FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA (RESUMO)
O que se segue é um resumo geral da fenomenologia husserliana, tendo por
base o capítulo sobre Edmund Husserl escrito
por Rudolf Bermet no livro História da Filosofia de Jean- François Pradeau. Em geral, o
texto trata da fenomenologia estática,
genética e da história.
INTRODUÇÃO
A Fenomenologia
husserliana pode ser definida como uma ciência da correlação intencional entre diversos tipos de atos da consciência intencional e de diferentes modos de objetos intencionais. A ciência fenomenológica de Husserl busca
estudar os atos intuitivos e o modo pelo qual os atos privados de intuição
alcançam um dado intuitivo de seus objetos a partir de uma síntese de realização intuitiva. À medida que um fim intencional de
um objeto é mais ou menos intuitivamente realizado, pode se falar em graus diferentes de verdade.
Sendo que a fenomenologia estuda a
consciência e dado que a consciência é um conjunto de vivências psíquicas, a
fenomenologia guarda uma íntima relação com a Psicologia, no entanto, diferente da psicologia empírica, a fenomenologia está preocupada com a
descrição dos atos da consciência tendo em conta sua estrutura invariável ou essencial. Assim, a fenomenologia se
distingue da psicologia empírica por ser uma ciência eidética e esse voltar-se às essências pode ser chamado de redução eidética. Assim, é necessário
purificar a consciência intencional de toda concepção empírica de modo a não entende-la
mais como pertencendo a uma pessoa empírica ou como pertencendo ao mundo empírico.
Isso é possível graças à suspensão
fenomenológica, na qual até nossa crença na existência do mundo empírico é
colocada entre parênteses. A suspensão possibilita a redução fenomenológica ou redução
transcendental que tem como tarefa a descrição da correlação entre a
consciência pura e seus objetos intencionais.
FENOMENOLOGIA TRANSCENDENTAL ESTÁTICA
O pensamento de Husserl é caracterizado
por um Idealismo transcendental que
significa dizer que a existência de toda objetualidade é constituída pela
consciência. A fenomenologia descreve a correlação
noético-noemática por tomar a consciência dos objetos enquanto fenômenos puros
ou noemas e as vivências
intencionais ou noesis e seus objetos
noemáticos. A fenomenologia estática
tem como tarefa a análise da correlação
intemporal entre noesis e noema.
É de especial importância para a
fenomenologia o estudo da percepção,
pois é ela que nos possibilita o conhecimento do mundo enquanto fenômeno, sendo
a percepção a justificação do sentido e da realidade do mundo sobre a base de
sua doação intuitiva. A percepção é o modo fundamental do conhecimento transcendental.
Toda percepção é caracterizada por uma certa finitude à medida em que ao visar
a coisa em sua totalidade, cada percepção precisa se contentar com uma doação
parcial da coisa que jamais realiza um dado total e definitivo de todos os
aspectos da coisa.
No entanto, além da percepção, é possível
analisar formas derivadas da consciência intuitiva, tais como: (i) lembrança: cujo objeto intencional é
o objeto de uma experiência passada, nela a consciência intencional torna presente
o passado por meio da vivência de reprodução de uma percepção anterior; (ii) imaginação: a imaginação é uma “quase-percepção”,
a percepção de uma cena ausente como se ela estivesse de fato presente; (iii) empatia: é a consciência do outro
que se dá no sujeito através da chamada expressiva do corpo do outro. Os atos
de lembrança, imaginação e empatia podem ser chamadas de atos de presentificação.
FENOMENOLOGIA TRANSCENDENTAL
GENÉTICA
A fenomenologia
genética se ocupa da gênese dos atos de consciência transcendental e de
seus objetos intencionais. Por gênese
entende-se que todo ato intencional traz consigo a herança e a influência de
outros atos que o precederam. A gênese dos atos é uma questão de síntese passiva, na qual uma vivência
se associa por si mesma, por semelhança ou contiguidade, a uma outra.
Para a fenomenologia genética, a subjetividade é sempre intersubjetiva, uma comunidade de vida transcendental. O sujeito transcendental se faz mônada que sempre está com outros em
uma intersubjetividade monadológica.
Assim como as vivências subjetivas, os objetos
intencionais também nunca se encontram isolados, mas aparecem ligados entre
si e remetendo-se uns aos outros no interior de um mesmo mundo. Cada objeto
intencional faz parte de um horizonte
intencional que implica outros objetos.
FENOMENOLOGIA TRANSCENDENTAL DA
HISTÓRIA
A fenomenologia
da história tem como tarefa o questionamento regressivo da história do
pensamento científico no contexto da crise
das ciências. Pode-se falar de uma intuição
transcendental originária enquanto fato
histórico transcendental, isso significa que: (i) a intuição transcendental originária só é acessível por meio do
questionamento de uma intencionalidade
que é de natureza histórica; (ii)
essa intuição transcendental originária relaciona-se com o contexto histórico
do mundo-da-vida; (iii) a fenomenologia deve ter como
questão o sentido e a possibilidade de transmissão
histórica de uma evidência originária e de sua significação universal para
toda a comunidade humana.
Comentários