FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO (RESUMO)


O que se segue é um resumo do livro Fenomenologia da Percepção  de Maurice Merleau-PontyO resumo segue a estrutura do livro se dividindo em três partes para além da introdução. A primeira parte trata da corporeidade e seus caracteres, a segunda trata do mundo percebido, considerando o mundo natural e o mundo social, a quarta parte, por sua vez, trata do ser-para-si e do ser-no-mundo em relação à liberdade e à temporalidade.  É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

INTRODUÇÃO 
OS PREJUÍZOS CLÁSSICAS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 

Ao estudar a percepção, encontramos na linguagem a noção de sensação. No entanto, essa noção é a mais confusa que existe. Por terem admitido essa noção, as análises clássicas deixaram escapar o fenômeno da percepção. Em um certo sentido, é possível compreender a sensação como a maneira pela qual sou afetado e a experiência de um estado de mim mesmo.  
Busca-se compreender a sensação como a experiência de uma impressão indiferenciada, instantânea e pontual. No entanto, essa noção não corresponde a nada de que tenhamos experiência. A pura impressão não apenas é inencontrável, mas também imperceptível e, portanto, impensável como momento da percepção. Portanto, não podemos definir a sensação pela impressão pura.  
Nós acreditamos saber muito bem o que significa “ver”, “ouvir”, “sentir”, mas acabamos cometendo o erro de supor de um só golpe em nossa consciência das coisas aquilo que sabemos estar nas coisas. Construímos a percepção com o percebido e, como o percebido só é evidentemente acessível através da percepção, não compreendemos nem um nem outro. 
Quando estudamos o campo visual, descobrimos que há nele uma visão indeterminada, uma visão de não sei o quê. O campo visual é o meio singular no qual as noções contraditórias se entrecruzam porque os objetos não estão postos ali no terreno do ser, em que uma comparação seria possível, mas são apreendidos cada um em seu contexto particular, como se não pertecessem ao mesmo universo.  
A noção de sensação, uma vez introduzida, falseia toda a análise da percepção. A sensação não admite outra filosofia senão o nominalismo. As sensações que deveriam iniciar e terminar todo conhecimento aparecem sempre em um horizonte de sentido, e a significação do percebido, longe de resultar de uma associação, está ao contrário pressuposta em todas as associações. Nosso campo perceptivo é feito de coisas e de vazios entre as coisas. 
As críticas feitas à noção de sensação apresentada até aqui é uma crítica ao empirismo, mas não é só o empirismo que é problemático, mas também sua síntese intelectualista. Ambos são incapazes de exprimir a maneira particular pela qual a consciência perceptiva constitui seu objeto. O erro do empirismo consiste em só considerar conexões externas, o erro do intelectualismo, por sua vez, está em pensar a consciência como possuindo eternamente a estrutura inteligível de seus objetos. Enquanto o que falta ao empirismo é a conexão interna entre o objeto e o ato que o desencadeia, o que falta ao intelectualismo é a contingência das ocasiões de pensar. 
Quando estudamos a atenção, descobrimos que ela não pode ser compreendida corretamente nem pelo empirismo, nem pelo intelectualismo. A atenção não é, nem uma associação de imagens, nem um retorno a si de um pensamento já senhor de seus objetos, mas a constituição ativa de um objeto novo que explicita e tematiza aquilo que até então só se oferecera como horizonte indeterminado.  
É importante considerar que o perceber no sentido pleno da palavra, que se opõe ao imaginar, não é julgar, mas apreender um sentido imanente ao sensível antes de qualquer juízo. O fenômeno da percepção verdadeira oferece uma significação inerente aos signos, e do qual o juízo é apenas a expressão facultativa.  
sentir é uma comunicação com o mundo que o torna presente para nós como lugar familiar de nossa vida. A ciência e a filosofia foram conduzidas durante séculos pela fé originária da percepção. A percepção abre-se sobre coisas, ela se orienta, como para seu fim, em direção a uma verdade em si em que se encontra a razão de todas as aparências. 
 No estudo da percepção, o primeiro ato filosófico necessário consiste em um retorno ao mundo vivido aquém do mundo objetivo, restituir à coisa sua fisionomia concreta, ao organismo sua maneira própria de tratar o mundo, à subjetividade sua inerência histórica, reencontrar os fenômenos, a camada de experiência viva através da qual primeiramente as coisas e outro nos são dados. Este campo fenomenal não é um mundo interior, o fenômeno não é um estado de consciência ou um fato psíquico, mas o campo em que o “fenômeno” já aparece para nós, imediatamente, como um todo significativo. 

I. O CORPO 

O objeto, conforme trata a filosofia mecanicista, é definido como aquilo que só admite entre suas pares ou entre si mesmo e os outros objetos relações exteriores e mecânicas. Caso se quisesse inserir o organismo no universo dos objetos e encerrar este universo através dele, seria traduzir o funcionamento do corpo na linguagem do em-si e descobrir, sob o comportamento, a dependência linear entre o estímulo e o receptor. 
A excitação de um estímulo só é percebida quando atinge um órgão sensorial que está harmonizado com ela. A excitação é apreendida e reorganizada por funções transversais que a fazem assemelhar-se à percepção que ela vai suscitar. Assim, a exteroceptividade exige uma enformação dos estímulos, a consciência do corpo invade o corpo, a alma se espalha em todas as suas partes. 
A fisiologia moderna mostra que o acontecimento psicofísico não pode mais ser concebido à maneira da fisiologia cartesiana e como a contiguidade entre um processo em si e uma cogitatioA união entre alma e corpo não é selada por um decreto arbitrário entre dois termos exteriores, um objeto, outro sujeito. Ela se realiza a cada instante no movimento da existência.  
Quando descrevia o corpo próprio, a psicologia já lhe atribuía caracteres incompatíveis com o estatuto de objeto. A psicologia entendia o corpo como distinto dos demais objetos por ser percebido constantemente e do qual não posso me afastar. O corpo seria o objeto que não me deixa.  
No entanto, será que ainda faria sentido falar no corpo como “objeto”? Particularmente, o objeto só é objeto se pode distanciar-se e, no limite, desaparecer de meu campo visual. Sua presença é de tal tipo que ela não ocorre sem uma ausência possível. Nesse caso, não parece ser possível pensar no corpo como objeto. Dizer que o corpo está sempre perto de mim é dizer que ele nunca está verdadeiramente diante de mim, que não posso desdobrá-lo sob meu olhar, que ele permanece às margens de todas as minhas percepções, que existe comigo.  
O que impede o corpo de ser alguma vez objeto, de estar alguma vez completamente constituído, é o fato de ele ser aquilo porque existem os objetos. Assim, a permanência do corpo próprio, se a psicologia clássica a tivesse analisado, podia conduzi-la ao corpo não mais como objeto do mundo, mas como um meio de nossa comunicação com ele, ao mundo não mais como soma de objetos determinados, mas como horizonte latente de nossa experiência, presente sem cessar, ele também, antes de todo pensamento determinante. 
Podemos descrever o corpo próprio a partir dos seguintes caracteres:  
(i) espacialidade: As partes do corpo próprio se relacionam umas às outras de uma maneira original, elas não estão dobradas umas ao lado das outras, mas envolvidas umas nas outras, as partes do corpo formam um sistema, o corpo inteiro não é uma justaposição de órgãos no espaço, tenho a posse indivisiva e a posição de cada um dos membros de meu corpo por um esquema corporal em que eles estão todos envolvidos. 
(ii) motricidade: A motricidade é a intencionalidade original a partir da qual nosso corpo se encontra dirigido aos objetos. O próprio corpo se mostra como potência motora, um projeto motor e uma intencionalidade motora. 
(iii) sexualidade: A sexualidade se refere ao nosso meio afetivo. O modo como um objeto tem existência para nós é marcado por como o desejamos e o amamos. A sexualidade se manifesta como uma intencionalidade original e como raiz vital da percepção, da motricidade e da representação. A sexualidade não é um círculo autônomo, ela está ligada interiormente ao ser cognoscente e agente inteiro. 
(iv) linguagem: A linguagem é um fenômeno do corpo, uma modalidade de gesto. Por meio da linguagem o homem estabelece uma relação viva consigo mesmo ou com seus semelhantes, a linguagem não é um instrumento, não é um meio, ela é uma manifestação, uma revelação do ser íntimo e do elo psíquico que nos une ao mundo e aos nossos semelhantes. 

II. O MUNDO PERCEBIDO 

O pensamento objetivo ignora o sujeito da percepção. Isso ocorre porque ele se dá o mundo inteiramente pronto, como meio de todo acontecimento possível, e trata a percepção como um desses acontecimentos. Mas, se o corpo próprio o eu empírico são apenas elementos no sistema da experiência, objetos entre outros objetos sob o olhar do verdadeiro eu, como pudemos algum dia confundir-nos com nosso corpo, como pudemos acreditar que víamos com nossos olhos aquilo que na verdade aprendíamos por uma inspeção do espírito, como o mundo não é perfeitamente explícito diante de nós, por que ele só se desdobra pouco a pouco e nunca inteiramente, enfim como ocorre que nós percebemos? 
Todo saber se instala nos horizontes abertos pela percepção. Para compreender a percepção, precisamos retornar à sensação e observá-la de tão perto que ela nos ensine a relação viva daquele que percebe com seu corpo e com seu mundo. A Psicologia indutiva nos ajuda a perceber que a sesação não é nem um estado ou uma qualidade, nem a consciência de um estado ou qualidade. 
Toda percepção acontece em uma esfera de generalidade e se dá a nós como anônima, de forma que, se eu quisesse traduzir exatamente a experiência perceptiva, deveria dizer que se percebe em mim e não que eu percebo. É verdade que a sensação não aconteceria sem adaptação de meu corpo, mas esse contato se desenrola na periferia de meu ser, não tenho mais consciência de ser o verdadeiro sujeito de minha sensação do que de meu nascimento ou de minha morte.  A sensação só pode ser autônoma porque é parcial. Aquele que vê e aquele que toca não sou exatamente eu mesmo, porque o mundo visível e o mundo tangível não são o mundo por inteiro. Assim, não estou por inteiro nessas operações, elas permanecem marginais, produzem-se adiante de mim. 
Toda sensação pertence a um certo campo. Dizer que tenho um campo visual é dizer que, por posição, tenho acesso e abertura a um sistema de seres, os seres visuais, que eles estão à disposição de meu olhar em virtude de uma espécie de contrato primordial e por um dom da natureza, sem nenhum esforço de minha parte; é dizer portanto que a visão é pré-pessoal; e é dizer ao mesmo tempo que ela é sempre limitada, que existe sempre em torno de minha visão atual um horizonte de coisas não-vistas ou mesmo não-visíveis. Os espaços sensoriais tornam-se momentos concretos de uma configuração global que é o espaço único, e o poder de ir a ele não se separa do poder de retirar-se dele na separação de um sentido. 
Aqui, cabe investigar a experiência originária do espaço. Entendemos que o nível espacial não se confunde com a orientação do corpo próprio. A constituição de um nível espacial é apenas um dos meios da constituição de um mundo pleno, meu corpo tem poder sobre o mundo quando minha percepção me oferece um espetáculo tão variado e tão claramente articulado quanto possível, e quando minhas intenções motoras, desdobrando-se, recebem do mundo as respostas que esperam. 
Ao analisar a percepção do espaço, podemos entendê-la como o conhecimento das relações espaciais entre objetos e de seus caracteres geométricos que um sujeito desinteressado pode adquirir. A condição da espacialidade é a fixação do sujeito em um ambiente e sua inerência ao mundo. Isso significa que precisamos reconhecer que a percepção espacial é um fenômeno de estrutura e só se compreende no interior de um campo perceptivo que inteiro contribui para motivá-lo, propondo ao sujeito concreto uma ancoragem possível. É importante pontuar que ter a experiência de uma estrutura não é recebê-la em si passivamente, é vivê-la, retomá-la, assumi-la, reencontrar seu sentido imanente. 
O problema clássico da percepção do espaço e, em geral, da percepção deve ser reintegrado a um problema mais vasto. Perguntar-se como se pode, em um ato expresso, determinar relações espaciais e objetos com suas “propriedades” é colocar uma questão secundária, é considerar como originário um ato que só aparece sobre o fundo de um mundo já familiar, é confessar que ainda não se tomou consciência da experiência do mundo.  
Na atitude natural, não tenho percepções, não ponho este objeto ao lado deste outro objeto e suas relações objetivas, tenho um fluxo de experiências que se implicam e se explicam umas às outras tanto no simultâneo quanto na sucessão. O problema mais amplo que precisamos investigar é a espacialidade originária para a qual nos reporta a experiência da espacialidade. Mesmo quando o mundo dos objetos claros e articulados encontra-se abolido, nosso ser perceptivo, amputado de seu mundo, desenha uma espacialidade sem coisas. 
Há uma determinação de alto e do baixo e, em geral, do lugar, que precede a percepção. A vida e a sexualidade frequentam seu mundo e seu espaço.  Além da distância física ou geométrica que existe entre mim e todas as coisas, há uma distância vivida que me liga às coisas que contam e existem para mim, e as liga entre si. Essa distância mede a cada momento a amplidão da minha vida.  
Mesmo se não pode ser definida por isto, uma coisa tem caracteres ou propriedades estáveis, e podemos nos aproximar do fenômeno de realidade estudando as constantes perceptivas. Podemos considerar as seguintes constantes perceptivas: 
(i) grandeza e formaUma coisa tem sua grandeza e sua forma próprias sob as variações perspectivas que são apenas asparentes 
(ii) qualidades da coisa: As qualidades da coisa, por exemplo, sua cor, sua dureza, seu peso, nos ensinam sobre ela muito mais do que suas propriedades geométricas.  
(iii) dados táteis: Pode-se falar de uma constância de sons, das temperaturas, dos pesos mediada por certas estruturas, certos modos de aparição dos fenômenos em cada um desses campos sensoriais.  
Agora podemos abordar a análise da coisa intersensorial. A coisa visual ou a coisa tátil, que para nós se mantêm as mesmas através de uma série de experiências, não são nem um quale que subsista efetivamente, nem a noção ou consciência dessa propriedade objetiva, mas aquilo que é reencontrado ou retomado por nosso olhar ou por nosso movimento. O objeto que se oferece ao olhar ou à palpação, desperta uma intenção motora que visa, não os movimentos do corpo próprio, mas a coisa mesma à qual eles estão como que pendurados. 
As propriedades sensoriais de uma coisa constituem em conjunto uma mesma coisa, assim como meu olhar, meu tato e todos os meus outros sentidos são em conjunto as potências de um mesmo corpo integradas em uma só ação. Mas o que é dado não é somente a coisa, também nos é dada a experiência da coisa, uma transcendência em um rastro de subjetividade, uma natureza que transparece através de uma história.  
Além da coisa percebida, existe uma lógica do mundo que meu corpo inteiro esposa e pela qual coisas intersensoriais se tornam possíveis para nós. Ter um corpo é possuir uma montagem universal, uma típica de todos os desenvolvimentos perceptivos e de todas as correspondências intersensoriais para além do segmento do mundo que efetivamente percebemos.  
Portanto, uma coisa não é efetivamente dada na percepção, ela é interiormente retomada por nós, reconstituída e vivida por nós enquanto é ligada a um mundo do qual trazemos conosco as estruturas fundamentais, e do qual ela é apenas uma das concreções possíveis. Vivida por nós, ela não é menos transcendente à nossa vida porque o corpo humano, com seus hábitos que desenham em torno de si uma circuvizinhança humana, é atravessado por um movimento em direção ao próprio mundo. O comportamento abre-se a um mundo e a um objeto para além dos utensílios que ele se constrói. A vida humana compreende não apenas tal ambiente definido, mas uma infinidade de ambientes possíveis, e ela compreende a si mesma porque está lançada em um mundo natural. 
mundo natural é a típica das relações intersensoriais. O mundo tem sua unidade sem que o espírito tenha chegado a ligar suas facetas entre si. O mundo permanece o mesmo através de toda minha vida porque ele é justamente o ser permanente do interior do qual eu opero todas as correções do conhecimento. 
Além do mundo natural, precisamos considerar o mundo social, não como objeto ou soma de objetos, mas como campo permanente ou dimensão da existência. Nossa relação ao social é, assim como nossa relação ao mundo, mais profunda do que qualquer percepção explícita ou qualquer juízo. Com o mundo natural e o mundo social, nós descobrimos o verdadeiro transcendental, que não é um conjunto das operações constitutivas pelas quais um mundo transparente se exporia diante de um espectro parcial, mas a vida ambígua em que se faz a origem das transcendências, que, por uma contradição fundamental, me põe em comunicação com elas e, sobre este fundamento, torna possível o conhecimento.  

III. O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 

Fenomenologia pode ser compreendida como uma descrição direta do campo fenomenal. No entanto, à fenomenologia entendida como descrição direta, deve-se acrescentar uma fenomenologia da fenomenologia. É preciso voltar ao cogito para procurar ali um Logos mais fundamental do que o do pensamento objetivo. 
cogito não pode ser pensado no sentido cartesiano de uma cápsula fechada. Podemos pensar no cogito em um novo sentido que é o cógito tácito, que é uma experiência de mim por mim, uma subjetividade indeclinável, que só tem sobre si mesma e sobre o mundo um poder escorregadio. Ela não constitui o mundo, advinha-o em torno de si como um campo que ela não se deu.  O cógito tácito, a presença de si a si, sendo a própria existência é anterior a toda filosofia. 
Quando se pensa o problema do cogito, precisamos considerar a temporalidade, pois a temporalidade é a forma do sentido interno e o caráter mais geral dos fatos psíquicos, todas as nossas experiências, enquanto são nossas, se dispõem segundo o antes e o depois, a subjetividade e o tempo se encontram intimamente relacionados. O tempo não é um processo real, uma sucessão efetiva que eu me limitaria a registrar. Ele nasce de minha relação com as coisas.  
Estamos situados no campo de presença, o campo de presença é o lugar da experiência originária do tempo. É nesse campo que vemos um porvir deslizar no presente e no passado. O tempo, na experiência primordial que dele temos, não é para nós um sistema de posições objetivas através dos quais nós passamos, mas um ambiente movente que se distancia de nós, cada presente reafirma a presença de todo o passado que expulsa e antecipa a presença de todo porvir.  
Existe um só tempo que se confirma a si mesmo, que não pode trazer nada à existência sem já tê-lo fundado como presente e como passado porvir, o tempo se antecipa a si mesmo e se estabelece por um só movimento. Portanto, o passado não é passado, nem o futuro é futuro, passado e futuro só existem quando uma subjetividade vem romper a plenitude do ser em si, desenhar ali uma perspectiva, ali introduzir o não-ser. 
O presente efetua a mediação do Para-si (ser-para-si), eu para mim mesmo, e do Para-outro, eu para outro e outro para mim. Sou tudo aquilo, sou um campo intersubjetivo, sendo o meu corpo e minha situação, sou ser-no-mundo. Quando se considera que eu sou minha situação, isso significa que minha liberdade precisa ser entendida a partir da minha constituição no mundo. O mundo está já constituído, mas também não está nunca completamente constituído. Sob o primeiro aspecto somos solicitados, sob o segundo somos abertos a uma infinidade de possibilidades. Existimos sob os dois aspectos ao mesmo tempo de modo que nunca há determinismo e nunca há escolha absoluta. Escolhemos nosso mundo e o mundo nos escolhe. 

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