INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS (RESUMO)
O que se segue é um resumo da obra “Investigações Filosóficas” do filósofo britânico Ludwig Wittgenstein. O texto trata da questão da linguagem, criticando a visão essencialista da linguagem e propondo uma visão a partir da analogia dos jogos da linguagem em suas regras de uso. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
I. A CONCEPÇÃO AGOSTINIANA DA LINGUAGEM
De acordo com a assim chamada concepção agostiniana da linguagem, as palavras da linguagem denominam objetos e as proposições são combinações de tais denominações. Toda palavra tem um significado. Este significado é correlacionado à palavra. Ele é o objeto que a palavra substitui. Agostinho descreve um sistema de comunicação; só que nem tudo que chamamos de linguagem está nesse sistema.
Na prática do uso da linguagem, uma das partes chama as palavras, a outra age de acordo com elas; no ensino da língua, porém, o aprendiz denomina os objetos. Isto é, ele fala a palavra quando o instrutor aponta para a coisa. Podemos chamar a totalidade da linguagem e das atividades com ela entrelaçadas, de “jogo de linguagem”. A expressão “jogo de linguagem” deve enfatizar aqui que o falar de uma língua é parte de uma atividade ou de uma forma de vida.
II. DISCUSSÃO SOBRE OS NOMES
Nós damos nomes às coisas e então podemos falar sobre elas. Referirmos-nos a elas na conversa. Pode-se definir ostensivamente o nome de uma pessoa, o nome de uma cor, o nome de um material, um numeral, etc. A definição ostensiva explica o uso, o significado da palavra quando já está claro que papel em geral a palavra deve cumprir na linguagem.
O que os nomes da linguagem designam deve ser indestrutível, pois deve-se poder descrever a condição em que tudo o que é destrutível é destruído. E nessa descrição haverá palavras; e ao que elas correspondem não se pode, então, destruir, pois, do contrário, as palavras não teriam significado.
III. COMPARAÇÃO ENTRE LINGUAGEM E JOGOS
Pode-se dizer que o conceito de ‘jogo’ é um conceito com bordas difusas. A analogia da linguagem com o jogo nos lança uma luz para compreendermos melhor a linguagem. Podemos muito bem imaginar pessoas que se divertem num campo ao jogar com uma bola, de modo que começassem diferentes jogos que consistissem, alguns, em não serem jogados até o fim, na metade arremessassem a bola aleatoriamente para o alto, perseguissem de brincadeira uns aos outros com a bola e a atirassem etc. E então alguém diz: durante todo o tempo as pessoas jogaram com bola, e em vista disso se guiaram, em cada arremesso, segundo regras determinadas. Essa analogia nos permite compreender que quem profere uma sentença, e com ela significa ou compreende, exerce, com isso, um cálculo segundo regras determinadas.
IV. O PAPEL DA LÓGICA COMO FUNDAMENTO DA INVESTIGAÇÃO LINGUÍSTICA
Uma questão que pode ser levantada sobre o papel da lógica é se podemos considerá-la de algum modo sublime. Pois, parece que compete à lógica uma profundidade particular, um significado geral. Ela se situa, assim parece, na base de todas as ciências. Pois a reflexão lógica investiga a essência de todas as coisas. Ela quer ver as coisas na sua base, e não deve se importar acerca do “como” dos eventos factuais. Ela não provém de um interesse pelos fatos dos eventos naturais, nem da necessidade de apreender conexões causais, senão de um anseio de compreender o fundamento, ou a essência, de tudo o que vem da experiência.
Nossas investigações buscam ver através dos fenômenos, nossa investigação, no entanto, não se dirige aos fenômenos, mas às ‘possibilidades’ dos fenômenos. Quer dizer, nós refletimos sobre o tipo de enunciados que fazemos sobre os fenômenos. Nossa observação é, por isso, gramatical, ela traz luz para o nosso problema ao remover os mal-entendidos concernentes ao uso de palavras; evocadas, entre outras coisas, por certas analogias entre as formas de expressão em diferentes regiões da nossa linguagem.
Isso pode levar a pensar levar a pensar que haveria algo como uma análise última das nossas formas de linguagem. Isso se expressa na busca pela essência da linguagem. No entanto, é preciso fazer uma crítica à ideia de que a linguagem tenha uma essência. Reconhecemos que o que chamamos de “proposição”, “linguagem”, não é uma unidade formal, mas a família de formas mais ou menos aparentadas entre si.
V. O PAPEL DA FILOSOFIA
A filosofia é uma luta contra o feitiço da nossa compreensão pelos meios da nossa linguagem. Os problemas que provêm de uma má interpretação das nossas formas de linguagem têm o caráter da profundidade. São inquietações profundas; enraízam-se tão profundamente em nós quanto as formas da nossa linguagem, e o seu significado é tão grande quanto a importância da nossa linguagem.
Quando os filósofos usam uma palavra, como “conhecimento”, “ser”, “objeto”, “eu”, “proposição”, “nome”, e almejam a apreender a essência da coisa, deve-se sempre perguntar se seria, pois, essa palavra realmente usada assim na linguagem cotidiana. Nós reconduzimos as palavras de volta do emprego metafísico para o seu emprego cotidiano.
Uma das fontes principais da nossa falta de compreensão é que não temos uma visão geral do uso das nossas palavras. Nossa gramática carece de visibilidade panorâmica. A apresentação panorâmica facilita a compreensão, que consiste precisamente em ‘ver as conexões’. Daí a importância de encontrar e inventar os elos intermediários. O conceito de apresentação panorâmica é para nós de importância fundamental. Ele designa nossa forma de apresentação, o modo como nós vemos as coisas.
A filosofia não pode, de nenhum modo, apalpar o uso real da linguagem, pois ela só consegue, ao fim, descrevê-lo. Porque ela tampouco consegue fundamentá-lo. Ela deixa tudo como está. A filosofia apresenta, simplesmente, tudo, e não explica e nem conclui nada. Como tudo está ali em aberto, não há nada para explicar. Pois o que porventura estiver oculto, não nos interessa. Pode-se também chamar de “filosofia” o que é possível antes de todas as novas descobertas e invenções. Não há um método de filosofia, mas talvez diferentes métodos.
VI. INVESTIGAÇÃO SOBRE O COMPREENDER
Se o significado é o uso que fazemos com a palavra, compreendemos o significado de uma palavra quando a ouvimos ou proferimos; nós a apreendemos de uma vez só; e o que assim apreendemos é com certeza uma outra coisa diferente do ‘uso’ estendido no tempo. E é essencial que temos em mente o mesmo ao ouvir a palavra; mas a sua aplicação, entretanto, pode ser outra.
Pode-se fazer uma distinção entre a imagem (não importa de que tipo) que se tem mente em algum momento; e a aplicação que se faz, no decorrer do tempo, dessa representação. Estamos tentando agora apreender o processo mental da compreensão, no entanto, no sentido em que há para a compreensão processos característicos (ou, também, processos mentais), a compreensão não é um processo mental.
VII. O JOGO DE LINGUAGEM DA LEITURA
Ler é aqui a atividade de converter o escrito ou o impresso em sons; mas também de escrever um ditado, copiar algo impresso, tocar uma partitura e coisas similares. A palavra “ler” é empregada diferentemente quando falamos do leitor principiante e do leitor experimentado. Quando pensamos no modo de ler do principiante, e nos perguntamos em que consiste ler, ficamos inclinados a dizer que ler seria uma atividade mental consciente em particular.
Alguém lê quando deduz a reprodução do modelo. E por ‘modelo’ denomino o texto que ele lê ou copia; o ditado que ele anota; a partitura que ele toca, etc. As palavras faladas, enquanto se lê, sobrevêm ‘de uma maneira especial’, ler é um processo totalmente determinado, na leitura se realiza sempre um processo determinado que reconhecemos.
VIII. A EXPERIÊNCIA DE SER GUIADO POR ALGUÉM OU ALGUMA COISA
Pode-se imaginar de diferentes formas a experiência de ser guiado por alguém ou por alguma coisa. Como imaginar ser guiado, com os olhos vendados, por alguém em um parque. Ou então ser conduzido pela mão por alguém à força, para onde não se quer ir. Ser conduzido pelo parceiro numa dança; ou ser levado para uma caminhada, etc. Mas ser conduzido é, de fato, uma vivência determinada.
Quando se penso na vivência de ser guiado, tem-se o sentimento de que nela o essencial é uma ‘vivência de uma influência’, de uma ligação, ao contrário de alguma pura simultaneidade de fenômenos, mas, ao mesmo tempo, não parece ser adequado chamar nenhum fenômeno vivido como “vivência de uma influência”. Pode-se dizer que vivenciamos o “porquê”. Podemos dizer: “Eu vivencio o porquê”, no sentido da vivência entendida por meio do conceito de porquê, ou de “influência”, “causa” ou “ligação”.
IX. USO DE REGRAS
Os critérios que admitimos para ‘encaixar’, ‘poder’ e ‘compreender’ são mais complicados do que poderiam parecer à primeira vista. Isto é, o jogo com essas palavras, seu emprego no trânsito linguístico, do qual elas são o meio, é complicado. O papel dessas palavras é diferente do que somos tentados a acreditar. Este papel é o que temos que compreender para dissolver paradoxos filosóficos. E para isso não basta normalmente uma definição; e muito menos a afirmação de que uma palavra é ‘indefinível’.
Compreender uma frase significa compreender uma linguagem. Compreender uma linguagem significa dominar uma técnica. Quando se trata do uso de regras surge um paradoxo: uma regra não podia determinar nenhum modo de agir, pois todo modo de agir deve ser posto em conformidade com a regra. A resposta que poderia ser dado a esse paradoxo seria: tudo o que pode ser uma regra não podia determinar nenhum modo de agir, pois todo modo de agir deve ser posto em conformidade com a regra, pode ser posto também em contradição. Daí, haveria aqui tanto conformidade quanto contradição.
Que haja ali um mal-entendido, já se mostra em que colocamos, nessa linha de pensamento, interpretação por detrás de interpretação; como se cada uma nos tranquilizasse pelo menos por um instante, até imaginarmos uma interpretação que novamente ficasse por detrás dessa. Assim, mostramos, de fato, que há uma concepção de uma regra que não seja uma interpretação; mas que se expressa, no caso a caso da aplicação, no que chamamos de “seguir a regra” e de “agir contra ela”. Por conseguinte, há uma tendência para dizer: toda ação segundo uma regra é uma interpretação. Mas “interpretação” deveria apenas denominar: substituir uma expressão da regra por outra.
Por isso, ‘seguir a regra’ é uma prática. E acreditar que se segue a regra não é: seguir a regra. Portanto, não se pode seguir a regra ‘privadamente', porque, caso contrário, o próprio acreditar que se segue a regra seria como seguir a regra. Assim, o paradoxo apareceria de algo como se a humanidade nunca jogou um jogo e, então, alguém inventa um jogo que então, de fato, nunca foi jogado.
Seguir uma regra é análogo a: obedecer a uma ordem. Treina-se para isso, e se reage a ela de determinado modo. O modo de agir humano compartilhado é o sistema de referência pelo qual interpretamos uma língua estrangeira.
A palavra “concordância” e a palavra “regra” são aparentadas, elas são primas. O emprego da palavra “regra” é entrelaçado com o emprego da palavra “igual”. À comunicação pela linguagem pertence não somente uma concordância nas definições, mas também, por estranho que isso possa parecer, uma concordância nos juízos. Isso parece revogar a lógica; mas não a revoga. Uma coisa é descrever o método de mensuração, outra coisa é descobrir e pronunciar resultados de medida. O que chamamos de “medir” é também determinado por uma certa constância nos resultados da medida.
X. INVESTIGAÇÃO SOBRE ARGUMENTOS ACERCA DE UMA SUPOSTA LINGUAGEM PRIVADA
Uma pessoa pode encorajar a si mesma, dar ordem para si mesma, obedecer, repreender, castigar, apresentar uma pergunta e respondê-la. Poder-se-ia, portanto, imaginar também pessoas que só falassem por monólogos. Que fizessem acompanhar suas atividades com conversas consigo mesmas. Mas será que se pode imaginar uma linguagem em que alguém tomasse nota, para o seu próprio uso, das suas vivências internas – seus sentimentos, humores etc. –, ou pudesse proferi-las? Poderia haver uma linguagem cujas palavras se referissem só ao que o falante pode saber; às suas vivências imediatas, privadas? Uma linguagem que uma outra pessoa não poderia compreender?
Podemos nos perguntar sobre como as palavras se referem às sensações? Ou ainda, até que ponto as nossas sensações são privadas? Podemos dizer que somente os outros podem ter dúvida se realmente estamos sentindo algo, mas nós mesmos não temos como estar em dúvida.
Mas o que acontece com a linguagem quando a usamos para descrever nossas vivenciais internas? Nesse caso, a minha linguagem não é ‘privada’, pois um outro poderia compreendê-la tal como eu. Sensação é uma palavra da nossa linguagem em geral, compreensível não somente para mim. O uso dessa palavra permite, portanto, uma justificativa que todos compreendem.
Existem certos (i) critérios de comportamento para julgar se alguém não entendeu uma palavra: ela não lhe diz nada, ele nada sabe o que fazer com isso. E (ii) critérios para julgar se ele ‘acredita compreender’ a palavra, se vincula a ela um significado, mas não o correto. E, finalmente, (iii) critérios para julgar se ele compreendeu corretamente a palavra. No segundo caso, poder-se-ia falar de uma compreensão subjetiva. E poder-se-ia chamar de uma “linguagem privada” sons que ninguém compreende, mas que eu ‘pareço compreender’.
O essencial da vivência privada não é realmente que todos possuam seu próprio exemplar, mas que ninguém sabe se o outro também tem o mesmo, ou algo diferente. Seria, portanto, possível a suposição, embora não verificável, de que uma parte da humanidade tem uma sensação determinada, e a outra parte, uma outra.
Não nos parece ser possível algo como uma linguagem privada, pois as palavras não fazem referência direta às sensações. Não apreendemos a essência de um dado sensível representado por um signo, mas como expressar um determinado comportamento, um uso prático, o significado de uma linguagem é dado em seu uso. É impossível falar de uma linguagem privada, pois o que se apreende não é uma palavra que designa uma coisa, mas um conjunto de regras sociais para cada uso que fazemos da linguagem.
XI. O PENSAMENTO E O PENSAR
Para tornar claro o significado da palavra “pensar”, vejamos a nós mesmos pensando: o que observarmos ali será o que a palavra significa. Quando falamos pensando, ou também escrevemos, como habitualmente o fazemos, não dizemos, em geral, que pensamos mais rápido do que falamos; senão que o pensamento aparece aqui como não destacado da expressão. Por outro lado, entretanto, fala-se da rapidez do pensamento; como o pensamento passa pela nossa cabeça como um raio, como problemas tornam-se, de uma vez só, claros para nós etc. Ali é natural perguntar: no pensamento como um raio ocorre o mesmo que na fala que não é sem pensamento, só que extremamente acelerado?
Posso ver, ou compreender, um pensamento totalmente diante de mim como um raio, no mesmo sentido em que posso anotá-lo com poucas palavras ou traços. Pode-se pensar sem falar? E o que é pensar? Quando penso numa linguagem, os ‘significados’ não estão na minha mente ao lado da expressão linguística; porém, a própria linguagem é o veículo do pensar. O pensar é um tipo de fala? Pode-se dizer que é o que diferencia a fala pensada da fala sem pensamento. E ele parece ser um acompanhamento da fala. Um processo que talvez também acompanhe outra coisa, ou possa transcorrer por si mesmo.
XII. IMAGINAÇÃO E REPRESENTAÇÃO
A imagem mental é a imagem a ser descrita quando alguém descreve sua ideia. Não se tem que perguntar o que são representações ou o que acontece quando se representa algo, mas: como a palavra “representação” é usada.
A essência é proferida na gramática. O único correlato na linguagem para uma necessidade natural é uma regra arbitrária. Ela é a única coisa que se pode extrair dessa necessidade natural em uma sentença. Que tipo de objeto alguma coisa é, é dito pela gramática. (Teologia como gramática.)
Uma pergunta que surge ao investigar o conceito de representação é a questão sobre como se comparam representações. Qual é o critério de igualdade das duas representações? Para mim, se o outro a tem: o que diz e faz. Para mim, se eu a tenho: absolutamente nada. Não analisamos um fenômeno (por exemplo, o pensar), mas um conceito (por exemplo, o do pensar), e, portanto, a aplicação de uma palavra. Pode parecer, assim, como se estivéssemos a estimular o nominalismo. Os nominalistas cometem o erro de interpretar todas as palavras como nomes, não descrevem, portanto, o seu emprego, mas tão somente, por assim dizer, uma instrução no papel de uma tal descrição.
A representação tem que ser mais semelhante ao seu objeto do que toda imagem: pois, por mais que também torne semelhante a imagem ao que deve ser apresentado, ela ainda pode ser sempre a imagem de uma outra coisa. Mas o que a representação tem em si, é que ela é a representação dela, e de nenhuma outra mais.
Existe obscuridade acerca de que papel joga a representabilidade na nossa investigação. Em que medida ela garante mesmo o sentido de uma sentença. É tão pouco essencial para a compreensão de uma sentença que se imagine alguma coisa por ela, quanto que se esboce um desenho dela.
Em vez de “representabilidade”, pode-se dizer também aqui: apresentabilidade em um determinado meio de apresentação. E de uma tal apresentação, pode-se chegar certamente num caminho mais seguro para empregos adicionais. Por outro lado, pode-se nos impor uma imagem e não se utilizar absolutamente nada.
XIII. O PENSAMENTO E SUA ARTICULAÇÃO COM A REALIDADE
“O pensamento, este ente estranho”, mas o pensamento não nos ocorre de modo estranho quando pensamos. O pensamento não nos ocorre misteriosamente enquanto pensamos, mas só quando, por assim dizer, falamos restrospectivamente: “Como isso foi possível?” "Como foi possível que o pensamento tratasse desse objeto, ele mesmo?" Parece-nos como se houvéssemos com ele capturado a realidade.
Pode-se perguntar por que uma pessoa pensa. Para que pensa uma pessoa? Para que isso serve? Poderia se dizer que uma pessoa pensa porque isso gera bons resultados. O pensar mostra seu valor na medida em que pensar é algo vantajoso.
XIV. AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Sem a linguagem não podemos influenciar outras pessoas assim e assim; não podemos construir estradas e máquinas etc. Sem o uso da fala e da escrita as pessoas não poderiam se entender. O aparato da nossa linguagem habitual, nossa linguagem verbal, é, antes de tudo, o que chamamos de “linguagem”; e depois as outras, segundo a analogia e a comparabilidade com ela.
A gramática não diz como a linguagem tem que ser construída para cumprir sua finalidade, para produzir tais e tais efeitos sobre as pessoas. Ela só descreve, mas não explica de nenhum modo, o uso dos sinais. Pode-se chamar de “arbitrárias” as regras da gramática, se com isso deve ser dito que a finalidade da gramática só é a da linguagem.
Dizer “Essa ligação de palavras não tem nenhum sentido”, a exclui do domínio da linguagem e demarca, assim, o âmbito da linguagem. Quando se diz que uma sentença não tem sentido, não é o seu sentido que é, de certa forma, sem sentido. Mas é uma ligação de palavras que é excluída da linguagem, tirada de circulação.
“A finalidade da linguagem é exprimir pensamentos.” – Então talvez seja a finalidade de toda sentença exprimir um pensamento. “O significado da palavra é o que a explicação da palavra explica.” A linguagem é um instrumento. Seus conceitos são instrumentos. Conceitos nos encaminham para investigações. São expressão do nosso interesse, e dirigem o nosso interesse.
Poder-se-ia diferenciar, no uso de uma palavra, uma ‘gramática superficial’ de uma ‘gramática profunda’. O que se nos imprime imediatamente no uso de uma palavra é o seu modo de emprego na estrutura da sentença, a parte do seu uso, poder-se-ia dizer, que se pode apreender com o ouvido. Agora compare a gramática profunda da expressão “querer dizer”, talvez, com o que se permitiria supor da sua gramática superficial. Não é de admirar que se ache difícil saber tudo aqui realmente.
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