MÉTODO DE OBSERVAÇÃO DA MORAL E DOS COSTUMES - HARRIET MARTINEAU
O que se segue é um resumo do livro How to Observe Morals and Manners da socióloga britânica Harriet Martineau. Martineau é considerada uma das pioneiras da sociologia, ao lado de nomes como Comte, Marx, Weber e Durkheim. Nesta obra ela propõe um método de observação da moral e dos costumes dos povos. O resumo, assim como o livro, se divide em três partes: (i) requisitos para observação; (ii) o que observar; (iii) métodos mecânicos. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.
I. REQUISITOS PARA OBSERVAÇÃO
Existem duas partes no trabalho de observação sobre moral e costumes: o observador e o observado. Aquele que observa a moral e os costumes deve ter certeza de que possui alguns requisitos filosóficos antes de se comprometer a oferecer observações sobre a moral e os costumes de um povo: (i) ele precisa ter se decidido sobre o que ele quer saber: é necessário que o observador saiba quais resultados de todos elementos da vida social ele pretende procurar; (ii) ele deve ser provido dos meios de obter o conhecimento que deseja: o observador deve estar na posse de princípios que possam servir de ponto de partida para suas observações, e sem o qual ele não pode determinar o rumo deles, ou estar seguro de fazer uma interpretação correta sobre eles; (iii) ele deve investigar as leis sob as quais sentimentos de certo e errado crescem em todos os homens: o observador precisa estar convencido de que existem alguns sentimentos universais sobre certo e errado, e que, em consequência, algumas partes da conduta humana são guiadas por regras gerais; (iv) ele deve dar atenção a modos de conduta que lhe parecem bons ou ruins, predominantes em uma nação, distrito ou sociedade de limites menores: o primeiro princípio geral do observador deve ser o de que a lei da natureza é a única pela qual a humanidade em geral pode ser julgada e seu segundo princípio geral deve ser que toda virtude ou vício predominante é o resultado de circunstâncias particulares em que a sociedade existe.
Não é suficiente que o observador possua os requisitos filosóficos para a observação da moral e das boas maneiras, é necessário que ele cumpra com requisitos morais. Para ser perfeitamente preciso, o observador deve ser ele mesmo perfeito. Todo preconceito, toda perversão moral, obscurece ou distorce tudo o que os olhos olham. O observador deve ter simpatia; e sua simpatia deve ser irrestrita e sem reservas. Existe o mesmo coração humano em toda parte, o crescimento universal da mente e da vida, já aberto ao sol da simpatia. Não há lugar onde as pessoas não sofram nem se regozijam; onde o amor não é o alto festival da vida; onde nascimento e morte não são ocasiões de emoção; onde os pais não se orgulham de seus filhos; onde mentes pensativas não especulam sobre a eternidade; onde, em suma, não haja um amplo terreno sobre o qual dois seres humanos possam se encontrar e dar as mãos, se tiverem apenas seus simples corações.
No entanto, nenhuma aptidão filosófica ou moral qualificará alguém para observar um povo se ele não selecionar um método de observação que lhe permita ver e conversar com um grande número e variedade de pessoas. Para compreender os costumes de um povo é preciso visitá-lo, é preciso que ele entenda a linguagem das pessoas visitadas. Por isso, o observador dos costumes de um povo deve ser um viajante.
II. O QUE OBSERVAR
A partir da consideração dos requisitos que observador da moral e costumes, passemos agora a indicar o que ele deve observar, a fim de se informar sobre os costumes de outros povos. Muitas características compõem a fisionomia de uma nação; e quase nenhum observador está qualificado para estudá-los todos. O mesmo indivíduo raramente é suficientemente esclarecido para investigar imediatamente a religião de um povo, suas noções morais gerais, seu estado doméstico e econômico, sua condição política e os fatos de seu progresso - tudo o que é necessário para compreensão de seus costumes. O grande segredo da investigação sábia sobre moral e costumes é começar com o estudo das coisas, usando o discurso de pessoas como um comentário sobre elas. Embora os fatos procurados pelo observador estejam relacionados às Pessoas, eles podem ser facilmente aprendidos com as Coisas.
Os costumes de uma nação podem ser incluídos nos seguintes departamentos de investigação: (i) a religião: existem três tipos de religião - licenciosa (sempre ritual, seus deuses são fenômenos naturais e paixões humanas personificadas), asceta (também são rituais, exclui seus seguidores de muitos prazeres inocentes, ordenando cerimônias e requerendo provas de santidade) e moderada (abandona os ritos que possui na proporção de seu avanço em direção à pureza); (ii) noções morais gerais: até o momento em que existe um acordo geral sobre a prática da moral, algumas coisas que são consideradas eminentemente certas em uma época ou país são consideradas eminentemente erradas em outra, a função do observador é determinar qual é esse acordo geral na sociedade que ele visita; (iii) estado doméstico: um caráter intelectual e moral distinto pertence a mineiros, artesãos e agricultores; (iv) ideia de liberdade: a regra de observar as coisas em vez de confiar no discurso das pessoas vale bem na tarefa de averiguar a ideia de liberdade recebida e realizada por qualquer sociedade; (v) progresso: embora os indivíduos possam diferir quanto ao caminho para a perfeição social, todos concordam quanto ao fim, isto é, concordam que se toda a sociedade pudesse viver como irmãos, o estado mais avançado de progresso social teria sido alcançado, é importante que o observador leve em conta o progresso, real ou em perspectiva de um povo.
III. MÉTODOS MECÂNICOS
Para manter-se à altura da sua tarefa e estimular sua atenção, aquele que decide observar os costumes de um povo deve fornecer a si mesmo um questionário, preparado de modo a incluir toda grande classe de fatos relacionados à condição de um povo, dividido e organizado de maneira que ele possa virar para o questionário no momento oportuno. Uma consulta pela manhã em sua lista de perguntas pode sugerir questões que ele não se lembraria de fazer; e depois o ajudarão a organizar o conhecimento que adquiriu. O caráter dessas perguntas deve, é claro, depender muito de onde o viajante pretende ir. Um conjunto adequado a uma nação não se aplicaria completamente a nenhuma outra.
O viajante deve ter também um diário. O objetivo do diário deve ser refletir a mente do observador e devolver a ele a imagem do que ele pensa e sente dia após dia. Além do diário, o viajante deve ter um caderno, sempre à mão para ser usado para garantir as aparências transitórias que, embora revelem tanto para uma mente observadora, não pode ser recuperado com precisão total. Esses métodos mecânicos nada mais são do que proporções à força que os utiliza; como as realizações intelectuais do viajante lhe valem pouco, e podem até trazê-lo de volta menos sábio do que ele saiu - um andarilho da verdade, assim como de sua casa -, a menos que ele veja por uma luz do coração que brilha através dos olhos de sua mente.
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