A IDEIA DA FENOMENOLOGIA (RESUMO)


       O que se segue é um resumo do livro “A Ideia da Fenomenologia” de Edmund Husserl. Edmund Husserl foi um filósofo alemão que estabeleceu a ciência fenomenológica. O texto contém cinco lições apresentando a fenomenologia do conhecimento como atitude filosófica e discutindo os conceitos de imanência e transcendência, redução fenomenológica e de intencionalidade, e, por fim, considerando a dimensão temporal da intenção. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.


PRIMEIRA LIÇÃO:
ATITUDE NATURAL E ATITUDE FILOSÓFICA

       É possível distinguir a ciência natural (que promana da atitude espiritual natural) da ciência filosófica (que promana da atitude espiritual filosófica). A atitude natural é aquela na qual nos voltamos para as coisas intuitiva e intelectualmente. O pensamento natural considera a possibilidade do conhecimento como óbvia, atuando de maneira fecunda nas ciências e progredindo em novas descobertas. Já a atitude filosófica não toma a possibilidade do conhecimento como óbvia e dada, mas a coloca sob questão.      
       O conhecimento é sempre conhecimento de um sujeito que conhece, todos os atos intelectuais em virtudes dos quais se chega a posição de verdade e realidade são vivências subjetivas e tudo que é dado ao sujeito que conhece são os fenômenos. A Fenomenologia, como atitude reflexiva (filosófica) assume o papel de ser uma teoria crítica do conhecimento que tem como tarefa elucidar a essência do conhecimento. Examinar a questão da essência do conhecimento significa trazer essa essência a dar-a-si-mesma diretamente.

        SEGUNDA LIÇÃO:
IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA

       O primeiro passo no caminho de uma Fenomenologia do conhecimento consiste em colocar em questão todo o mundo, incluindo sua existência e validade juntamente com todas as ciências. A esse exercício dá-se o nome de suspensão fenomenológica. A suspensão exige da Fenomenologia a tarefa de nada pressupor como previamente dado.
        No entanto, sem conhecimento algum como ponto de partida não há como começar. A Fenomenologia deve partir somente de um conhecimento primeiro que não possa ser colocado em questão. Esse conhecimento deve se mostrar de maneira imediata, dando-se naturalmente e apresentando-se como livre da possibilidade de ser colocado em dúvida. Descartes chegou ao próprio conhecer como essa certeza que não pode ser colocada em questão. Toda vivência em geral pode se fazer objeto de um puro conhecer e, neste conhecer, é um dado absoluto, um ente, um isto-aqui que está dado de forma indubitável.
         Esse conhecimento primeiro é imanente no sentido de que se encontra incluso na vivência cognitiva como evidente e absolutamente dado. Por outro lado, quando se considera que o conhecimento se dirige a coisas que não estão contidas nele, tem-se seu caráter transcendente, sua posição está além do que é dado. Para a fenomenologia, surge assim a questão da possibilidade da transcendência, isto é, a questão sobre como algo pode ser estabelecido pelo conhecimento se não está diretamente dado.
       
TERCEIRA LIÇÃO:
REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA

        A questão da possibilidade da transcendência é o enigma da crítica do conhecimento. O ser da cogitação enquanto dado imanente absoluto está fora do problema da transcendência.  É preciso que não se confunda a esfera do ser da cogitação enquanto fenômeno puro com a evidência da minha cogitação enquanto fenômeno psicológico.
       Na atitude natural, a fenômeno cognoscitivo é percebido como fato psicológico, como dado no tempo objetivo, pertencente ao eu que a vive, ao mundo e ao tempo mensurável, isto é, como inserido em um contexto de transcendências. A transcendência precisa ser suspensa de modo a tornar possível a obtenção de um dado absoluto.
       Colocado em suspensão o eu, o tempo e o mundo, é preciso efetuar a redução fenomenológica, o trazer à luz a cogitação enquanto fenômeno puro, fenômeno livre de toda transcendência e que exibe sua imanência como dado absoluto. A Fenomenologia pode, assim, ser entendida como uma ciência dos fenômenos puros.
       O dado de um fenômeno reduzido é, em geral, um dado absoluto e indubitável. A redução fenomenológica nos permite chegar não só ao absoluto dar-se em si, mas também às universalidades, isto é, às essências. Se dá o nome de conhecimento apriórico ao conhecimento puramente dirigido às essências genéricas.

QUARTA LIÇÃO:
INTENCIONALIDADE

       As vivências cognitivas possuem uma intenção. Por intencionalidade entende-se o visar algo, o dirigir-se a uma objetalidade. É próprio da cogitação se referir a uma objetalidade.  O objetal pode aparecer e pode ter no aparecer um certo dar-se, enquanto ele, no entanto, não está incluso no fenômeno cognitivo.
       Nesse sentido, a esfera de investigação sobre as essências precisa ser ampliada na medida em que cabe a ela considerar esta referência. Desse modo, a redução fenomenológica não significa uma pesquisa limitada à esfera daquilo que está incluso nas cogitações, embora se restrinja à esfera do dar-se em si puro, à esfera da evidência pura.

QUINTA LIÇÃO:
TEMPORALIDADE

       Pouco importa se o objeto está diante da consciência como um fato ou se é uma fantasia, a tarefa de atingir sua essência independe disso. Existe uma temporalidade que é própria da vivência de intencionar algo.  A temporalidade se dá como uma espécie de vivência de duração, como um fluxo contínuo de momentos. Na percepção o dado é vivido como um “agora efetivo”, enquanto a fantasia se dá apoiada na recordação. Desse modo, o fenômeno cognoscitivo manifesta o seu ser temporal. Na percepção, com a sua retenção, constitui-se o objeto temporal original; é apenas numa tal consciência que o tempo pode ser dado.
       A dimensão temporal da intenção anuncia diferentes modalidades de aparecimento do que é visado. Cabe à Fenomenologia elucidar a constituição dos diferentes modos de objetalidade e as suas relações recíprocas e compreender a correlação entre o conhecimento e a objetalidade do conhecimento.  

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