O PRINCÍPIO DA IDENTIDADE - HEIDEGGER
O que se segue é o resumo da conferência
intitulada “O Princípio da Identidade” proferida por Martin
Heidegger em 1957. A conferência aponta a copertinência entre o humano e o ser
no âmbito do Ereigns, apresentando a
essência da identidade como uma propriedade do Ereigns. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
O princípio da
identidade se apresenta como a lei suprema do pensamento,
sua fórmula diz “A=A”. A fórmula designa a igualdade de A e A. O idêntico
significa o mesmo, A é A quer dizer, cada A é ele mesmo o mesmo. Cada coisa ela
mesma é a si mesma devolvida, cada um ele mesmo é o mesmo para si mesmo consigo
mesmo. A fórmula não diz simplesmente “cada A é ele mesmo”, mas “consigo mesmo
é cada A ele mesmo o mesmo”. Em cada identidade reside a relação “com”,
portanto, uma mediação, uma ligação, uma síntese: a união na unidade.
O princípio da
identidade já pressupõe
o que significa identidade. O “é” de A é A diz como todo e qualquer ente
é, isto é, to ente é ele mesmo consigo mesmo o mesmo. O princípio da identidade
fala do ser do ente. Como princípio
do pensamento, o princípio somente tem validade na medida em que é um princípio do ser, esse princípio diz
que de cada ente enquanto tal faz parte a identidade, a unidade consigo mesmo.
A
unidade da identidade constitui um traço fundamental no seio do ser do ente.
Onde quer que mantenhamos uma relação com um ente, somos interpelados pela
identidade. Se não fossemos interpelados por esse apelo, então o ente jamais seria capaz de se manifestar em seu ser
como fenômeno. Sem esse apelo,
também não haveria ciência, pois se
não fosse previamenmte garantida a mesmidade de seu objeto, a ciência não
poderia ser o que ela é. O apelo da identidade fala do ser do ente. O apelo da
identidade do objeto fala, independente se a ciência o ouve ou não, ele
continua a falar mesmo que não seja levado a sério.
A mesmidade pode ser compreendida como
uma copertinência. Há uma
copertinência entre ser e pensar. Ser pertence com o pensar ao
mesmo. Copertinência significa que: (i)
o sentido da “pertinência” é determinado
a partir da (co)mum unidade: pertencer significa estar integrado, inserido
na ordem de uma comum unidade, instalado na unidade de algo múltiplo; (ii) o sentido da (co)mum unidade também é
determindado a partir da pertinência: a comum unidade é determinada a
partir do pertencer.
Se
compreendemos que o pensar é uma
característica do humano, então a
copertinência entre pensar e ser é uma copertinência que se refere ao humano e
ao ser. O humano é um ente cujo elemento distinto consiste no fato dele,
enquanto ser pensante, se encontrar aberto
para o ser, colocado diante dele, permanecendo relacionado com o ser de
modo a lhe corresponder. O humano é
a relação de correspondência com o ser. No humano impera um pertencer ao ser,
porque a ele está entregue como propriedade.
O ser, em seu sentido originário,
significa presença. O ser se presenta ao humano, o abordando por meio
do apelo. Somente o humano enquanto aberto para o ser, propicia-lhe o advento
da presença. Tal presença ou presentar necessita o aberto de uma clareira e permanece, por esta
necessidade, entregue ao ser humano como propriedade. O humano e o ser estão
entregues um ao outro como propriedade. O ser mesmo pertence a nós, pois,
somente junto a nós pode ele ser como ser, isto é, presentar-se.
Hoje,
na Era Atômica, o ser se presenta a
nós no universo da técnica no sentido do pensamento calculador do humano, da
liberação da energia atômica e da automatização. O técnico é um plano que o humano
projeta, mas que força o humano a decidir entre tornar-se escravo de seu plano
ou permanecer senhor dele. Nessa era, toda a nossa existência se sente, em toda
parte provocada a se dedicar ao planejamento, ao cálculo e à exploração de tudo.
O processo
todo de provocação que leva o humano e o ser a um confronto de natureza tal
que se chama mutuamente à razão se chama en-quadramento
(Ges-tell). Aquilo em que e de
onde humano e ser se defrontam reciprocamente no universo da técnica, interpela
à maneira do enquadramento. O enquadramento nos agride diretamente em toda
parte. O enquadramento é mais realmente que todas as energias atômicas e toda a
maquinaria, mas realmente que a violência da organização, informação e
automatização.
A
copertinência entre humano e ser ao modo da provocação recíproca nos faz ver o
fato e a maneira como o humano se encontra entregue como propriedade ao ser e
como o ser é apropriado ao humano. Experimentar essa apropriação é penetrar
naquilo que chamamos de Ereigns. Ereignis, assim como logos e
Tao, é uma palavra sem tradução. O
que no enquadramento, como constelação de ser e humano, experimentamos através
do moderno universo da técnica, é um prelúdio daquilo que se chama Ereigns. O Ereigns é o âmbito dinâmico em que o humano e o ser atingem unidos
sua essência e conquistam seu caráter historial.
O Ereigns apropria homem e ser em sua
essencial comum unidade. Na medida em que nossa essência está entregue à linguagem como propriedade, habitamos
no Ereigns. O Ereigns apropria humano e ser em sua essencial comum unidade. A
essência da identidade é uma propriedade do Ereigns.
Ser com o pensar faz parte de uma identidade cuja essência brota da
copertinência que designamos como Ereigns.
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