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A BARBÁRIE - MICHEL HENRY (RESUMO)


O que se segue é um resumo do livro A Barbárie de Michel Henry, filósofo francês seguidor da fenomenologia. Em A Barbárie, Henry faz uma crítica da ciência na medida em que ela exclui a vida e traz como resultado o desmoronamento da cultura. O resumo está divido em quatro partes, a primeira parte trata da cultura e os modos pelos quais a vida se realiza nela, a segunda parte trata da ciência, fazendo uma crítica à eliminação da subjetividade e da sensibilidade por esse saber, a terceira parte trata da técnica que resulta dessa ciência e, a quarta parte, por fim, considera a barbárie a partir de suas ideologias e práticas. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 

I. CULTURA 

barbárie é a ruína da cultura. Podemos considerar cultura como uma forma de organização social que apresenta leis e tipos de condutas que se destinam a tornar possível a existência e a sobrevivência de um grupo. Toda cultura é uma cultura da vida, pois a vida constitui o sujeito e o objeto da cultura. Cultura significa a autotransformação da vida, o movimento por meio do qual ela não deixa de alcançar formas de realização mais elevadas, a fim de crescer. A cultura é o conjunto de todas as experiências, no sentido de todas as experiências por meio das quais a vida se realiza. 
Os modos de realização da vida são: (i) a arte: atividade na qual se realiza os poderes da sensibilidade e que pode ser considerada como representação da vida; (ii) a ética: não deve ser entendida como uma relação entre ações e fins, normas ou valores, mas como o saber primitivo primordial da vida, da subjetividade que se conhece a si mesma; longe de determinar a ação da vida, fins, normas e valores são determinados por ela; (iii) a religião: a religião penetra na vida cotidiana, dando ao conjunto de atividades de uma cultura fins extraordinários. A arte, a ética e a religião constituem as formas fundamentais de toda cultura e seu conteúdo essencial. 

II. CIÊNCIA  

Pela primeira vez na história da humanidade, o conhecimento e a cultura divergem. A ciência, tal como a entendemos hoje, é a ciência matemática da natureza que faz abstração da sensibilidade. A ciência, seguidora do pensamento galileano, declara o conhecimento sensível da vida como ilusório e coloca em seu lugar um conjunto de idealidades, como ilustra a geometria, e ela não só abstrai da sensibilidade, como se declara como único conhecimento válido. O conhecimento científico é objetivo e objetivo significa que o conhecimento científico é racional, universalmente válido e como tal reconhecido por todos. É o conhecimento verdadeiro por oposição às opiniões variáveis dos indivíduos, aos pontos de vistas particulares, a tudo que é apenas “subjetivo”. 
A ciência exclui a esfera da subjetividade, das sensações, das opiniões e dos pensamentos pessoais (o mundo do espírito, o mudo-da-vida) e coloca em seu lugar um conjunto de idealidades, as determinações geométricas e matemáticas (o mundo da ciência). mundo da ciência é um mundo que não leva mais em conta a sensibilidade. No entanto, esse afastamento das propriedades sensíveis e afetivas do mundo pressupõe o afastamento da própria vida, isto é, do que constitui a própria humanidade do humano. 
A ciência não tem, enquanto tal, nenhuma relação com a cultura, e isto por que a ciência se desenvolve fora da esfera da cultua. A ciência, na medida em que exclui a subjetividade e a sensibilidade, exclui também a arte. A sensibilidade é a condição fundamental de tudo o que é suscetível a forma de um mundo, ao eliminar a sensibilidade, o mundo científico se apresenta como um mundo puramente abstrato. 
Quando o conhecimento que regula a ação é o conhecimento científico, disso resulta: (i) em que a natureza desse conhecimento mudou totalmente, não sendo mais a vida, mas uma consciência de objeto, uma forma de conhecimento na qual se faz abstração dos sentidos; (ii) em que esse conhecimento não é mais em si mesmo a ação e; (iiiem que esse conhecimento também não é conhecimento da ação e isso porque a ação não é nada de objetivo. O conhecimento da ciência se tornou justamente o conhecimento de uma objetividade. 

III. TÉCNICA 

A ciência que se acredita só no mundo e que se comporta como tal se torna a técnica, ou seja, o conjunto de operações e transformações que busca sua possibilidade na ciência e em seu saber teórico, com exclusão de qualquer outra forma de saber, com exclusão de toda referência ao mundo da vida e à vida. É o conhecimento da ciência, mais precisamente da ciência da natureza, que define o conhecimento da técnica, em lugar do conhecimento da vida. Técnica designa de maneira geral um saber-fazer, o saber-fazer original é a práxis e, desse modo, a própria vida, pois é na vida que a práxis se conhece.  
Assim, a essência original da técnica moderna que abstrai da vida é a própria vida, não é uma essência ideal flutuando em algum lugar diante de nós, em um espaço inteligível. A essência da vida que se afeta a si mesma é a da ipseidade. Essa práxis determinada, singular e individual é nosso Corpo. A aplicação dos poderes do corpo subjetivo, choca-se com um obstáculo que não cede mais, a Terra, na qual vivemos. O sistema formado por meu corpo em movimento e se esforçando, meu corpo imanente absolutamente subjetivo e absolutamente vivo, pelo corpo orgânico que se retrai e cede sob seu esforço, pela Terra, enfim, que se recusa a se dobrar e se opõe a esse esforço, dando-se a ele como o que ele não pode mais vencer bem dobrar, tal é a essência original da técnica. 
A representação da práxis suscita a ideologia que interpreta a técnica como a transformação instrumental da natureza pelo humano, tendo em vista os fins postos por ele. De um lado, semelhante ideologia representa a Corporificação original do Corpo e da Terra no interior da Vida. De outro, enquanto sua representação, ela o altera, tornando-a inteligível em si mesma, ao retirar a ação de seu meio ontológico próprio; e tornando a si própria inteligível ao romper a unidade interna do desenvolvimento imanente do corpo orgânico, assumindo as categorias do pensamento racional no lugar das categorias do Corpo. 
A técnica é a natureza sem o humano, natureza abstrata, reduzida a si mesma, devolvida a si. A técnica é a alquimia; é a autorrealização da natureza, em lugar da autorrealização da vida que somos. É a barbárie, a nova barbárie de nosso tempo, em lugar da cultura. À medida em que exclui a vida, suas prescrições e suas regulações, ela não é somente a barbárie, sob a forma extrema e mais inumana conhecida pelo humano, é a loucura. 

IV. IDEOLOGIAS E PRÁTICAS DA BARBÁRIE 

barbárie é a doença da vida, significa que se opera uma exclusão da vida, a subjetividade e da sensibilidade. A barbárie é a autonegação da vida, de uma vida que se volta contra a vida, uma vida que se nega a si mesma. Essa barbárie possui suas ideologias, que podemos chamar de “ideologias da barbárie”, que encontram sua expressão no cientificismo, no positivismo e no objetivismo do projeto galileano. Podemos falar de duas grandes ideologias do século XX: (i) o marxismo:  para o marxismo (que ignora tudo de Marx), o indivíduo deixa de ter um papel determinante e é substituído pela estrutura do regime capitalista que determina inteiramente esse indivíduo e seu trabalho; (ii) o freudismo: que mantendo o pressuposto cientificista, pensa o inconsciente como processos bioenergéticos naturais. 
Além das ideologias da barbárie, pode-se falar das práticas da barbárie. As práticas da barbárie são todos os modos de vida nos quais essa vida se realiza de forma grosseira, frustrada, rudimentar e inculta em oposição às atividades elaboradas da cultura. A falta de liberação de Energia nas atividades elaboradas da cultura significa seu recalcamento, o que gera o tédio. A barbárie se manifesta na mídia que emburrece e na destruição da Universidade que, ao deixar de produzir cultura, passa a servir ao projeto técnico-científico.  Expulsa da sociedade pela existência técnica e midiática, e depois da própria Universidade, a cultura é rejeitada para a clandestinidade de um submundo. Será esse o fim da cultura e, com ela, da humanidade do humano? 



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Bruno dos Santos Queiroz

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