ESBOÇO DE PSICANÁLISE - SIGMUND FREUD (RESUMO)



O que se segue é um resumo da obra Esboço de Psicanálise (1938) de Sigmund Freud, em que ele apresenta uma síntese da teoria psicanalítica sobre o aparelho psíquico. O resumo se divide em três partes, a primeira trata da natureza e desenvolvimento do psiquismo, a segunda trata da técnica psicanalítica e a terceira tece mais algumas considerações sobre o aparelho psíquico e suas instâncias. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 

I. A NATUREZA DO PSIQUISMO 

As formulações da psicanálise se apoiam numa profusão imensa de observações e de experiências. Em relação à vida psíquica, temos conhecimento de duas coisas: (i) o cérebro: o órgão físico e cenário da vida psíquica; (ii) os atos de consciência: processos que nos são dados de maneira imediata. A vida psíquica é função de um aparelho extenso e composto por partes, esse aparelho é o aparelho psíquico. 
Chegamos ao conhecimento do aparelho psíquico por meio do estudo do desenvolvimento individual do ser humano. A mais antiga instância do aparelho psíquico é o Id, constituído pelas pulsões que provêm da organização física inata. Sob influência do mundo exterior, uma parte do Id se desenvolve e forma uma nova camada, o Ego, que serve como mediador entre o Id e o mundo exterior. O ego aspira o prazer e busca evitar o desprazer, durante a infância, o indivíduo introjeta a influência que recebe dos pais, a partir disso se forma uma nova instância que é o Superego, que impõe determinadas exigências ao Ego. 
O propósito vital do Id é satisfazer as necessidades inatas do indivíduo, o Ego, por sua vez, tem o propósito de se conservar com vida e de levar em conta as exigências do mundo exterior, já o Superego tem como função a restrição das satisfações. Chamamos de pulsões as forças que existem por trás das necessidades do Id. Existem apenas duas pulsões fundamentais: (i) pulsão de vida: impulso de autoconservação e de conservação da espécie; (ii) pulsão de morte: impulso de autodestruição que tem como meta levar as coisas vivas ao estado inorgânico. 
O interior do ego, que abrange sobretudo os processos de pensamento, tem a qualidade do pré-consciente. O estado pré-consciente é caracterizado, por um lado pelo acesso à consciência, e, por outro, pela conexão com restos de linguagem. Já o inconsciente é a única qualidade dominante no id. Quanto ao superego, grande parcela dele tem um caráter pré-consciente e até inconsciente. O que é consciente é consciente apenas por um momento, como a percepção consciente de nossos processos de pensamento. 
A energia disponível na pulsão de vida denominamos como libido. De início, no ego se encontra todo o montante disponível de libido, podemos chamar esse estado de narcisismo primário absoluto.  Esse estado perdura até que o ego começar a investir as representações dos objetos com libido, a converter libido narcísica em libido objetalUma característica importante na vida é a mobilidade da libido, a facilidade com que ela passa de um objeto a outros. Em oposição a isso se encontra a fixação da libido em determinados objetos, que muitas vezes perdura ao longo da vida. Chamamos de zonas erógenas às regiões do corpo mais destacadas das quais parte essa libido, mas na verdade, o corpo inteiro é uma zona erógena. 
A sexualidade não é algo puramente genital que começaria com a puberdade. A psicanálise realizou as seguintes descobertas sobre a sexualidade: (i) a vida sexual tem início logo depois do nascimento; (ii) a sexualidade é mais ampla do que as atividades genitais; (iii) a vida sexual tem como função primária o ganho de prazer e não a reprodução. 
O primeiro órgão que surge como zona erógena e faz exigência libidinosa à psique é, desde o nascimento, a boca (fase oral), em seguida, a próxima zona erógena é o ânus (fase anal). A terceira fase é a fase fálica em que só o orgão sexual masculino desempenha um papel importante. A configuração final da sexualidade só é alcançada numa quarta fase, que é a fase genital. 

II. O TRABALHO PRÁTICO 

O trabalho de análise na psicanálise parte da compreensão de que o ego está enfraquecido pelo conflito interior entre as exigências pulsionais e as exigências do superego. O analista e o ego enfraquecido do paciente, apoiados no mundo real exterior, devem formar um partido contra os inimigos, as exigências impulsionais do id e as exigências de consciência moral do superego. 
Quanto aos neuróticos psiquicamente doentes, o analista requer deles uma descrição sincera e rigorosa, nesse processo o analista fica atento às transferências que o paciente faz, a transferência consiste em que o paciente vê no analista a figura de uma pessoa importante de sua infância e por isso transfere a ele sentimentos, positivos ou negativos, que dizem respeito a essa figura. Se o paciente coloca o analista no lugar do pai (da mãe), também lhe concede o poder que seu superego exerce sobre seu ego, pois os pais, afinal, foram a origem do superego, isso oferece a possibilidade de que sejam corregidos erros cometidos pelos pais na educação. 
A transferência permite compreender um fragmento da vida passada do indivíduo, é possível, no entanto, também obter material para o trabalho analítico de outras fontes, como as comunicações e associações livres, a interpretação de seus sonhos e os atos falhos. No entanto, diante de determinadas interpretações do analista, o paciente pode apresentar resistências. O ego recua diante dos empreendimentos do analista, que parecem perigosos e ameaçam produzir desprazer; ele precisa ser constantemente animado e tranquilizado a fim de não se recusar a nós. Assim, o analista tem como parte de seu trabalho a tarefa de superar as resistências do paciente. 
As neuroses e psicoses são os estados em que as perturbações funcionais do aparelho alcançam expressão, no entanto, só as neuroses parecem acessíveis aos métodos psicológicos da intervenção psicanalítica. Ao que parece, as neuroses se formam na primeira infância, as neuroses são afecções do ego, que enquanto é fraco, busca se proteger por meio de recalcamentos, que são tentativas de fuga, mas que se mostram inadequadas. 
As vivências dos primeiros anos da infância são de importância insuperável para toda vida posterior, o fenômeno da infância que tem a influência mais decisiva é o Complexo de Édipo: quando o menino, a partir dos dois até os três anos, entra na fase fálica, o menino já aprendeu a obter prazer pelo manuseio de seu órgão sexual, ele se torna amante da mãe e para viver esse amor ele deseja o desaparecimento do pai. 
A mãe percebe a excitação sexual do menino em relação à sua pessoa, em algum momento ela reflete que não é correto permiti-la e isso se manifesta em que a mãe proíbe a criança da atividade manual com seu pênis, como essa proibição é ineficiente, a mãe, citando o pai como autoridade, ameaça a criança com a castração. Essa criança sente essa ameaça como real quando fantasia que a menina que não tem pênis foi, na verdade, castrada. O trauma diante dessa ameaça chama-se complexo de castração. 
No menino, a ameaça da castração dá fim ao complexo de Édipo, já a menina é impelida ao complexo de Édipo ao dar-se conta da ausência de pênis. Diante da ausência do pênis, a menina reage ao fato de não o ter recebido e ela sente inveja do menino por ele ter um pênis (inveja do pênis). A menina não pode perdoar a mãe por tê-la colocado no mundo sem um pênis. Ressentida por isso, a menina renuncia à mãe como objeto amoroso e a substitui pelo pai. Do pai a menina deseja receber o “falo” que ela não tem e esse desejo ganha a forma no desejo de receber um filho dele de presente. Por isso, quando adulta, a mulher escolherá seu marido de acordo com as qualidades paternas. 

III. O RENDIMENTO TEÓRICO 

Os fenômenos que a psicanálise estuda não pertencem somente ao campo da psicologia, eles também possuem uma dimensão biológica (orgânica). No entanto, no que diz respeito à psicologia, a psicanálise nos permite entender que não é cientificamente viável estabelecer uma norma psíquica de normal e patológico. A psicanálise também é uma teoria em desenvolvimento e aberta a novos avanços. 
A psicanálise entende que o âmago do nosso ser é o id que se comunica com o mundo exterior através do ego, dentro do id operam as pulsões de vida e de morte. O id obedece inexoravelmente ao princípio de prazer, o ego, por sua vez, está em contato com o mundo externo e, assim, com o princípio de realidade. Os estados patológicos do ego, nos quais ele mais se aproxima novamente do id, fundamentam-se numa cessação ou num afrouxamento dessa relação com o mundo externo. 
Desde cedo, a criança é ensinada a reprimir seus desejos e as neuroses poderiam ser evitadas se se poupasse ao ego infantil essa tarefa, isto é, se à vida sexual da criança fosse concedida liberdade de ação. As exigências pulsionais forçadas a afastar-se da satisfação direta são compelidas a ingressar em novos caminhos que conduzem à satisfação indireta substituta, que pode ser de natureza não-sexual. 
A experiência clínica tem mostrado que uma psicose surge ou quando a realidade se torna insuportavelmente dolorosa ou quando as pulsões adquiriram um reforço extraordinário. No caso do psicótico, ocorre uma cisão do ego, formam-se duas atitudes psíquicas, uma que leva a realidade em conta e outra que se separa da realidade, ambas subsistem uma ao lado da outra sendo que, na psicose, a atitude que se separa da realidade é a predominante. 
Como pudemos compreender até aqui, no desenvolvimento do indivíduo o ego se forma a fim de fazer a mediação entre o id e o mundo exterior. Por volta dos cinco anos, completa-se uma importante modificação na instância do ego, ocorre a renúncia a uma parte do mundo exterior como objeto, que é acolhida pelo ego por compensação e que se torna um componente do mundo interior. Esse novo componente é o superego, o qual sentimos como nossa consciência moral. 

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