos. Os juízos analíticos são aqueles nos quais o predicado está contido no conceito e os juízos sintéticos são aqueles que conectam ao conceito uma predicação não incluída no conceito em questão. Eles podem ser (i) a priori: proposições válidas e necessárias por si mesmas. (ii) a posteriori: que por dependerem da experiência não podem ser universais. A indução (tentar estabelecer leis universais com base na experiência), portanto, sempre é uma generalidade suposta e relativa. 
       Estabelecidas esses conceitos introdutórios, este trabalho tratará da sensibilidade (Estética Transcendental), do entendimento (Lógica Transcendental) e da questão do método (Doutrina Transcendental do Método), cada uma dessas seções apresentam subdivisões próprias conforme a complexidade dos temas tratados.

 
ESTÉTICA TRANSCENDENTAL 
        
        Por Estética entende-se a ciência das regras da sensibilidade em geral e por Transcendental entende-se a pesquisa que investiga as condições de possibilidade da própria experiência. Assim, a Estética transcendental é ciência de todos os princípios “a priori” da sensibilidade, isto é, das formas necessárias da intuição, que são o Espaço e o TempoNossa intuição a respeito do espaço e tempo são a priori, isto é, independente do conteúdo particular das sensações que recebemos de qualquer uma das coisas. Nós representamos os objetos como estando fora de nós e colocados todos no espaço. A ciência que determina sinteticamente e a priori as propriedades do espaço é a Geometria.  
        O espaço, como forma pura de todas as intuições externas, só serve como condição “a priori”, para os fenômenos exteriores, o mesmo não ocorre com o tempo que também se aplica aos fenômenos interiores, isto é, às nossas representações. Assim, todos os fenômenos (internos e externos) são determinados segundo relações de tempo. O espaço e o tempo, sendo formas da intuição, não possuem realidade absoluta, isto é, não são propriedades das coisas em si. 
  
LÓGICA TRANSCENDENTAL
 
       Lógica é a ciência que examina as operações do entendimento. Ela pode ser distinguida em: (1) Lógica Elementarexamina as operações particulares do entendimento, contendo as regras para pensar retamente sobre certos objetos determinados. (2) Lógica Geral: examina as operações gerais do entendimento, contendo as regras absolutamente necessárias do pensar. A lógica geral pode ser: (i) pura: que tem por objetivo apenas os princípios a priori do entendimento, ou (ii) aplicada: trata das regras do uso do entendimento sob condições empíricas e subjetivas. A lógica geral, no entanto, não examina a origem do nosso conhecimento, desconsiderando os conteúdos provenientes da experiência e limitando-se às regras do pensamento. A Lógica que considera a questão da origem do nosso conhecimento e do conteúdo de nossas representações é a Lógica Transcendental. 
      A Lógica Transcendental é a Ciência que trata com os objetos do conhecimento como fenômenos constituídos pelo modo como o entendimento os pensa enquanto condições a priori para a possibilidade da experiência em geral. Ela pode ser dividida em: (1) Analítica Transcendental:  é a parte da lógica transcendental que expõe os elementos do conhecimento puro do entendimento e os princípios sem os quais nenhum objeto em geral pode ser pensado. (2) Dialética Transcendental: trata dos princípios derivados da razão, tendo como objetivo expor as ilusões dialéticas na metafísica, corrigindo seus erros.
 
ANALÍTICA TRANSCENDENTAL 

       A função do pensamento no juízo compreende: (1) um “sujeito” que pode ser, em relação à Quantidadeuniversal ("Todo S"), particular ("Alguns S") ou singular ("Um S"), (2)  uma cópula (é) que pode ser, quanto à Modalidade, problemática ("é possivelmente"), assertória ("é efetivamente") ou apodítica ("é necessariamente"), (3) um “predicado” que quanto à qualidade pode ser positivo (“é P”), negativo (“não é P”) ou infinito (“é não-P”). 
        A partir disso pode ser construído três tipos de silogismo, que são, quanto à Relaçãocategórico, hipotético ou disjuntivo. Esses princípios básicos do raciocínio lógico são expressos abaixo: 

      

       A partir disso é possível elaborar à “Tábua dos Juízos”, como mostra a imagem abaixo: 



       Para além dessas regras básicas de Lógica, a Lógica Transcendental deve considerar os conceitos puros intelectuais que se referem “a priori”, aos objetos. Esses conceitos são denominados de “categorias”. Assim, a partir da Tábua dos Juízos, pode-se elaborar uma “Tábua das Categorias”, que é como se segue: 


      As doze categorias já apresentadas na “Tábua das Categorias” correspondem às formas de nosso juízo de modo que elas se aplicam necessariamente a qualquer objeto possível que nos seja dado através da intuição sensível. 
      

Dedução Transcendental 

        Ao pensar os conceitos a priori, precisa ser colocada a questão de se temos o direito de usar tais conceitos a priori enquanto tais não importando o que os fatos possam ser. A pergunta que conduz à reposta dessa questão é chamada de Dedução. Assim, Dedução Transcendental é a tarefa cujo objetivo é estabelecer como os conceitos a priori podem ser legitimamente aplicados aos objetos da experiência. Entende-se por “experiência” uma sucessão de conteúdos distinguíveis que estão presentes ao mesmo sujeito através do tempo no qual aparecem. 
       Sendo assim, a experiência exige minimamente que se trate de um sujeito idêntico que apreende uma série de conteúdos em um intervalo de tempo. Os conteúdos experienciados são sintetizados em três passos: 
(1) Síntese da Apreensão: na própria intuição, os elementos da série são reunidos pelo sujeito. 
(2) Síntese da Reprodução: Os elementos reunidos são reproduzidos de maneira ordenada, isso significa que nos próprios conteúdos há algo que permite essa combinação entre eles. 
(3) Síntese do Reconhecimento: O conteúdo reproduzido é reconhecido como pertencente a um conceito comum. 
       Na síntese do reconhecimento, nossa conceitualização se dá na forma de um juízo, isto é, na forma da aplicação de um predicado ao objeto apreendido. A objetividade ou validade universal de um juízo é dada pela cópula “é” que une o sujeito ao predicado, ligando necessariamente as nossas representações umas às outras em virtude da unidade necessária da apercepção. A “apercepção” é o princípio interno que nos permite atribuir as nossas experiências a um mesmo sujeito idêntico. 
         A condição da sensibilidade que nos possibilita aplicar um conceito a um objeto é o “esquema”. Ao julgar um objeto dado o comparamos com imagens (esquemas) reproduzidas de experiências passadas com objetos semelhantes e, assim, classificamos o objeto em um conceito. Um conceito, portanto, é a combinação de representações sobre um conceito comum. 
       Na experiência, tudo (quanto possa apresentar-nos como objeto) se encontra necessariamente submetido a princípios, a fonte de tais princípios encontra-se no entendimento puro. Todas as leis da natureza se encontram submetidas a esses princípios que são quatro como mostra a “Tábua dos Princípios”.   



       A Tábua das Categorias dá-nos uma indicação muito natural sobre a Tábua dos Princípios, pois estes não são mais que regras para o uso objetivo daquelas. Esclarecendo cada um dos princípios: 

(1) Axiomas da Intuição: Todas as intuições são Quantidades extensivas no espaço e no tempo. 
(2) Antecipações da Percepção: Em todos os fenômenos o real, que é um objeto da sensação, tem uma Qualidade intensiva, isto é, um grau de influência nos sentidos. 
(3) Analogias da Experiência: Toda mudança no mundo empírico envolve certas Relações ou conexões necessárias. São três as analogias (ou princípios) da experiência: 
(i) Princípio da Permanência da Substância: Toda mudança é uma alteração de uma substância que permanece, cuja quantidade não aumenta ou diminui. 
(ii) Princípio da Sucessão no Tempo segundo a Lei da Causalidade: Todas as mudanças acontecem de acordo com leis causais necessárias, determinando que o estado que é anterior no tempo seja necessariamente sucedido por um estado posterior. 
(iii) Princípio da Simultaneidade segundo a Lei da Comunidade: Todas as substâncias enquanto possam ser percebidas como simultâneas no espaço, estão em uma comunidade, isto é, uma ação recíproca universal. 
(4) Postulados do Pensamento Empírico: Dizem respeito às três categorias da Modalidade que não concernem aos objetos como tais, mas à relação de nosso entendimento deles: 
(i) Possibilidade: Aquilo que está de acordo com as condições formais (intuição e conceitos) da experiência é possível. 
(ii) Existência: Aquilo que está de acordo com as condições materiais da experiência é real. 
(iii) Necessidade: Aquilo cuja conformidade com o real está determinado segundo as condições necessárias da experiência é necessário. 

Refutação do Idealismo 
         Este último princípio traz a questão da existência das coisas, de modo que cabe aqui uma refutação ao Idealismo. O Idealismo nega ou coloca em dúvida a existência de objetos externos a nós no espaço ou no tempo. Tal idealismo é refutado se considerarmos que nossa consciência dos objetos externos é imediata, uma consciência que se dá por meio da intuição. Aquilo que intuímos de maneira imediata precisa ser distinto de todas as nossas representações subjetivas. Assim, temos também experiência e não apenas representação das coisas exteriores. Mesmo as nossas representações internas só são possíveis mediante o pressuposto da experiência externa. 
      Isso é diferente do Idealismo Transcendental.  O Idealismo Transcendental é a crença de que temos conhecimento somente dos  fenômenos, não das coisas em si mesmas. Adotando o Idealismo Transcendental, precisamos fazer a distinção entre fenômenos númenos.  
       Por númeno entende-se o “em si”, isto é, as coisas em sua própria natureza distintas da maneira pela qual as intuímos. Por fenômeno entende-se os objetos enquanto objetos dos sentidos. A coisa em si pode ser entendida tanto em sentido negativo (como aquilo que não é objeto de nossa intuição sensível) ou positivo (como objeto de um modo particular de intuição, a intelectual, que, contudo, não possuímos). As coisas em si mesmas se mantêm para nós incognoscíveis. Assim, se dissermos que os objetos são tais quais aparecem isso só deve ser entendido enquanto se pensa nos objetos enquanto objetos da experiência e não enquanto a coisa em si.  

DIALÉTICA TRANSCENDENTAL 

       Há ilusões que possuem sua origem na própria razão. Por Dialética entende-se o raciocínio fundado em uma ilusão da razão. Como já dito, todo o nosso conhecimento começa pelos sentidos, daí passa ao entendimento e termina na razão. Aqui a razão é apresentada de forma distinta do entendimento. A razão é a  faculdade de unificar as regras do entendimento por meio de princípios. A razão se dirige aos conteúdos de conhecimento do entendimento a fim de lhes conferir uma unidade. 
       É importante distinguir dois tipos de conhecimento: conhecimento imediato do conhecimento por inferência. conhecimento imediato é o conhecimento daquilo que é evidente por si mesmo, já o conhecimento por inferência é aquele que depende de uma operação intelectual de concluir algo a partir de um princípio. A inferência pode ser de dois tipos: (i) inferência do entendimentoquando a conclusão é extraída diretamente dos princípios. (ii) inferência de razãoquando além do conhecimento que serve de princípio, é necessário ainda outro juízo para operar a conclusão. Como já considerado, existem três tipos de inferências de razão: raciocínios categóricoshipotéticos e disjuntivos. 
       A partir das categorias ou conceitos a priori do entendimento, podemos extrair os conceitos puros da razão. Os conceitos puros da razão recebem o nome de ideias transcendentais.  As ideias transcendentais podem ser divididas em três classes.  (i) da unidade do sujeito pensante (alma) (ii) da unidade do conjunto de todos os fenômenos (mundo) (iii) da unidade da condição suprema de tudo o que pode ser pensado (Deus). 
       No entanto, há raciocínios ilusórios que surgem da própria razão pura e dos quais nem o mais sábio dos homens pode se libertar. Esses são os raciocínios dialéticos. Os raciocínios dialéticos são de três tipos considerando as três ideias transcendentais que conduzem à sua conclusão: (1) Paralogismo da Razão Pura: inferência da unidade absoluta do sujeito. (2) Antinomia da Razão Pura: inferência da totalidade absoluta da série de condições de um fenômeno dado em geral. (3) Ideal da Razão Pura: inferência da unidade absoluta de todas as condições da possibilidade das coisas em geral. 

(1) Paralogismo da Razão Pura 

       Um paralogismo é um raciocínio falso quanto à sua forma. Aqui considera-se os raciocínios falsos em torno da noção do sujeito pensante. São quatro os raciocínios ilusórios em torno da noção do sujeito pensante: 
(i) Paralogismo da Substancialidade: é a compreensão do eu pensante como uma substância. No entanto, deve-se contrapor a isso que o pensamento se define por um ato, e não por propriedades. 
(ii) Paralogismo da Simplicidade: é a compreensão do eu pensante como simples, a unidade do pensamento permitiria considerar o eu penso como simples e indivisível. No entanto, a unidade do pensamento não implica a unidade do sujeito pensante. 
(iii) Paralogismo da Personalidade: consiste em conceber o sujeito pensante como uma pessoa. A psicologia racional infere a personalidade do ‘eu’ do fato de que eu sou consciente de minha identidade durante o tempo. No entanto, a unidade da consciência através do tempo é totalmente compatível com mudança de identidade da substância, pois seria perfeitamente possível que substâncias numericamente distantes comunicassem suas representações e consciências à seguinte. 
(iv) Paralogismo da Idealidade: consiste em considerar que o eu pensante é a única certeza indubitável e que todos os fenômenos exteriores são duvidosos. Essa questão já foi considerada na Refutação do Idealismo.  

(2) Antinomia da Razão Pura 
       Ao pensar sobre o mundo como totalidade, a razão é inevitavelmente conduzida a antinomias.  Uma antinomia é um par de argumentos cujas conclusões são contraditórias, envolvendo uma tese e uma antítese. São quatro as antinomias da razão pura: 
(i) Antinomia do Tempo e do Espaço
Tese: “O mundo tem um começo no tempo e é finito no espaço.” 
Antítese: “O mundo não tem começo e é infinito” 
       Segundo a tese, uma séria infinita no tempo é impossível de modo o mundo precisa ter um começo, também seria impossível um espaço infinito pois é impossível pensar em um mundo composto de infinitas partes. No entanto, conforme a antítese, se o mundo começou a existir, teria de haver um tempo no qual o mundo não existia., um tempo vazio. Nada pode passar a existir num tempo vazio, porque nenhuma parte de tempo em si pode fornecer de preferência às outras partes, condições para a existência do mundo. Assim, o mundo não pode ter um começo e também precisa ser infinito, sem limites. 
(ii) Antinomia da Simplicidade: 
Tese: “Toda a substância composta, no mundo, é constituída por partes simples.” 
Antítese: “Não existe nada no mundo que seja simples.” 
       Segundo a tese, uma decomposição de um objeto não pode prosseguir infinitamente, de modo que um objeto composto precisa ser constituído por partes simples irredutíveis. No entanto, conforme a antítese, toda substância ocupa um lugar no espaço, tudo que se encontra no espaço é composto, de modo que não existem substâncias simples. 
(iii) Antinomia da Causalidade:  
Tese: “A causalidade segundo as leis da natureza não é a única, há ainda uma causalidade pela liberdade.”
 Antítese: “Não há liberdade, tudo no mundo acontece segundo as leis da natureza.” 
      Segundo a tese, a cadeia de causalidade naturais não pode ser uma série infinita, é preciso haver uma causalidade da causa para além das causas da natureza. Conforme a antítese, a liberdade é contrária à lei da causalidade, pois todo começo pressupõe uma causa anterior. A causalidade é o fio condutor de todas as regras e não se pode pensar em um acontecimento livre da causalidade e das leis naturais. 
(iv) Antinomia da Necessidade:
 Tese: “Há um ser absolutamente necessário que ou faz parte do mundo ou é sua causa” 
Antítese: “Não existe um ser absolutamente necessário” 
       Segundo a tese, as coisas do mundo dependem de outras para existir, isto é, são contingentes. No entanto, se tudo dependesse de algo para existir, cairíamos numa série infinita. Assim, deve existir um ser necessário, que existe por si mesmo, do qual todas as outras coisas dependem. Um ser necessário que tivesse causado o mundo precisaria começar a agir a fim de criar o mundo, para começar a agir ele precisaria estar subordinado ao tempo. Uma causa subordinada ao tempo precisaria já fazer parte do mundo e tudo o que faz parte do mundo é contingente. Portanto, não existe um ser necessário.

       As duas primeiras antinomias são antinomias matemáticas porque envolvem relações de espaço e tempo e de parte-todo, as duas últimas antinomias são antinomias dinâmicas pois envolvem relações de dependência causal.
       Tanto as teses quantos as antíteses das antinomias matemáticas são falsas, já que elas pretendem tratar das coisas em si mesmas, ignorando que os objetos correspondentes das nossas ideias sobre o mundo são fenômenos dados à intuição. As determinações de espaço e tempo não pertencem às coisas em si.
        No caso das antinomias dinâmicas, tanto a tese quanto a antítese podem ser verdadeiras. Isso se dá porque em relação aos fenômenos não se pode dar algo que não esteja submetido à dependência causal, no entanto. quando se trata da coisa em si, não há contradição em se supor um ser simples e necessário.

(3)Ideal da Razão Pura

       Aqui entra em questão a noção de Deus enquanto condição suprema de tudo o que pode ser pensando. Existem três tipos de provas da existência de Deus:
(i) Provas Ontológicas: Sustentam que se Deus é Perfeito ele deve existir porque a existência seria uma perfeição.
(ii) Provas Cosmológicas: Sustentam que dado o fato de que o mundo é contingente, ele depende de uma Causa  necessária para existir.
(ii) Provas Físico-Teológicas: Que defende a existência de um Ser Inteligente considerando a ordem que encontramos no mundo.
       O argumento otológico erra ao considerar a existência como uma perfeição. Ser ou existir não é uma perfeição que poderia pertencer à natureza de uma coisa. Ser evidentemente não é um predicado real, é apenas a posição de uma coisa, é simplesmente a cópula de um juízo.
       O argumento cosmológico, por sua vez, pretende concluir a partir do contingente, uma causa necessária. Tal argumento ignora que o princípio da causalidade só possui validade de aplicação no mundo sensível. A prova cosmológica peca por aplicar a categoria da causalidade fora do mundo da experiência.
      Por fim, o argumento físico-teológico que pretende concluir a existência de Deus com base na experiência que temos de mundo, ignora que nenhuma experiência poderia fornecer material suficiente para formar uma ideia tão elevada quanto a ideia de Deus.
       Assim, por meio do uso especulativo da razão, Deus mantém-se como um simples ideal. A existência de Deus não pode ser provada nem refutada por este meio.

DOUTRINA TRANSCENDENTAL DO MÉTODO

      A doutrina transcendental do método diz respeito à determinação das condições formais de um sistema completo da razão pura. Essa doutrina envolve (1) A Disciplina da razão pura; (2) O Cânone da Razão Pura; (3) A arquitetônica da Razão pura e; (3) A História da Razão Pura.

(1) Disciplina da Razão Pura:  A tarefa primordial da razão é disciplinar-se. Essa disciplina diz respeito (i) ao uso "dogmático" da razão: no uso especulativo da razão pura, não há dogmas, não lhe convém nenhum método dogmático, daí o cuidado da Filosofia em não imitar o método matemático. (ii) uso "polêmico" da razão: em todos os seus empreendimentos deve a razão submeter-se à crítica, daí a importância da liberdade de expressão e de um espaço compreensivo de discussão. (iii) das hipóteses da razão: a liberdade deve incluir uma aceitação das opiniões, mas essas opiniões não podem ser meros achismos, antes devem estar ligadas ao que é realmente dado e portanto certo. A esse tipo de opinião mais rigorosa dá-se o nome de hipótese. (iv) as provas da razão: a razão, mediante os seus conceitos, não se deve orientar diretamente para os objetos, mas primeiro demonstrar a priori a validade objetiva dos conceitos e a possibilidade da sua síntese. Por síntese entende-se o chegar ao conhecimento das coisas que não estavam contidas nos próprios conceito delas. 
(2) Cânone da Razão Pura: As pretensões da razão devem ser limitadas, mas não por uma censura externa, mas internamente pela própria razão. Daí a necessidade de um cânone, um conjunto de princípios que regule o uso legítimo das faculdades cognitivas em geral. A Lógica Geral é o cânone para o entendimento e para a razão em geral, a Analítica Transcendental é o cânone para o entendimento puro. Onde, porém, não é possível nenhum uso legítimo de uma faculdade cognitiva não há cânone, portanto, não há nenhum cânone do uso especulativo da razão
(3) Arquitetônica da Razão Pura: por arquitetônica entende-se a arte dos sistemas. Sob o domínio da razão os nossos conhecimentos em geral devem ser organizados em uma unidade sistemática. As partes devem ser ordenadas em um esquema. O sistema de todo o conhecimento filosófico é a Filosofia. A filosofia se divide em: (i) Filosofia Pura: conhecimento pela razão pura e, (ii) Filosofia Empírica: conhecimento racional extraído de princípios empíricos. A Filosofia Pura pode também ser chamada de Metafísica. O sistema da metafísica se divide em: (i) Ontologia: trata do entendimento e da própria razão sem considerar os objetos que seriam dados (ii) Fisiologia Racional: considera os objetos dados, sendo uma consideração racional da natureza. A Fisiologia da natureza universal é a Cosmologia Racional e a Fisiologia e o conhecimento da ligação de toda a natureza com um ser superior à natureza é a Teologia Racional. Assim, o sistema inteiro da Metafísica consta de quatro partes fundamentais: 1. A Ontologia. 2. A Fisiologia Racional. 3. A Cosmologia Racional. 4.A Teologia Racional.
(4) História da Razão Pura: Na História encontram-se diversas posições diferentes em relação à Metafísica. Pode-se citar: (i) o Sensualismo: que considera apenas os objetos dos sentidos como reais. (ii) o Intelectualismo: que considera que há nos sentidos apenas aparências e considera que os verdadeiros objetos são apenas inteligíveis. (iii) Empirismo: que considera que todo nosso conhecimento deriva da experiência. (iv) Noologismo: que considera que os conhecimentos puros têm sua fonte na razão. (v) Naturalismo: que acredita que por meio da razão comum sem ciência, pode-se conseguir-se muito melhores resultados no campo da Metafísica. (v) Cientificismo: que observa o método científico, procedendo sistematicamente em relação à metafísica.
       Assim, até hoje a Metafísica permaneceu numa situação vacilante, entre incertezas e contradições. Já teremos sido capazes de conduzir a razão humana até à plena satisfação numa matéria que sempre ocupou a filosofia até hoje? A via crítica está aberta, caberá ao leitor julgar. 


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