CRISTOLOGIA BREVE
O objetivo deste artigo é fornecer uma
breve apresentação da Cristologia ortodoxa. A necessidade de tratar de tal tema
se percebe pelo fato de que muitos crentes têm conceitos e noções erradas sobre
a pessoa, naturezas e obras de Cristo. A relevância do assunto é evidente por
si só - alguém questionaria a importância de estudar sobre Jesus Cristo?
UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO
Confessamos que
Jesus Cristo é uma Pessoa divina. A
Pessoa do Filho foi gerada pelo Pai na eternidade, como um segundo modo de
subsistência na essência da Trindade (Provérbios
8.22-26; Miquéias 5.2; João 1.18).[1] A crença de que Jesus é uma só Pessoa divina deve ser afirmada
contra a heresia nestoriana, segundo
a qual “haveria duas pessoas, em Jesus -
uma divina e outra humana - unidas entre si por um vinculo afetivo ou moral”[2],
e contra as heresias unicistas, que
negam a distinção pessoal do Filho em relação ao Pai. O fato de Jesus ser uma única Pessoa significa que a Segunda
Pessoa da Trindade é o sujeito de
todas as ações de Cristo, mesmo aquelas feitas em razão de Sua humanidade
[3]. É por isso que se pode dizer corretamente que Deus morreu na cruz
(Atos 20.28; 1 Coríntios 2.8) ou que Maria é mãe de Deus (Isaías 9.6; Mateus 1.23; Lucas 2.11; Romanos 9.5).
Todavia, não basta afirmar
simplesmente que a Pessoa divina do
Filho é o Sujeito de suas ações. Ainda precisamos responder a uma questão levantada
por Gary Cramptom: “...se Jesus Cristo
tem duas naturezas completas, uma plenamente divina e outra plenamente humana,
e, todavia, ele é uma Pessoa divina indivisa, como essa Pessoa pode ser
genuinamente humana?” [4] Sobre isso, devemos rejeitar a ideia
de que a humanidade de Cristo é impessoal (anipostasia)
e afirmar que a natureza humana de Cristo foi pessoalizada na Pessoa do Verbo (enipostasia), desse modo a Pessoa do Filho é o Deus – Homem Jesus Cristo[5]. Por isso podemos dizer que
o Homem Jesus é o sujeito mesmo das ações feitas em razão da Sua divindade (João 3.13; 6.62). É essencial, portanto,
que não pensemos que exista um Jesus
Homem e um Jesus Deus, mas sim,
que há uma só Pessoa do Filho: o Deus – Homem, Jesus.
NATUREZAS DE CRISTO
Jesus sempre teve uma natureza divina, a
qual recebeu do Pai por comunicação (João
5.26). Afirmamos que Jesus é eternamente
divino (João 1.1-3) e possui todos os
atributos de Deus (Colossenses 2.9). No entanto, por ocasião da encarnação, Jesus assumiu a natureza humana para
sempre, sem deixar de lado Sua natureza
divina (Filipenses 2.6-7). Desse modo, Jesus é plenamente humano (1 Timóteo 2.5). Devemos afirmar essas coisas
contra algumas heresias [6]:
1.
Apolinarianismo: Os
apolinários negavam que Jesus fosse totalmente
homem, afirmando que o Logos tomou o lugar do seu espírito humano. Contra
essa heresia, declaramos que Cristo assumiu toda a natureza humana, e por isso, possui um corpo e uma alma humanos.
2.
Eutiquianismo:
De
acordo com essa heresia, a natureza divina absorveu
a natureza humana. Contra os eutiquianos, é necessário dizer que Cristo teve adicionado à Sua natureza divina, a
natureza humana, de modo que, embora inseparáveis,
elas permanecem distintas. Dessa
forma, as propriedades das duas naturezas não
se misturam. Cristo continua sendo imortal,
ilimitado, etc. em razão de sua natureza divina, mas também era mortal,
limitado, etc. em razão da sua natureza humana.
3.
Arianismo:
Os
arianos negam que Jesus seja absolutamente
divino, afirmando que ele é um ser criado. A visão ortodoxa, no entanto, diz que Jesus possui todos os atributos da
natureza divina, de modo que Ele é verdadeiramente o Deus Eterno.
4.
Docetismo:
Os
docetas negavam que Jesus fosse plenamente
humano, pois não poderia ter assumido a carne humana já que, segundo eles, a
matéria é má. Contra essa heresia, afirmamos que Jesus é cem por cento homem.
5. Teologia Kenótica: Os
kenóticos afirmam que Jesus deixou de ser Deus quando se tornou humano. Em
resposta confessamos que, embora
Jesus tenha voluntariamente limitado o uso de
seus atributos divinos, Ele não deixou de ser
divino quando se tornou humano.
TRÍPLICE OFÍCIO DE CRISTO
Cristo, como o Messias, foi ungido para exercer três ofícios: Profeta, Sacerdote
e Rei. Ele é o Profeta em quem
culminam todas as profecias, o Sacerdote que
efetuou nossa expiação e reconciliação e que intercede por nós e o Rei de um reino espiritual e eterno. [7]
Cristo exerce suas funções de Profeta, Sacerdote e Rei de diferentes modos[8]:
1. Como Profeta: “Cristo
exerce as funções de profeta revelando a igreja em todos os tempos, pelo seu
Espírito e Palavra, por diversos modos de administração, toda a vontade de Deus
em todas as coisas concernentes à sua edificação e salvação. (João 1.18; 1
Pedro 1.10-12; Hebreus 1.1-2; João 15.15; Efésios 4.11-13; João 20.31)”.
2. Como Sacerdote: “Cristo
exerce as funções de sacerdote oferecendo-se a si mesmo uma vez em sacrifício
sem mácula, a Deus, para ser a reconciliação pelos pecados do seu povo e fazendo
contínua intercessão por ele (Hebreus 9.14, 28; 2.17; 7.35)”.
3.
Como
Rei: “Cristo exerce as funções de rei chamando do mundo um
povo para si, dando-lhe oficiais, leis e disciplinas para visivelmente o
governar; dando a graça salvadora aos seus eleitos; recompensando a sua
obediência e corrigindo-os por causa dos seus pecados; preservando-os por causa
dos seus pecados; preservando-os e sustentando-os em todas as tentações e
sofrimentos; restringindo e vencendo todos os seus inimigos, e poderosamente
dirigindo todas as coisas para a sua própria glória e para o bem do seu povo; e
também castigando os que não conhecem a Deus nem obedecem ao Evangelho.” (Isaías
55.5; Gênesis 49.10; 1 Coríntios 12.28; João 15.14; Mateus 18.17-18; Atos 5:31;
Apocalipse 22:12; 3.19; Romanos 8:37-39; 1 Coríntios 15.25; Romanos 14.11;
8.28; 2 Tessalonicenses 1.8; Salmos 2.9)”.
ESTADOS DE HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO
Os estados de humilhação de Cristo vão
desde Sua encarnação até a Sua morte. Jesus “...nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades”[9]. Cristo se
humilhou quando pôs de lado Sua majestade divina e assumiu a natureza humana como ela é desde a Queda (fraca e
mortal), com exceção do pecado
(Hebreus 2.17, 4.15). Fazem parte das humilhações de Cristo, Sua vida na Terra
que foi toda de sofrimento e Sua morte expiatória e vicária. [10]
A descida de Jesus ao Hades significa simplesmente que Jesus desceu ao túmulo e não que Ele desceu ao Inferno propriamente. “Ser sepultado”, “Descer
ao túmulo” e “Descer ao Hades” são expressões biblicamente equivalentes
(Gênesis 37.35; Salmos 30.4). [11]
A exaltação de Cristo tem como primeiro
estágio Sua Ressurreição. É importante considerarmos os estágios que vão desde
Sua ressurreição até a Sua futura segunda vinda. Cremos que Jesus
ressuscitou fisicamente com o mesmo corpo com o qual morreu, porém glorificado (João 2.19; Lucas 24.39-42;
1 Coríntios 15.20, 53). Do mesmo modo, Jesus subiu aos céus com o mesmo corpo físico no qual viveu e
morreu [12], foi entronizado à mão direita de Deus [13]
e retornará fisicamente com esse mesmo
corpo para “...julgar os vivos e os
mortos.” [14] (Atos 1.9-11).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Crer na cristologia ortodoxa é essencial
para a fé evangélica. Confessamos que há uma só Pessoa em duas
naturezas completas (a natureza divina e a natureza humana), inseparáveis, porém distintas. Reconhecemos Cristo Jesus
como o nosso Profeta, Sacerdote e Rei, “...o qual foi
concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob o
poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades;
ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está assentado a mão
direita de Deus Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os
mortos.” [15]. Todo aquele que quiser ser salvo
deve pensar assim.
FONTES:
[5]
FERREIRA, F. & MYATT . Teologia Sistemática - VIDA NOVA, 207. p.492.
[6]
FERREIRA, F. & MYATT . Teologia Sistemática - VIDA NOVA, 207. Pp.
487, 488, 529, 530.
[7] Institutas
II.XV, pp. 248-256.
[8]
Catecismo Maior de Wesminster, perguntas 43, 44, 45. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm
[9] Credo
Apostólico: http://presbiterianoscalvinistas.blogspot.com.br/2010/05/o-credo-apostolico.html
[10] BERKHOF, L. (2012). Manual
de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 141.
[11] HODGE, C. (2001). Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos,p.944.
[12] GEISLER, N. Teologia Sistemática 1. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, p. 1095.
[13] BERKHOF, L. (2012). Manual
de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 141.
[14] Credo Apostólico: http://www.monergismo.com/textos/credos/credoapostolico.htm
[15] Credo
Apostólico: https://ipbicara.wordpress.com/2013/01/20/credo-apostolico/
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