TEOLOGIA SISTEMÁTICA VOLUME I PARTE I - NORMAN GEISLER (RESUMO)
O que se segue é um resumo da primeira
parte do volume I da Teologia
Sistemática do filósofo cristão, teólogo tomista e calvinista moderado, Norman Geisler. Esta primeira parte é a
mais densa filosoficamente e se dedica a tratar de pressupostos filosóficos básicos da
teologia evangélica dentro de uma visão tomista. São onze os pressupostos tratados: (1) metafísico (Deus), (2) sobrenatural (milagres), (3) revelacional (revelação), (4) racional (lógica). (5) semântico (significado), (6) epistemológico (verdade), (7) oposicional (exclusivismo), (8) linguístico (linguagem) (9) Hermenêutico (interpretação) (10) Histórico (historiografia) e (11) metodológico (método). Naturalmente o resumo é mais extenso do que outros do blog dada a densidade filosófica da obra e também do fato de que ele busca seguir o modo tomista de Geisler em apresentar argumentos, objeções e refutações. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
INTRODUÇÃO
A Teologia pode ser definida como
“discurso racional a respeito de Deus”. Nesta introdução cabe definir alguns
conceitos que dizem respeito às subdivisões das áreas da teologia. Segue uma
lista destas subdivisões e o que cada uma estuda:
• Prolegômenos:
Introdução à Teologia.
• Teologia
Evangélica: Discurso a respeito de Deus que enfatiza a existência de certas
crenças cristãs essenciais.
• Teologia
Bíblica: Estudo da base bíblica da Teologia.
• Teologia
Histórica: Debate teológico dos grandes expoentes da Teologia.
• Teologia
Sistemática: Construção de um corpo consistente e compreensível a partir
das revelações geral e especial.
• Apologética:
Proteção da Teologia Cristã contra ataques externos.
• Polêmica:
Defesa do Cristianismo Ortodoxo contra heresias internas.
• Bibliologia:
Estudo sobre a Bíblia.
• Teologia
Própria: Estudo de Deus.
• Antropologia:
Estudo dos seres humanos.
• Hamartiologia:
Estudo do pecado.
• Soteriologia:
Estudo da salvação.
• Eclesiologia:
Estudo da Igreja.
• Escatologia:
Estudo das últimas coisas.
• Pneumatologia:
Estudo do Espírito Santo.
• Cristologia:
Discurso sobre Cristo.
• Demonologia:
Debates teológicos a respeito dos demônios.
• Satanologia:
debates específicos sobre Satanás.
• Angeologia:
Estudo sobre os anjos.
Definido os termos, esta primeira parte
lidará com os pressupostos básicos da Teologia Evangélica:
I. PRESSUPOSTO METAFÍSICO
“O Deus teísta existe”
A Metáfisica
ou Ontologia pode ser definida
como o estudo do ser ou da realidade. O teísmo, por sua vez, é a crença na
existência de um Deus Infinito, Pessoal, Criador, Ativo, Transcendente e
Imanente. Para o teísta Deus é a Mente que criou a matéria. Contra o teísmo,
existem outras cosmovisões que possuem crenças metafísicas diferentes, são
elas:
Ateísmo: É a negação absoluta da
existência de Deus, geralmente os ateus creem que tudo que existe é a matéria.
O ateísmo é defendido por pensadores como Marx, Nietzche e Sartre.
Panteísmo:
Os panteístas acreditam que o Criador e a criação são duas maneiras diferentes
de uma mesma realidade, tendendo a defender que tudo é mente. O panteísmo é
ensinado por algumas vertentes do Hinduísmo, pelo zen-budismo, pela ciência
cristã e por derivações da Nova Era.
Panenteísmo:
Também chamado de Teísmo bipolar ou Teologia do Processo é a crença de que Deus
habita no Universo como uma mente habita em um corpo. É defendido por
pensadores como Whitehead, Hartsborne e Ogden.
Deísmo:
O deísmo ensina que Deus é Transcendente, mas não imanente. Voltaire, Jefferson
e Paine são exemplos de deístas.
Deísmo Finito:
É a crença de que Deus é Transcendente e Imanente, mas finito. Esta crença é
defendida por pensadores como Stuart Mill, William James e Bertocci.
Politeísmo: É
a crença de que existem vários deuses finitos.
Henoteísmo:
É a doutrina que acredita em vários deuses, mas defende que um deus finito
detém a liderança sobre os demais.
Sobre a questão metafísica, isto é,
sobre o estudo do ser, surgiu desde o início da filosofia diferentes noções
sobre o ser. Os pluralistas defendiam
a existência de mais de um ser, enquanto os monistas defendiam que toda a realidade constitui um só todo. Parmênides apresentou o seguinte
argumento contra o monismo: (1) Para
que as coisas sejam diferentes elas precisam diferir pelo seu ser ou não ser. (2) É o ser que torna as coisas
idênticas. (3) Logo as coisas teriam
que se diferenciar pelo não-ser. (3) Não-ser
não significa nada. (4) Portanto não
há pluralidade de seres.
Contra o monismo surgiram diferentes
propostas refutáveis. Os atomistas,
como Leucipo e Demócrito defenderam que as
coisas diferem pelo não-ser absoluto. Os átomos se diferenciariam
extrinsecamente pelo lugar diferente que ocupam no vácuo, isto é, no nada
absoluto. Isso pode ser refutado pela simples constatação de que se diferenciar
pelo nada é não ter diferença nenhuma. Platão
defendeu que as coisas se diferem pelo não-ser relativo. As formas (ideias) se
diferenciam pelo princípio da negação relativo ao “outro”, no entanto, se não
existir diferença entre os seres, não há como diferenciá-los por relação aos
outros o que torna o platonismo refutável. Aristóteles,
por sua vez, que as coisas se diferenciam como seres simples. Existem de 47 a
50 movedores não movidos, simples, imateriais, completamente divinos e
independentes, puros que causam todo o movimento no mundo. No entanto, o
aristotelismo não consegue explicar como seres simples podem se diferenciar entre
si se não são compostos de nenhuma forma ou matéria para se diferenciar.
Embora o monismo possa resistir aos
argumentos pluralistas anteriores, Tomás
de Aquino apresentou um argumento suficiente e válido a favor do
pluralismo. O argumento tomista a favor do pluralismo é o seguinte: (1) Existe uma multiplicidade de seres.
(2) Os seres finitos se diferenciam
quando suas potencialidades são atualizadas. (3) Mas nenhuma potencialidade é capaz de se atualizar por si
própria. (2) Logo precisa haver algo
que é Pura Atualidade. (5) Seres
simples não são compostos de nenhuma forma ou matéria para se diferenciar. (6) Não há multiplicidade se não há
diferença. (6) Portanto só existe um
Ser Simples (Deus). Assim, o argumento tomista estabelece a existência de
múltiplos seres compostos (pluralismo)
e de um único Ser simples (teísmo).
A crença em Deus com base nesta visão
pode ser chamada de “teísmo tomista”.
Pode-se apresentar mais argumentos a favor desta visão teísta. O Argumento Cosmológico Horizontal ou Kalam diz: (1) Tudo o que teve um começo, teve também uma causa eficiente. (2) O Universo teve um começo. (3) Portanto o Universo teve uma causa
eficiente.
Outro argumento a favor do teísmo é o Argumento Cosmológico Modal/Vertical ou a
partir da Contingência, ele se relaciona com o Princípio da Razão Suficiente de Leibniz: (PRS), segundo o qual existem
dois tipos de coisas: (i) coisas
necessárias: existem necessariamente e por sua própria natureza (e.g. números);
(ii) coisas contingentes: existem
porque foram causadas, sua existência depende de uma causa (e.g. Universo). O
argumento é assim: (1) O Universo
não existe por necessidade de sua própria natureza, sendo acidental,
contingencial. (2) A existência de
algo contingente exige uma explicação para sua existência em uma causa
necessária, pois como questiona Leibniz: Por que há algo em vez de nada?) (3) Logo, existe um Ser Necessário que é a Causa
do Universo. Outra forma de expor este argumento seria: (1) Tudo o que é contingente tem uma causa. (2) O Universo é contingente. (3)
Portanto o Universo tem uma causa.
Outro argumento que pode ser apresentado
é o Argumento Cosmológico Vertical a
partir da Mudança, o argumento é assim: (1) Tudo o que muda passa de um estado de potência para um estado de
atualidade. (2) Mas nenhuma
potencialidade é capaz de se atualizar a si própria. (2) Logo precisa haver algo
que é Pura Atualidade.
Há ainda o Argumento Teleológico que é o argumento do Design Inteligente: (1) Todos os projetos implicam um
projetista. (3) Existe um grande
projeto para o Universo. (3) Portanto,
também deve haver um Grande Projetista na origem do Universo.
Um argumento que foi apresentado a favor
do teísmo, mas que é falho, pode ser chamado de Argumento Ontológico Anselmo A, ele é o seguinte (1) Deus é por definição, absolutamente
perfeito. (2) A existência é uma perfeição. (3)
Portanto, Deus precisa existir. Kant mostrou a falha deste argumento
ao pontuar que a existência não é uma perfeição, pois a existência não
acrescenta nada ao conceito de uma coisa. Porém, dá para sustentar uma forma
deste argumento, não para provar a existência de Deus, mas sim para mostrar algumas
coisas referentes à natureza divina, esta forma pode ser chamada de Argumento Ontológico Anselmo B e é a
seguinte: (1) Se Deus existe, precisamos conhece-lo como um Ser Necessário. (2) Um Ser Necessário não pode não existir. (3) Portanto,
Deus precisa existir.
Um último argumento que pode ser
apresentado é o Argumento Moral: (1) A Lei Moral implica um Legislador
Moral. (2) Existe
uma lei moral objetiva. (3) Logo,
existe um Legislador Moral objetivo.
No entanto, tem sido levantadas objeções
contra os argumentos do teísmo tomista, cabe aqui refutar estas objeções:
OBJEÇÃO 1:
Talvez Deus tenha existido como causa do
Universo, mas não existe mais.
RESPOSTA: Sendo
o Universo contingente, a Causa Primeira deve ser um Ser necessário e um Ser
Necessário não pode deixar de existir.
OBJEÇÃO 2:
Seres finitos precisam só de uma causa
finita (David Hume).
RESPOSTA:
Tudo que é finito é causado a existir. A causa primeira não pode ser finita
pois ela precisaria de uma causa anterior.
OBJEÇÃO 3:
Se tudo precisa de uma Causa, então isto
também vale para Deus (Bertrand Russel).
RESPOSTA:
O princípio da causalidade não diz que tudo precisa de uma causa, mas que tudo
que teve começo necessita de uma causa.
OBJEÇÃO 4:
O Universo é mais do que a soma de suas
partes e como um todo não necessita de uma causa.
RESPOSTA: Às
vezes existe uma conexão necessária entre as partes e o todo em função da
própria natureza das partes. É da própria natureza de seres dependentes, ao
serem agrupados, continuarem a ser dependentes.
OBJEÇÃO 5:
O acaso pode explicar todas as coisas
(David Hume).
RESPOSTA:
Um efeito não pode ser maior do que a causa. Existem causas naturais e causas inteligentes,
mas não existem causas ao acaso. As evidências não corroboram o sentido de
haver uma causa ao acaso para o Universo.
OBJEÇÃO 6: O princípio da causalidade é
improvável (David Hume).
RESPOSTA:
- Se todos os eventos fossem inteiramente soltos e separados não haveria forma
de conhecê-los.
-
O argumento cosmológico não está fundamentado na observação meramente empírica,
mas na necessidade metafísica de que do nada nada vem.
-
É impossível que alguma coisa tenha surgido do nada.
-
Seres contingentes necessitam de um ser necessário para ser causa para suas
existências.
OBJEÇÃO 7: O argumento cosmológico comete a
falácia ‘post hoc’ (David Hume).
RESPOSTA:
- O argumento cosmológico não infere uma causa específica para um efeito, mas
uma Causa Infinita para todos os seres finitos.
-
Algumas coisas ocorrem tão regularmente em conexão que dão uma ‘prova’ prática
da causalidade.
-
Apesar de não podermos sempre saber causas específicas, sabemos que o efeito de
uma Causa Infinita só pode ser seres finitos, pois não pode haver mais de um
“Todo”.
-
Se não podemos discernir qualquer espécie de causa e efeito, poderíamos
pressupor que não existe uma mente ateísta por trás de um raciocínio ateísta.
OBJEÇÃO 8:
É possível haver uma série infinita de
causas.
RESPOSTA:
- Um número infinito de eventos impossibilitaria que o hoje houvesse chegado.
-
Seres contingentes e finitos dependem de uma Causa não-causada para existir.
-
Uma série de eventos contingentes precisa de uma base real para sua existência.
OBJEÇÃO 9:
O conceito de um Ser Não-causado não faz
sentido.
RESPOSTA:
- Não há nada de incoerente e contraditório no significado de ser não causado.
-
Pela experiência sabemos do que se trata as limitações de seres contingentes, e
assim, por contraste, sabemos que Deus não tem nenhuma dessas limitações.
OBJEÇÃO 10:
É possível que nada tenha existido,
inclusive Deus.
RESPOSTA:
Um Ser atualmente necessário precisa existir para explicar os seres
contingentes reais que existem.
OBJEÇÃO 11: O argumento cosmológico depende do
argumento ontológico inválido.
RESPOSTA:
O argumento cosmológico está baseado na verdade metafísica de que ‘o nada não
pode causar coisa alguma’ e não na afirmativa de que ‘tudo precisa ter uma
razão suficiente. ’
OBJEÇÃO 12:
A necessidade não se aplica a existência,
mas somente a conceitos.
RESPOSTA:
- Essa afirmação é autodestrutiva, pois afirma a necessidade de que nenhuma
afirmação necessária pode ser feita acerca da realidade.
OBJEÇÃO 13:
Os argumentos teístas levam a antinomias
(Kant).
a. Antinomia acerca do tempo: O mundo não
pode ter começado dentro do tempo, pois isso implicaria que houve um tempo
antes do mundo existir.
RESPOSTA:
O teísmo afirma que houve uma criação do tempo, não uma criação dentro do
tempo.
b. Antinomia acerca da causalidade: Toda causa precisa de uma causa, logo a
série precisa continuar até o infinito.
RESPOSTA:
Somente as coisas finitas precisam de uma causa.
c. Argumento acerca da contingência: Tudo precisa ser contingente, pois a
necessidade se aplica unicamente aos conceitos e não às coisas.
RESPOSTA:
Ver Objeção 12.
OBJEÇÃO 14:
Não existe necessidade de uma causa
aqui-e-agora para o Universo.
RESPOSTA: - Um ser necessário não pode deixar de
existir.
-
Um ser contingente sempre precisará de um ser necessário do qual dependa sua
existência.
-
Relações causais podem ser simultâneas.
-
Tudo que existe depende de algo que esteja causado sua existência neste exato
momento.
-
Todo ser finito é causado independente do momento da existência no qual esteja.
-
ele continuará recebendo sua existência de algo que transcende. A mudança do
momento da sua existência dependente não fará dele um existente não dependente.
OBJEÇÃO 15:
Os modelos ato/potência ou
necessário/contingente são arbitrários.
RESPOSTA:
O modelo necessidade/contingência não é arbitrário, mas logicamente exaustivo.
OBJEÇÃO 16:
O argumento cosmológico comete falácias
modais. Embora seja possível que seres contingentes não existam isso não
significa que seja necessário que eles não existam sem uma causa.
RESPOSTA:
Se qualquer ser contingente existir, temos que concluir que um ser necessário
também existe.
OBJEÇÃO 17: Um mundo imperfeito não precisa de
uma causa perfeita.
RESPOSTA:
- O não-perfeito só pode ser conhecido se houver algo perfeito que lhe sirva de
parâmetro.
-
A causa não precisa ser igual ao seu efeito.
-
A pura atualidade não pode ser imperfeita.
OBJEÇÃO 18:
O que é logicamente necessário não
necessariamente existe.
RESPOSTA:
Deus não é apenas logicamente necessário, mas verdadeiramente necessário.
OBJEÇÃO 19:
Causas reais não podem ser inferidas de
efeitos observados.
RESPOSTA:
- É um ciclo vicioso supor que conhecemos as ideias, ao invés da realidade por
meio das ideias.
-
Dizer que não podemos conhecer a realidade já é uma afirmação acerca da
realidade.
OBJEÇÃO 20:
A existência de um Deus Todo-poderoso é
impossível.
RESPOSTA:
Ser Todo-poderoso não significa que Deus pode fazer qualquer coisa, mas que ele
pode fazer todas as coisas logicamente possíveis.
OBJEÇÃO 21:
Se Deus é Tudo, Ele é contraditório (bom
e mau, perfeito e imperfeito, etc.).
RESPOSTA:
Quando dizemos que Deus é Ilimitado ou Infinito, não queremos dizer que Deus é
Tudo.
OBJEÇÃO 22:
Deus não passa de uma projeção da nossa
imaginação (Feuerbach).
RESPOSTA:
A existência de Deus está apoiada em evidências racionais convincentes.
OBJEÇÃO 23:
Deus não passa de uma ilusão (Freud).
RESPOSTA:
- Nem todas as pessoas creem em Deus porque deseja um Pai Celestial, alguns
descobrem Deus porque estão interessados na verdade, e não simplesmente porque
estão preocupados em se sentir bem.
-
O Deus cristão também é um Juiz severo, o que é uma crença desconfortável.
-
Talvez nossa imagem do Pai seja moldada por Deus, não o contrário.
-
O argumento de Freud comete uma falácia genética.
-
Nós não desejamos a Deus simplesmente, nós precisamos dele.
OBJEÇÃO 24:
Os argumentos teístas não são
persuasivos.
RESPOSTA:
Os argumentos teístas não convertem automaticamente os descrentes, mas pessoas
de boa-vontade.
OBJEÇÃO 35:
Se Deus conhece tudo, então o homem não é
livre.
RESPOSTA:
- Conhecer não é o mesmo que preordenar.
-
Deus determina em sua presciência o que faremos por decisão própria.
-
Deus não pré-conhece, Ele conhece no presente eterno.
II. PRESSUPOSTO SOBRENATURAL
“Deus criou o mundo e intervém
miraculosamente nele”
O milagre pode ser teologicamente
definido como intervenção divina no curso regular do mundo que produz um evento
com um objetivo definido e que não poderia ocorrer de outra forma. Nesse
sentido, milagres são eventos sobrenaturais,
mas não antinaturais, o que significa
que quando ocorre um milagre não há uma violação da lei natural da causalidade,
mas sim uma superadição de uma causa sobrenatural que produz um novo efeito.
A Bíblia Sagrada emprega três palavras
para falar de eventos miraculosos que nos ajudam a compreender a origem, a finalidade e a natureza
do milagre. A origem é representada
pela palavra poder (hb. Koak; gr. Dunamis), que traz consigo a ideia de força ou energia. Quanto à finalidade do milagre, fala-se dos
propósitos dos eventos sobrenaturais causados por Deus, tendo, em especial, o
fim de servir de sinal (hb. Oth; gr. Semeion) que confirma a origem de uma mensagem divina. Por fim, a
palavra maravilha (hb. Mophet; gr. Teras) revela a natureza do milagre, como sendo naturalmente um
evento incomum e que por seu caráter espantoso atrai a atenção dos
observadores.
No entanto, argumentos tem sido
apresentados contra os milagres. Baruch
Spinoza apresentou o Argumento da
Imutabilidade da Lei Natural, este argumento afirma que as leis naturais
são imutáveis e portanto não podem ser violadas. O problema desse argumento é
um petição de princípio, isto é, a definição de leis naturais como imutáveis já
pressupõe uma visão anti-sobrenaturalista. David
Hume e Anrony Flew apresentaram
o chamado Argumento do Princípio da Repitibilidade, este argumento diz que evidência
em favor do regular é sempre maior do que a evidência em favor do raro e, visto
que quem é sábio sempre baseia sua crença na evidência mais convincente e sendo
o milagre, por definição, uma ocorrência rara, um sábio não deveria acreditar
em milagres. O argumento baseado no princípio da repetibilidade é incoerente
com a própria epistemologia de Hume caindo na falácia de uma conjunção
constante e de uma espécie de consensus
gentium. O que Hume parece deixar passar em branco é que as pessoas sábias,
na verdade, baseiam as suas crenças em fatos, não em probabilidades. Às vezes,
a probabilidade contrária a um evento é muito alta, mas a evidências a favor
desse evento é muito boa.
III. PRESSUPOSTO REVELACIONAL
“Deus se revelou tanto na forma
geral quanto especial”
A revelação de Deus aos homens é possível
graças a quatro coisas: (1) o fato
de as leis básicas da razão serem comuns entre Deus e os homens. (2) O fato da verdade ser objetiva. (3) o fato de haver semelhanças entre
Deus e os homens e (3) A vontade de
Deus em se revelar. A revelação de Deus pode ser distinguida em: (i) Revelação Especial: é a revelação
de Deus na Bíblia que apresenta Deus como Redentor, sendo o meio de salvação; (ii) Revelação Geral: É a revelação de Deus na Natureza física,
humana, na História, na Arte e na Música. É quantativamente mais abrangente que
a revelação especial, é essencial para o pensamento humano, para o governo
humano e para a apologética. Revela Deus como Criador e é um meio de condenação. Sobre as relações
entre as duas revelações pode-se apresentar três princípios: (1) Não existem contradições entre
elas. (2) Podem existir contradições
nas interpretações delas. (3) Quando
há conflito nas interpretações, deve-se priorizar a interpretação mais correta.
Cabe, aqui refutar brevemente três argumentos contra a Revelação Geral:
OBJEÇÃO 1:
A Revelação natural não é clara.
RESPOSTA:
Não se trata da Revelação natural não ser clara, mas sim do homem natural não
compreendê-la.
OBJEÇÃO 2:
A Revelação natural foi distorcida pelo
pecado.
RESPOSTA:
A distorção não está na forma como Deus se mostra, mas na distorção que a
humanidade faz ao receber essas verdades.
OBJEÇÃO 3:
A Revelação geral não é identificável.
RESPOSTA:
A revelação geral pode ser identificada tanto na natureza externa quanto na
natureza moral externa.
IV. PRESUPOSTO RACIONAL
“A revelação especial está sujeita
às leis da lógica”
Existem três leis fundamentais do
pensamento racional: (1) Lei da
não-contradição (A ≠ não-A); (2) Lei
da identidade (A=A) e (3) Lei do
terceiro excluído (ou A ou não-A). Compreendidas essas leis, pode-se agora
tratar das leis da inferência racional, começando pela Lógica dedutiva: (1) Se A está totalmente em B, e (2) Se B está totalmente contido em C,
logo (3) A está totalmente contido
em C.
Tendo em mente esses princípios de
inferência dedutiva, é possível construir silogismos.
Consideremos primeiro os silogismos
categóricos, eles podem ter premissas que podem ser de Afirmativa Universal (Todos...
são...); Negativa Universal (Todos... não são.../ Nenhum...é...); Afirmativa Particular (Alguns...são...) ou Negativa
Particular (Alguns... não são...).
Quando se fala de silogismo, é possível considerar a distribuição dos
predicados. O fato de um predicado ser
distribuído (D) significa que todos os elementos de sua classe estão incluídos.
Nesse sentido pode-se dizer que um predicado é D (distribuído) ou ND (não
distribuído), como se segue:
• Todo S (D) é P (ND).
• Nenhum S (D) é P (D); ou Todo S (D)
não é P (D).
• Algum S (ND) é P (ND)
• Algum S (ND) não é P (D)
O silogismo categórico possui três
termos: (1) TS: Sujeito; (2) TP: predicado e TI: termo intermediário. Assim,
tendo em mente esses três termos o silogismo categórico fica como se segue:
1. TI
é TP
2. TS é TI
3. Logo, TS é TP
O silogismo categórico deve obedecer às
seguintes regras:
• É necessário somente três termos (TI,
TS, TP);
• O TI deve ser pelo menos uma vês
distribuído;
• Os termos distribuídos na conclusão
devem ser distribuídos na premissa;
• A conclusão sempre segue a premissa
mais fraca (negativas e particulares);
• Nenhuma conclusão surge de duas
premissas negativas;
• Nenhuma conclusão negativa surge de
duas premissas negativas.
Quando não se observa tais regras, se
comete falácias. As falácias que podem ser cometidas são:
Falácia do Maior Lícito:
TP é distribuído na conclusão, mas não na premissa.
Falácia do Menor Lícito:
TS é distribuído na conclusão, mas não na premissa.
Falácia do Intermediário
Não-distribuído: O TI não é, pelo menos uma vez,
distribuído.
Falácia dos Quatro Termos:
Não há somente três termos no silogismo.
Falácia do Formato: O
TI aparece mais de uma vez nas premissas ou aparece alguma vez na conclusão.
Além do silogismo categórico, existem
outras formas de silogismos. O Silogismo
Hipotético (Se A, temos B), que pode ser no modus pollens, quando afirma o antecedente ou no modus tollens, quando nega o
consequente. Há ainda o Silogismo
Disjuntivo que segue a seguinte forma:
1. É ou A, ou não-A
2. Não é não-A.
3. Logo, é A.
Além da Lógica Dedutiva, existe a Lógica
Indutiva. A indução deve obedecer as seguintes regras: (1) Quanto maior a amostragem,
melhor a conclusão. (2) A amostra precisa ser representativa qualitativamente.
(3) As evidências precisam ser minuciosamente examinadas. (4) A conclusão
precisa ser correlacionada com o conhecimento já disponível. Consideradas as
leis da lógica é importante dizer que mesmo Deus está epistemologicamente
sujeito à essas leis.
V. PRESSUPOSTO SEMÂNTICO
“A revelação especial contém
afirmações com significados objetivos”
Pode-se apresentar, a princípio, duas
visões sobre o significado. O Essencialismo
defende que existe naturalmente uma correspondência entre linguagem e significado.
Já o Convencionalismo diz que todo
significado é relativo. O convencionalismo é defendido por Ferdinand Sassure e Gttlob
Frege. Pode-se citar ainda Ludwing
Wittgenstein que entende que a linguagem é equívoca, que a linguagem é
inexprimível e que a conversa sobre Deus como absurda. Nesse sentido, a linguagem
seria acognóstica (sem significado cognitivo).
Para discutir a questão da linguagem é
preciso estabelecer uma distinção entre os símbolos convencionais (como as
palavras) do significado. Os símbolos são convencionalmente relativos, mas o
significado é imutável. Visto que a convencionalidade pertence ao símbolo, não
ao significado, o convencionalismo está errado. Pode-se apresentar as seguintes
críticas ao convencionalismo: (1) O
convencionalismo é autocontraditório: A
frase “Todo significado é negativo” afirma
o que pretende negar. (2) Existem
frases que claramente têm significado absoluto e universal (exemplo: “Todos os
triângulos tem três lados.) (3) As
leis lógicas e as verdades matemáticas possuem claramente significado absoluto. (4) O fato de uma coisa ser aprendida
por convenção social não torna sua base social. (5) Uma declaração sem qualquer tipo de embasamento para seu
significado é sem significado. (5) A
consistência lógica não determina a validade de um significado. (6) Apresentar uma base relativa para
o relativismo é andar em círculos. (7) Se
a distinção entre gramática de superfície e profunda for universal contradiz o
próprio convencionalismo. (7) Não
poderíamos saber que não podemos conhecer a Deus se realmente não pudéssemos
saber nada sobre ele.
Refutar o convencionalismo não significa
que tenhamos que adotar o essencialismo, pois os símbolos linguísticos não
estão naturalmente ligados aos seus significados, como visto, os símbolos são
convencionais. A terceira possibilidade para além do convencionalismo e do
essencialismo, é o Realismo, segundo
o qual o significado é objetivo mesmo que os símbolos sejam relativos.
Tomando os tipos de causa, pode-se falar
das seguintes causas do significado:
(i) Causa Eficiente: Escritor. (ii)
Causa Final: Objetivo do escritor. (iii) Causa Formal: Escrita (lócus de
significado). (iv) Causa Material:
Palavras. (v) Causa Exemplar: Ideias
do autor. (vi) Causa Instrumental:
Leis do pensamento. Quando se considera um texto, incluindo o texto bíblico,
deve-se dizer que um texto possui um só significado
(sensus unum), mas muitas
aplicações.
VI. PRESSUPOSTO EPISTEMOLÓGICO
“As afirmações da revelação
especial são objetivamente verdadeiras”
Existem várias teorias falsas sobre a
verdade, entre elas pode-se citar:
Pragmatismo:
De acordo com o Pragmatismo a verdade é aquilo que funciona ou produz
resultados úteis. O problema com essa visão é que muitas das vezes mentiras e
enganos funcionam muito bem. O Pragmatismo também é uma cosmovisão restritiva,
já que a verdade é determinada pela utilidade, isso descartaria algumas
verdades puramente teóricas, metafísicas e abstratas.
Coerentismo:
Conceitua verdade como aquilo que em seu todo é logicamente consistente,
coerente e que faz sentido. No entanto construções lógicas e com sentido nem
sempre são verdadeiras. Por exemplo, a sentença “São Paulo é a capital do
Brasil”, é uma frase lógica, que faz sentido e que é coerente em si mesma, contudo
é evidentemente falsa.
Intencionalismo:
Essa visão entende que algo é verdadeiro se a pessoa que afirmou uma proposição
tinha a intenção de dizer a verdade e falso se a pessoa que afirmou determinada
pressuposição não tinha a intenção de dizer a verdade. Nesse sentido a
sinceridade da pessoa é o que importa. Sabemos, no entanto, que pessoas podem
estar sinceramente enganadas.
Abrangencionismo:
Uma teoria verdadeira seria aquela que consegue abranger e explicar uma coisa
da forma que mais abranja os aspectos e elementos dessa coisa. No entanto, é
evidente que é possível existir uma cosmovisão ampla sobre algo que é falso e
uma visão incompleta daquilo que é verdadeiro.
Existencialismo:
A verdade é aquilo que é subjetivamente relevante para o indivíduo e sua
existência. Esse pensamento apresenta os mesmos problemas semelhantes ao
pragmatismo, pois nem tudo o que é essencialmente relevante é verdadeiro.
Subjetivismo: A
verdade é determinada por um sentimento subjetivo de que algo é bom. No
entanto, a verdade é que a verdade muitas vezes machuca.
Há algumas coisas em comum com todas as
teorias apresentadas acima. A maioria delas confundem teste de verdade, com
definição de verdade. A Epistemologia aqui defendida, por outro lado, não é
autodestrutiva em sua alegação. A verdade é definida justamente como aquilo que
corresponde à realidade (teoria da
correspondência de verdade).
VI. PRESSUPOSTO OPOSICIONAL
“As afirmações da Revelação especial são
exclusivamente verdadeiras”
No que diz respeito à relação da
religião cristã com outras, há diferentes opiniões. O Pluralismo Religioso afirma que todas as religiões levam a “Deus”,
o Relativismo declara que a religião
de cada pessoa é verdadeira para ela, o Inclusivismo
diz que há uma só religião explicitamente verdadeira, mas todas as
religiões são implicitamente verdadeiras. O Exclusivismo, que é a visão defendida neste livro, afirma que há
uma só religião verdadeira e que todas as contrárias são falsas.
John
Rick apresentou o seguinte argumento a favor do pluralismo religioso: Todas as religiões são moralmente iguais
pois todos ensinam a regra do outro (“Tratar o próximo como gostaria de ser
tratado”). Contra isto, podemos apresentar a seguinte refutação: Existem valores morais exclusivamente
cristãos, como o amor ágape, existem ainda manifestações exclusivas de
santidade encontradas só no Cristianismo como nota Jonathan Edwards. O fundador
da religião cristã foi a única pessoa perfeita que já existiu, nesse sentido, o
Cristianismo é moralmente superior a todas as outras religiões. Além disso,
universalidade da regra de ouro é uma manifestação da revelação geral e da
graça comum. Argumenta-se que o exclusivismo é intolerante, este argumento
ignora que só é possível tolerar aquilo que se discorda. Na verdade só o
exclusivismo torna a tolerância possível. Por fim, o Cristianismo reivindica
ser a única religião verdadeira de modo que o Pluralismo é contrário ao
Cristianismo.
VIII. PRESSUPOSTO LINGUÍSTICO
“Nossa linguagem sobre Deus é
analógica”
Existem três pontos de vista sobre a
linguagem teológica. Há quem defenda que a linguagem é equívoca (totalmente diferente da realidade), unívoca (totalmente igual a realidade) ou analógica (semelhante à realidade). Contra a visão de que a
linguagem é equívoca, pode-se dizer que ela é autodestrutiva pois afirmar que
não podemos afirmar nada sobre Deus já é uma afirmação sobre Deus.
Donus
Socotus defendeu que a linguagem é unívoca.
Scotus argumentou que se não houver uma univocalidade básica nos conceitos
não é possível haver nenhum tipo de certeza no nosso conhecimento sobre Deus,
mesmo um conceito “análoga” precisaria se basear em um elemento unívoco, caso
contrário ele seria totalmente equóvoco. Tomás
de Aquino, no entanto, observou que existe uma distância infinita entre
Deus e as criaturas o que impede toda predicação unívoca. É possível, no
entanto conciliar as duas visões Pode-se dizer que os conceitos são unívocos,
mas são predicados a Deus de maneira analógico, pois se tem uma mesma
definição, porém a predicação em relação a Deus é feita de maneira ilimitada
enquanto em relação às criaturas é predicada de maneira limitada.
A analogicidade da linguagem pode ser
afirmada com base no fato de que Deus é a causa da criação, pois o efeito
guarda semelhança com sua causa. Esta
causalidade é intrínseca (há uma ligação entre Deus e as criaturas), eficiente
(tudo flui de Deus), essencial (Deus causa o próprio ser do mundo) e principal
(Deus é a causa primára da criação). Estabelecido o princípio da analogicidade,
pode-se agora responder aos argumentos levantados contra ele:
OBJEÇÃO 1: A analogicidade entre Deus e a
criação levaria a ter que se predicar todas as qualidades da criação a Deus.
Resposta: Somente
conceitos que não denotam necessariamente o que é finito pode ser aplicados a
Deus, pois Deus é infinito.
OBJEÇÃO 2: Separar palavras de sua condição
finita às tornam desprovidas de significado.
Resposta: Os
significados das palavras não são esvaziados, pois embora a predicação seja
analógica, o conceito permanece o mesmo (unívoco), o que ocorre é que os
significados quando são aplicados a Deus são estendidos ao infinito.
OBJEÇÃO 3: Não parece ser correta a suposição
de que a causalidade gera similaridade.
Resposta: A
analogia só existe em termos de causalidade intrínseca, essencial, principal e
eficiente e é este tipo causalidade que diz respeito a relação de Deus com a
criação.
OBJEÇÃO 4: A predicação analógica cairia numa
regressão infinita até um elemento unívoco.
Resposta: Como
já considerado, embora a predicação seja analógica, os conceitos são unívocos.
OBJEÇÃO 5: A suposição da similaridade dos
seres teria que ser expressa não-univocamente.
Resposta: Não
se trata de uma suposição, a analogicidade é uma alternativa ao monismo, pois
se não houvesse diferença, haveria um único ser, mas se houvesse só igualdade
só haveria um Ser. Assim, tanto a univocidade, quanto a equivocidade cairia no
monismo.
OBJEÇÃO 6: Com a teoria da linguagem de
Wittgenstein não há porque falar de univocidade, equivocidade ou analogia, pois
todo significado insere-se na verdade em um contexto de significações.
Resposta: Pode-se
considerar “significado unívoco” como o uso comum de uma palavra dentro de um
contexto.
OBJEÇÃO 7? A teoria geral da analogia não
funciona.
Resposta: Se
a analogia estiver ligada à metafísica da causalidade intrínseca, ela deve
funcionar.
IX. PRESSUPOSTO HERMENÊUTICO
“Os significados devem ser
objetivamente compreendidos”
Algumas teorias podem levar ama
hermenêutica subjetivista. Esse pode ser o caso do Existencialismo de Heidegge. Heidegger diz que à medida que o homem
ou Dasein se perde no cotidiano, ele
vive uma existência não-autêntica, a angústia
seria o sentimento que retiraria o ser humano desse estado e fazê-lo atentar
para o ser. A poesia teria um importante papel na linguagem sobre o ser. A
linguagem desvelaria o ser, seria importante atentar para etimologia da
linguagem a fim de descobrir o verdadeiro sentido das palavras. Heidegger
acabou caindo em um certo misticismo, acaba por negar a teoria da correspondência
de verdade ao ensinar que a linguagem desvela o ser ao invés de descrevê-lo, acaba enfatizando demais a
etimologia das palavras caindo numa falácia etimológica e por fim, em sua busca
do Ser, rejeita o verdadeiro Ser que é Deus.
Outra teoria hermenêutica problemática é
o Desconstrucionismo Derridiano.
Segundo esta teoria estamos presos em nossa própria bolha linguística, defende
que se pode fazer várias releituras de um texto a fim de ir sempre descobrindo
novos significados. Esta teoria é autodestrutiva pois a afirmação de que estamos
presos na linguagem já se pretende afirmar algo que precisaria ser colocado
fora dos limites da linguagem.
No campo da teologia, uma teoria
complicada para a interpretação do texto bíblico é a Desmitologia de Bultman. Bultman entende que é impossível ao homem
contemporâneo acreditar nos milagres do Novo Testamento, sendo necessário despir
o novo testamento de sua “estrutura mitológica”. Bultman nega a ressurreição de
Cristo, dizendo que ele apenas ressuscitou no coração dos discípulos. Esta
teoria ignora o fato de que o Novo Testamento é um livro histórico confiável,
não mitológico.
Contra as hermenêuticas subjetivistas, é
preciso afirmar a objetividade da hermenêutica, esta objetividade pode ser
afirmada com base em quatro coisas: (i)
na existência de uma mente absoluta; (ii)
no fato de que o significado é absoluto; (iii)
na analogia que existe em relação à coisa significada na mente de Deus e na
nossa mente; (iv) na imagem de Deus
no homem que torna possível a capacidade humana para compreensão do significado
objetivo revelado por Deus.
Para interpretar a Bíblia corretamente é
preciso compreender o significado do texto em seu contexto. Já, para
interpretar a revelação geral, é preciso seguir cinco princípios: (i) princípio de causalidade: entender
que tudo aquilo que é finito veio de algo; (ii)
princípio da consistência: ser coerente em usar a razão para determinar o
meio de ação adequado para o fim desejado; (iii)
princípio da uniformidade: aprender com as experiências passadas buscando identificar
padrões e regularidades; (iv) princípio
da teleologia: compreender o propósito ou projeto que pode ser identificado
na natureza; (v) princípio lógica: aplicar
as leis gerais da lógica.
X. PRESSUPOSTO HISTÓRICO
“Os elementos relacionados aos
eventos históricos devem ser compreendidos objetivamente”
Aqui será suficiente refutar os
argumentos contra uma historiografia objetiva:
OBJEÇÃO EPISTEMOLÓGICA: Não existe neutralidade da parte do
historiador, pois ele é um produto de seu tempo.
Resposta: Por
“conhecimento histórico objetivo”, não se pretende dizer um conhecimento
absoluto, mas uma apresentação adequada, precisa e razoável dos fatos
históricos.
OBJEÇÃO AXIOLÓGICA: O historiador não pode deixar de
fazer juízo de valor.
Resposta: A
moral é objetiva de modo que fazer juízos de valor corretos não contradiz a
objetividade.
OBJEÇÃO METODOLÓGICA: Historiadores precisam fazer uma
seleção dos relatos fragmentados e interpretá-los, e essa seleção e
interpretação são influenciados por fatores subjetivos.
Resposta: Ainda
que não se possa atingir uma objetividade absoluta, isso não elimina a
possibilidade de alcançar um grau satisfatório de objetividade.
OBJEÇÃO METAFÍSICA: A interpretação da História depende
da Cosmovisão do historiador. Há quem leia a História como caótica, cíclica ou linear.
Resposta: A
cosmovisão evidentemente correta é a visão bíblica que enxerga os fatos
históricos como lineares, isto é, como um movimento teleológico.
OBJEÇÃO PSICOLÓGICA: A paixão
religiosa obscurece a objetividade histórica, de modo que a história registrada
por religiosos não é confiável.
Resposta: Se
a historicidade de um relato deve ser negada em função das motivações de um
autor, ninguém poderia escrever relatos fidedignos da história.
OBJEÇÃO HERMENÊUTICA:
Existem fatores subjetivos que dificultam
determinar a qualidade de um relato histórico.
Resposta: A
presença de preocupações subjetivas não implica a renúncia da objetividade.
XI. PRESSUPOSTO METODOLÓGICO
“A revelação pode ser sistematizado
por um método teológico completo e compreensivo”
A metodologia determina a Teologia.
Existem diferentes métodos que já foram desenvolvidos na filosofia, podemos
citar:
Método reductio absurdum: este método era usado
por Zenão e consiste em reduzir o ponto de vista oponente ao absurdo
demonstrando que ele termina em uma série de contradições.
Método socrático: é
uma técnica simples que consiste em descobrir a verdade por fazer as perguntas
certas.
Método dedutivo:
Este método era usado por Aristóteles. Consiste em se fazer deduções que podem
ser categóricas, hipotéticas ou disjuntivas.
A lógica dedutiva já foi considerada na parte sobre o pressuposto racional.
Método indutivo: Era
usado por Francis Bacon e pode ser imperfeito
quando consiste em conclusões probabilísticas a partir de amostras ou perfeito quando se examina todos os
elementos de um conjunto.
Método euclidiano: consiste
em tirar conclusões a partir de axiomas geométricos.
Método transcendental: é
o método kantiano que busca atingir por meio da redução a condição necessária
para um estado de coisas.
Método abdutivo: É
o método usado por Charles Peirce e consiste numa compreensão intuitiva.
Método retrodutivo: consiste
em melhorar nossa compreensão de algo que já sabíamos pelo acréscimo contínuo
de conhecimento.
Método Analógico:
era usado pelo bispo Joseph Butler, consiste em identificar analogias entre a
revelação natural e a religião revelado.
Método Dialético:
Usado por Karl Marx, consiste em promover um choque de uma tese com uma
antítese com o propósito de produzir uma síntese de ambas.
Método pragmático: Usado por William James, consiste em
identificar a verdade com base naquilo que funciona.
Método experimental: Usado
por John Dewey, consiste no avanço das nossas crenças por meio do avanço em
nossas experimentações.
Método evolucionário: aplicado
à antropologia, sugere uma evolução da sociedade de um estágio primitivo a um
estágio mais desenvolvido.
Método Historiográfico de
Troeltsch: consiste na reconstrução histórica dos
eventos passados com bases em analogias com eventos presentes.
Tendo apresentado os diferentes métodos
filosóficos, pode-se apresentar uma metodologia cristã em nove princípios: (1) Fazer induções com base em
perguntas socráticas sobre os textos bíblicos; (2) fazer deduções lógicas a partir de verdades bíblicas; (3) fazer uso de analogias para ilustrar
as doutrinas bíblicas; (4)
correlacionar a interpretação da revelação geral com a da especial para fazer
correções nas interpretações; (5)
compreender de maneira retrodutiva uma doutrina com as informações já obtidas; (6) correlacionar sistematicamente
todas as afirmações de uma doutrina levando em conta o princípio da
não-contradição; (7) correlacionar
todas as doutrinas do sistema geral de modo a evitar contradições internas; (8) considerar os ensinos históricos e
dos pais da igreja e; (9) considerar
a aplicação prática das doutrinas cristãs.
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