RAÇA, ETNICIDADE E MIGRAÇÃO - ANTHONY GIDDENS (RESUMO)

O que se segue é um resumo do capítulo Raça, Etnicidade e Migração do livro Sociologia do sociólogo britânico Anthony Giddens. Neste capítulo, Giddens trata de compreender a raça e a etnicidade; discute os conceitos de discriminação, preconceito, estereótipo e racismo; apresenta as interpretações psicológicas e sociológicas do racismo; trata da integração étnica e conflito étnico e; considera a migração global. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 


As teorias científicas da raça surgiram nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, foram utilizadas para justificar a ordem social emergente à medida que nações europeias se tomavam potências imperiais, governando territórios e populações subjugadas. O Conde Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), pai do racismo moderno, propôs a existência de três raças: branca (Caucasiana), negra (Negróide) e amarela (Mongolóide), sendo a raça branca superior. Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, a “ciência da raça” foi largamente desacreditada. Em termos biológicos não existem raças definidas, apenas uma gama de variações físicas nos seres humanos. 

Já que não faz sentido falar de raças humanas na acepção biológica, as diferenças raciais podem ser entendidas como variações físicas assinaladas por membros de uma comunidade ou sociedade como sendo socialmente relevantes. Sendo assim, a raça pode ser entendida como um conjunto de relações sociais que permite que os indivíduos e grupos sejam localizados, e lhes sejam atribuídos vários atributos ou competências, com base em características de natureza biológica. Por sua vez, chamamos racialização ao processo pelo qual os entendimentos do que é a raça são usados para classificar indivíduos ou grupos de pessoas. 

Enquanto o conceito de raça é erroneamente pensado como algo biológico, a "etnicidade" é um conceito de significado puramente social. Por etnicidade entendem-se as práticas culturais e os modos de entender o mundo que distinguem uma dada comunidade das restantes. Outro conceito importante para a discussão, é a noção de grupo minoritário.  Por minoria, não se entende literalmente um grupo estatisticamente pequeno, antes o termo se refere à posição subordinada dos grupos na sociedade.  

Faz-se necessária ainda fazer uma distinção entre preconceito e discriminação. Por preconceito entende-se as opiniões ou atitudes partilhadas por membros de um grupo acerca de outro. Os preconceitos assentam frequentemente em estereótipos, categorizações fixas e inflexíveis de um grupo de pessoas. Já a discriminação diz respeito ao comportamento tido em relação a indivíduos ou grupos. Embora o preconceito esteja frequentemente na base da discriminação, os dois podem existir separadamente. As pessoas podem ter ideias preconceituosas e não agir em conformidade. Além disso, a discriminação não deriva necessariamente de modo direto do preconceito. 

O conceito de raça é fundamental para a existência de racismo: um preconceito baseado em distinções físicas com significado social. Um racista é alguém que acredita que alguns indivíduos são inferiores ou superiores a outros como resultado dessas diferenças racializadas. O racismo vai para além de atitudes individuais de preconceito, o racismo está imiscuído na própria estrutura e funcionamento da sociedade (racismo estrutural). A ideia de racismo institucional sugere que o racismo atravessa todas as estruturas sociais de uma forma sistemática. O racismo se tornou algo mais sutil com o tempo, o velho racismo biológico se expressava de forma aberta, mas ele foi substituído pelo racismo cultural, um novo racismo mais sofisticado que usa a ideia de diferenças culturais para excluir certos grupos. 

Teóricos tem buscado explicar o racismo tanto a partir de teorias psicológicas quanto de teorias sociológicas. Duas abordagens psicológicas são particularmente importantes: (i) teoria de que o racismo opera principalmente através do pensamento estereotipado: entende que indivíduos se baseiam, por vezes, em estereótipos e descarregam o seu antagonismo em "bodes expiatórios"; (ii) teoria de que o racismo é resultado de uma socialização na infância: sugere que existem certos tipos de pessoas que, em resultado dessa socialização, são particularmente propensas ao pensamento estereotipado. 

As interpretações sociológicas, por sua vez, procuram localizar as causas do racismo e do preconceito na cultura ou estruturas das próprias sociedades. Os conceitos sociológicos relevantes a nível geral para a interpretação de conflitos étnicos são os seguintes: (i) etnocentrismo: desconfiança em relação a estranhos combinada com uma tendência para avaliar as outras culturas em termos da nossa própria cultura; (ii) fechamento de grupo étnico: processo pelo qual os grupos mantêm fronteiras que os separam dos outros; (iii) repartição de recursos: instituição de desigualdades na distribuição da riqueza e dos bens materiais. 

Alguns teóricos tentaram situar o racismo no âmbito da cultura geral da sociedade, argumentando que o mesmo representa um certo tipo de conservadorismo natural que emerge em tempos de mudança e instabilidade. Por outro lado, as teorias do conflito buscam pensar o racismo e o preconceito em conexão com as relações de poder e desigualdade.  

Muitos países do mundo atual são caracterizados por terem populações multiétnicas. Com a globalização, tem surgido desafios em relação à diversidade étnica. A migração internacional tem acelerado a integração da economia global, no entanto, tensões e conflitos étnicos continuam aparecendo em todo o mundo, ameaçando levar à desintegração alguns estados multiétnicos e ao prolongamento da violência noutros. 

Existem três modelos principais de integração étnica que têm sido adoptados por sociedades multiétnicas em relação a estes desafios: (i) assimilação: significa que os imigrantes abandonam os seus usos e costumes, passando a pautar o seu comportamento pelos valores e normas da maioria; (ii) crisol de culturas: consiste em diferentes tradições misturarem-se para formar novos padrões culturais; (iii) pluralismo: consiste em fomentar o desenvolvimento de uma sociedade genuinamente plural, onde seja reconhecida a igual valia de numerosas subculturas diferentes.  

A diversidade étnica pode enriquecer muito as sociedades, no entanto, sociedades com uma longa história de tolerância e integração étnica podem mergulhar rapidamente no conflito étnico - hostilidades entre diferentes grupos ou comunidades étnicas. Estes conflitos envolveram tentativas de limpeza étnica, a criação de áreas etnicamente homogêneas através da expulsão em massa de outras populações étnicas. A limpeza étnica envolve a deslocação de populações étnicas alvo da violência, da agressão, das ameaças e das campanhas de terror. Fala-se em genocídio, pelo contrário, para descrever a eliminação sistemática de um grupo étnico por outro. O século XX assistiu à emergência do genocídio "organizado" e carrega a distinção dúbia de ser o século com mais genocídios da história. 

expansionismo europeu iniciou há séculos um movimento de populações em larga escala, que formou a base de muitas das sociedades multiétnicas do mundo. Com a globalização, a imigração, o movimento de pessoas para um país onde se estabelecem, e a emigração, o processo pelo qual as pessoas deixam o país para se estabelecer noutro, combinam-se para produzir padrões globais de migração que ligam entre si os países de origem e os países de destino. 

Os teóricos identificaram quatro modelos de migração para descrever os principais movimentos globais da população ocorridos desde 1945: (i) modelo clássico: ocorre quando a imigração é grandemente encorajada por um país e a promessa de cidadania estendida aos imigrantes; (ii) modelo colonial: é aquela que tende a favorecer imigrantes de antigas colónias em detrimento de imigrantes de outros países; (iii) modelo dos trabalhadores convidados: neste e esquema, os imigrantes são aceitos no país numa base temporária para cumprir exigências do mercado de trabalho, mas não recebem direitos de cidadania; (iv) modelos ilegais: quando, devido a leis restritivas de imigração, os imigrantes entram secretamente e vivem de maneira ilegal em um país. Outra forma de compreender os padrões globais de migração reside no estudo das diásporas. Pelo termo diáspora entende-se a dispersão de uma população étnica a partir da sua terra natal para áreas estrangeiras, muitas vezes de forma forçada ou em circunstâncias traumáticas.  


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