PRIMEIRA INVESTIGAÇÃO LÓGICA (RESUMO)


     O que se segue é um resumo da Introdução das Investigações Lógicas e da Primeira Investigação Lógica de Edmund Husserl, pai da Fenomenologia. Na Primeira Investigação, Husserl busca isolar a unidade de significação a partir do ato expressivo, entendo a sua idealidade como ato em espécie. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.
       
INTRODUÇÃO 

       As investigações lógicas devem começar com uma análise da linguagem, pois sem ela não seria possível investigar a significação das proposições. É a Fenomenologia que nos dá acesso às fontes de onde brotam os conceitos fundamentais e as leis ideais da Lógica pura, fontes às quais se deve, de novo, fazê-los retornar para uma compreensão crítico-gnosiológica da lógica pura. 
       Os objetos para os quais a investigação da lógica pura está voltada são, desde logo, dados como possuindo características gramaticais, estando embutidos nas vivências psíquicas concretas como funções de significação (intenção da significação e preenchimento da significação) que correspondem a certas expressões linguísticas e formam com elas uma unidade fenomenológica. No entanto, o que interessa às investigações da lógica pura, não é o propriamente as vivências psíquicas concretas, mas sim a ideia lógica que é una perante as multiplicidades de vivências.  
       A análise fenomenológica tem como tarefa levar à clareza e distinção gnosiológica as ideias lógicas. A Fenomenologia das vivências lógicas tem a finalidade de nos proporcionar uma compreensão descritiva das vivências psíquicas a fim de dar aos conceitos lógicos fundamentais significações fixas. A investigação fenomenológica deve obedecer ao princípio da ausência de pressupostos, isto é, deve-se excluir todas as asserções que não possam ser completa e totalmente realizadas fenomenologicamente 
       
EXPRESSÃO E SIGNIFICAÇÃO 

I. AS DISTINÇÕES ESSENCIAIS  

       O termo signo pode ter dois sentidos, pode ter o sentido de índice (não tem significação) ou de expressões (possuem significação). Também é importante distinguir a remissão que é não-intelectiva, da demonstração, que é intelectiva. É possível ainda distinguir o signo sensível (expressão em seu aspecto físico) e a vivência psíquica (expressão em seu aspecto psíquico).  
       Todas as expressões funcionam como índices no discurso comunicativo, no entanto, há um papel importante das expressões na vida solitária da alma fora do contexto comunicativo. Cabe distinguir ainda a própria expressão e aquilo que ela expressa como sua significação. Há uma unidade fenomenológica entre a aparição física da expressão, ato doador de sentido e o ato preenchedor de sentido.  
      Assim, quando se fala do que a expressão expressa, pode-se considerar diferentes sentidos, de um lado refere-se à manifestação em geral e nela ao ato doador de sentido e ao ato que preenche o sentido e de outro lado, aos conteúdos desses atos. O conteúdo expresso pode ser distinguido em seu sentido subjetivo e em seu sentido objetivo. O sentido objetivo pode ser distinguido como (i) conteúdo enquanto sentido intentante ou enquanto significação pura e simples; (iiconteúdo enquanto sentido preenchedor e; (iiiconteúdo enquanto objeto.  

II. PARA UMA CARACTERIZAÇÃO DOS ATOS QUE CONFEREM A SIGNIFCAÇÃO 

       As imagens ilustradoras da fantasia não podem ser as significações de expressões porque as fantasias variam enormemente, enquanto as expressões permanecem constantes. Assim, as imagens ilustradoras não devem ser tratadas como condições necessárias para a compreensão. Uma expressão pode funcionar com sentido e, porém, sem intuição ilustradora de modo que não se deve colocar o momento da significação na intuição. Em virtude dos atos que conferem significação, as expressões funcionam efetivamente, quer estejam presentes ou não atos preenchedores de sentido ou imagens ilustradas de modo que a significação emerge como independente da intuição 
     A apreensão compreensiva, na qual se consuma o significar de um signo, é aparentada com as apreensões objetivantes, nas quais, por meio de um complexo vivido de sensações, desperta a representação intuitiva de um objeto, embora suas estruturas sejam diferentes.         

III.  A FLUTUAÇÃO DAS SIGNIFICAÇÕES DAS PALAVRAS E A IDEALIDADE DA UNIDADE DE SIGNIFICAÇÃO 
   
      As expressões podem ter uma referência tanto a outros objetos como também às vivências psíquicas presentes daquele que se exprime. As expressões se dividem entre aquelas que nomeiam ou designam o objetual ao mesmo tempo que o manifestam (frases interrogativas, optativas e imperativas) e aquelas em que o conteúdo nomeado e o conteúdo manifestado se separam (frases declarativas que se referem a coisas externas, a vivências próprias passadas, a relações matemáticas, etc.). 
      É possível distinguir entre expressões essencialmente subjetivas e ocasionais, em cujo caso é necessário orientar a significação atual segundo a ocasião, a pessoa que fala e a situação e expressões objetivasaquelas que podem ser compreendidas sem precisarmos ter necessariamente em vista a pessoa que se expressa e as circunstâncias da sua elocução. 
      A distinção entre expressões essencialmente ocasionais e objetivas cruza-se com outras distinções: entre expressões completas e expressões incompletas, entre expressões que funcionam normalmente expressões que funcionam anormalmente e entre expressões exatas expressões vagas.  
       A flutuação das significações deve ser compreendida enquanto flutuação do significar, isto é, as variações na significação não devem ser atribuídas às significações em si mesmas, pois estas são unidades ideaisantes as variações devem ser compreendidas como pertencendo somente aos atos de significação. Ou seja, o que flutua são os atos subjetivos que conferem significação às expressões e não as próprias significações. 
       Sempre que se trata de conceitos, juízos e raciocínios, a Lógica pura deve considerar somente as significações enquanto unidade ideais.  O domínio da Lógica pura é aquele que diz respeito ao esforço de extrair a essência ideal das significações dos seus vínculos psicológicos e gramaticais e buscar clarificar as relações apriorísticas de adequação à objetividade fundadas. 

IV.  O CONTEÚDO FENOMENOLÓGICO E IDEAL DAS VIVÊNCIAS DE SIGNIFICAÇÃO 

       A essência da significação não se encontra na vivência que confere a significação, mas, sim, no seu conteúdo, que representa uma unidade intencional idêntica perante a multiplicidade dispersa das vivências, reais ou possíveis, daquele que fala ou pensa. Desse modo, há um elemento psicológico comum em oposição ao elemento psicológico variável. 
       As significações formam uma classe de conceitos no sentido de objetos gerais, mas que não devem ser pensados como objetos que existem metafisicamente. A idealidade das significações não é uma idealidade normativa, como se fosse um “ideal de perfeição”, mas sim uma idealidade do que é específico em geral.  
       As significações constituem uma classe de objetos gerais ou espécies, e cada espécie, se ela for o sujeito de uma expressão, pressupõe uma significação na qual ela é apresentada, e esta significação é em si mesma uma espécie. Não há qualquer nexo necessário entre as unidades ideais (significações) e os signos a elas ligados. Também, não se pode afirmar que todas as unidades ideias sejam significações expressas. Há incontáveis significações que nunca foram e nunca serão expressas. 

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