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A QUESTÃO FUNDAMENTAL DA FILOSOFIA - HEIDEGGER (RESUMO)


       O que se segue é um resumo da preleção A Questão fundamental da Filosofia de Martin Heidegger, professor universitário, reitor alemão e fenomenólogo existencial. Nesta prelação do semestre de verão de 1933, Heidegger trata do desenvolvimento da metafísica, mostrando a influência exercida sobre ela pelo pensamento cristão e pelo método matemático e o alcance de sua plenitude como metafísica teológica em Hegel. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.


INTRODUÇÃO 

       A filosofia é o questionamento da questão que busca a lei e disposição de nosso ser, tal questionamento traz abertura e liberta na medida em que se coloca a questão fundamental da filosofia. O questionamento da questão fundamental já é em si mesmo o desvelamento da essência da filosofia. Os gregos, por terem criado a filosofia, levaram o questionamento à sua completa realidade espiritual. No entanto, para caracterizar a essência da filosofia, é preciso, desde o começo dizer o que a filosofia não é:  
(i) Filosofia não é ciência: a ciência se dirige a um determinado setor do ente, a filosofia se dirige ao ser em sua totalidade;  
(ii) Filosofia não é cosmovisão: a filosofia não se trata de produzir visões de mundo, mas de conquistar uma história universal em luta com a própria história;  
(iii) Filosofia não é fundamentação do saber: remontar às pressuposições do saber científico é uma proposta legítima, mas será desviada caso se tenha como objetivo apenas a estrutura lógica dos conceitos fundamentais da ciência; 
(iv) Filosofia não é saber absoluto: a filosofia brota do poder mais próprio do homem, não de Deus, ela não é, nem em sua forma, nem em seu conteúdo, saber absoluto. 
(v) Filosofia não é preocupação com a existência: a preocupação da filosofia não é com a existência particular do homem individual como tal. 
       A Filosofia é a luta que continuamente questiona a essência e o ser do ente, este questionamento já é, em si mesmo, histórico. Este questionamento é o acontecimento fundamental de nossa história, história compreendida, não como passado, mas como acontecer integrado de proveniência de futuro (porvir).  

QUESTÃO FUNDAMENTAL E METAFÍSICA. 
PREPARAÇÃO DE UMA DISCUSSÃO COM HEGEL 

I. ELABORAÇÃO, EVOLUÇÃO E CUNHO CRISTÃO DA METAFÍSICA TRADICIONAL 

       O termo “metafísica” significa “o que está além da natureza”, com o Cristianismo, “o que está além da natureza” passou a ser compreendido como sendo Deus. Este ser (Deus), não estaria apenas além da natureza, como também, em sua essência, estaria acima dela, sendo superior. A metafísica passa a ser entendida como conhecimento do suprassensível, daquilo que, diferente da natureza, não seria acessível aos sentidos. Assim, o termo metafísica designa, em seu significado historicamente transformado, um conceito determinado e preenchido pelo pensamento cristão. 
       A fé cristã condicionou em três aspectos a questão do ser: (i) o ser do mundo criado por Deus; (ii) o ser do humano, que possui uma alma imortal; (iii) o ser propriamente dito, o Ser supremo (Deus). Assim, a tarefa da metafísica se dividiu em três setores: (i) cosmologia: direcionada ao ser do mundo, ao conjunto da natureza; (ii) psicologia: relacionada com a alma do indivíduo humano e; (iii) teologia: voltada para Deus. 

II. O SISTEMA DA METAFÍSICA MODERNA E SEU PRIMEIRO FUNDAMENTO PRINCIPAL DE DETERMINAÇÃO: O MATEMÁTICO 

       Os dois motivos principais de determinação para a metafísica ocidental são o teológico-cristão e o matemático O método matemático parte de sentenças fundamentais (axiomas) que se desdobram em sentenças consequenciais. Deste princípio básico tem-se a indicação para se construir uma ciência fundamental, a mais universal, aquela que proporcionaria a todo saber possível os axiomas para uma percepção imediata. Essa ciência fundamental e universal forneceria o modelo de toda ciência e da cientificidade. O conteúdo da filosofia é amplamente atingido pelo método matemático que, de antemão, decide o que, do ponto de vista filosófico, pode ser conhecido e como há de sê-lo.  
       Na Idade Média, a filosofia estava sob o domínio da teologia. Com René Descartes, inaugurando a Idade Moderna, começa uma época nova para a filosofia. Descartes, colocando tudo em dúvida, chega à conclusão de que não pode duvidar do próprio duvidar, e assim, estabelece o “eu penso” como a certeza indubitável.  
       No entanto, a filosofia de Descartes permanece dependente dos seus antecessores escolásticos-medievais, sua filosofia é fonte de ilusões fatais e ele distanciou a filosofia de sua questão fundamental. Por traz da busca por um fundamento indubitável que sirva de base para tudo, está a influência do método matemático, sua concepção do “eu penso” não atinge o si mesmo próprio do homem, sendo um eu sem história, nem espiritualidade. O predomínio da ideia matemática de método sufoca pela raiz a questão fundamental da filosofia e esconde este desvio da questão fundamental pela aparência da radicalidade do método matemático. 

III. DETERMINAÇÃO CRISTÃ E A IDEIA MATEMÁTICO-METÓDICA DE FUNDAMENTAÇÃO NOS SISTEMAS METAFÍSICOS DA IDADE MODERNA 

      A metafísica é o conhecimento do ser em sua totalidade. Segundo a metafísica tradicional, Deus é o Ser supremo que domina e determina o ser de todo ente. No entanto, pensando dessa forma, Deus acaba sendo um ente entre outros entes. Toda a construção da metafísica se acha ligada à questão grega do ser e a fé cristã em Deus.  
       Os sistemas metafísicos modernos, como se vê em Alexander Baumgarten Christian Wolff, encontram-se determinados pelo método matemático. O conceito de Ser supremo passa a ser derivado do método metafísico-matemático. Deus é pensado como Ser perfeito e, por perfeição tem-se, não uma ideia moral, mas um conceito matemático, perfeição entendida como a razão suficiente de um tomado em conjunto. 

IV. HEGEL. A PLENITUDE DA METAFÍSICA COMO TEOLÓGICA 

       A figura da metafísica ocidental atinge sua plenitude na filosofia de Georg Hegel. A metafísica de Hegel é teológica. A Teologia é um modo delimitado do conhecimento que trata de Deus, das coisas divinas e de sua relação com o homem, pode se dar como (i) teologia natural: a partir da simples razão e das forças de conhecimento do homem e; (ii) teologia revelada: a partir da fé e para a comunidade de uma igreja. 
       A lógica hegeliana começa com o ser imediato e indeterminado que, nesta indeterminação imediata, é e não é o nada, sendo puro devir (vir-a-ser). A verdade, a essência, é o Espírito que possibilita o saber de si mesma da razão mesma na totalidade. O Espírito está além de toda e qualquer referência particular, no Espírito Absoluto se suspendem todas as oposições. A metafísica seria a ciência do Absoluto, a ciência da totalidade sem fim das estruturas essenciais do ser. A metafísica como ciência do ser é lógica do absoluto, isto é, de Deus, é a exposição de Deus, tal como Ele é, em ser e ao ser Espírito Absoluto. A metafísica é o sistema da consciência absoluta de si mesmo de Deus, ela, em sua essência, depende e se funda em Deus. Nesse sentido, a metafísica de Hegel é teológica. 



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