FILOSOFIA DE ARISTÓTELES (RESUMO)

       Este resumo se baseia especialmente no capítulo sobre Aristóteles escrito por Enrico Berti no livro “História da Filosofia” organizado por Jean-François Pradeau. No entanto, recorri também aos próprios livros de Aristóteles como Categorias, Da Interpretação e os livros da Metafísica de Aristóteles.        O objetivo deste resumo é dar uma visão geral, embora superficial, do Corpus aristotelicum, começando por um esboço do Órganon e depois dando um resumo sobre a Física, Psicologia, Zoologia, Metafísica, Ética, Política,  Retórica e Poética segundo Aristóteles. 

CATEGORIAS  

       As categorias são os tipos de ser nos quais todos os objetos do mundo podem ser classificados. Essas categorias podem ser divididas em dois grupos: 

Substância: É a categoria que diz respeito às realidades que existem em si mesmas. A “substância primeira” ou “substrato” diz respeito aos objetos individuais e a “substância segunda” ou “essência” refere-se ao gênero e à espécie as quais os objetos pertencem. 

Acidente: Refere-se às realidades que existem em outras realidades, se dividem nas seguintes categorias:  quantidade (quanto?), qualidade (que tipo?), relação (com o que?), o lugar (onde?), tempo (quando?),posição (que postura?), estado (que circunstância?), ação (quão ativo?) e paixão (quão passivo?).  

INTERPRETAÇÃO  

       As palavras que formam a linguagem são signos convencionais de conceitos. Em si mesmas, as palavras nada dizem sobre a realidade, no entanto, elas podem formar proposições, que são formadas por substantivos e verbos e que afirmam ou negam algo sobre a realidade, podendo ser verdadeiras ou falsas. As proposições também podem ser universais ("Todo S é P"; "Nenhum S é P"), singulares ("Algum S é P) ou particulares (refere-se a apenas um sujeito específico). 

  

ANALÍTICOS ANTERIORES 

       O silogismo é um tipo de raciocínio no qual duas proposições universais (premissas) conduzem a uma terceira premissa. É composto por uma premissa maior (a premissa mais universal), uma premissa menor (a premissa menos universal), que possuem um termo médio (ocupa a função de sujeito na premissa maior e a função de predicado na premissa menor) e por dois termos extremos que constituem a conclusão: 

 Premissa maior: Termo médio e Predicado. 
Premissa menor: Sujeito e Termo médio.  
Conclusão: Sujeito e Predicado.  

Por exemplo: 

 Todos os homens são mortais.   
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal. 

       No caso “homem” é o termo médio, “mortal” é o predicado e “Sócrates é o sujeito.   

ANALÍTICOS POSTERIORES   

       Existe um tipo de silogismo chamado de Silogismo Científico ou de Demonstração. É o tipo de silogismo no qual sendo as premissas verdadeiras, a conclusão delas derivadas é imprescindível verdadeira. Chamamos de “princípios” as premissas de demonstração que são primeiras, isto é, não são conclusões de outras demonstrações. Elas podem ser particulares ou gerais:  

- Princípios particulares:  princípios que dizem respeito às realidades de natureza particular constituindo o objeto de uma ciência particular. 

- Princípios gerais: princípios que dizem respeito a diversas espécies de objetos. Os princípios gerais constituem o que chamamos de axiomas. 

  

TÓPICOS 

       Um outro tipo de silogismo é o silogismo dialético, nele as premissas são chamadas de endoxais, isto é, são premissas admitidas pela maioria dos especialistas. Assim, tais silogismos referem-se apenas a opiniões, aquilo que é verossímil ou provável. 

FÍSICA 

       A Física é a ciência da natureza e seu objetivo é determinar as causas da natureza. A natureza pode ser definida como o conjunto dos corpos em devir que apresentam uma evolução totalmente autônoma. 

       Os objetos podem derivar de quatro categorias de causa: causa eficiente (o que produz a transformação de um objeto), causa material (matéria de que um objeto é constituído), causa formal (forma que estrutura um objeto) e causa final (finalidade em vista da qual um objeto existe). 

       As causas materiais dos objetos naturais são, em última análise, um dos quatros elementos (terra, água, ar e fogo). Há, no entanto, também o éter que constitui os céus, que são esferas concêntricas, no centro das quais se encontra a esfera terrestre. O movimento, em última instância, requer causas eficientes imóveis, os motores imóveis. As transformações produzidas em um objeto podem ser de substância (geração e corrupção), quantidade (aumento e diminuição), qualidade (alteração) e lugar (translação).  A mudança é a passagem da potência (capacidade de assumir uma forma determinada) para o ato (condição na qual uma potência foi atualizada). 

  

PSICOLOGIA  

       A Psicologia é o ramo da Física que estuda a alma. A alma não é uma entidade separada do corpo, mas sim a capacidade mesma de viver própria de um corpo, ela é o "ato primeiro" da capacidade de viver. A vida, no entanto, se realiza de acordo com diferentes níveis de atividade ("ato segundo"), de modo que se pode falar de três níveis de alma de acordo com a atividade realizada:   

1.Nível vegetativo ou apetitivo: responsável pela nutrição e reprodução. 

2.Nível animal ou sensitivo: responsável pelo movimento e percepção. 

3.Nível humano ou intelectivo: responsável pelo pensamento. A alma intelectiva é o lugar de todas as formas inteligíveis, sendo a intelecção , a capacidade de se apropriar de uma forma. 

       Além da capacidade de conhecer, a alma possui a capacidade de desejar, esse desejo pode ter como objeto um bem sensível e particular ou um bem inteligível e universal. O desejo por um bem inteligível é chamado de vontade.   

ZOOLOGIA   

       Os animais podem ser classificas em dois tipos: sanguíneos e não-sanguíneos. Os sanguíneos, por sua vez, se dividem em vivíparos e ovíparos.         A perpetuação de uma espécie é garantida pela reprodução. Na reprodução, a alma ou forma é transmitida pelo parceiro macho através do sêmen e a matéria, pela fêmea por meio do sangue menstrual. A matéria do embrião se desenvolve e se organiza em um processo preestabelecido pela forma. 

METAFÍSICA 

       A metafísica aristotélica é tratada em catorze livros:  

- Livro A ou I: A Metafísica primeira ou "filosofia primeira" é a busca das causas primeiras da realidade. 

- Livro Alfa Elatton ou II: A Metafísica é o conhecimento da verdade e a verdade é o conhecimento das causas. 

- Livro B ou III: O método próprio da Metafísica é o método aporético, que consiste em formular problemas ("aporias") e considerar para cada um deles hipóteses de soluções contraditórias e reter aqueles que resistem mais às objeções. 

- Livro Gama ou IV: A Metafísica lida com o ser enquanto ser , isto é, o Ser em seu sentido universal. 

- Livro Delta ou V:  As causas são princípios, isto é termos primeiros a partir dos quais algo é gerado, podendo ser divididas em causas formais, materiais, finais e eficientes. O Ser, por sua vez, pode ser dito em si ou em sentido acidental conforme as Categorias, incluindo a categoria de substância, que inclui a substância primeira ou substrato e a substância segunda, ou essência. Também, pode-se falar do ser enquanto potência e do ser enquanto ato.  

- Livro E ou VI: A Metafísica também é teologia na medida em que lida com a causa dos seres divinos. 

- Livro Z ou VII: A substância é um princípio ou uma causa, sendo principalmente a forma, isto é, a causa pela qual uma coisa é o que ela é. 

- Livro H ou VIII: A matéria e a forma podem ser identificadas com a potência e o ato, na medida em que a transformação é a passagem da matéria que possui a forma em potência para a posse da forma em ato. 

- Livro Teta ou IX: O ato tem prioridade sobre a potência e sobre todo princípio de mudança, sendo que os motores imóveis são atos puros, livres de qualquer potência. 

- Livro I ou X: O Um e o múltiplo não são o princípio de todas as coisas, o Um é somente uma unidade de medida ou um predicado tão universal quanto o ser. 

- Livro K ou XI: A Metafísica é também o estudo dos axiomas matemáticos. 

- Livro Lambda ou XII: Os motores imóveis são substâncias que pensam, o Primeiro Motor não tem nada acima de si em que pensar, sendo o "Pensamento do Pensamento", Ele é o Bem Supremo que coloca em movimento todo o Universo. 

- Livro M ou XIII: As realidades matemáticas e as ideias não são substâncias que existem de maneira separada. 

- Livro N ou XIV: É impossível, portanto, que as realidades matemáticas sejam o princípio de todas as coisas.   

  

ÉTICA 

       A Ética é a Ciência prática da ação justa, o bem. O bem supremo, tanto para o indivíduo, quanto para a sociedade, é a felicidade, que se dá pela realização da virtude. A virtude é o meio termo entre duas faltas opostas, sendo a justiça uma virtude de importância especial.         Há também as "virtudes dianoéticas" ou "virtudes do pensamento", são elas, a arte, a ciência, a prudência, a sabedoria e o intelecto.   

POLÍTICA 

       A Política é a ciência daquilo que é o bem para a cidade. O homem é, por natureza, um animal político, feito para viver na cidade (polis). A Cidade é uma sociedade autossuficiente que tem como objetivo a felicidade dos cidadãos. 

      Existem seis formas de governo, sendo três bons, e três pervertidos: 

Bons:  

- Monarquia (um governa para todos) 

- Aristocracia (Poucos governam para todos) 

- República (Muitos governam para todos)  

Pervertidos:  

       - Tirania (um governa para si) 

 - Oligarquia (ricos governam para eles) 

 - Democracia (pobres governam para eles) 

RETÓRICA 

       É a arte de construir discursos convincentes. Existem três tipos de argumentos retóricos: deliberativo (debater, junto a uma assembleia política, a respeito de uma decisão tomada), judiciário (objetiva defender ou acusar uma pessoa culpável) e epidítico (objetiva celebrar ou censurar uma personalidade pública). 

POÉTICA  

       A poesia é a capacidade de fazer viver uma ficção como se ela fosse real. Existe a poesia épica (narração de fatos envolvendo personagens nobres), a poesia trágica (representação dramática envolvendo personagens nobres) e a poesia cômica (trata de personagens desnobres). A tragédia educa os adultos nas virtudes dianoéticas por meio da cartase (purificação das paixões por meio de sua libertação).