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TEETETO (RESUMO)



       O que se segue é um resumo do diálogo platônico chamado Teeteto no qual se investiga a questão sobre a essência do saber. Embora o texto original seja um diálogo socrático, o resumo foi organizado na forma de um texto corrido.  O resumo se divide em quatro partes: Introdução, que apresenta a pergunta sobre a natureza do saber. Saber como Percepção, discute a teoria de Protágoras sobre o saber e Saber como Visão que em sua maior parte discute o problema da impossibilidade ou possibilidade da visão falsa e, por fim, a Conclusão que mostra a insuficiência tanto da teoria da percepção como da teoria da visão em relação à natureza do saber. Eu preferi usar “saber” ao invés de “conhecimento” para não parecer que o texto tem como objetivo apresentar uma teoria do conhecimento ou discutir o conceito de ciência e usei o termo “visão” ao invés de “opinião” para manter uma certa ambiguidade no termo incluindo não só o sentido de opinar como também o sentido daquilo que se mostra em determinado aspecto.  É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

INTRODUÇÃO 

       A questão a ser investigada neste texto consiste em saber qual é a natureza ou essência do saber. Não basta sabermos que há diferentes áreas do saber como a o estudo da geometria, a astronomia, a harmonia, o cálculo ou outros ramos do saber, não basta conhecer que existem diversas disciplinas particulares, o que se pergunta é sobre o que é o saber em si mesmo. A questão não é do que é que há saber, nem quantos saberes particulares pode haver, não se trata de enumerar os saberes um por um; o objetivo deste estudo é investigar a pópria natureza ou essência do saber.  

I. SABER COMO PERCEPÇÃO 

        A primeira teoria sobre a natureza do saber que podemos considerar é a que diz que saber é percepção, quem sabe alguma coisa percebe o que sabe. Esta teoria está em conformidade com o que pensProtágoras quando diz que o homem é a medida de todas as coisas, da existência das que existem e da não existência das que não existem. Com isso, se quer dizer que as coisas são tal qual são percebidas por cada pessoa ou tal qual aparecem para cada indivíduo. A percepção de cada pessoa, portanto, seria verdadeira para ela, pois sempre faz parte do seu ser, sendo cada pessoa, por isso mesmo o seu único juiz em condições de dizer que as coisas que são para ela existem mesmo, e também que as que não são para ela não existem. 
       A percepção é sempre percepção do que existe, não podendo, poisser ilusória, visto ser saber. Quanto à questão do que existe, boa parte dos filósofos, com exceção de Parmênides, defendem que nada é ou existe, tudo vem-a-ser. Isso foi defendido por ProtágorasHeráclitoEmpédoclesEpicarmo Homero. Tudo o que dizemos que existe teria sua origem no movimento e o repouso seria a causa do não-ser e da destruição.  Em relação à alma, é pelo estudo e o exercício, que também são movimento, que ela adquire saberes, conserva-os e se torna melhor, ao passo que com o repouso, por falta de exercício e aplicação, a alma ou nada aprende ou esquece o que aprendeu.  
     A teoria de que saber é percepção é insuficiente e apresenta dificuldades. Por exemplo, se saber é perceber, o que dizer da memória? Seria absurdo dizer que ao lembrar-se alguém de alguma coisa de que já teve saber, não sabe dela por não a ter diante dos olhos. Desse modo, trata-se de uma manifesta impossibilidade afirmar que percepção e saber são idênticos. 
       Além disso, se seguirmos a tese de Protágoras de que o homem é a medida de todas as coisas, teríamos que concluir que as visões das pessoas sobre as coisas são sempre verdadeiras. Isso seria autodestrutivo pois ter-se-ia que admitir que visões contraditórias são ambas verdadeiras, ou que visões que neguem que a visão de que tudo é verdadeiro também é verdadeira.  
     Outra dificuldade da identificação entre saber e perceber é que certas noções como a de ser e não-ser, semelhança e dissemelhança, identidade e diferença, não são captadas pela percepção, mas são relações que são estabelecidas pela alma. Logo, o saber não pode ser definido como percepção, nosso saber é, portanto, diferente da percepção. 

II. SABER COMO VISÃO 

       Uma outra teoria sobre saber é de que saber é visão verdadeira. Sobre isso, é importante colocar a questão da possibilidade da visão falsaQuando alguém forma alguma visão seja do que for, é inevitável que diga respeito ao saber ou ao não saber. Logo, quando alguém forma uma visão falsa, toma as coisas que sabe, não pelo que elas são, mas por outras que ele sabe; de onde vem que, conhecendo ambas, ignora as duas, ou então, toma o que não sabe por outra coisa que ele também não sabe. Assim, para se ter uma visão falsa sobre algo precisaríamos ao mesmo tempo saber e não saber em relação ao mesmo objeto, mas isso é impossível.  
         Pensemos agora em ser e não-ser ao invés de falarmos de saber e não-saber. O verdadeiro é aquilo que é, o falso é aquilo que não é, logo, o falso é o nada. Pensar alguma coisa falsa seria pensar em nada. Mas, pensar em nada é não pensar de jeito nenhum. Não é possível, por conseguinte, pensar no que não existe, logo, ter uma visão falsa é diferente de pensar no que não existe. 
       Pensemos, agora, na visão falsa como o equívoco de quem, confundindo no pensamento duas coisas igualmente existentes, afirma que uma é outra. Desse modo, ele sempre pensa em algo existente, porém põe uma coisa em lugar de outra. Assim, visar a um alvo errado é o que com todo o direito se pode denominar visão falsa. Sempre que alguém toma uma coisa por outra, diz para si mesmo que uma é a outra. No entanto, não há quem, ao falar a respeito de dois objetos e ao imaginá-los, e apreendendo a ambos pelo pensamento, seja capaz de dizer ou de imaginar que um é o outro. Logo, quer se pense nos dois, quer num apenas, não será possível tomar um pelo outro. Assim, definir, por conseguinte, visão falsa como troca de representação, também é problemático. 
          Assim sendo que não se pode saber e não saber ao mesmo tempo, que não é possível pensar no que não existe e que ninguém é capaz de trocar uma representação por outra, parece que é impossível que haja uma visão falsa. No entanto, afirmar a impossibilidade da visão falsa seria absurdo. Para compreendermos como a visão falsa pode ser possível, pode-se propor duas alegorias: 
(i) alegoria da cera: Suponhamos que na alma há um cunho de cera; numas pessoas, maior; noutras, menor; nalguns casos, de cera limpa; noutros, com impurezas, ou mais dura ou mais úmida, conforme o tipo, senão mesmo de boa consistência, como é preciso que seja. Pensemos que sempre que queremos lembrar-nos de algo visto ou ouvido, ou mesmo pensados calcamos a cera mole sobre nossas sensações ou pensamentos e nela os gravamos em relevo, como se dá com os sinetes dos anéis. Do que fica impresso, temos lembrança e conhecimento enquanto persiste a imagem; o que se apaga ou não pôde ser impresso, esquecemos e ignoramos. A visão falsa se produziria da seguinte maneira: seria o caso de conhecer alguém dois objetos, de ver a ambos ou de ter de ambos qualquer outra percepção, porém não coincidir a marca de nenhum dos dois com as respectivas percepções. Uma visão é verdadeira quando ela ajusta direta e exatamente a cada objeto o cunho e sua imagem e falsa quando o faz de modo oblíquo e torcido. 
(ii) alegoria do pombal: pensemos em alguém que caçasse pássaros selvagens, e os criasse em casa num pombal construído para esse propósito. Imaginemos que a alma seja como um pombal como esse, nele entram desde a infância determinados pombos. Os pombos simbolizam o saber. Sempre que alguém adquire algum saber e o fecha em tal recinto, diz-se que ele aprendeu ou encontrou a coisa e que nisso consiste, precisamente, o saber. Diremos que em relação aos pombos é possível uma caçada dupla: uma, antes da aquisição, com o fim preciso de adquirir; outra, levada a cabo pelo próprio adquirente, quando apanha e segura nas mãos o que ele, havia muito, já possuía. Da mesma forma, quem possui certos saberes, por os ter adquirido, pode aprendê-los de novo, com tomar e segurar o saber sobre determinada coisa de que já era dono desde muito, mas que não tinha à mão em pensamento. Como as pombas estariam a voar dentro do pombal poderia ocorrer de buscarmos uma espécie de saber e apanharmos outro. Sempre que se dá troca de conhecimentos se origina a visão falsa. 
        No entanto, a teoria de que saber e visão verdadeira são a mesma coisa também apresenta dificuldades. Por exemplo, quando os juízes são persuadidos por maneira justa, com relação a fatos presenciados por uma única testemunha, ninguém mais, julgam por ouvir dizer, após formarem uma visão verdadeira; é um juízo sem saber. No entanto, se saber e visão verdadeira nos tribunais fossem a mesma coisa, nunca o melhor juiz julgaria sem saber. 
         Uma forma mais elaborada de dizer que saber é visão verdadeira seria afirmar que saber é visão verdadeira quando acompanhada de explicação racional. Nesse caso, saber seria visão verdadeira acompanhada de razão. A explicação racional implica o saber de modo que estaríamos apenas dizendo que saber é visão verdadeira aliada ao saber. Assim, saber não pode ser definido como visão verdadeira aliada a razão. 

CONCLUSÃO 

         Podemos concluir que saber não pode ser nem percepção, nem visão verdadeira, nem a explicação racional acrescentada a essa visão verdadeira. Deixamos em aberto, portanto, a questão sobre qual é a real natureza do saber.  



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