FILOSOFIA DE DAVID HUME (RESUMO)
O objetivo deste texto é apresentar um
resumo da filosofia de David Hume. Para isso, foram usadas como referências o
capítulo sobre ele escrito no livro História
da Filosofia de Jean-François Pradeau, a dissertação Simpatia e Sentimentos Morais em David Hume de
Jean Pedro Malavolta e Silva, o artigo David Hume e As relações Associativas: da teoria ao tesauro de Solange Puntel Mostafa e Denise
Viuniski da Nova Cruz, além de pesquisas gerais na internet.
David Hume foi um filósofo empirista que
acredita, como John Locke, que as nossas ideias tem sua origem nas impressões
da sensação. Este resumo começa tratando das relações das percepções (ideias), da
sua teoria das paixões e da moralidade segundo Hume e termina com suas críticas de David Hume
quanto aos argumentos a favor da existência de Deus.
PERCEPÇÃO E IDEIAS
As ideias
constituem um tipo de percepção. As percepções (aquilo que se
apresenta à consciência) podem ser divididas em dois tipos:
(1) Impressões: aquilo
que se apresenta à consciência com mais força e vivacidade, são as sensações, as paixões e
as emoções.
(2) Ideias: são
constituídas pela reflexão sobre uma paixão ou sobre um objeto que não se
encontra presente.
As relações entre as ideias podem ser de dois tipos:
(1) Relações naturais: são
aquelas com as quais, involuntariamente, a imaginação une as ideias na mente.
Podem ser relações de identidade, espaço e tempo ou causalidade.
(2) Relações
filosóficas: são as relações feitas pela imaginação de forma
voluntária ou arbitrária. Podem ser relações de semelhança,
contrariedade, graus de qualidade, proporções de quantidade ou número, identidade,
relações de espaço e tempo ou causalidade.
Desse modo, existem sete tipos diferentes de relação filosófica que
podem ser subdivididas em dois grupos:
(1) Relações dependentes das ideias: são
as relações que não podem se modificar sem que sejam modificadas ao mesmo tempo
as ideias dos objetos correspondente. São elas: semelhança,
contrariedade, graus de qualidade, proporções de quantidade ou número.
(2) Relações dependentes dos
fatos: relações que são suscetíveis de variar sem que se mudem as
próprias ideias, dependendo apenas dos fatos. São elas: identidade,
relações de espaço e tempo e causalidade.
Assim, as relações entre as ideias podem
ser esquematizadas como se segue:
No
entanto, as relações entre as ideias podem ser reduzidas em três relações
fundamentais: relações de espaço e tempo; semelhança e causalidade. O
conhecimento das relações entre as ideias pode ser "intuitivo" (quando
a relação entre as ideias é percebida imediatamente, é o caso das relações
de semelhança, contrariedade e graus de qualidade)
ou "demonstrativo" (quando a relação entre as ideias
é percebida de maneira mediata exigindo uma demonstração, é o caso, por
exemplo, das proporções de quantidade ou número).
CAUSALIDADE
A causalidade,
isto é, a relação entre causa e efeito é essencial para a compreensão da
realidade. São quatro os elementos necessários para a ideia de causalidade:
1. A relação deve se dar entre
objetos diferentes.
2. Os objetos devem ser contíguos no
espaço e no tempo.
3. A causa deve preceder o efeito.
4. Deve existir uma conexão
necessária entre a causa e o efeito.
É impossível
chegar à ideia de causa e efeito por meio da razão somente, já que a causa e o
efeito são radicalmente diferentes. A conexão entre causa e efeito proveem de
associações costumeiras. Assim, a indução,
isto é, a crença de que os fatos passados servem para avaliar os fatos
presentes não pode ser derivada da razão, pois o futuro pode logicamente ser
diferente do passado. Assim, a crença de que as relações de causa e efeito são
universalizáveis e a própria relação entre causa e efeito tem sua raiz na afetividade,
isto é, no sentimento de invariabilidade e continuidade produzido em nós pelo
hábito.
PAIXÕES E
MORALIDADE
As paixões são a causa da “vontade”. A vontade se
refere à impressão interna consciente quando damos início propositalmente a um
novo movimento do corpo ou a uma nova percepção da alma. Sendo a causa da
vontade a paixão e não na razão, a razão é, e só deve ser, escrava das paixões.
As paixões podem ser dividas em diretas ou indiretas:
>Paixões diretas: são aquelas que surgem das impressões de sensação de forma imediata. São
elas o desejo, a aversão, a tristeza e
a alegria.
>Paixões indiretas: são aquelas que surgem a partir da relação de ideias. São o orgulho,
a humildade, o amor e o ódio.
As nossas paixões ou sentimentos podem ser comunicados na esfera social
graças à "simpatia". A simpatia é a capacidade
humana de receber por comunicação os sentimentos dos outros.
As paixões
possuem uma relação importante com a "moralidade". Toda
paixão que tende a trazer algum benefício proporciona um sentimento agradável e
toda paixão que tende a trazer algum prejuízo suscita um sentimento
desagradável. Desse modo, esses sentimentos podem ser denominados
de "sentimentos morais". Assim, a moralidade é
derivada de nossos sentimentos.
As "virtudes
morais" podem ser naturais ou artificiais:
> Virtudes morais naturais: são aquelas que estão fundamentadas em princípios constantes e
universais da natureza humana. São elas: a benevolência, a humildade, a caridade e
a generosidade.
> Virtudes morais
artificiais: são aquelas que são derivadas da
educação e da convenção humana. São elas: a justiça ou propriedade, a lealdade e
a castidade.
DEUS
A ideia de Deus surgiu em nosso entendimento quando aumentamos ao
infinito as qualidades de inteligência, sabedoria e vontade. Desse modo,
elevando tais perfeições ao infinito, formamos a ideia de um Ser Perfeito. No
entanto, não devemos concluir com base nessa perfeição que Deus existe, como
faz o "argumento ontológico". Segundo o argumento
ontológico, a existência é uma perfeição, de modo que, sendo Deus perfeito, Ele
deve necessariamente existir. Tal argumento erra porque a existência não é uma
perfeição, ela não acrescenta nenhuma qualidade a quem a possui.
Também não
podemos provar a existência de Deus com base na ordem que vemos no mundo.
Segundo o "argumento teleológico”, a ordem que o mundo
evidencia é uma prova da existência de um Ser inteligente e consciente. Este
argumento ignora o fato de que o mundo também apresenta marcas de desordem. Se
Deus fosse a causa última de todas as coisas, ele também seria a causa última
de toda essa desordem e mal. Além disso, nossa experiência testemunha ordem
resultante de processos sem consciência, como a vegetação. Desse modo, a ordem
do mundo não exige necessariamente como causa um Ser inteligente e consciente.
Outra forma pela
qual não se pode provar a existência de Deus é argumentar a favor dele com base
nos "milagres". Isso se dá porque a evidência a
favor de um milagre nunca poderá ser maior do que a evidência de que as coisas
seguem a lei da natureza. Visto que o homem sábio coloca sua confiança naquilo
que possui maior evidência, não é sábio confiar num testemunho a favor de um
milagre. Sendo assim, tanto o argumento ontológico, o argumento teleológico e o
argumento com base nos milagres são insuficientes para provar a existência de
Deus.
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