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TEOLOGIA SISTEMÁTICA VOLUME II PARTE I - NORMAN GEISLER


       O que se segue é um resumo da parte I do volume II da Teologia Sistemática do filósofo tomista e calvinista moderado, Norman Geisler. O assunto tratado nessa parte é a teontologia ou teologia propriamente dita, o estudo do ser de Deus que se ocupa dos atributos divinos.  É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

INTRODUÇÃO  

Neste estudo trataremos dos atributos de DeusPor atributos entendemos as características que podem ser atribuídas à natureza de Deus. Deus, embora seja um só Ser simples, possui muitos atributos, isso ocorre porque muitas coisas estão sendo ditas sobre Deus, mas estão sendo afirmadas acerca de um só Ser. Deus não é muitos seres, Ele é um só Ser. Contudo Deus tem muitas características diferentes que são verdades sobre o seu único Ser.  
      Há vinte atributos absolutos de Deus, cinco características absolutas de Deus, seis atributos morais de Deus e três características morais de Deus. Os atributos absolutos de Deus são: pura realidade e simplicidade, asseidade e necessidade, imutabilidade e eternidade, impassibilidade e infinidade, imaterialidade e imensidade, onipotência e onipresença, onisciência, sabedoria e luz, majestade, beleza, e inefabilidade, vida e imortalidade e unidade e trindade. Também há algumas características metafísicas que distinguem Deus. Estas dizem respeito a como Deus, nos seus atributos essenciais, se relaciona com as criaturas. Entre elas incluem-se a soberania, a transcendência, a imanência e onipresença. 
       Há pelo menos seis atributos morais de Deus: santidade, justiça, zelo, perfeição, veracidade e bondade. Estes são essenciais à natureza de Deus. Além desses atributos morais, Deus tem outras características morais em relação às suas criaturas. Duas destas são a misericórdia e a ira, que são atividades que resultam ou estão arraigadas na sua natureza (como amoroso e justo, respectivamente), mas não são intrínsecas à sua natureza com o tal. A inefabilidade é uma característica global da essência de Deus, particularmente dos seus atributos metafísicos em relação às criaturas. 
       Os atributos são predicados a Deus, não de maneira equívoca (totalmente diferente), nem de maneira unívoca (totalmente igual), mas de maneira análoga (semelhante). A base para a analogia entre Deus e as criaturas se acha na semelhança. Deus criou coisas semelhantes a Ele mesmo; portanto, podemos estudar a criatura e aprender algo do Criador.  
       Há dois tipos básicos de analogia: extrínseca e intrínseca. Analogia extrínseca é uma analogia onde só o efeito, não a causa, tem a característica corretamente, já a analogia intrínseca é uma analogia em que tanto o efeito quanto a causa possuem a característica. Ambos os tipos de analogia se aplicam à relação entre Deus e as criaturas. A analogia intrínseca se aplica, visto que a Causa não pode dar o que não tem; não pode produzir o que não possui; não pode compartilhar o que não tem para compartilhar. Contudo, a analogia extrínseca também se aplica, visto que Deus não pode dar o que é impossível de dar, isto é, infinidade, não-causalidade, necessidade, etc. 
       Os atributos absolutos (metafísicos) de Deus são negativos, por exemplo, in-finito significa “não-finito”, i-mutável significa “não-mutável”, in-divisível significa “não-divisível”, etc.  A natureza da atribuição negativa é assegurar que toda finitude seja negada acerca de um atributo antes de ser predicada acerca de Deus. Isto se chama a via negativa. Já os atributos positivos, como Ser, Bondade, Verdade, Perfeição, etc. se baseiam na semelhança devido à relação causal entre a Causa (Deus) e o seu efeito (criaturas).  
        Por fim, é importante distinguir os atributos metafísicos literais sobre Deus das atribuições metafóricas em linguagem figurada sobre Deus. A Bíblia emprega três tipos básicos de declarações metafóricas sobre Deus: (i) antropomorfismo:  descreve Deus em forma humana; (ii) antropopatismo: descreve Deus tendo sentimentos humanos variáveis; (iii) antropoiese: atribui a Deus ações humanas. Todas essas descrições sobre Deus são figuradas e não devem ser entendidas literalmente.   

I. A PURA REALIDADE E A SIMPLICIDADE DE DEUS 

      Deus é Pura realidade, por realidade entendemos aquilo que é em ato sem potência ou aquilo que é existência. De acordo com a Bíblia, Deus existe independente de tudo o mais, ele dá existência para todos os outros seres e que Deus é Pura Existência (EU SOU). A pura realidade de Deus pode ser deduzida do fato de Deus não ser causado, pois Deus é a Causa não-causada de tudo que existe. A Causa não-causada não tem potencial de não existir, e o que existe sem potencial para não existir é a Pura Existência. Além disso, se pode deduzir a pura realidade de Deus de Sua Necessidade, se Deus é um Ser necessário (um que não tem potencial de não ser), então ele tem de ser a Pura Realidade. 
       Deus também é absolutamente simples. Simplicidade significa sem partes, indivisível e absolutamente um. A Bíblia diz que Deus é uma unidade absoluta, que ele não é material, portanto não é feito de partes. A simplicidade de Deus se segue de sua pura realidade. O que não tem potencialidade para a não-existência não pode ser dividido, visto que não tem potencial, inclusive não tem potencial para a divisão. Também se pode deduzir a simplicidade de Deus de sua imutabilidade, tudo que não pode mudar não pode ser dividido, pois divisão é uma forma de mudança, logo Deus é indivisível. A simplicidade também se baseia em sua infinidade, visto que não pode haver um número infinito de partes, já que não importa quantas ajam, uma a mais sempre pode ser acrescentada e não pode haver uma a mais do que a infinidade, o Deus infinito não pode ter partes. Por fim, a simplicidade se segue da não-causalidade, todo ser composto tem uma causa, pois as coisas diversas em si mesmas não podem se unir a menos que algo as levem a unir-se. Considerando que Deus é não-causado, Ele não pode ter elementos diversos em si mesmo.  

II. A ASSEIDADE E A NECESSIDADE DE DEUS  

        Asseidade significa dizer que Deus é autoexistente. A Bíblia diz que Deus existiu antes e independentemente da criação e que Ele trouxe à existência e sustenta na existência tudo o mais que existe. A asseidade de Deus depreende-se de vários dos seus outros atributos. Entre eles citamos a pura realidade (o que não tem potencial para a não-existência tem de existir em si mesmo), a não-causalidade (o que é não-causado existe em si mesmo), a necessidade (um Ser necessário é por natureza um que não pode não existir) e a imutabilidade (deixar de existir é um a forma de mudança e um ser imutável não pode deixar de existir). 
       Relacionado com a asseidade, está a necessidade de Deus. Um Ser necessário é um ser cuja não-existência é impossível, quer dizer, se um Ser necessário existe, então Ele necessariamente tem de existir. Os mesmos argumentos usados para defender a asseidade de Deus podem ser usados para defender sua necessidade, pois um ser autoexistente é um ser necessário. Um Ser necessário é: (i) um Ser cuja não-existência não é possível; (iium Ser cuja existência é essencial; (iiium Ser cuja essência é existir; (ivum Ser cuja essência e existência são idênticas.  

III. A IMUTABILIDADE E A ETERNIDADE DE DEUS 

       Por imutabilidade queremos dizer que Deus é inalterável em sua natureza, ainda que haja na Bíblia textos em linguagem figurada que parecem dizer que Deus muda. Apesar desses textos antropomórficos, várias passagens bíblicas afirmam que Deus é imutável. Podemos apresentar vários argumentos sólidos a favor da imutabilidade de Deus: (i) argumento da pura realidade: um Deus de pura realidade não tem potencialidade para que possa mudar; (ii) argumento da simplicidade: Tudo que muda é composto do que muda e do que não muda, mas um ser simples não é composto por nada, logo Deus, sendo simples, não pode mudar; (iii) argumento da perfeição: toda mudança acarreta algo novo, um ser perfeito não precisa obter nada novo, nem pode se tornar melhor do que já é, sendo, assim, imutável; (iv) argumento da necessidade: um ser necessário não pode mudar em seu ser pois o ser que tem o tem necessariamente; (v) argumento da mudança: toda mudança passa de um estado de potencialidade para essa mudança, para o estado de ser mudado de fato, para que a mudança ocorra é preciso haver uma causa que a produza, mas não pode haver uma série de causas infinitas, de modo que é preciso haver uma causa primeira de toda mudança e esta causa precisa ser imutável.  
       Além de dizer que Deus é imutável, o teísmo clássico ensina que Deus está acima do tempo, sendo, portanto, eterno. A eternidade não significa um tempo infinito sem começo nem fim, mas não-temporalidade. Do princípio ao fim, a Bíblia declara que Deus está fora do tempo. Além disso, se Deus existisse no tempo ele não poderia ser imutável, pois tudo que está no tempo muda, nem infinito, pois um ser infinito não tem limites e tudo que está no tempo está limitado pelo tempo, nem pura realidade, pois tudo que é temporal tem potencialidade, nem necessário porque aquilo que está no tempo muda e o que muda não pode ser necessário. O tempo, portanto, é incompatível com vários atributos de Deus de modo que Deus precisa ser atemporal. Deus não tem passado ou futuro, só presente, ele é o eterno agora. Sendo assim, Deus não prevê o futuro, ele vê o futuro a partir de seu eterno presente. 

IV. A IMPASSIBILIDADE E A INFINIDADE DE DEUS 

       O significado básico de “impassibilidade” é que Deus não é passível ou sujeito a emoção. Deus não tem emoção ou sofre; nada no universo criado pode fazer Deus sentir dor ou lhe causar sofrimento. Isto não significa que Deus não tenha sentimentos, mas tão-somente que estes não são os resultados de ações impostas NEle pelos outros. Os seus sentimentos fluem da sua natureza eterna e imutável. A base bíblica para a impassibilidade consta em muitos versículos que falam sobre a suficiência da sua autossuficiência e imutabilidade. Além disso, podemos argumentar que Deus é impassível a partir de sua perfeição absoluta, pois toda emoção envolve um desejo do que está faltando e um ser perfeito não tem falta de nada; de sua soberania, pois Deus está acima de tudo não estando abaixo de nada, isto é, não sendo passível; de sua não-causalidade, pois nada pode agir sobre uma causa não-causada; de sua pura realidade, pois tudo o que não tem potencialidade não pode sofrer ação feita por outro e; de sua imutabilidade, pois todo sofrimento envolve mudança no sofredor.  
       Deus também é infinito, isto é, Deus é ilimitado no seu ser. As bases bíblicas para a infinidade de Deus se derivam do fato de que Ele está além do mundo finito, Ele é o Criador e seu Sustentador. A infinidade flui de vários outros atributos de Deus: de sua pura realidade, pois potência é o que limita a realidade, e um ser sem potência é um ser sem limites; de sua não-causalidade, pois tudo o que é não-causado é ilimitado em sua existência; de sua simplicidade, pois Deus não tem finitas partes; de sua onipotência, pois o poder de Deus é infinito, de sua onisciência, pois Deus é infinito em seu conhecimento.   

V. A IMATERIALIDADE E A IMENSIDADE DE DEUS 

       Além de ser eterno, Deus também é imaterial. Junto com ser não-temporal, Deus também é não-espacial. Ele é Espírito absoluto, e, com o tal, Ele não tem corpo e não está estendido no espaço. Por matéria entendemos aquilo que é extenso no espaço, Deus, por outro lado é não-material, sendo puro Espírito. Muitos textos bíblicos afirmam que Deus é imaterial. Além disso, todos esses versículos indicam que Deus está fora do mundo; o próprio fato de Ele ter criado o universo material confirma o fato de que Ele não é material. A imaterialidade de Deus se segue de sua pura realidade, pois a matéria tem potencial de mudar e Deus não tendo potencialidade não pode ser material; de sua imutabilidade, pois a matéria pode e muda, mas Deus não; de sua simplicidade, pois o que é simples não tem partes, mas Deus tem partes; de sua infinidade, pois a matéria pode ser dividida em unidades discretas, mas o infinito não pode ser dividido e; de sua eternidade, pois o que é temporal é também espacial e material, mas Deus é não-temporal e, portanto, não-material.  
       Deus também é imenso, isto é, não-espacial, não-mensurável, ilimitado em extensão. Deus está presente em todos os pontos do espaço, mas não faz parte do espaço ou está limitado a ele. De fato, Ele transcende todo o espaço e tempo. A base bíblica para a imensidade de Deus consta nos versículos que falam que Ele é Criador, Transcendente, Imaterial e Espírito. A imensidade de Deus pode ser derivada logicamente de vários outros atributos: de sua infinidade, pois se Deus fosse espacial estaria limitado pelo espaço; de sua eternidade, porque o que é não-temporal é também não-espacial; de sua simplicidade, porque tudo que tem partes materiais é espacial, entretanto, Deus não pode ter partes materiais; portanto, Deus não é espacial e; de sua imaterialidade, pois aquilo que é material está no espaço, mas Deus não é material e, portanto, não-espacial. Muitas implicações se depreendem da doutrina da imensidade de Deus: (i) Deus não está limitado pelo espaço; (iiDeus não está estendido, com parte fora da parte; (iii) visto que segundo a física tempo, espaço e matéria estão relacionados, Deus, por não ser espacial, também não é nem material, nem temporal; (ivse Deus fosse espacial, então Ele também seria material e como tudo que é material estaria sujeito à segunda lei da termodinâmica, isto é, à decomposição, ou seja, se Deus fosse espacial ele não seria Deus.  

VI. A ONIPOTÊNCIA E A ONIPRESENÇA DE DEUS 

       Onipotência significa, literalmente, que Deus tem poder ilimitado. No sentido teológico, “onipotente” significa que Deus pode fazer tudo que é possível fazer. Ou, Deus pode fazer o que não é impossível fazer. Onipotência não significa que Deus possa fazer o que é contraditório, como uma pedra que ele não poderia carregar, nem que Deus tem de fazer tudo o que ele pode fazer. A base bíblica para a onipotência apoia-se em diversos fatos: o uso das palavras todo-poderoso e infinito em referência a Deus, frases que indicam que Ele tem todo o domínio e atos que vinculam o seu poder ilimitado. A onipotência de Deus se deriva logicamente de outros atributos. Entre estes estão as suas propriedades de pura realidade, pois o que não tem potencialidade é ilimitado em poder; infinidade, pois Deus sendo infinito em seu Ser é, portanto, infinito em seu poder e; simplicidade, pois Deus sendo simples, não simplesmente tem poder, mas é poder pura e simplesmente. Podemos considerar aqui duas implicações importantes da onipotência de Deus: (i) a onipotência soluciona o problema do mal: sendo Deus todo-poderoso e todo-bom, ele derrotará o mal; (ii) a onipotência garante que Deus cumprirá sua Palavra: um Deus todo-poderoso é capaz de realizar aquilo que promete.  
       Deus também é onipresente. Falando tecnicamente, a onipresença não é um atributo de Deus, mas, mais exatamente, flui dos seus atributos. A onipresença é o resultado da sua relação com a criação, com o a transcendência e a imanência, se não houver criação não há nada com o que Deus possa estar presente. Onipresença significa, literalmente, que Deus está presente em todos os lugares ao mesmo tempo, mas isso não significa que Deus seja a criação pois isso seria panteísmo, nem que Deus esteja na criação, pois isso seria panenteísmo. Onipresença significa que tudo de Deus está em todos os lugares ao mesmo tempo. Na Bíblia, muitos versículos descrevem que Deus está presente na sua criação inteira e muitos outros versículos falam que Deus está dentro do universo com o a sua real Causa sustentadora. A onipresença de Deus se segue: de sua causalidade corrente, como causa sustentadora de todo ser Deus está presente em todos os seres criados; de sua infinidade, Deus é infinito ou sem limites em seu ser, não estando limitado a lugar nenhum; de sua simplicidade, Deus é o Ser simples que não tem partes, o que não tem partes, não pode estar parcialmente em algum lugar. 

VII. A ONISCIÊNCIA DE DEUS 

       Deus é onisciente, isso significa que Ele conhece tudo, passado, presente e futuro; Ele conhece o real e o possível; só o impossível (o contraditório) está fora do conhecimento de Deus. Diversas passagens bíblicas provam que Deus é onisciente. Diversos argumentos podem ser usados para provar que Deus é onisciente: (i) argumento da infinidade de Deus: Deus sendo infinito possui um conhecimento infinito; (ii) argumento da causalidade de Deus: todos efeitos preexistem na sua causa eficiente, Deus é a causa de tudo que existe e existirá de modo que basta Ele olhar para si mesmo para conhecer todas as coisas; (iii) argumento da necessidade de Deus: um ser necessário é pura realidade e a pura realidade não tem limitações, logo um ser necessário precisa ter um conhecimento ilimitado; (iv) argumento da natureza da realidade: a realidade inclui o real e o possível. Só o impossível não é real, e o conhecimento de Deus se estende a tudo o que é real e possível, incluindo os atos futuros livres; (v) argumento da eternidade de Deus: o conhecimento de Deus não está limitado pelo tempo, Ele conhece o futuro com o mesmo olhar eterno pelo qual sabe o passado e o presente; (vi) argumento da perfeição de Deus: Deus, possuindo um conhecimento perfeito, precisa conhecer todos os modos em que as criaturas podem e participarão de suas perfeições; (vi) argumento do teste do falso profeta: de acordo com  Deuteronômio 18.22 todas as profecias que vêm de Deus têm de acontecer e só um Ser onisciente pode ter um conhecimento infalível sobre o futuro; (vii) argumento da inerrância bíblica: Sendo a Bíblia a Palavra inerrante de Deus, Deus tem de ter conhecimento infalível (inerrante) sobre todos os eventos preditos na Bíblia. 

VIII. A SABEDORIA E A LUZ DE DEUS 

       Sabedoria luz são atributos absolutos (metafísicos) de Deus que estão estreitamente relacionados. A sabedoria tem a ver com a habilidade de escolher os meios certos para os fins desejados.  A Bíblia diz que Deus, Suas palavras e Seus atos são sábios e que Deus é a fonte de toda sabedoria. A sabedoria de Deus está baseada em sua onisciência, pois Deus conhece todos os fins e todos os meios; em sua onibelevolência, pois Deus sendo todo-bom escolhe os melhores meios para o melhor fim e; em sua onipotência, pois Deus tem todo poder para alcançar seus fins desejados. Pode-se considerar duas implicações da sabedoria de Deus: (i) a sabedoria de Deus é a base para a Sua providência: Um Ser Todo-sábio sabe os melhores meios para o melhor fim, e tal Ser é capaz de superintender e prover o melhor cuidado para toda a sua criação; (ii) a vontade de Deus está baseada em sua sabedoria: Os melhores meios para o melhor fim para cada criatura é a vontade de Deus para essa criatura. 
       Quando à LuzLuz não é uma figura de linguagem sobre Deus, luz é um atributo metafísico de Deus. A Bíblia diz que Deus é Luz Espiritual, o Grande Iluminador, a Glória Brilhante e o Doador de Luz Espiritual. Há dois atributos principais dos quais se deriva o atributo de luz de Deus. O primeiro é a pura realidade, pois a essência de Deus é luz e também pura realidade, e o segundo é a onisciência, pois a onisciência de Deus permite que ele ilumine outras mentes.  

IX. A MAJESTADE, A BELEZA E A INEFABILIDADE DE DEUS 

       Beleza e majestade são atributos absolutos de Deus estreitam ente relacionados. A sua beleza é parte da sua majestade, e a sua majestade é constituída em parte pela sua beleza inexprimível. Ambos os atributos, junto com a sua infinidade e transcendência, são a razão para a sua inefabilidade, significando que Ele vai muito além de nossa capacidade finita de compreender ou expressar. A Bíblia descreve Deus como majestoso em muitas passagens como aquela em que Isaías descreve uma cena na qual a beleza e majestade de Deus são reveladas (Isaías 6.1-5). A majestade de Deus está arraigada ou associada com vários outros atributos. Entre eles estão: a infinidade, porque Deus é tão grande que Ele é majestoso, a transcendência, o fato de que Deus transcende (está acima e além de) toda a criação tem o majestoso poder de atração e a beleza, toda majestade tem beleza e a majestade de Deus tem beleza incrível. 
       A beleza de Deus está estreitamente associada com a sua majestade. De fato, a beleza é um elemento essencial da majestade, embora seja um atributo de Deus por seu próprio direito. A essência da beleza é: aquilo que está sendo percebido agrada. Sendo aplicado a Deus, a beleza é o atributo essencial da bondade que produz no observador um sentimento avassalador de prazer. A Bíblia usa a beleza de vários modos em relação a Deus. Teologicamente, o atributo da beleza está relacionado com a ideia do Ser, Ser, na medida em que é conhecível, é verdade, Ser, na medida em que é desejável, é bom e Ser, na medida em que é aprazível, é beleza. A beleza de Deus é conhecida a partir da sua criação, a criação é somente um reflexo da beleza de Deus. Toda beleza vem de Deus. Por conseguinte, toda beleza é semelhante a Deus. Tudo que cria beleza, como a arte, imita Deus. Há uma experiência de contemplação da beleza de Deus que chamamos de visão beatífica, ela ocorre na glorificação, na qual o crente terá a suprema experiência estética de ver a Deus como beleza suprema e infinita.  
       A majestade e beleza de Deus são tão grandes que elas são praticamente indescritíveis, os seus atributos, sendo infinitos, vão muito além de nossa capacidade finita de entender que eles são inefáveis. A inefabilidade não é em si um atributo de Deus, visto que não descreve uma característica intrínseca de Deus. A natureza de Deus não é inefável a Ele; só é inefável a nós, visto que estamos limitados em nossa capacidade de entendê-la. Teologicamente, a inefabilidade se refere às características transcendentes de Deus que não podem ser adequadamente expressas em linguajar humano. Há muitos versículos na Bíblia que descrevem a inefabilidade de Deus. A base teológica para a inefabilidade de Deus apoia-se na sua infinidade, como criaturas finitas não podemos compreender o infinito, na sua transcendência, Deus está muito acima da criação de modo que não podemos compreendê-lo completamente. 

X. A VIDA E A IMORTALIDADE DE DEUS 

       Considerando que Deus é intrinsecamente vida, conclui-se que Ele também é imortal. Teologicamente, falar de Deus como vida é dizer duas coisas básicas: (i) Deus está vivo: Ele tem vida intrinsecamente e; (ii) Deus é a Fonte de todas as outras vidas: Ele é vida, ao passo que todas as outras coisas têm vida como um presente dEle. A Bíblia descreve Deus como vivo e como a Fonte de todos os outros seres vivos, fala dele como o Ressuscitador dos mortos, como Doador do Pão vivo e da Água viva e como a Fonte das palavras de vida. Em geral, vida, biblicamente, diz respeito a ser vivo ativo e movente. Vida é o oposto de morte, o que acarreta em falta de vida, atividade e movimento. O atributo da vida de Deus se depreende de dois outros atributos: a pura realidade, a vida é uma forma de realidade e a não-causalidade, Deus é o Movedor Imovível, mas não imóvel, todos os movimentos e atividades começam no final das contas com Ele como o Movedor Primário. 
       Deus não é simplesmente vida; Ele é vida imortal. A Bíblia usa a palavra imortal muitas vezes para referir-se a Deus. A palavra também é usada algumas vezes acerca de seres humanos, visto que eles recebem a imortalidade de Deus. Deus possui vida intrinsecamente e eternamente. Deus é vida; todos os outros seres somente têm vida. A imortalidade de Deus pode ser derivada de vários outros atributos. Entres estes, incluem-se a vida, Deus tem vida essencialmente e o que tem vida essencialmente não pode morrer; a pura realidade, o que não tem potencialidade não tem possibilidade de deixar de ser; a necessidade, um ser necessário não pode não existir e a simplicidade de Deus, um Ser simples não pode ser destruído, pois não tem composição e, portanto, não pode ser decomposto. Duas implicações principais se derivam da imortalidade de Deus: (i) Só Deus tem imortalidade intrinsecamente, e (iitodas as criaturas só a têm com o um presente de Deus (é extrínseca para elas). 

XI. A UNIDADE E A TRINDADE DE DEUS 

       Deus é um e só um. Aqui é importante distinguir três palavras: (i) unidade: não há dois ou mais deuses; (ii) simplicidade: não há duas ou mais partes em Deus e; (iii) trindade: há três pessoas no único Deus. Desde o princípio até ao fim, a Bíblia afirma a unidade absoluta de Deus, como exemplo podemos citar o Shema: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Deuteronômio 6.4). Além do ensino enfático da Bíblia, há muitos fortes argumentos teológicos a favor da unidade de Deus. Que há um e só um Deus pode ser derivado de outros atributos, com o a pura realidade, a potencialidade é o princípio de diferenciação, de modo que só pode haver um Puro Ato já que ele não tem potência para se diferenciar de outro Puro Ato; a infinidade, é impossível haver mais de um infinito; a perfeição absoluta, só pode haver um ser absolutamente perfeito, pois se houvesse mais de um, um teria que ser mais perfeito que o outro para se diferirem;  e também pode ser derivado da natureza do universo, a unidade do universo insinua a existência de uma Mente única por traz dele. Pelo menos três implicações emergem da unidade de Deus: ela se opõe ao politeísmo (crença em mais de um Deus), triteísmo (crença de que há três seres separados na divindade) e idolatria (adoração de qualquer coisa que não seja Deus). 
       Deus não só é uma unidade, Ele é uma trindade, quer dizer, não há só um Deus, mas há três pessoas nesse Deus. Este é o ensino ortodoxo da Trindade. Trindade quer dizer que Deus é uma triunidade: Ele é um a pluralidade dentro da unidade. Deus tem uma pluralidade de pessoas e uma unidade de essência; Deus é três pessoas em uma natureza. Há apenas um “Quê” (essência) em Deus, mas há três “Quens” (pessoas) dentro desse um Quê. Deus tem três “eus” nesse um “ele”: há três Sujeitos em um Objeto. A doutrina da Trindade se baseia em dois ensinos bíblicos básicos: (i) Há um e somente um Deus. (iiHá três Pessoas distintas que são Deus: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Trindade está implícita no Antigo Testamento e é ensinada claramente no Novo Testamento. Todos os membros da Trindade são iguais em essência, mas Eles não têm os mesmos papéis, de modo que há na trindade uma subordinação funcional, não ontológica. A subordinação funcional do Filho pode ser baseada no fato de que o Filho é eternamente gerado pelo Pai e a subordinação do Espírito se relaciona com o fato de que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. 
       O trinitarianismo e a cristologia ortodoxa (ensina que Jesus é uma só pessoa em duas naturezas, uma humana e outra divina) têm de ser cuidadosamente diferenciados das heresias. Estas, em sua maioria, foram condenadas pelos concílios da igreja cristã: (i) triteísmocrença em três deuses ou três seres separados na divindade; (ii) modalismo ou sabelianismodefende que Deus é só uma pessoa que assume papéis diferentes, (iii) arianismo: nega que Jesus seja plenamente Deus; (iv) docetismonega a humanidade de Jesus; (v) nestorianismo: postula que há duas pessoas em Jesus, ao invés de só uma Pessoa em duas naturezas; (vi) monofisismo ou eutiquianismomistura a natureza divina e humana de Jesus; (vii) patripassianismosustenta que Deus Pai sofreu na cruz; (viii) monotelismo: sustenta que Jesus tem apenas uma vontade, ao invés de uma vontade divina e uma vontade humana; (ixapolinarismodefende que Jesus não tem espírito humano, (x) subordinacionismo: afirma que o Filho é subordinado em natureza ao Pai; (xi) monarquianismo: entende que Jesus é apenas um poder ou influência de Deus; (xii) adocionismo: acredita que Jesus foi um homem que foi adotado por Deus e; (xiii) binitarismo: afirma que só há duas pessoas na divindade. 
       Muitas ilustrações da Trindade têm sido oferecidas ao longo dos séculos. Algumas são boas e outras não são. As ilustrações inapropriadas quase sempre insinuam certa heresia, com o modalismo ou o triteísmo. Podemos citar como exemplo de ilustrações inapropriadas da Trindade: (i) três estados da água:  compara a Trindade com a água mudando do estado sólido, para o líquido e para o gasoso, insinuando o modalismo(ii) três elos de uma corrente: compara a Trindade com uma corrente de três elos insinuando o triteísmo pois cada elo é uma coisa diferente; (iii) tricotomia humana: compara a Trindade com o corpo, alma e espírito, o problema é que na morte o corpo e a alma/espírito se separam, mas as pessoas da Trindade são inseparáveis; (iv) um ator que atua em três papéis: compara a Trindade a um ator que desempenha três papéis insinuando o sabelianismo 
       No entanto, existem ilustrações apropriadas da Trindade que podem ser úteis para entendê-la melhor: (i) um triângulo: Deus é como um triângulo, que é uma figura que tem três lados diferentes ao mesmo tempo, há simultaneamente um estado de três na unidade; (ii) Um à terceira potência: Deus é como um à terceira potência (1 x 1 x 1 = 1); (iii) amor triplo: “Deus é amor” e o amor envolve três elementos: Um amante, um amado e um espírito de amor e estes três são um; (iv) mente, ideias e palavras: Deus é como a relação que há entre mente, ideias e palavras. Estas três são distintas, contudo elas estão unidas, pois as palavras não podem se separar das ideias, e a mente que está por trás delas. 

XII. ATRIBUTOS MORAIS 

       Deus tem atributos e características morais e absolutas. Todos os atributos precedentes são de caráter absoluto, também são chamados “atributos metafísicos”, visto que descrevem a natureza efetiva de Deus. O primeiro grupo destes também se chama “atributos incomunicáveis”, visto que eles não podem ser comunicados às criaturas. Só Deus é Pura Realidade, simples, autoexistente, necessário, imutável, eterno, impassível, infinito, imaterial, imenso, onipotente, onipresente, onisciente e inefável. Os outros atributos são comunicáveis, mas ainda são absolutos. São eles: a sabedoria, a luz, a majestade, a beleza, a vida e a imortalidade. Deus também tem atributos e características morais. Estes são comunicáveis às criaturas, visto que não necessitam infinidade. São eles: santidade, justiça, o ciúme ou zelo, a perfeição, a veracidade, a bondade (amor), a misericórdia e a ira (embora estes dois últimos possam ser atividades, e não atributos como tais, que fluem da bondade e justiça de Deus, respectivamente). 
       A santidade significa que Deus é total e inteiramente separado de toda criação e do mal. A justiça significa que Deus é absolutamente justo ou reto e é o padrão último de justiça e retidão. O ciúme ou zelo é usado acerca de Deus em termos do seu zelo santo e da sua ira inflamada, Deus tem zelo santo para proteger a sua supremacia, e Ele tem ira inflamada da idolatria e outros pecados. Outro atributo de Deus é a perfeição moral absoluta, Deus é moralmente impecável. A veracidade significa que Deus é verdadeiro e incapaz de mentir.  Quanto à bondade, dizemos que Deus é onibelevolente, toda-amorosidade. Já a misericórdia e a ira é um par combinado das características morais de Deus, a primeira é exercida nos que se arrependem, e a última nos que não se arrependem, Quanto a se estas são atributos ou atividades de Deus que fluem de outros atributos, depende de como as definirmos. Em todo caso, se pensarmos que a misericórdia e a ira são como atos, então a base inalterável para elas está na bondade e justiça de Deus, respectivamente. 

CONCLUSÃO 

       Os atributos de Deus nos chamam a uma resposta de temor. Deus é um Deus temeroso, e devemos lhe responder em temor. Ele é o Rei do universo, e devemos nos chegar a Ele com mesura diante da sua realeza. Ele é o Soberano, o grande Criador em volta de cujo trono todos os anjos não-caídos e o povo redimido se reúnem e cantam : “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas” (Apocalipse 4.11). E Ele é o Redentor amoroso diante de quem João ouviu “a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre” (Apocalipse 5.13). 



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