TIMEU (RESUMO)
O que se segue é um pequeno resumo do Timeu de Platão que trata da formação do Universo. O resumo se divide em cinco partes: a Introdução distingue o ser imutável do vir-a-ser e mostra como o mundo mutável foi formado pelo Demiurgo como imagem do imutável; a segunda parte trata daquilo que foi formado pelo Intelecto, a terceira considera aquilo que foi gerado pela Necessidade, a quarta parte trata da constituição do corpo e da alma humana e de seus adoecimentos e a conclusão finaliza falando do universo como como um ser-vivo visível que engloba todas as coisas visíveis. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
I. INTRODUÇÃO
Este é um estudo a respeito do universo que deve ser realizado com reverência e nesse sentido é importante que este estudo seja feito com orações para que aquilo que for tratado esteja de acordo com o intelecto divino. Primeiro, é preciso fazer uma distinção entre o ser e o devir, entre aquilo que é e aquilo que vem-a-ser. O ser é imutável e é apreendido pelo pensamento o devir é apreendido pela percepção sensível e não pela razão. Tudo que vem-a-ser, vem à existência a partir de uma causa. A causa do mundo é o Demiurgo que formou aquilo que veio-a-ser a partir daquilo que é imutável e apreensível pela razão e pelo pensamento. Assim, este mundo é uma imagem de algo.
Deus quis que todas as coisas fossem boas e que, no que estivesse à medida do seu poder, não existisse nada imperfeito. Deste modo, pegando em tudo quanto havia de visível, mas se movia irregular e desordenadamente, da desordem tudo conduziu a uma ordem. Deus formou o mundo, estabelecendo o intelecto na alma e a alma no corpo, realizando deste modo a mais bela e excelente obra por natureza. Este mundo que é, na verdade, um ser dotado de alma e de intelecto, foi gerado pela providência de Deus. O mundo é um ser-vivo. O mundo é único já que foi formado pelo Demiurgo de acordo com o arquétipo.
II. OBRAS DO INTELECTO
Deus, quando começou a constituir o corpo do mundo, o fez a partir de fogo e da terra. Para harmonizar o fogo e a terra, foram formados dois elementos intermédios: a água e o ar. Assim, a constituição do mundo tomou cada um destes quatro elementos na sua totalidade tornando-se um ser-vivo completo e perfeito. Este ser-vivo não tem necessidade de olhos, pois fora dele não resta nada para ver, nem de ouvidos, pois não há nada para ouvir; não há ar à sua volta que seja preciso respirar, nem precisa de ter qualquer órgão através do qual absorva alimentos para si próprio nem, por outro lado, que segregue o que tinha anteriormente filtrado. Na verdade, nada entra nele nem nada sai dali, pois não há mais nada. Quanto a mãos, não sendo preciso que com elas pegasse em nada ou afastasse algo, Deus considerou que não seria necessário aplicar-lhes, nem pés, nem, de um modo geral, nenhum apetrecho para andar.
Tendo constituído o corpo do mundo, Deus pôs em seu centro a alma. No entanto, a alma não é posterior ao corpo, Deus constituiu a alma anterior ao corpo e mais velha do que ele, para o dominá-lo e governá-lo. Quanto à natureza do Si-Mesmo e do Outro, estabeleceu, de igual modo, uma outra, tomando as três naturezas, misturou-as todas numa só forma e pela força harmonizou a natureza do Outro e do Mesmo, formado uma unidade a partir das três.
Olhando para o mundo, o Demiurgo decidiu que nele deveria haver quatro formas: a primeira é a forma celeste dos deuses construída principalmente a partir do fogo, a outra é a forma alada e anda pelo ar, a terceira é a forma aquática, e a quarta é a forma terrestre que caminha sobre a terra. Depois concedeu aos jovens deuses a tarefa de formar os corpos mortais, e de adicionar o que restava e era necessário à alma humana; e, depois de terem completado tudo quanto restava fazer, concedeu-lhes a tarefa de governá-la.
À imagem da figura do universo, que é esférica, as divindades formaram um corpo esférico que chamamos cabeça, que é a parte mais divina, e domina todas as outras partes que há em nós, para a deslocação o corpo foi feito comprido e com quatro membros extensíveis e flexíveis. A parte da frente foi feita a mais nobre, sendo o sentido para o qual o homem caminha e o lado em que se encontra seu rosto. No rosto, os deuses formaram os olhos, a visão foi gerada como causa de maior utilidade para nós. Graças a visão é possível observar o universo e a partir disso foi-nos aberto o caminho da filosofia, um bem maior do que qualquer outro que veio ou possa vir alguma vez para a espécie mortal, oferecido pelos deuses.
III. O ÂMBITO DA NECESSIDADE
Tendo considero aquilo que foi formado pelo Intelecto, cabe agora falar sobre o que foi gerado pela Necessidade. Além daquilo que é o tipo do arquétipo, inteligível e que é sempre imutável e aquilo que como uma imitação do arquétipo, é sujeito ao devir e visível, há um terceiro tipo de ser, aquele que é o receptáculo e, por assim dizer, a ama de tudo quanto vem-a-ser, ela é uma certa espécie invisível e amorfa, que tudo recebe, e que participa do inteligível de um modo imperscrutável e difícil de compreender. Este terceiro tipo pode ser chamado de khorá, khorá é o meio espacial no qual as coisas sensíveis se encontram e a partir do qual elas são constituídas.
O corpo do Universo foi fabricado a partir de quatro elementos que correspondem a quatro poliedros: fogo (tetraedro); ar (octaedro), água (icosaedro) e terra (cubo). Todos esses poliedros são constituídos de dois tipos de superfícies: triângulos equiláteros e quadrados. O mundo é uma esfera gigante cujo movimento em torno de si mesma explica todas as mudanças de um elemento em um outro.
O Demiurgo formou nosso corpo de modo a termos sensações e impressões como o tato, o prazer e a dor, os sabores, os odores, os sons e as cores. Uma vez criadas todas estas coisas deste modo e de acordo com a necessidade, o Demiurgo do que é mais belo e melhor colocou-as como acessórias naquilo que é gerado, de modo a engendrar o deus autossuficiente e mais perfeito, servindo-se a esse respeito das causas instrumentais; mas foi ele próprio que forjou o bom funcionamento em tudo o que vem-a-ser.
IV. COOPERAÇÃO ENTRE INTELECTO E NECESSIDADE
Deus constituiu o Universo como um ser-vivo único que contém em si mesmo todos os outros seres-vivos, mortais e imortais. E ele mesmo se tornou aquele que formou os seres divinos, enquanto que atribuiu o encargo de fabricar os mortais àqueles que tinham sido gerados por si. Estes, imitando-o, depois de terem recebido o princípio imortal da alma, tornearam para ele um corpo mortal a que deram como veículo todo o corpo e nele construíram uma outra forma de alma, mortal, que contém em si mesma impressões terríveis e inevitáveis: primeiro, o prazer, o maior engodo do mal; em seguida, as dores, que fogem do bem; e ainda a audácia e o temor, dois conselheiros insensatos; a paixão, difícil de apaziguar, e a esperança, que induz em erro. Tendo misturado estas paixões juntamente com a sensação irracional e com o desejo amoroso que tudo empreende, constituíram a espécie mortal submetida à Necessidade. Constitui a parte mortal da alma humana e as partes do corpo humano com suas funções e formou os seres vegetais.
O corpo humano e a alma humana podem adoecer. Visto que o corpo é composto de quatro elementos (terra, fogo, água e ar) uma doença é gerada pelo excesso ou pela falta (contra a natureza) de algum deles ou por uma mudança de lugar, quando um elemento abandona o lugar que lhe corresponde por natureza para ocupar um que lhe é estranho; ou então, pois acontece que existe mais do que um gênero de fogo e de outros elementos, quando um deles toma para si mesmo algo que não lhe é adequado, todos os fenômenos desta natureza provocam distúrbios e doenças. Quanto à alma, quando ela adoece chamamos isso de demência e há dois gêneros de demência: a loucura e a ignorância. Devemos também estabelecer que os prazeres e as dores em excesso são as mais graves das doenças para a alma.
Entre os seres vivos que são gerados machos, mas são covardes e injustos, renascem como mulheres na outra vida. Um deus deu a cada um de nós um daimon, aquilo que dizemos habitar no alto do nosso corpo e nos eleva desde a terra até àquilo que é nosso congênere no céu, porque somos uma planta celeste e não terrena. Foi desse lugar, onde se engendrou a primeira gênese da alma, que a parte divina fez depender a nossa cabeça, que é como uma raiz e mantém todo o nosso corpo da posição ereta. Devemos cuidar sempre da parte divina que existe em nós, tendo em ordem o daimon que habita dentro de nós, bem como devemos cuidar sempre em sermos felizes.
V. CONCLUSÃO
O Universo, tendo recebido seres-vivos mortais e imortais, ficando deste modo preenchido foi gerado como um ser-vivo visível que engloba todas as coisas visíveis, deus sensível imagem do inteligível, o mais grandioso, o melhor, o mais belo e mais perfeito; o céu que é único e unigênito.
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