O RECONSTRUCIONISMO E O PERIGO DO CRISTOFASCISMO
. Este artigo, agora, pretende apresentar e
refutar a doutrina conhecida como Reconstrucionismo ou Teonomia. Os teonomistas ensinam que se deve aplicar pena de morte a
homossexuais, adúlteros e uma série de outros supostos crimes. O principal proponente
da teoria de que depressão é pecado é Jay Adams, Rousas Rushdoony também
concorda com essa teoria. Rushdoony, além de concordar que depressão é pecado,
é o principal defensor do Reconstrucionismo. Essa doutrina é perigosa, neo-nazista e cristofascista como
este artigo cuidará de mostrar.
O QUE É RECONSTRUCIONISMO?
Se queremos
atingir a essência do que é o reconstrucionismo, é preciso perguntar sobre o
que o reconstrucionismo pretende reconstruir, mais do que nos perdermos em
considerar cada um dos seus cinco pontos (aliancismo, pressuposicionalismo,
TULIP, pós-milenismo e teonomia). Perguntemos: O que o reconstrucionismo
pretende reconstruir?) O reconstrucionismo pretende reconstruir o que eles
chamam de sociedade teonomista. A sociedade teonomista, como
entendem, é aquela que emprega a lei criminal do velho testamento,
o que se pretende reconstruir é o Estado teocrático nos moldes
veterotestamentários. Na prática, reconstrucionismo é o projeto de mundo cuja
proposta é re-construir na atualidade uma sociedade na qual o Estado tenha não
só o direito, mas o dever de matar homossexuais, adúlteras e pessoas tidas por
hereges.
Rousas
Rushdoony apresenta uma lista de 18 “crimes” que devem ser punidos com pena
de morte pelo Estado teonomista, são eles:
1. assassinato;
2. atacar ou amaldiçoar os pais;
3. sequestro;
4. adultério;
5. incesto;
6. bestialidade;
7. homossexualidade;
8. falta de castidade;
9. estupro de uma virgem prometida;
10. bruxaria;
11. oferecer sacrifício humano;
12. delinquência incorrigível ou criminalidade
habitual;
13. blasfêmia;
14. profanação do dia do Senhor;
15. propagação de falsas doutrinas;
16. sacrifício a deuses falsos;
17. recusar-se a cumprir a decisão do tribunal e,
assim, negar a lei;
18. não restabelecer a promessa ou a fiança.
( Institutes of Biblical Law, 263-264)
Em outro
lugar, Rushdoony apresenta uma lista de 19 faltas que segundo ele merecem pena
de morte:
1. adultério;
2. estupro;
3. incesto;
4. homossexualidade;
5. bestialidade;
6. assassinato premeditado;
7. ferir pai ou mãe;
8. morte de uma mulher por aborto devido a
agressão;
9. sacrificar crianças a deuses;
10. amaldiçoar pai e mãe;
11. sequestro;
12. magia;
13. ser um falso profeta ou sonhador;
14. apostasia;
15. sacrificar para outros deuses;
16. recusar-se a seguir a decisão dos juízes;
17. Blasfêmia;
18. profanação do dia do Senhor;
19. transgressão da aliança com Deus.
( Institutes of Biblical Law, 447 -
448)
Esses são
os “crimes” que de acordo com Rushdoony requerem pena de morte segundo o Velho
Testamento. Mas isso não significa que isso não vale mais para o Novo
Testamento. Rushdoony acredita que essa lei criminal do Velho Testamento
continua valendo. Ele explica que no Novo Testamento, Jesus reafirmou a pena de
morte em caso de adultério (Institutes of Biblical Law, p.785), ele
observa que “Paulo, longe de anular a lei e suas sanções, apela à pena de morte
contra homossexuais como um fato estabelecido e contínuo” (Institutes of
Biblical Law, p.818). O teonomista Greg Bahnsen insiste
que “a lei do Antigo Testamento é incontestavelmente mantida pelos autores do
Novo Testamento.” (Lei e Evangelho: A posição reforma teonomista, p.4).
Ele entende que o governo civil deve executar a lei criminal do Antigo
Testamento.
Reconstrucionismo,
segundo Greg Bahnsen, significa que “os cristãos devem usar todos os meios
legais que estão à disposição em uma dada sociedade para contribuir para a
reconstrução do sistema legal, judicial e político daquela sociedade.” (Lei
e Evangelho: A posição reformada teonomista, p.49). Ou seja, o teonomista
trabalha para usar todos os meios para fazer com que o sistema legal da
sociedade em que vive se adeque à lei criminal do Velho Testamento. Por pregar um Estado que mate minorias, consideramos o reconstrucionismo uma forma de fascismo, um cristofascismo.
OS ERROS DO RECONSTRUCIONISMO
O primeiro
erro do Reconstrucionismo é o biblicismo. Os
biblicitas têm a ideia errada de que a Bíblia lida de maneira literalista
fornece um sistema fechado, completo e absoluto que foi legado aos tempos
futuros como conteúdos doutrinais dogmáticos, que estabelecido esse sistema
ter-se-ia resolvido de uma vez por todas o essencial para as gerações
vindouras.
Só se
consegue superar esta abordagem quando não se fica repetindo simplesmente o que
foi dito, ou seja, quando não se apela simplesmente de maneira dogmática para
um credo anterior. A dogmática cristã só nos remete ao essencial se ela mesma é
levada a se atualizar por meio do vivo processo de evolução histórica. Em sua essência,
o símbolo da Bíblia é sempre o mesmo pois sua mensagem essencial é a redenção
do Cosmos em Cristo e esta mensagem é atemporal. Mas a redenção cósmica que
esta mensagem apregoa envolve uma evolução do Universo que, dentre muitos
outros processos, inclui o progresso histórico. Entendido isso, pode-se
compreender porque a própria moral cristã evolui nesse processo, que não se
possa mais pregar hoje uma teonomia, que se possa contextualizar a ordem de
submissão feminina e outros princípios morais pertencentes a uma manifestação
histórica específica do Espírito Absoluto. Se compreendemos isso, podemos ver
que há ainda hoje uma "revelação progressiva" pois a própria História
é a voz desse Espírito que não se permite mais ficar preso a uma antiga
manifestação própria de um momento histórico específico.
O segundo
erro do Reconstrucionismo é que ele não dialoga com a nova situação,
isto é, como a totalidade da autointerpretação criativa do ser-aí humano em um
período histórico determinado. Paul Tillich observa que o
Cristianismo deve responder à sua situação histórica. É preciso considerar que
o mundo, a totalidade da interpretação criativa do ser-aí humano, está em
demolição. O ser-aí se acha na emergência de uma nova fundação de sua
existência. Surge uma nova "situação", uma situação marcada pela
diversidade sexual e de gênero, da libertação das mulheres dos grilhões do
patriarcado, da superação de antigos preconceitos e da luta contra formas
arraigadas de discriminação. É preciso dizer que a fundação de um novo mundo é
a fundação de um novo ser-aí na medida em que mundo pertence à estrutura
essencial do ser-aí, ser-aí é ser-no-mundo. Assim, se o Cristianismo insiste no
modelo heteronormativo, na sustentação do patriarcado e na reprodução de
antigos preconceitos, ele está, no fundo, condenado a ficar para trás, e não
poderá inserir-se na nova situação. Quanto mais se continuar insistindo no
sistema de coisas do Antigo Testamento! Esse não inserir-se é um não
prosseguir, um entregar-se à vitalidade aparente de um falatório sobre a
situação, um cair na agitação sem consistência da tradição, é afundar-se numa
grande in-verdade. Esse Cristianismo que não acompanha a marcha histórica e
progressiva do Espírito Absoluto, não adianta-se, continua, pois, condenado a
falar a um homem que já foi abolido e nada tem a dizer a esse novo ser-aí que
irrompe uma nova situação.
O terceiro
erro do Reconstrucionismo é ignorar a distinção, no Antigo Testamento,
entre Lei Criminal, Lei Moral e Lei
Cerimonial. A Lei Moral são os princípios ou valores morais do Decálogo que
são eternos e atemporais. No entanto, a lei cerimonial, que foi dada para
prefigurar a Cristo, como os sacrifícios de animais e a lei criminal que serviu
à organização civil da sociedade antiga de Israel em um determinado tempo
histórico, não valem mais. Cristo cumpriu a lei cerimonial ao realizar seus
símbolos e a lei criminal deixou de valer quando a Igreja deixou de ser
nacional para se tornar católica, universal e internacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devemos
dizer sem medo que os reconstrucionistas são cristofascistas. Devemos lembrar que eles pregam a construção de uma sociedade
de morte. Em contraponto, o Cristianismo autêntico trabalha para a
construção da “sociedade do amor”. A sociedade do amor é a sociedade que
respeita e acolhe a todos, ela é baseada numa convivência harmoniosa de
respeito, tolerância e cuidado. Nela as pessoas se sentem amadas pelo que são,
todas as formas de amor são respeitadas. A paz também governa a sociedade do
amor, as discordâncias são resolvidas com diálogo e tolerância, a violência é
combatida, as agressões não são admitidas e nela o racismo, a homofobia e o
machismo não são aceitos. Quando Cristo nos chama a orar "Venha o teu
Reino", ele também nos chama a construir esse Reino. O Reino de Deus é a
sociedade do amor, a construção dessa sociedade na Terra é a função principal
dos cristãos.
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