ELEMENTOS DE TEOLOGIA (PROCLO)





        Este texto é um resumo dos Elementos de Teologia do neoplatônico Proclo Lício com base no capítulo “ O Neoplatonismo de Proclus” de Carlos Steel que faz parte do livro História da Filosofia de Jean François Pradeau. Em Proclus estão presentes algumas ideias que guardam semelhança com o símbolo trinitário, como a conciliação da unidade e da diversidade (uno e múltiplo) em Deus e a ideia de processão.


ELEMENTOS DE TEOLOGIA

       Os princípios fundamentais que formam a base de tudo o que existe são a relação entre o Uno e o Múltiplo, entre a Causa e o Efeito, o todo e as partes, a participação, a processão e conversão dos seres, o limite e o ilimitado, o automovimento e a autoconstituição, o ato e a potência, a eternidade e o tempo. Trataremos de alguns deles a seguir:

UNO E MÚLTIPLO

       Toda pluralidade (multiplicidade) participa de alguma maneira do Uno, a origem transcendente de todos os seres. O Um é o Bem absoluto, a finalidade suprema de todos os seres. Podemos considerar esse Um como sendo Deus. Deus, no entanto, possui também um sentido múltiplo, que será esclarecido quando falarmos das henadas.

PROCESSÃO

       Cada ser produz seres semelhantes a si próprio antes de fazer existir os dessemelhantes, sendo assim, existem seres intermediários que ligam os seres dessemelhantes entre si. O Uno e o Intelecto enquanto seres dessemelhantes possuem entre si seres intermediários que são o Ser e a Vida. Essa processão se dá da seguinte forma:

UNO 
↓ 
SER
↓ 
VIDA
↓ 
INTELECTO

       Cada nível superior exerce uma causalidade mais compreensiva do que o nível que lhe está subordinado. Todos os seres participam do Ser, mas nem todos os seres participam da Vida, muito menos do Intelecto. No entanto, a causalidade do Uno é mais abrangente que a do Ser, incluindo a matéria, o substrato indeterminado do mundo físico que, no entanto, não existe verdadeiramente na medida em que não abrangida pelo Ser. Desse modo, o Um compreendido enquanto Deus, não é Ser. Deus encontra-se num nível mais superior e abrangente do que o próprio Ser. 

CONVERSÃO

       A conversão é o processo pelo qual todo ser que procede de um princípio se converte, de acordo com seu ser, naquilo de que ele procede. Sendo que todos os seres se convertem na causa de que procedem, eles realizam uma atividade cíclica.

PARTICIPAÇÃO

       A Forma ideal, em si mesma, não participa dos seres particulares, no entanto, essas formas imparticipáveis produzem a partir de si mesmas as formas participadas que são imanentes aos seres que participam delas. Essa processão do modo participado do imparticipável aplica-se também à Alma, ao Intelecto e ao Uno:


FORMA IDEAL IMPARTICIPÁVEL
FORMA PARTICIPÁVEL
_____________________________________________  

ALMA IMPARTICIPÁVEL
  ↓ 
ALMAS MÚLTIPLAS 
_______________________________________

INTELECTO IMPARTICIPÁVEL
  ↓ 
INTELECTOS MÚLTIPLOS
_____________________________________-

UNO (DEUS)
  ↓ 
HENADAS (DEUSES MÚLTIPLOS)


        Somente o Deus Uno é totalmente incognoscível como imparticipável, as múltiplas henadas se deixam indiretamente definir pelas diferentes classes de seres que delas participam. Assim, do Deus Uno procede os múltiplos “deuses” (henadas), graças às henadas, Deus pode ser conhecido. No entanto, Deus, em si mesmo, como imparticipável, permanece incognoscível.
         Aqui se pode fazer uma relação entre o Pai como Deus Oculto e o Filho, que procede do Pai por geração  e o Espírito que procede do Pai e do Filho por espiração, como manifestações de Deus que o tornam possível de ser conhecido

TEOLOGIA PLATÔNICA

        Para Proclus, há quatro tipos de discursos teológicos:

1. Discurso mítico: que é aquele da encenação trágica e dos símbolos.
2. Revelação inspirada: que é aquele que diz respeito à profecia (oráculo)
3. Discurso matemático: que é a evocação das ordens divinas com o auxílio de números e figuras.
4. Teologia Científica: que trata de Deus ou dos deuses utilizando termos da dialética.

        A Teologia Científica mostra que todas as classes divinas (henadas), com suas diferenças e suas propriedades comuns e específicas, procedem do primeiro princípio, o Uno (Deus). 

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