UTILITARISMO (RESUMO)
O
que se segue é um resumo do livro “Utilitarism” de John Stuart Mill. John Stuart
Mill foi um filósofo britânico que no campo da ética
defendeu a utilidade como sendo o fundamento da moral.
O resumo segue os capítulos do livro estando dividido em cinco partes,
a primeira contém observações
gerais e introdutórias sobre a ética em geral,
a segunda trata
especificamente do Utilitarismo e responde às objeções
levantadas contra ele, a terceira parte trata
do motivo para obedecer o princípio da utilidade, a
quarta parte
discorre sobre o tipo de prova que pode ser dada para
esse princípio e a quinta
e última parte discute a noção de justiça. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
I. OBSERVAÇÕES GERAIS
Desde o início da Filosofia a questão do
fundamento da moralidade tem sido considerada o principal problema do
pensamento especulativo, fazendo surgir diferentes escolas de pensamento. Sócrates, por exemplo, afirmou o
utilitarismo contra a moral sofista de Protágoras. Outros creem que há um instinto moral no ser humano, no
entanto, os que pensam assim reconhecem que esse princípio moral só poderia
fornecer princípios gerais. Os intuicionistas
acreditam que os princípios morais são autoevidentes e a prioris, no entanto, eles não fornecem uma lista clara de quais
seriam esses princípios. Kant propôs um imperativo
categórico ("Agir conforme uma regra que possa ser admitida por todos os
seres racionais"), mas Kant não foi capaz de provar que seria impossível a todos
os seres racionais concordar com regras imorais.
Apesar dessas diferentes visões, todos
concordam que o Princípio da Utilidade
ou da Maior Felicidade é importante quando se pensa na conduta moral, sendo
que alguns o consideram o princípio fundamental da moralidade e a fonte da
obrigação moral, como o faz Jeremy Bentham. Assim, deixando de lado a discussão de outras teorias, nos concentraremos
na compreensão do Utilitarismo.
II. O QUE É O UTILITARISMO?
O Utilitarismo
é a crença que aceita como fundamento da moral a Utilidade ou o Princípio da
Maior Felicidade. Segundo o Utilitarismo, as ações são corretas na medida
em que elas promovem a felicidade (prazer e ausência de dor ) e erradas quando elas tendem a
produzir a infelicidade (dor e ausência de prazer). É preciso dizer, no entanto, que alguns prazeres
são mais desejáveis e valiosos do que outros. É também preciso colocar que o
padrão não é a maior felicidade para um único agente, mas sim para o todo.
No entanto algumas objeções têm sido
apresentadas contra o Utilitarismo:
(1) A
felicidade é inatingível. Resposta:
Essa afirmação é exagerada porque por felicidade os utilitaristas não entendem
uma continuidade de excitação altamente prazerosa, mas uma existência com
muitos momentos prazerosos e poucas e transitórias dores, e essa tem sido a
existência de muitos e, superado os arranjos sociais miseráveis, poderá ser de
quase todos.
(2) A
virtude está no sacrifício e na renúncia do prazer. Resposta: A moralidade utilitarista considera que um sacrifício que
não aumenta ou não tenda a aumentar a soma total de felicidade é um
desperdício. A única renúncia que deve ser aplaudida é a devoção à
felicidade.
(3)
Exigir que as pessoas sempre ajam
visando a felicidade geral é um padrão moral muito exigente. Resposta: É um mal-entendido pensar no
Utilitarismo como implicando que as pessoas devem fixar suas mentes em uma
coisa tão ampla quanto o mundo ou a sociedade em geral a fim de agirem
corretamente. A grande maioria das boas ações não se destinam ao benefício do
mundo como um todo, mas ao benefício dos indivíduos que são partes do mundo.
(4) O
Utilitarismo se limita a considerar secamente as consequências das ações, não
colocando suficiente ênfase sobre outras belezas de caráter. Resposta: Contra isso, é preciso dizer que os utilitaristas são bastante
conscientes de que existem outras posses desejáveis e qualidades além da
virtude, e estão perfeitamente dispostos a permitir a todos o seu valor total.
(5)
O Utilitarismo não reconhece a vontade
revelada de Deus como lei moral. Resposta:
O Utilitarismo não contradiz a crença em um Deus cujo propósito é a felicidade
de suas criaturas.
(6)
Agir por utilidade é agir por
“conveniência”, e agir por conveniência é imoral. Resposta: Se pensa assim porque “agir por conveniência” geralmente
significa agir visando somente o interesse particular, mas como dito, a
utilidade é entendida pelo utilitarista, não como o maior prazer para um único
agente, mas como a felicidade humana na maior escala possível.
(7)
Não há tempo, antes da ação, para
calcular e pesar os efeitos de qualquer linha de conduta na felicidade geral. Resposta: Isto é exatamente como se
alguém dissesse que é impossível guiar nossa conduta pelo cristianismo, porque
não há tempo, em todas as ocasiões em que tudo tem que ser feito, para ler o
Antigo e o Novo Testamento. A espécie
humana está na Terra há muito tempo e teve todo esse tempo para pensar nas
consequências de suas ações. Esse argumento se apresenta como se o homem só
pudesse pensar sobre a moralidade de uma ação no momento em que está prestes a
praticá-la.
(8)
Não existe unanimidade sobre o que é
útil. Resposta: Não há
dificuldade em provar um padrão ético, a humanidade já adquiriu crenças
positivas quanto aos efeitos de algumas ações em sua felicidade; e as crenças
que assim surgiram são as regras da moralidade para a multidão e para o
filósofo, até que ele tenha conseguido encontrar melhores.
(9)
É possível que um utilitarista argumente
a favor de uma ação errada dizendo que ela é a mais útil. Resposta: O utilitarista que agir assim
estará agindo de má fé. A utilidade não deve ser usada para nos fornecer
desculpas para o mal ou de meio para enganar nossa própria consciência.
III. QUAL É O MOTIVO PARA OBEDECER
AO PRINCÍPIO DA UTILIDADE?
Em outros sistemas morais há motivações
externas para a ação moral correta, como a aprovação social, o medo da punição
de um governante ou de Deus. Essas motivações podem ser usadas para reforçar a
moral utilitarista. No entanto, há uma motivação interna, o sentimento de
dever em nossa própria consciência, seja qual for a teoria sobre a origem dessa
consciência.
Assim, a motivação do padrão utilitarista
são os sentimentos conscienciosos da humanidade. Quer esses sentimentos sejam
inatos ou adquiridos, eles são naturais,
pois tem como base o desejo de viver em sociedade que é um princípio
necessário da natureza humana. Isso está em conformidade com o reconhecimento
da felicidade geral como padrão da ética.
IV. QUE TIPO DE PROVA PODE SER DADA
PARA O PRINCÍPIO DA UTILIDADE?
Todos os primeiros
princípios são incapazes de provas, assim os fins últimos não admitem prova. Nenhuma
razão pode ser dada do motivo da felicidade geral ser desejável, exceto de que
cada pessoa, na medida em que acredita ser capaz de ser feliz, deseja sua
própria felicidade. Na realidade, nada é desejado a não ser a felicidade. O que
quer que seja desejado é desejado ou como a felicidade em si ou como um meio
para a felicidade. Sendo assim, a felicidade (obter prazer e evitar a
dor) é o único fim da ação humana, o critério de moralidade pelo qual deve se
julgar toda conduta humana.
V.
A CONEXÃO ENTRE JUSTIÇA E UTILIDADE
Desde sempre, um dos obstáculos mais
fortes para a recepção da doutrina da Utilidade ou Felicidade é a ideia de que
o critério de certo e errado foi tirado da noção de justiça. A humanidade tem a tendência de pensar que a justiça é um
sentimento natural que deveria ser o critério da moralidade. Caberá aqui, portanto,
examinar o sentimento de justiça.
Primeiro é necessário determinar o caráter
distintivo da justiça ou da injustiça. Para isso podemos começar listando quais
são os modos de ação que são universalmente (ou pelo menos, amplamente)
considerados justos e injustos: (1) É
injusto privar qualquer um de sua liberdade pessoal, sua propriedade ou
qualquer outra coisa que pertença ele por lei. (2) Existem leis civis que são injustas. (3) Cada pessoa deve receber o que merece e não aquilo que não merece. (4) É injusto violar um
compromisso. (5) É inconsistente com
a justiça ser parcial.
Diante disso, precisamos pensar no
elo que liga essas diferentes aplicações da justiça para compreender o seu caráter
distintivo. Nos ajudará nisso considerar a etimologia
da palavra justiça. Justiça em seu sentido etimológico significa conformidade com a lei. A ideia de restrição legal parece estar na base da
noção de justiça.
Dado isso, é preciso distinguir a noção
de justiça da noção de moral em geral. A justiça precisa envolver um direito
legal correlativo a uma obrigação moral. Assim, a justiça envolve não só o que
é certo ou errado fazer (moral em geral), mas a possibilidade de reivindicação
de um direito legal.
Os dois
elementos essenciais do sentimento de justiça são o desejo de punir uma pessoa
que fez o mal e o conhecimento ou crença de que há um indivíduo ou alguns indivíduos
definidos a quem o dano foi feito. Esse desejo de punir parece surgir do
impulso natural por autodefesa e do sentimento natural de simpatia. Este
sentimento de justiça, por si só, não tem nada moral nele; o que é moral é a
sua subordinação exclusiva à solidariedade social. No âmbito moral, o desejo de punição visa o
bem geral.
Há teorias que tentam erroneamente estabelecer
um padrão imaginário de justiça, por outro lado, a justiça baseada na utilidade é a parte principal e obrigatória de
toda a moralidade. Ao que parece a justiça diz respeito a uma classe de regras
morais que, consideradas coletivamente, são mais altas na escala de utilidade
social, e são, portanto, de obrigação primordial. Assim, a noção de justiça
não se opõe à ética utilitarista, visto que a justiça pode ser compreendida
como se referindo a certas utilidades sociais que são mais importantes, imperativas
e absolutas em relação a outros tipos de utilidades.
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