FILOSOFIA E COSMOVISÃO - HEIDEGGER (RESUMO)


       O que se segue é um resumo da segunda seção do livro Introdução à Filosofia de Martin Heideggerfenomenólogo-existencial alemãoNesta prelação, Heidegger trata da relação entre Filosofia e Cosmovisão, primeiro ele discute o conceito de mundo, como esse conceito foi entendido ao longo da história do pensamento e seu sentido existencial em relação ao ser-aí humano, em seguida Heidegger considera a cosmovisão enquanto pertencente a essência do ser-aí, depois são caraterizados duas possibilidades fundamentais da cosmovisão, como mito e como postura e, por fim, Heidegger conclui mostrando a conexão entre a cosmovisão como postura e o filosofar. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

I. COSMOVISÃO E CONCEITO DE MUNDO 

       A expressão cosmovisão foi usada primeiramente por Immanuel Kant como intuição e contemplação do mundo dado sensorialmente, Georg Hegel fala, em sua Fenomenologia do espírito, de uma cosmovisão moral. Wilhelm Dilthey chama de cosmovisão a interpretação da realidade efetiva a partir da vida interior, para ele a estrutura da cosmovisão apresentaria três aspectos: (i) experiencia vital; (ii) imagem do mundo e; (iii) ideal de vida. Dilthey distingue três formas fundamentais de cosmovisão: (i) religiosa; (ii) artística e(iii) filosófica. Esta última se dividiria em três tipos: (i) naturalismo; (ii) idealismo objetivo e; (iiiidealismo da liberdade. 
       Para compreender o que significa cosmovisão (visão de mundo), é preciso investigar o conceito de mundo. A filosofia antiga entendeu que mundo quer dizer um “como” do ser do ente, um “como” que determinam, a cada vez, o ente na totalidade. Essa determinação é antecedente e isso que determina de maneira antecedente o ente na totalidade é relativo aos modos fundamentais de existência do ser-aí humano. Com o Cristianismo, o termo “mundo” passa a ser empregado para um tipo fundamental de existência humana em geral, o mundo passa a significar em João Evangelista, em Santo Agostinho e em São Tomás de Aquino, o ser-aí humano afastado de Deus. Em Immanuel Kantmundo é uma ideia que se refere a unidade dos fenômenos como totalidade em relação ao conhecimento finito. Kant também usa o temo mundo em sentido existencial para designar o homem em vista de sua existência.  

II. COSMOVISÃO E SERNO-MUNDO 

       Ser-aí significa ser-no-mundo, com a indicação do ser-aí tocamos na estrutura da transcendência, o ser-aí transcende (ultrapassa) o ente. Aquilo em relação ao que o ser-aí essencialmente transcende é o mundo. Transcender significa ser-no-mundo. Ao ser-no-mundo pertence a compreensão de ser, no entanto, a essência da transcendência não se esgota com a compreensão de ser. 
        O mundo é o todo da constituição ontológica, ele é a totalidade específica da multiplicidade ontológica que é compreendida de maneira una no ser-com-outros, no ser-junto-a e no ser-si-mesmo. O mundo tem o caráter do jogo. Jogar é encontrar-se em uma determinada disposição afetiva. O termo “mundo” designa o jogo que a transcendência joga, o ser-no-mundo é esse jogar originário do jogo. Todo ser-aí fático precisa se colocar em jogo em vista desse jogar para que possa se inserir na dinâmica do jogar de um modo que ele sempre tome faticamente parte do jogo durante a sua existência. 
       A existência de um ser-aí em vista de sua faticidade é expressa por meio do ter-sido-jogado. Isso significa que nenhum ser-aí chega à existência em razão de sua própria resolução e decisão, no entanto, todo e qualquer ser-aí pode constantemente deixar de existir. O ser-aí é impotente quanto ao fato de efetivamente existir, mas não é impotente quanto ao fato de não existir. Assim, um caráter de nulidade pertence à essência do ser-aí na medida em que ele sempre pode não-ser. 
        O ser-no-mundo do ser-aí, a sua transcendência, se mostra como ausência de apoio. O ser-aí sempre precisa conduzir o seu ser por meio de uma escolha em sentido essencial e dar de um modo ou de outro um apoio a esse seu ser. Todo ser-aí fático, na medida mesmo em que existe, já sempre precisa ter conquistado de um modo ou de outro um apoio. Ser-no-mundo é, em si mesmo, ausência de apoio, isto é, o existir do ser-aí precisa obter para si um apoio. O ser-no-mundo é a estrutura essencial na qual nos apoiamos. 
        A cosmovisão se forma de acordo com o modo como a ausência de apoio do ser-aí, o próprio ser-no-mundo como tal, torna-se manifesta para o ser-aí em questão. A cosmovisão pertence ao ser-no-mundo, com a expressão cosmovisão temos em vista o manter-se no ser-no-mundo, o dar a si um apoio em meio ao ser-no-mundo. Esse manter-se no ser-no-mundo, esse apoiar-se nele, pertence necessariamente à transcendência porque ela é determinada essencialmente pela falta de apoio. 

III. O PROBLEMA DA COSMOVISÃO 

       Cosmovisão significa no fundo ter-o-mundo, possuí-lo, isto é, manter-se no ser-no-mundo, o que significa ser desprovido da ausência de apoio. O ser-aí não tem cosmovisão, ele é cosmovisão. A possibilidade e a necessidade da cosmovisão, isto é, a sua essência, estão fundamentados na transcendência do ser-aí, a cosmovisão é um fenômeno inerente à transcendência do ser-aí e determinante para o ser do ser-aí sob o modo desse ser-aí mesmo. 
        Qual seria a relação entre Filosofia e Cosmovisão? Filosofar é transcender expresso, transcender significa ser-no-mundo e ao ser-no-mundo pertence uma cosmovisão. O ser-aí, porquanto existe, já sempre se encontra cada vez em um mundo e disso resultam etapas históricas que são determinadas a partir da historicidade do ser-aí. Desse modo, o caráter histórico pertence à essência das cosmovisões. 
        Existem duas possibilidades fundamentais da cosmovisão, a cosmovisão no mito e a cosmovisão como postura. O mito caracteriza uma possibilidade fundamental do ser-no-mundo. A ausência de apoio inerente ao ser-aí manifesta-se ao ser-aí mítico sob a forma de desabrigo. O ser-aí é envolvido pela supremacia do ente, a primeira possibilidade fundamental da cosmovisão é, por conseguinte, pelo fato de o apoio ter o caráter de abrigo no ente. Já na possibilidade da cosmovisão como postura, o ser-aí determinado pela postura é um manter-se no interior de possibilidades de seus comportamentos que são mantidas por ele mesmo diante de si, com a postura, o ser-aí alcança pela primeira vez uma posição fundamental em relação ao ente e alcança essa posição de uma forma tal que somente agora o ente é manifesto nele mesmo. 
        A cosmovisão como postura é um pressuposto da filosofia. O ser-no-mundo como postura precisa acontecer para que o filosofar possa vir a ser. Filosofia já é, desde o seu fundamento, cosmovisão no modo da postura. Na cosmovisão como postura irrompe o problema do ser, a pergunta pelo que o ente é. 

IV. A CONEXÃO ENTRE FILOSOFIA E COSMOVISÃO 

       O problema do ser, tomado em sua originalidade, desdobra-se necessariamente em direção ao problema do mundo. No entanto, o problema do ser precede o problema do mundo. O ser não é um ente, não é nada ôntico, e nesse sentido bastante específico, pode-se dizer que, em certa medida, o ser é o nada, não no sentido de nada absoluto, mas no sentido de não-ente. O problema do ser só é possível com base na cosmovisão como postura e o filosofar é a postura fundamental pura e simplesmente. O próprio filosofar constitui os pressupostos para as possibilidades da cosmovisão concreta como postura. 




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