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METAFÍSICA DO TEÍSMO - ROBERT ADAMS (RESUMO)



O que se segue é um resumo da parte IV do livro The Virtue of Faith and Other Essays in Philosophical Theology, intitulada “The Metaphysics of Theism” e que reúne os seguintes ensaios do autor: (1) Realmente foi provado que toda existência real é contingente? (Has It Been Proved That All Real Existence Is Contingent?); (2) Necessidade divina (Divine Necessity); (3) A estrutura lógica do argumento ontológico de Anselmo (The Logical Structure of Anselm's Arguments), (4) Deus e Qualia fenomenológico (Flavors, Colors, and God). É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação das teses do texto original de forma compactada, não uma resenha crítica. A ideia é de que o texto permaneça do autor original no sentido de apresentar de modo resumido suas principais teses no livro. Entretanto, este resumo não substitui a leitura do livro original, nem é uma reprodução dele, trata-se apenas de um roteiro para estudo com propósito educacional sem fins lucrativos. A obra usada como referência para este resumo foi: ADAMS, Robert Merrihew. The Virtue of Faith and Other Essays in Philosophical Theology. New York: Oxford University Press, 1987.

 

 

I. REALMENTE FOI PROVADO QUE TODA EXISTÊNCIA REAL É CONTINGENTE? 

 

Muitos filósofos acreditam que nenhuma proposição que afirme a existência de algo pode ser logicamente necessária. David Hume adotou o chamado método da concepção distinta, segundo o qual, tudo o que pode ser concebido como existindo também pode, sem impropriedade lógica, ser concebido como não existindo. A única forma pela qual o método da concepção distinta poderia fornecer uma prova geral de que a não existência é logicamente possível em todos os casos seria apresentando uma prova de que um estado de coisas em que nada existisse seria logicamente possível. No entanto, não parece provável que tal estado de coisas possa ser concebido de uma maneira que exclua toda dúvida racional sobre sua possibilidade lógica. Seria absurdo supor que poderíamos viver, na imaginação, experiências que estabelecessem com certeza que nada existia, pois, no mínimo, as próprias experiências e/ou um experimentador teriam que existir. 

Um segundo argumento sugere que a existência não pode ser logicamente necessária, embora a não existência possa ser. Normalmente se supõe que "Existe um F" é verdadeiro se, e somente se, o conceito de F for satisfeito. Para saber se um conceito é satisfeito, é necessário examinar tanto o conceito quanto algo externo a ele. Assim, afirma-se que não pode ser logicamente necessário que um conceito seja satisfeito, ou que algo de um certo tipo exista, já que verdades logicamente necessárias são aquelas que podem ser conhecidas apenas pela consideração dos conceitos. 

Esse argumento pode ser respondido se pensarmos em termos de mundos possíveis. Podemos dizer que as proposições são feitas para se adequar a estados de coisas ou mundos possíveis. Pode-se afirmar que "Existe um G" é logicamente necessário porque sua negação, a proposição "Não existe um G", é tão mal construída que não poderia se ajustar a nenhum mundo possível. Assim, uma proposição existencial afirmativa logicamente necessária (como qualquer outra proposição logicamente necessária) seria uma proposição verdadeira em todos os mundos possíveis, e cuja negação não conseguiria descrever nenhum tipo de mundo possível. 

Muitos filósofos apresentaram argumentos para a existência logicamente necessária de Deus, incluindo o argumento ontológico a priori. Frequentemente, argumenta-se que o problema com os argumentos a priori para a existência de Deus é que não se pode legitimar a transição de meros conceitos para a realidade dessa forma. Para alguns, verdades logicamente necessárias refletem apenas nosso uso das palavras. A resposta correta a essa argumentação é que a visão de que a necessidade lógica reflete apenas o uso das palavras não pode implicar que toda proposição existencial deve ser contingente. Argumentos para a existência logicamente necessária de Deus, ou de qualquer outra coisa real, poderiam presumivelmente ser interpretados como parte dessa investigação, como tentativas de nos mostrar que, na verdade, as palavras são usadas de tal maneira que é logicamente necessário que um certo objeto real exista. 

 

II. NECESSIDADE DIVINA 

 

A doutrina da necessidade divina refere-se à crença de que a existência de Deus é necessária no sentido mais forte possível — ou seja, que não é apenas causal, física ou hipotética, mas sim logicamente, metafisicamente ou absolutamente necessária. Muitos filósofos acreditam que a necessidade não pode ser compreendida exceto como consistindo em analiticidade e que as proposições existenciais não podem ser analíticas. Não há nenhuma boa razão para pensar que todas as verdades necessárias precisem ser analíticas. Quando dizemos que algo é uma verdade necessária, não estamos dizendo que ela expressa uma analiticidade, mas sim que ela não pode ser falsa.  

Outra objeção à doutrina da necessidade divina é que, se Deus existe, sua existência é tão real que não pode ser considerada necessária. Muitos filósofos acreditam que a necessidade absoluta é "lógica" ou "conceitual" de tal forma que fica restrita a um domínio mental ou abstrato. Segundo essa perspectiva, verdades necessárias não podem ser "sobre o mundo". No entanto, parece fazer sentido comum afirmar que as verdades necessárias da matemática que entram, por exemplo, em cálculos da física, também contribuem de alguma forma para a determinação dos eventos reais e fazem parte de sua explicação. 

É razoável supor que possuímos uma faculdade para reconhecer verdades de maneira não empírica. Uma teoria da seleção natural pode fornecer a explicação naturalista mais promissora para o fato de termos essa faculdade. No entanto, há aspectos do nosso conhecimento sobre verdades necessárias para os quais essa explicação evolutiva é menos satisfatória, como é o caso do conhecimento modal. Podemos supor, no entanto, que é simplesmente da natureza da mente humana, ou talvez da mente em geral, a capacidade de reconhecer verdades necessárias.  

 

III. A ESTRUTURA LÓGICA DO ARGUMENTO ONTOLÓGICO DE ANSELMO  

 

O argumento de Anselmo em seu Proslogion é o seguinte: 

1. Existe, pelo menos no entendimento, algo do qual nada maior pode ser pensado. 

2. Se isso existe apenas no entendimento, pode-se conceber que exista também na realidade, 

3. O que existe tanto no entendimento quanto na realidade, é maior do que o que existe só no entendimento. 

4. Portanto, existe tanto no entendimento quanto na realidade algo do qual nada maior pode ser pensado. 

Usando a simbologia dos quantificadores da lógica moderna, o argumento pode ser representado como se segue: 

(1) (∃x)(m)(Ux∧(x,m)) 

(2) (∀x)(m)((Ux∧(x,m))→M(Rx)) 

(3) (∀x)(m)(((x,m)∧¬Rx)→¬M¬(Rx∨(∃n)(Gnm∧Qnx))) 

(4) (∃x)(m)(Ux∧Rx∧(x,m)) 

  • x: Refere-se a uma entidade ou ser. 

  • m: Representa a propriedade de ser algo do qual nada maior pode ser pensado. 

  • U: Significa "no entendimento" (ou seja, algo que existe apenas na mente). 

  • R: Significa "na realidade" (ou seja, algo que existe de fato no mundo real). 

  • M: Representa "é possível" (ou seja, o que é possível que exista ou seja concebido). 

  • G: Representa "grandeza" (pode ser interpretado como uma propriedade de grandeza ou superioridade). 

  • Q: Representa "qualidade" ou "propriedade" (que conecta a grandeza com o ser). 

  • n: Representa outro possível ser, relacionado de alguma forma à grandeza G 

 

O argumento de Anselmo é uma forma de redução ao absurdo, negar que o maior ser concebível exista resulta em uma contradição. O argumento sofreu objeções, desde a objeção da ilha feita por Gaulino até objeções como a de Kant de que a existência não é um predicado. Além disso, existem reformulações contemporâneas do argumento em termos de lógica modal, como encontramos em Charles Hartshorne, por exemplo.  

O argumento do Proslogion provavelmente nunca foi defendido, exceto como parte de um programa destinado a provar a existência logicamente necessária de Deus. Ele só teria valor como prova dessa conclusão se ajudasse a tornar mais plausível a alegação de que é logicamente possível que a existência de Deus seja logicamente necessária. No entanto, parece muito improvável que esse argumento ajude nesse sentido. Na verdade, parece correto afirmar que, embora o argumento ontológico e modal para a existência de Deus nos ajude a perceber que a questão da possibilidade é crucial para a existência divina logicamente necessária, nem o argumento modal nem o ontológico nos oferecem fundamentos para responder a essa questão. 

 

IV. DEUS E QUALIA FENOMENOLÓGICOS  

 

Os filósofos têm debatido bastante sobre a natureza das qualia fenomenais. Podemos formular uma pergunta geral: Por que as qualia fenomenais estão correlacionadas com as qualidades físicas da maneira como estão? As explicações científicas não respondem de forma satisfatória a essa questão. Já que a existência das qualia fenomenais é tão evidente na sensação que dificilmente pode ser negada, elas são vistas como características pertencentes exclusivamente ao domínio mental, estando ausentes no físico.  

As qualia estão relacionadas ao problema mente/corpo. Não se trata apenas de o fato de que a ciência ainda não encontrou uma explicação para a correlação entre qualia e estados físicos. A ciência não pode oferecer uma explicação para essa questão. Como distingue Richard Swinburne, há dois tipos de explicações: (i) explicações científicas: é aquela que é feita em termos de leis da natureza; (ii) explicações personalistas: são aquelas que são feitas em termos dos poderes e ações intencionais de agentes dotados de vontade. Se a correlação entre qualia fenomenais e estados físicos for explicada pela ação de um agente voluntário, esse agente precisaria ter conhecimento, poder e um papel criativo tão grande que seria considerado uma divindade. Por outro lado, qualias, na medida em que são experiências fenomenológicas que não podem ser satisfatoriamente explicadas dentro de uma abordagem materialista, pois também não podem ser explicadas por leis da natureza. 

Se o fenômeno dos qualias não tem uma explicação, nem personalista, nem científica, resta uma terceira alternativa, que é uma explicação teológica. Uma visão teísta do mundo fornece uma abordagem melhor para explicar a existência de qualias fenomenológicos, do que uma visão naturalista do mundo. O problema das qualia fenomenais é pelo menos tão difícil de resolver para o naturalismo quanto o problema do mal é para o teísmo e, nesse sentido, a existência de qualias, como cores e sabores, pesa em favor de uma visão teísta do mundo. 

 

 

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Bruno dos Santos Queiroz

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