O RELOJOEIRO CEGO - RICHARD DAWKINS (RESUMO)



O que se segue é um resumo do livro O Relojoeiro Cego: A teoria da evolução contra o desígnio divino do biólogo Richard Dawkins. O livro constitui uma importante resposta ao criacionismo ou Teoria do Design Inteligente, mostrando como a Teoria da Evolução por Seleção Natural fornece a única explicação científica satisfatória para a complexidade organizada que a vida apresenta.  É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

I. EXPLICANDO O IMPROVÁVEL 

Nós, animais, somos as coisas mais complexas do universo conhecido. As coisas complexas de todas as partes do universo merecem um tipo muito especial de explicação. A biologia é o estudo das coisas complexas que dão a impressão de ter um design intencional. Os seres vivos não foram planejados, antes sua impressão de design pode ser explicada pela teoria darwinista. Quase todas as pessoas ao longo da história, ao menos até a segunda metade do século XIX, acreditaram firmemente no contrário - na Teoria do Designer Consciente muitos ainda a defendem, geralmente por incompreensão.  
O teólogo William Paley propôs a chamada “analogia do relojoeiro”, ele entendia que a complexidade dos seres vivos era evidência de uma Inteligência Superior criadora. Assim como um relógio, por sua complexidade, indica a ação de um relojoeiro, a complexidade da vida indicaria a necessidade de um Criador. No entanto, essa analogia é falsa.  Um verdadeiro relojoeiro possui antevisão: ele projeta suas molas e engrenagens e planeja suas conexões imaginando o resultado final com um propósito em mente. A seleção natural, o processo cego, inconsciente e automático que Darwin descobriu e que agora sabemos ser a explicação para a existência e para a forma aparentemente premeditada de todos os seres vivos, não tem nenhum propósito em mente. Ela não tem nem mente nem capacidade de imaginação. Não planeja com vistas ao futuro. Não tem visão nem antevisão. Se é que se pode dizer que ela desempenha o papel de relojoeiro da natureza, é o papel de um relojoeiro cego.   
Primeiro, para discutir o argumento de que a complexidade evidenciaria um projetor, precisamos definir o que significa complexidade. Há diferentes teorias sobre o que significa complexidade: (i) teoria da heterogeneidade: entende que um objeto complexo, à diferença de um objeto simples, tem muitas partes, sendo estas de mais de um tipo; (ii) teoria da probabilidade: uma coisa complexa é algo cujas partes constituintes encontram-se arranjadas de tal modo que não seja provável esse arranjo ter ocorrido somente por acaso; (iii) teoria da qualidade: coisas complexas têm alguma qualidade, que pode ser especificada de antemão, cuja aquisição seria altamente improvável por mero acaso. Essa última teoria parece ser a mais abrangente, e é a que adotaremos. 
Um ser complexo requer uma explicação. Explicar é examinar os componentes de um ser complexo e indagar como interagem entre si. O comportamento de uma coisa complexa deve ser explicado com base nas interações de seus componentes, considerados como camadas sucessivas de uma hierarquia ordenada. A questão suscitada pelo embate entre evolucionismo e criacionismo, vai além desse tipo de explicação, ela requer uma explicação que consiste em saber como um ser biológico complexo veio a existir. Esta é a questão que este livro visa responder.  

II. BOM DESIGN 

seleção natural é o relojoeiro cego, cego porque não prevê, não planeja consequências, não tem propósito em vista. Mas os resultados vivos da seleção natural nos deixam pasmos porque parecem ter sido estruturados por um relojoeiro magistral, dando uma ilusão de desígnio e planejamento. Podemos dizer que um corpo ou órgão vivo tem um bom design quando possui atributos que um engenheiro inteligente e capaz teria inserido nele a fim de que cumprisse algum propósito significativo.  
Os criacionistas argumentam que a complexidade não pode ser explicada sem evocar um Criador, insistem, apontando exemplos de órgãos e seres vivos complexos, afirmando que seria impossível acreditar na explicação da seleção natural. Podemos chamar esse tipo de afirmação de “Argumento da Incredulidade Pessoal”. O Argumento da Incredulidade Pessoal é extremamente fraco, como o próprio Darwin notou. Por vezes, baseia-se na simples ignorância. É possível explicar o processo evolutivo que formou diversos exemplos de complexidade da vida, mas mesmo que a maior autoridade do mundo fosse incapaz de explicar algum fenômeno biológico notável, isso não significaria que se trata de algo inexplicável. Muitos mistérios persistiram por séculos, mas finalmente puderam ser explicados. 
Há, no entanto, uma forma mais elaborada do “Argumento da Incredulidade Pessoal”, como o argumento da admiração. Todos nós sentimos diante de qualquer “máquina” viva altamente complexa uma imensa admiração, conclui-se daí ser de algum modo evidente que nada tão maravilhoso poderia ter evoluído graças à seleção natural. 
incredulidade intuitiva que tende a existir em nós diante da explicação darwinista para a complexidade da vida, tem duas razões: (i) não somos capazes de uma apreensão intuitiva do vasto tempo à disposição da mudança evolutiva: não nos damos conta de que o processo evolutivo tem se dado por bilhões de anos; (ii) fazemos uma aplicação intuitiva incorreta da teoria da probabilidade: geralmente, os argumentos de probabilidade usados contra a explicação darwinista, são baseados em uma confusão entre seleção natural e aleatoriedade, precisamos pontuar que a seleção natural é o oposto do acaso.  

III. ACUMULAÇÃO DE PEQUENAS MUDANÇAS 

É esmagadoramente improvável que os seres vivos complexos tenham surgindo por acaso. O processo evolutivo não é conduzido, nem pelo acaso, nem por um Designer inteligente, mas pela Seleção Natural. A sequência integral dos passos cumulativos da evolução não constitui absolutamente um processo aleatório, considerando a complexidade do produto final em comparação com o ponto de partida original, O processo cumulativo é dirigido pela sobrevivência não aleatória.    
A evolução se dá por seleção acumulativa (na qual cada melhora, por menor que seja, é usada como base para a construção futura), não por uma seleção de um só passo (na qual cada nova "tentativa" deve partir do zero). Se o progresso evolutivo tivesse de basear-se na seleção de um só passo, nunca teria chegado a lugar nenhum. Mas se, de algum modo, as condições necessárias para a seleção cumulativa pudessem ter sido fornecidas pelas forças cegas da natureza, as consequências poderiam ter sido estranhas e prodigiosas. Com efeito, foi isso exatamente o que aconteceu neste planeta, e nós mesmos estamos entre as mais recentes, se não as mais estranhas e prodigiosas, dessas consequências.   
Os criacionistas, por vezes, pensam nos organismos formados como se houvesse um objetivo final para o processo de formação deles. No entanto, a vida não é assim. A evolução não tem um objetivo de longo prazo. Não existe um alvo muito distante, nenhuma perfeição final que sirva de critério de seleção, embora a vaidade humana acalente a ideia absurda de que nossa espécie é o objetivo final da evolução. Na vida real, o critério de seleção é sempre de curto prazo: a simples sobrevivência ou, de modo mais geral, o êxito reprodutivo. Se, analisando retrospetivamente, depois de muitas eras parece ter havido um progresso na direção de algum objetivo distante, trata-se sempre de uma consequência incidental da seleção de curto prazo por numerosas gerações. A seleção natural cumulativa é um "relojoeiro" cego para o futuro e sem um objetivo de longo prazo. 
Evolução consiste basicamente na repetição incessante da reprodução. Em cada geração, a reprodução passa os genes que lhe são fornecidos pela geração anterior à geração seguinte, mas com pequenos erros aleatórios - mutações. Com o passar das gerações, a quantidade total de diferença genética em relação ao ancestral original pode tornar-se muito substancial, cumulativamente, um pequeno passo por vez. Porém, embora as mutações sejam aleatórias, a mudança cumulativa ao longo das gerações não é aleatória. A prole em qualquer geração difere do genitor em direções aleatórias. Mas, nessa prole, o que será selecionado para passar à geração seguinte não é aleatório. É aqui que entra a seleção darwiniana. O critério de seleção não são os próprios genes, mas os corpos cuja forma os genes influenciam por meio do desenvolvimento. 

IV. DESBRAVANDO OS CAMINHOS DO ESPAÇO ANIMAL 

Por vezes, criacionistas argumentam que os evolucionistas não conseguem explicar a formação do olho humano por meio de processos cumulativos. Isso é um mito, a evolução do olho a partir de uma série contínua de estágios diferentes do olho, indo do olho atual ao olho nenhum tem sido explicada com sucesso pelos evolucionistas, que mostram como cada um destes intermediários deve ter tido uma vantagem seletiva. Geralmente esse mito é baseado na ideia de complexidade irredutível que ignora os diversos exemplos de convergência evolutiva. 
Outro mito é a chamada “Lei de Dollo'”, que afirma que a evolução é irreversível. Em termos práticos, a evolução de fato é irreversível, devido à probabilidade infimamente baixa de se reverter. De maneira nenhuma a “Lei de Dollo'” viola a “Segunda Lei da Termodinâmica”. Geralmente essa ideia é baseada no mito de que a Segunda Lei da Termodinâmica afirma que a desordem invariavelmente aumentará em um sistema, o que é uma interpretação falsa dessa lei.  

V. O PODER E OS ARQUIVOS 

Na época de Darwin, todo mundo, exceto Gregor Mendel, pensava que hereditariedade implicava mesclaGregor Mendel descobriu o fato de que a tecnologia de informação dos genes é digital. Mendel mostrou que nossa hereditariedade não é uma mistura da de nossos pais. Recebemos nossa hereditariedade em partículas discretas. No que respeita a cada partícula, ou nós a herdamos ou não a herdamos. Esse fato pode ser chamado de “hereditariedade particulada” em distinção a teoria equivocada da “hereditariedade mesclada”. 
As moléculas de DNA são o centro de uma tecnologia de informação espetacular. São capazes de acondicionar uma quantidade imensa de informação digital precisa em um espaço muito pequeno; e são capazes de preservar essa informação com pouquíssimos erros, mas ainda assim com erros - por muito tempo, medido em milhões de anos. Os organismos vivos existem em prol do DNA, não o contrário. A vida surge quando seres antes inorgânicos adquirem a propriedade de autorreplicação. No entanto, é o fato de ocorrer erros na replicação (mutações) que permite a evolução. É possível que de um erro resulte uma melhora. Alguns erros podem se tornar melhores (eficientes) na capacidade de autorreplicação do que o replicador original. No processo haverá uma redução da aderência da velha característica e teremos o poder de propagar o código de DNA modificado. 
As propriedades do DNA vêm a ser os ingredientes básicos de qualquer processo de seleção cumulativa. A seleção natural está ligada ao êxito diferencial de DNAs rivais na transmissão vertical nos arquivos da espécie. "DNAs rivais" são conteúdos alternativos de endereços específicos nos cromossomos da espécie. Alguns genes persistem nos arquivos com mais sucesso que outros. Muito embora "sucesso" não signifique outra coisa senão a transmissão vertical nos arquivos da espécie, o critério de sucesso costuma ser a ação que os genes exercem nos corpos por meio de sua transmissão lateral. 

VI. ORIGENS E MILAGRES 

Podemos entender que os eventos que comumente denominamos milagres não são sobrenaturais, e sim parte de um espectro de eventos naturais mais ou menos improváveis. A imensidão do tempo geológico nos permite postular mais coincidências improváveis no processo de seleção cumulativa. A seleção cumulativa é a chave para todas as nossas explicações atuais sobre a vida. Ela encadeia uma série de eventos fortuitos aceitáveis (mutações aleatórias) em uma sequência não aleatória de modo que, no fim da sequência, o produto acabado dá uma ilusão de encerrar sorte demais, de ser demasiado improvável para ter surgido meramente por acaso, mesmo considerando um intervalo de tempo milhões de vezes mais longo do que a idade do universo até hoje. A seleção cumulativa é a chave, mas foi necessário que ela começasse, e não podemos fugir à necessidade de postular um evento casual de um único passo na origem da própria seleção cumulativa. 
O primeiro passo para que a evolução pudesse ter início foi difícil. Os processos de replicação que conhecemos parecem requerer um maquinário complicado para funcionar. Os criacionistas geralmente argumentam que a teoria da evolução não pode explicar a origem da vida. Isso ocorreria porque, enquanto a Seleção Natural, trabalha com uma complexidade já existente, um ser com capacidade de se autorreplicar não poderia se formar do nada. Podemos chamar isso de “argumento da complexidade”, ele diz que, pelo mecanismo de replicação ser complexo, ele não pode surgir da incomplexidade.  
No entanto, esse argumento é fraco e se autorrefuta. Estamos justamente tentando encontrar um mecanismo mais simples a partir do qual a complexidade se forme, um Deus inteligente precisaria ser muito complexo para explicar a formação da vida. Além disso, isso seria postular mais uma complexidade cuja origem fica inexplicada. Se perguntarmos “Como surgiu Deus?” O criacionista dirá que “Deus sempre existiu”. Se esse tipo de resposta preguiçosa fosse permitido também poderíamos dizer “a vida sempre existiu”, e não precisaríamos explicar como ela se originou.  
Quanto mais pudermos deixar de invocar milagres, grandes improbabilidades, coincidências fantásticas, grandes eventos fortuitos, e quanto mais minuciosamente pudermos desmembrar grandes eventos fortuitos em uma série cumulativa de pequenos eventos fortuitos, mais satisfatórias nossas explicações hão de ser para as mentes racionais. A resposta para sabermos o quanto seria improvável que a vida surgisse aleatoriamente depende de o nosso planeta ser o único com vida ou de a vida ser abundante por todo o universo. A única coisa que sabemos com certeza é que a vida surgiu uma vez, aqui neste planeta. Mas não temos a mínima ideia quanto à existência de vida em outras partes do universo. É totalmente possível que não haja. Além disso, nossa mente não é capaz de calcular probabilidades quando se trata de escalas de tempo muito grandes, como é o caso das escalas geológicas.  
Sabemos que o surgimento da vida aleatoriamente é improvável, no entanto, sabemos que eventos improváveis por vezes ocorrem. Ainda não sabemos exatamente como a seleção natural começou na Terra. Existem algumas teorias que tentam explicar essa origem, como a teoria da sopa original orgânica ou a teoria de Cairns-Smith, que supõe que a vida original em nosso planeta se baseou em cristais inorgânicos autorreplicadores como os silicatos. A presente ausência de uma explicação conclusivamente aceita para a origem da vida sem dúvida não deve ser considerada uma barreira para toda a visão de mundo darwiniana, como às vezes é.  

VII. EVOLUÇÃO CONSTRUTIVA 

Há quem pense que a seleção natural é uma força puramente negativa, capaz de erradicar as anomalias e deficiências, mas não de edificar a complexidade, a beleza e o design eficiente. No entanto, a evolução possui um papel construtivo, há duas maneiras pelas quais um acúmulo de complexidade pode acontecer: (i) genótipos coadaptados: um gene tem o efeito específico que tem apenas porque existe uma estrutura que lhe permite atuar, os genes são selecionados por sua capacidade de prosperar nessa estrutura; e (ii) corrida armamentista': consiste na corrida entre seres vivos pela sobrevivência, em que cada um dos lados nessa corrida está melhorando de sua própria perspectiva, enquanto simultaneamente dificulta mais a vida do outro lado. 

VIII. EXPLOSÕES E ESPIRAIS  

A mente humana é uma analogista inveterada. Somos compulsivamente impelidos a ver significado em ligeiras semelhanças entre processos muito diferentes. Por outro lado, alguns dos maiores avanços da ciência aconteceram porque alguma pessoa inteligente detectou uma analogia entre um assunto que já era compreendido e outro ainda misterioso. O truque está em encontrar um equilíbrio entre o excesso de analogias indiscriminadas e a cegueira estéril para analogias proveitosas. O cientista bem-sucedido e o fanático delirante distinguem-se pela qualidade de suas inspirações. O cientista bem-sucedido tem a capacidade de rejeitar analogias tolas e aprofundar-se no exame das analogias proveitosas. 
Podemos considerar aqui duas analogias inspiradoras, mas que exigem cautela para que não as levemos longe demais, são elas: (i) explosões: há casos de explosões descontroladas e instáveis que ocorrem no tempo evolutivo, acontece quando características no processo evolutivo encontram um “feedback positivo”, como na seleção sexual, um exemplo é o desenvolvimento da plumagem do macho, e da preferência sexual por esse desenvolvimento na fêmea, que avançam juntos em velocidade sempre crescente; (ii) evolução cultural: o cérebro desenvolveu pela evolução a capacidade de comunicar-se com outros cérebros por meio de linguagem e tradições culturais, esse novo meio de tradição cultural abre novas possibilidades para entidades autorreplicadoras, os novos replicadores não são DNA, mas padrões de informação que podem desenvolver-se apenas em cérebros ou em produtos que os cérebros confecionam artificialmente, como os livros; podemos chamar esses replicadores de memes, à medida em que essas informações passam de um cérebro para o outro, elas sofrem mutações, a evolução que ocorre pela mutação pode ser chamada de evolução mêmica. 

IX. PONTUACIONISMO PUNCIONADO 

Entre os evolucionistas, os "pontuacionistas", defensores da chamada teoria do equilíbrio pontuado, eles entendem que, em certo sentido, a evolução tenha ocorrido em súbitos rompantes, pontuando longos períodos de “estase” nos quais não ocorre nenhuma mudança evolutiva em uma dada linhagem. Os criacionistas citam os potuacionistas como um argumento contra a teoria da evolução, chamando os darwinistas de “gradualistas”. No entanto, o pontuacionismo não é uma teoria oposta à teoria da evolução, antes pode ser entendida como uma adição secundária ao darwinismo. 
A partir de Darwin, os evolucionistas perceberam que, se classificarmos todos os fósseis de que dispomos em ordem cronológica, eles não formam uma sequência uniforme de mudanças quase - imperceptíveis. É possível discernir tendências a mudanças no longo prazo, mas as tendências conforme são vistas no registro fóssil em geral são abruptas, não suaves. Darwin, e a maioria dos que o seguiram, supôs que isso ocorre porque o registro fóssil é imperfeito. Os pontuacionistas, no entanto, aventaram que, na realidade, o registro fóssil pode não ser tão imperfeito quanto julgamos. Talvez as "lacunas" sejam um reflexo real do que de fato ocorreu. 
É importante distinguir o pontuacionismo do saltacionismo. Para o saltacionismo é concebível que algumas das aparentes "lacunas" no registro fóssil realmente reflitam mudanças súbitas em uma única geração, que intermediários nunca tenham existido realmente; e que grandes mudanças evolutivas tenham ocorrido em uma única geração. Isso ocorreria por causa de mutações muito grandes chamadas de macromutações. Sabemos que macromutações existem, a questão que se coloca é se elas exercem algum papel na evolução. Os  saltacionistas acreditam que as macromutações são um meio de possibilitar grandes saltos na evolução em uma única geração.  
Os pontuciacionistas, por outro lado, lidam com lacunas menores e propõem uma teoria que é decorrente da teoria darwinista. Os neodarwinistas entendem que o isolamento geográfico permite a formação de novas espécies. A razão de a "transição" da espécie ancestral para a espécie descendente parecer ter abruptamente dado um salto é apenas que, quando examinamos uma série de fósseis de qualquer dado lugar, provavelmente não estamos observando nenhum evento evolutivo: estamos observando um evento migratório, a chegada de uma nova espécie proveniente de outra área geográfica. 

X. A VERDADEIRA E ÚNICA ÁRVORE DA VIDA 

A taxonomia é a ciência da classificação. Um sistema de classificação dos seres vivos que tem se mostrado excepcional é a taxionomia cladística, que é baseado nas relações evolutivas. Na taxonomia cladística, o critério supremo para o agrupamento de organismos é a proximidade de parentesco entre primos ou, em outras palavras, o caráter relativamente recente dos ancestrais comuns. A verdadeira taxonomia cladística é estritamente hierárquica, ela pode ser representada como uma árvore cujos ramos sempre divergem e nunca mais tornam a convergir. 
Os criacionistas, quando se trata de taxonomia, atacam o evolucionismo dizendo que lhe faltam evidências das chamadas “espécies intermediárias”. Esse argumento é baseado na ideia antiga que haveria uma “grande cadeia dos seres”. Isso não só é uma compreensão equivocada da teoria - é a antítese dela. Uma das mais fortes suposições da teoria da evolução é a de que intermediários desse tipo não devem existir. A aparência de intermediário sem dúvida nenhuma é uma ilusão. Uma espécie sempre pertence a um tipo ou outro, se uma espécie. Se surgisse a tarefa de tentar inserir esse ancestral em nossa classificação moderna, poderíamos ter problemas. No momento em que começamos a levar em consideração animais extintos, deixa de ser verdadeira a afirmação de que inexistem intermediários. 
A suposição básica dos taxonomistas é que parentes próximos terão versões mais semelhantes de uma determinada sentença molecular do que parentes mais distantes. Esse é o chamado "princípio da parcimônia". Assim, as informações moleculares permitem a construção de uma taxonomia de base evolucionária, além de n os permitir identificar nossos ancestrais comuns.  
Alguns cladistas, chamados de cladistas transformados, os cladistas transformados não assumem a evolução para a sua prática taxonômica. Eles decidiram abandonar a ideia de ancestral comum e tentar desenvolver uma taxonomia deixando de lado a evolução. Há cladistas transformados que chegam a se aliarem com os criacionistas para discordar da evolução, o que faz com que eles não mereçam muito crédito. 

XI. RIVAIS CONDENADAS  

Nenhum biólogo sério duvida do fato de que a evolução aconteceu e que todos os seres vivos são aparentados. Mas alguns biólogos têm dúvidas quanto à teoria específica de Darwin sobre como a evolução aconteceu. Às vezes isso acaba sendo apenas uma discussão sobre terminologia. No entanto, existem outras teorias que decididamente não são versões do darwinismo, teorias que manifestamente contrariam o próprio espírito do darwinismo. Essas teorias rivais são: (i) lamarckismo: ela é baseada no princípio do uso e do desuso, que afirma que as partes do corpo de um organismo que são usadas aumentam de tamanho, enquanto as partes não usadas definham; (ii) mutacionismo: acredita que as mutações em si dão cabo de explicar a evolução adaptativa, em particular através das grandes mutações; (iii) criacionismo: a teoria da criação divina, instantânea ou na forma da evolução guiada, acaba postulando a existência de um criador que precisaria ser complexo, o que não ajuda a explicar a complexidade da vida.  
A teoria da evolução pela seleção natural cumulativa é a única teoria conhecida que, em seus fundamentos, é capaz de explicar a existência da complexidade organizada.   A conclusão que chegamos é que a essência da vida é uma improbabilidade estatística em uma escala colossal. Portanto, seja qual for a explicação da vida, não pode ser o acaso. A verdadeira explicação da existência da vida tem de incorporar a própria antítese do acaso. A antítese do acaso é a sobrevivência não aleatória, adequadamente compreendida. A visão de mundo darwinista assevera que a seleção natural lenta, gradual e cumulativa é a explicação decisiva para nossa existência. 


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