ENSAIO ACERCA DO ENTENDIMENTO HUMANO (RESUMO)
O que se segue é um resumo da obra “Ensaio acerca do Entendimento Humano” escrita
por John Locke. John Locke é um filosofo inglês considerado o pai do empirismo,
doutrina segundo a qual todo conhecimento vem da experiência. A obra começa
negando a existência de ideias inatas, prossegue analisando as ideias que vem
da experiência, trata das palavras como sinal das ideias, discorre sobre os
tipos de conhecimento que temos das ideias e encerra provando a existência de Deus
e propondo uma divisão das ciências em três tipos. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
LIVRO I: NEM OS
PRINCÍPIOS, NEM AS IDEIAS SÃO INATOS
Não existem ideias inatas. O entendimento não comporta nem ideias,
nem princípios inatos. Os homens, pelo uso de suas faculdades naturais, podem
adquirir todo conhecimento que possuem sem precisar de impressões inatas.
Isso também vale para os princípios morais. Não existem princípios
práticos inatos. Se os princípios morais fossem inatos, eles não precisariam
ser provados e todos os homens concordariam sobre eles. Como este não é o
caso, temos que concluir que nem as ideias, nem os princípios morais são
inatos.
LIVRO II: AS IDEIAS
Ideia é tudo aquilo que é objeto do entendimento quando o homem
pensa. Todo o nosso conhecimento tem sua origem na experiência. Nossas ideias
podem ser divididas em:
- Ideias
simples: são aquelas surgidas no entendimento
diretamente a partir da experiência. Se dividem em:
> Ideias simples dos sentidos: são as ideias
recebidas pelos sentidos.
> ideias simples de reflexão: são as ideias que
surgem das operações da mente acerca de suas outras ideias.
- Ideias complexas: são
aquelas que surgem a partir da combinação de ideias simples.
> Ideias
complexas de modo: são aquelas consideradas como atributos de
substâncias.
> Ideias
complexas de substância: representam diferentes coisas particulares
que subsistem por si mesmas.
> Ideias
complexas de relação: consiste na consideração e comparação de uma
ideia com outra.
LIVRO III: PALAVRAS
Deus, ao
criar o homem como ser sociável, dotou-o de linguagem. O
significado das palavras é convencional, e não consequência de uma conexão
natural. As palavras são sinais sensíveis para as ideias, sendo usadas para
comunicar nossos pensamentos. A maioria das palavras são "termos
gerais", pois é impossível que cada coisa particular tenha um
nome.
LIVRO IV:
CONHECIMENTO E OPINIÃO
A mente tem como objeto imediato somente
as ideias, de modo que só temos acesso ao conhecimento das ideias. O
conhecimento consiste na percepção de acordo ou desacordo entre as ideias.
Existem três graus de conhecimento:
- Intuitivo: quando
o acordo ou desacordo entre as ideias é percebido imediatamente.
- Demonstrativo: quando
para perceber o acordo ou desacordo entre as ideias a mente precisa de provas.
Aquilo que não é, nem intuitivo, nem
demonstrativo, não é conhecimento, mas uma crença ou opinião que pode ser
estabelecida apenas como provável. No entanto, se pode acrescentar, de alguma
forma, um terceiro grau de conhecimento, o "conhecimento
sensitivo" que é a percepção que temos de objetos externos
particulares.
Assim, a mente não conhece nada diretamente, apenas tem
conhecimento por meio das ideias. No entanto, nosso conhecimento só é real
enquanto houver conformidade entre nossas ideias e a realidade das
coisas.
Dado que as ideias simples são recebidas de forma passiva, elas
sempre estão em conformidade com as coisas. As ideias complexas, por sua vez,
na medida em que não têm como objetivo representar as coisas, elas são seus
próprios modelos. Este é o caso do conhecimento das matemáticas e da teoria
moral, que tem sua verdade assegurada pelo acordo entre as próprias ideias e
não devido a alguma representação das coisas.
A "verdade" pode assim ser compreendida
pelo modo como as coisas significadas pelos sinais (ideias ou palavras)
concordam ou discordam entre si. Na medida em que há dois tipos de sinais
(ideias e palavras), existem dois tipos de proposições (mental e verbal):
- Proposição mental: é a simples consideração
das ideias como elas se encontram em nossa mente despidas de nomes.
- Proposição
verbal: é a enunciação das ideias por meio de palavras.
Com base nisso, pode-se falar da verdade em dois sentidos:
- Verdade mental: diz respeito às ideias
reunidas ou separadas na mente de modo que elas ou as coisas que significam
concordam ou não.
- Verdade verbal: consiste em afirmar ou negar
as palavras mutuamente, como as ideias que significam concordam ou discordam.
Enquanto a verdade é o estabelecimento, por palavras, do acordo ou
desacordo das ideias segundo o que é, a falsidade é o
estabelecimento, por palavras, do acordo ou desacorda das ideias de modo
diverso do que é.
Embora não tenhamos ideias inatas, podemos ter certeza de que
Deus existe assim como temos certeza das verdades matemáticas. Na medida em que
nada pode produzir um ser, algo deve ser eterno. As coisas não poderiam ter
surgido do nada, então algo deve ter sempre existido. Esse Ser eterno deve ser
a fonte não só de todo ser, como também de todos os poderes que existem, de
modo que esse Ser deve ser o mais poderoso. Esse ser também deve ser
Inteligente, pois é impossível que seres inteligentes tivessem surgido por um
processo operado cegamente. Esse Ser eterno, poderoso e inteligente é o que
chamamos de "Deus".
Deus nos revelou verdades por um meio
extraordinário de comunicação que chamamos de "revelação".
No entanto, as verdades da fé, não sendo estabelecidas por provas
demonstrativas, não possuem a mesma certeza da razão. Desse modo, a revelação
não pode ser admitida contra a clara evidência da razão.
Por fim,
resta falar da divisão das ciências que são de três tipos:
- Física: conhecimento
das coisas como elas são em seus próprios seres.
- Prática: trata
daquilo que o homem deve fazer para a obtenção das coisas boas e úteis.
- Semiótica: trata
dos meios pelos quais os conhecimentos da física e da prática são apreendidos
ou comunicados.
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