FILOSOFIA DE GUILHERME DE OCKHAM (RESUMO)
O objetivo deste texto é
apresentar um breve resumo da filosofia do nominalista Guilherme de Ockham tendo como base o capítulo sobre ele escrito por Joël Biard no livro História
da Filosofia organizado por Jean-François Pradeau. Guilherme de Ockham é considerado
o pai do nominalismo, teoria que considera que os universais são apenas nomes,
não possuindo existência real. Dado que os universais existem apenas como
signos, iniciamos o texto sintetizando a teoria do signo segundo Ockham para
depois expor suas ideias sobre teologia, ética e política.
TEORIA DO SIGNO
O "signo" é
um termo geral, que pode ser escrito, falado ou concebido,
constituindo, portanto, a linguagem. O signos possuem a
propriedade da suposição. "Suposição" é a
propriedade que um termo possui de se referir a uma coisa do qual ele é um
substituto. Essa capacidade de suposição também é expressa na forma de
categorias. As "categorias" são tipos de termos
portadores de sentido, isto é, termos que possuem a capacidade de significar as
coisas.
Os termos podem ser "abstratos" (são
independentes do sujeito ao qual se ligam) ou "concretos" (referem-se
a uma propriedade no sujeito ao qual se ligam), ”absolutos" (são
os nomes da categoria da substância) ou "conotativo" (
significam um objeto como determinado por um outro objeto)
O "conceito" é um signo que surge, não
de uma abstração da sensação, mas de um contato intelectivo primordial dirigido
a uma coisa singular, mas esse contato é reiterado pelas disposições do
espírito para captar novamente coisas semelhantes possibilitando um conceito
comum ou universal. O "universal” é um signo que significa uma multiplicidade de coisas. O universal
só existe enquanto conceito mental, pois tudo o que existe é singular,
como defende o nominalismo.
Para conhecer as coisas, o intelecto faz uso de dois tipos de
conhecimento: o "conhecimento intuitivo", a partir do
qual se pode saber se uma coisa existe ou não e o "conhecimento
abstrato" que apreende o objeto enquanto tal, abstraindo-o de sua
existência ou não existência.
Considerado como se forma o conceito e os
tipos de conhecimento, o próximo passo é pensar o conceito de Deus. Seria o
conceito de Deus intuitivo ou abstrato? Esta é a discussão da próxima seção.
Além da questão de Deus, a próxima seção apresentará de forma bem resumida o
pensamento de Ockham sobre a predestinação.
TEOLOGIA
Não podemos ter sobre Deus um conceito intuitivo, nem um conceito
abstrato simples, mas um conceito de um terceiro tipo que convém somente a Ele.
Esse conceito é uma espécie de descrição definida composta das partes abstratas
dos outros entes.
Deus é a Causa primeira, um ser
absolutamente simples cujos atributos são idênticos à sua essência. Deus é
Onisciente e, portanto, conhece o futuro. No entanto, Deus conhece os
futuros contingentes como contingentes, ainda que do ponto de vista de Deus
o futuro já esteja determinado. Eventos futuros podem ser contingentes na
medida em que resultam das ações livres das causas secundárias.
A predestinação divina não anula, portanto, a
liberdade humana. A salvação requer mérito. Nenhum ato é meritório em si, mas
em razão de um mandamento divino. Assim, o mérito é aceito por Deus de
maneira contingente, porque Deus poderia ter estabelecido
mandamentos diferentes. No entanto, de acordo com as leis como Deus as
estabeleceu, o mérito precede normalmente a graça e a graça precede a salvação.
ÉTICA
A moral possui uma esfera positiva que diz respeito às
leis divinas e humanas que obrigam o homem a procurar algumas coisas e fugir de
outras e uma esfera não-positiva a qual não repousa em
qualquer preceito superior, mas depende de princípios conhecidos por si ou por
experiência.
Nenhum ato é em si mesmo bom ou mau, uma ação somente tem valor
moral porque deriva de uma vontade boa. O valor moral, portanto, está relacionado
à intencionalidade do ato. O único ato intrinsecamente
virtuoso é um ato de vontade: amar a Deus em si e acima de tudo.
Compreendidas as ideias de Ockham sobre
linguagem, teologia, ética, finalizaremos com um breve resumo sobre sua filosofia política:
POLÍTICA
Embora o principado papal possua uma primazia, deve haver uma separação das
funções e dos poderes secular e eclesiástico. Isso se dá porque os poderes do
papa situam-se na ordem espiritual e mesmo nessa ordem ele não é ilimitado,
pois se atém ao que foi concedido expressamente por Cristo e deve respeitar a
liberdade dos fiéis.
A lei
natural, seja de origem divina ou humana, possui um valor hierárquico
superior ao poder dos governantes seculares. Entre os direitos naturais está
o direito à propriedade que tem origem imediatamente
humana, sendo um direito natural indiretamente: Deus outorga aos homens a razão
e da razão humana deriva a propriedade privada.
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