TEORIA DAS COSMOVISÕES - DILTHEY (RESUMO)
O que se segue é um resumo da Teoria das Cosmovisões de Wilhelm Dilthey envolve dois ensaios: (i) A Consciência Histórica e as Cosmovisões e, (ii) Os Tipos de Cosmovisão e o seu Desenvolvimento nos Sistemas Metafísicos. Dilthey foi um filósofo alemão e, nesses ensaios, desenvolveu a noção de cosmovisão que se tornou de grande importância para o pensamento filosófico. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
I. A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA E AS COSMOVISÕES
1. A TAREFA
Historicamente se desenvolveu diversas cosmovisões, cada uma pretendendo validade universal, de modo que tais sistemas se excluíram e lutaram entre si sem chegar a um acordo. É um fato histórico que à variabilidade de formas humanas de existência corresponde a multiplicidade de modos de pensar, dos sistemas religiosos, morais e metafísicos. Os sistemas de pensamento mudam com o decorrer do processo histórico de modo que eles são produtos historicamente condicionados e relativos. No entanto, surge aqui uma antinomia, pois, só um conhecimento objetivo, como almeja a metafísica, é que pode possibilitar ao homem uma posição firme e uma meta objetiva à sua ação.
A solução para essa antinomia consiste em a filosofia tomar consciência da conexão da multiplicidade de seus sistemas com a vida, em encontrar um pressuposto por detrás da luta entre as cosmovisões. É preciso reconhecer que as contradições entre as cosmovisões pertencem somente à simbólica intuitiva e conceitual, à pluralidade dos aspectos da vida, mas se consideramos as funções da estrutura teremos diversidade, mas não contradição. A tarefa a ser realizada neste estudo segue um método psicológico de interpretação histórica comparado.
2. FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA E PSICOLÓGICA
Quando à história, tem-se a doutrina do desenvolvimento que entende que ao longo do processo histórico o homem e a sociedade vão se elevando a uma etapa superior. A história revela que todo sistema metafísico é relativo, transitório e passageiro. A Filosofia, enquanto fato histórico humano, deve tornar-se objeto para si mesma. Para isso, a filosofia deve estabelecer uma relação com a Teologia, já que, a metafísica, na história humana, se encontra em toda parte associada à religião. Os sistemas filosóficos podem estudar-se segundo as suas propriedades fundamentais e segundo a sua estrutura somente se, na sua comparação, se acrescentarem as diversas formas de religiosidade, teologia e arte.
Como primeira lei do desenvolvimento do nosso esforço de nos instalarmos no mundo como seres pensantes, depreende-se uma correlação entre o Si mesmo e o mundo e, correspondentemente, entre o ideal de vida e a cosmovisão. O Si mesmo se manifesta segundo a sua estrutura psicofísica conforme a qual nos são dadas as funções nas quais se diferencia a sua vitalidade. O Si mesmo não existe sem o outro e o mundo. Na estrutura de vida do Si mesmo, há um caráter teleológico de modo que se pode falar de um ideal de vida, acrescenta-se à consciência de si a interna conexão de suas determinações de valor e de seus fins. O estudo da psicologia para compreensão das cosmovisões deve buscar se aproximar da interna conexão histórica. O método do estudo psicológico deve buscar as conexões e sua interpretação.
3. ARTE, RELIGIÃO E FILOSOFIA COMO FORMAS DE COSMOVISÃO
A arte é a forma mais neutra de expressar uma cosmovisão. O artista, tal como o religioso ou o filósofo, vê surgir na sua fantasia algo que é símbolo da realidade. Quanto à religião, seus símbolos se integram na conexão da imagem do mundo. Os sistemas filosóficos, assim como as religiões e as obras de arte, também possuem uma cosmovisão. A filosofia, historicamente considerada, é a consciência em desenvolvimento acerca do que o homem faz ao pensar e ao agir, esta consciência, enquanto cosmovisão, é apenas um caso de autorreflexão filosófica.
4. HISTÓRIA EVOLUTIVA DAS COSMOVISÕES
As primeiras formas de cosmovisão são as da visão natural e sensível da vida e do mundo e as da religiosidade. A sensualidade ingênua relaciona-se com a satisfação da vida impulsiva, pelo jogo dos sentimentos, expressando, por exemplo, na dança e na canção amorosa. A religiosidade, na etapa primitiva, é uma relação do Si mesmo íntegro com o incognoscível e indominável ao seu redor. O processo religioso vai ganhar um desenvolvimento superior em dois momentos, um intelectual, fundado no acolhimento do pensamento racional, de raciocínios complexos e de sentimentos ideias nos diversos processos e, outro moral, que brota das profundidades derradeiras da própria religiosidade.
Na Grécia antiga se forma uma metafísica emancipada dos fundamentos religiosos, surgem, por exemplo, o atomismo de Demócrito e o Idealismo de Platão. Em Roma, se desenvolve a arte e a poesia e no cristianismo primitivo a arte passa a retratar as figuras religiosas. Tem-se, em seguida, o domínio da Igreja Romana na Idade Média, depois o Renascimento, a Reforma Protestante e a Contrarreforma. E assim, desenvolvem-se, na história, diferentes cosmovisões com seus limites e expressões.
5. RESOLUÇÃO DA CONTRADIÇÃO ENTRE TODA A FORMA DE COSMOVISÃO E A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
A metafísica é a busca de um conhecimento objetivo da conexão cósmica, separando-o da vida em que ele é dado. Como metafísica, deve localizar na conexão espaço-temporal do mundo objetivo as vitalidades e o nexo por elas fundado e buscar conceitos pelos quais sejam condicionadas as relações entre ambas. Entre os dois aspectos surgem antinomias, aparecem as impossibilidades de pensar simultaneamente os fenômenos e as uniformidades da natureza exterior. A vida é pluralidade de aspectos, na vida depara-se com o processo da diversificação, mas, ao mesmo tempo, a vida é em si uma conexão originária. A pluralidade de aspectos tem como consequência que a sua interpretação sempre se altera de modo que existe efetivamente, no pensamento filosófico, uma dialética histórica.
II. OS TIPOS DE COSMOVISÃO E O SEU DESENVOLVIMENTO NOS SISTEMAS METAFÍSICOS
A raiz última da cosmovisão é a vida. Da reflexão sobre a vida nasce a experiência da vida e, das experiências mutáveis da vida emerge, para a apreensão dirigida ao todo, a face da vida, cheia de contradições, mostrando sempre aspectos novos e sendo inteiramente enigmática na totalidade. As cosmovisões empreendem proporcionar uma solução completa do enigma da vida, todas possuem a mesma estrutura que consiste em uma conexão que, sobre a base de uma imagem cósmica, se decidem as questões acerca do significado e do sentido da vida e daí se deduzem o ideal, o sumo bem, os princípios supremos da conduta de vida.
As cosmovisões são múltiplas, desenvolvidas em condições e contextos históricos diversos, elas se dividem, segundo sua estrutura e seus tipos, em: três formas fundamentais (i) cosmovisão religiosa: estende-se à região do não acessível por meio de ações físicas, do não alcançável pelo conhecimento, nela as coisas e os homens recebem o seu significado por meio da fé na presença de uma força suprassensível neles operante; (ii) cosmovisão artística: expressão ideal das referências vitais por meio da cor, da forma, da simetria e da proporção, das conexões sonoras e do ritmo, do processo anímico e dos acontecimentos; (iii) cosmovisão metafísica busca um saber de validade universal.
Com relação à forma metafísica, pode-se distinguir três tipos de cosmovisão metafísica: (i) naturalismo: o homem encontra-se determinado pela natureza que engloba tanto o seu próprio corpo como o mundo exterior, é uma visão materialista que se vê em pensadores como Demócrito, Leucrécio, Hobbes; (ii) idealismo da liberdade: entende-se o espírito como essencialmente distinto da matéria, diverso de toda causalidade física, e compreende o indivíduo como livre e responsável, essa visão é representada por Sócrates, Platão, Aristóteles, Cícero, Kant, Fitche e Bergson; (iii) idealismo objetivo: este ponto de vista reconhece em tudo que funciona isoladamente, dividido e reduzido, algo divino que lhe é imanente, que determina os fenômenos por relação de causalidade teleológica existente na consciência, são representantes desta visão Xenófanes, Heráclito, Parmênides, Giordani Bruno, Spinoza, Herder, Goethe, Schelling, Hegel e Schopenhauer.
Comentários