QUE É ISTO - A FILOSOFIA? - HEIDEGGER (RESUMO)


       O que se segue é um resumo da conferência “Que é isto – a filosofia?” pronunciada por Heidegger em 1955. O texto apresenta o que vem a ser a essência da filosofia grega e ocidental. Heidegger mostra como a essência da filosofia se relaciona com a questão do ser  definindo a filosofia como corresponder ao apelo do ser do ente.  É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.
        A palavra filosofia é grega, isso significa que a filosofia é originariamente grega. A filosofia não só é grega em sua essência, como também é a linha mestra da história ocidental-europeia. No entanto, a essência originariamente grega da filosofia é dirigida e dominada, na época de sua vigência na Modernidade Europeia, por representações do Cristianismo, mas isso não significa que a filosofia se tornou cristã no sentido de uma tarefa da fé na revelação e na autoridade da Igreja. O fato de a filosofia ser essencialmente grega significa que somente o Ocidente e a Europa são, na marcha de sua história, originariamente filosóficos. 
       Chamamos a era em que vivemos de Era Atômica, esta expressão significa que a energia atômica descoberta e liberada pelas ciências é representada como o poder que deve determinar a marcha da história. No entanto, a Ciência nunca teria existido se a filosofia não a tivesse precedido e antecipado. 
         A palavra grega “filosofia” nos liga a uma tradição historial, mas a tradição não nos entrega à prisão do passado e irrevogável. Transmitir é um libertar para a liberdade do diálogo com o que foi e continuar sendo. A questão sobre o que é filosofia é carregada de historicidade, é historial, isto é, carrega em si um destino que é nosso. Essa questão é um caminho que nos conduz da existência própria do mundo grego até nós e até para além de nós mesmos. 
         Não só a filosofia é grega, como o modo de questionar sobre o que ela é, também é grego. Questionar “Que é isto – a filosofia?” é seguir a forma de questionar desenvolvida por Sócrates, Platão Aristóteles, quando perguntam “Que é isto – a justiça?”; “Que é isto – o conhecimento?”; “Que é isto – o belo?”, etc. Quando se pergunta pelo “que” de algo aquilo que o “que” significa é a quidade. A questão “o que é a filosofia?” refere-se à essência da filosofia 
        A língua grega é uma língua especial, somente ela é logos, o que é dito em língua grega é dito de modo privilegiado. Pela palavra grega verdadeiramente ouvida de maneira grega, nos encontramos imediatamente em presença da coisa mesma, aí diante de nós, e não apenas diante de uma simples significação verbal. 
       Em seu sentido grego, a filosofia procura o que é o ente enquanto é. A filosofia se encontra a caminho do ser do ente, isto é, a caminho do ente sob o ponto de vista do ser. A filosofia é uma espécie de competência capaz de perscrutar o ente do ponto de vista do que ele é enquanto ente.  
        A resposta à questão “Que é isto – a filosofia?” consiste no fato de correspondermos àquilo para onde a filosofia está caminhando, isto é, para o ser do ente. Responder é corresponder. Não encontramos a resposta à questão, que é a filosofia, através de definições de filosofia propostas ao longo da história, mas por meio do diálogo com aquilo que se nos transmitiu como ser do ente.  
        Este caminho para a resposta à questão sobre o que é a filosofia requer o que em Ser e Tempo é chamado de destruição. Destruição não significa romper ou negar a história, mas se apropriar dela e transformá-la. Destruir significa tornar livre os nossos ouvidos para aquilo que na tradição do ser do ente nos inspira. A destruição permite que nossos ouvidos se tornem dóceis para corresponder ao apelo do ser do ente. O corresponder escuta a voz do apelo. Corresponder significa estar em uma disposição afetiva, em um estar disposto, isto é, exposto, entregue ao serviço daquilo que é.  Enquanto disposta e convocada a correspondência é uma disposição. 
        A filosofia faz parte de uma dimensão do humano que designamos de disposição no sentido de uma tonalidade afetiva que nos harmoniza e nos convoca por um apelo. A filosofia começa pelo espanto e o espanto é um pathos. O espanto é, enquanto pathos, a arkhé da filosofia. Arkhé significa aquilo de onde algo surge e que passa a imperar sobre o que surge, nesse sentido, o pathos do espanto não está só no começo da filosofia, mas a carrega e impera em seu interior. Pathos, nesse sentido, pode ser compreendido como disposição afetiva. O espanto é a disposição na qual e para a qual o ser do ente se abre.  
        racionalista proclama se ver livre de toda disposição afetiva. Mas mesmo conhecimento ávido pela razão tem suas raízes existencialmente nos sentimentos. A própria razão está sentimentalmente pré-disposta a confiar nos princípios da lógica, atrás de todo esse conhecimento que se proclama racional está um sentimento de interesse que o dirige. A lógica e a razão são abraçadas por esse tipo de conhecimento por uma forte paixão. Não há conhecimento imune ao sentimento, pois é o ser-aí quem impõe a si mesmo a tarefa de conhecer e a disposição afetiva é um modo fundamental do ser do ser-aí enquanto ser-no-mundo. 
       A Filosofia é a correspondência propriamente assumida e em processo de desenvolvimento que corresponde ao apelo ser do ente. Ela é ao modo da correspondência que se harmoniza e põe de acordo com a voz do ser do ente. Este corresponder é um falar, está a serviço da linguagem e aqui a poesia surge como um modo privilegiado a serviço da linguagem.  


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