FAMÍLIAS - ANTHONY GIDDENS (RESUMO)


O que se segue é um resumo do capítulo Famílias do livro Sociologia do sociólogo britânico Anthony Giddens. Neste capítulo, Giddens trata da diversidade da família; das perspectivas teóricas sobre a família; do casamento e divórcio; das variações nos padrões familiares; das alternativas ao casamento; da violência e abuso na vida familiar e do debate sobre os valores familiares. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 


Os padrões de família têm passado por mudanças nos últimos tempos nos países ocidentais. A grande diversidade de famílias e formas de agregados familiares tornou-se um traço distintivo da época atual. Podemos definir família como um grupo de pessoas unidas diretamente por laços de parentesco, no qual os adultos assumem a responsabilidade de cuidar das crianças. Por sua vez, podemos definir traços de parentesco como relações entre indivíduos estabelecidas através do casamento ou por meio de linhas de descendência que ligam familiares consanguíneos. Já o casamento pode ser definido como uma união sexual entre dois indivíduos adultos, reconhecida e aprovada socialmente.  

Nas sociedades ocidentais, o casamento e, por conseguinte, a família, está associado à monogamia. É ilegal que um homem ou uma mulher sejam casados com mais de um indivíduo simultaneamente. No entanto, muitos sociólogos consideram que não podemos falar de 'família', como se existisse um modelo de vida familiar mais ou menos universal. A predominância da família nuclear tradicional foi sofrendo uma erosão pronunciada ao longo da segunda metade do século XX. Por essa razão, é mais apropriado falar de “famílias” (no plural), a fim de ressaltar a diversidade de formas familiares. 

Podemos considerar diferentes abordagens sociológicas no estudo das famílias(i) abordagem funcionalista: de acordo com esta perspectiva, a família desempenha funções importantes que contribuem para satisfazer as necessidades básicas da sociedade e para a reprodução da ordem social; (ii) abordagens feministas: pontuam que a família pode ser um lugar de exploração, solidão e profunda desigualdade, o que atinge especialmente as mulheres. Recentemente, no entanto, as abordagens sociológicas sobre a família têm se concentrado em estudar as transformações nos padrões familiares, o que envolve a formação e a dissolução das famílias e lares; a evolução das expectativas individuais no seio das relações; crescimento do divórcio e dos agregados monoparentais; a emergência das “famílias recompostas” e a popularidade da coabitação. 

As famílias também passam por transformações quando se considera mudanças globais. O casal Ulrich Beck e Elisabeth Beck-Gernsheim argumentam que as tradições, regras e linhas de orientação que governavam as relações pessoais já não se aplicam, e que os indivíduos são atualmente confrontados com uma série interminável de escolhas. Para eles, a nossa época está repleta de interesses conflituosos entre a família, o trabalho, o amor e a liberdade para prosseguir objetivos individuais. As relações na nossa época moderna envolvem também conflitos que têm a ver com o trabalho, a política, a economia, as profissões, e a desigualdade. A solução para esses conflitos complexos seria o amor, o amor seria o único lugar onde as pessoas podem verdadeiramente encontrar-se e ligasse a outros. 

Os países industrializados do Ocidente em nossos tempos têm apresentado um crescimento nas taxas de divórcio. Antes o casamento era considerado indissolúvel, mas agora o divórcio é legalizado na maioria dos países industrializados. Os chamados divórcios litigiosos passaram a ser característicos de praticamente todos os países industrializados. Sob este sistema, para ser permitido o divórcio, era necessário que um dos esposos apresentasse queixa (maus-tratos, abandono ou adultério, por exemplo) contra o outro. Já as primeiras leis de divórcio por comum acordo foram introduzidas em alguns países em meados da década de 1960.   

São diferentes os fatores para o aumento das taxas de divórcio, entre os quais podem ser citados o fato de que o casamento hoje em dia já não está relacionado com o desejo de perpetuar a propriedade e a posição social de geração em geração; a independência econômica das mulheres; a maior prosperidade global que torna mais fácil hoje em dia estabelecerem-se residências autônomas e a tendência crescente para avaliar o casamento em termos da satisfação pessoal que possa oferecer. Ao lado disso, têm havido um crescimento dos agregados monoparentais, que se situam em geral entre os grupos mais pobres da sociedade humana. 

Outra questão contemporânea é o novo casamento, que pode levar à formação de famílias recompostas. Uma família recomposta pode ser definida como uma família em que pelo menos um dos adultos tem filhos de um dos matrimónios anteriores. Outra problemática é a ausência paterna. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos pais quase não viam os filhos porque estavam no campo de batalha ou a prestar serviço militar, com o fim da Guerra, os pais ficavam no trabalho o dia todo, só vendo os filhos de noite e nos fins de semana. Com o divórcio, a ausência paterna passou a estar relacionada a pais que, em consequência de uma separação ou divórcio, têm muito pouco contacto com os filhos ou deixam pura e simplesmente de estar com eles.  

Há ainda de se considerar o fenômeno das mulheres sem filhos, o que pode ser resultado de uma escolha pessoal de não ter filhos ou de que as oportunidades profissionais não se fizeram acompanhar de medidas sociais de apoio às grávidas e progenitores de filhos pequenos. Tem havido, ainda, uma escolha por não se casar. Exemplo de duas alternativas ao casamento heterossexual têm sido: (i) coabitação: situação que tem lugar quando um casal vive junto e mantém relações sexuais sem haver casamento; (ii) casais homossexuais: mesmo em muitos países o casamento homossexual não sendo legalizado, muitos homens e mulheres homossexuais mantêm relacionamentos estáveis como casais.  

Em relação às famílias, é preciso considerar ainda a violência e abuso na vida familiar. Podemos definir a violência doméstica como o abuso físico de um membro da família em relação a outro ou outros membros. Os estudos mostram que o principal alvo de abuso físico são as crianças, principalmente as crianças pequenas com menos de seis anos. O segundo tipo de violência mais comum é a exercida pelos maridos sobre as mulheres. Contudo, as mulheres podem também ser perpetradoras de violência física doméstica contra filhos pequenos e maridos.  

Inclui-se, na violência familiar, as questões relativas ao abuso sexual de crianças. Podemos definir o abuso sexual de crianças como a prática de atos sexuais por adultos com crianças de idade inferior ao que é permitido por lei. Isso levanta também a discussão sobre o incesto. Entendemos por incesto as relações sexuais entre parentes próximos. Nem todos os casos de incesto são de abuso sexual. No entanto, a forma mais comum de incesto é aquela em que há também abuso sexual - as relações incestuosas entre pai e filhas menores. 

Diante das mudanças que as famílias vêm experimentando, tem surgido um debate sobre os valores familiares. Os defensores dos valores familiares argumentam que é necessário reinstituir a família tradicional. Já os críticos argumentam que a família não está desaparecendo, apenas se diversificando e que, reconhecer a diversidade de formas familiares é positivo. Provavelmente o melhor é manter uma posição crítica em relação a ambas as perspectivas. No entanto, é importante dizer que um retomo à forma tradicional de família não é possível. Não se resolvem os problemas atuais olhando para o passado. É necessário tentar reconciliar a liberdade individual que a maioria de nós aprendeu a valorizar na vida pessoal com a necessidade de constituir relações estáveis e duradouras com outras pessoas. 



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