SUMA TEOLÓGICA I - QUESTÕES 1 - 11 (RESUMO)
O que se segue é um resumo das questões 1
a 11 da Primeira Parte da Suma Teológica de santo
Tomás de Aquino. A questão 1 serve de introdução apresentando a Doutrina Sagrada como ciência que tem
Deus como seu objeto e que se fundamenta na revelação de Deus dada nas
Escrituras. Nas questões 2 a 11, Tomás de Aquino trata de como Deus é, em si mesmo, apresentando Deus como
simples, uno, incorpóreo, infinito, perfeito, imutável e eterno. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
QUESTÃO 1: DO QUE É E DO QUE
ABRANGE A DOUTRINA SAGRADA
(1) Para a salvação do homem é
necessária uma doutrina sagrada e
revelada, além das filosóficas, racionalmente adquiridas. Isso se dá porque
Deus revelou ao homem, nas Escrituras, certas verdades que são superiores àquelas adquiridas pela compreensão racional. (2) A doutrina
sagrada pode ser considerada como ciência
cujos princípios que lhe são revelados por Deus. (3) Esta ciência é uma, pois embora trate de diferentes assuntos,
todos eles se comunicam em um só conceito formal do objeto. (4) A doutrina sagrada é tanto especulativa (trata do ser de Deus)
quanto prática (trata dos atos
humanos), embora seja mais especulativa que prática por priorizar as coisas divinas.
(5) A doutrina sagrada é mais digna
que todas as outras ciências. Isso se dá: (i) porque ela não pode errar por ser
baseada na revelação divina, (ii) por tratar de assuntos superiores à razão e (iii) por
tratar do fim último de todas as outras ciências práticas: a eterna felicidade.
(6) Sendo a sabedoria a prudência no
sentido de ter Deus em consideração, a doutrina sagrada é em sumo grau a
sabedoria. (7) Assim sendo, Deus é
o objeto da doutrina sagrada.
(8) A doutrina sagrada não é uma
ciência que usa de argumentos para provar seus artigos primeiros de fé, antes
extrai deles outras verdades e refuta aqueles que os negam. (9) Visto que todo o nosso conhecimento
começa pelos sentidos e do sensível
chega ao inteligível, é conveniente
que a doutrina sagrada se utilize de metáforas com as coisas sensíveis a fim de
transmitir verdades espirituais. (10) Por
fim, deve-se afirmar que sendo Deus o autor das Escrituras, é Ele quem determina sua significação. A primeira significação,
pela qual as palavras exprimem as coisas, é a do sentido histórico-literal. E a significação pela qual as coisas
expressas pelas palavras têm ainda outras significações, chama-se sentido espiritual, que se funda no
literal e o supõe. Esse sentido espiritual pode ser (i) alegórico: quando as coisas da lei antiga significam as da nova;
(ii) moral: as que são sinais do que
devemos fazer ou (iii) anagógico: quando
significam as coisas da glória eterna.
QUESTÃO 2: DEUS EXISTE?
(1) A proposição “Deus existe” é
conhecida por si mesma porque o sujeito e o predicado se identificam dado que a
essência de Deus é existir. (2) Sendo
Deus a causa primeira de tudo, sua existência pode ser demonstrada pelos
efeitos que conhecemos. (3) A
existência de Deus pode ser demonstrada por cinco vias (i) movimento: tudo que se move é movido por
outro de modo que, para que não caímos em uma cadeia infinita, é preciso haver
um primeiro motor imóvel; (ii) causalidade: tudo que vem a existir tem uma causa, assim, para não
cairmos em uma série infinita de causas, é preciso haver uma causa eficiente primeira não-causada. (iii) contingência: todos os seres contingentes (possíveis) dependem de
um Ser necessário que fundamente sua
existência. (iv) graus de perfeição: Precisa haver um Ser maximamente perfeito que sirva de parâmetro
de todos os graus de bondade. (v) ordem: visto que no mundo há ordem, precisa
haver uma Suprema Inteligência que
governa todas as coisas.
QUESTÃO 3: DA SIMPLICIDADE DE DEUS
(1) Deus não tem corpo, pois um corpo não poderia ser um motor imóvel, nem Ato puro (sem potência) e porque o espírito é mais nobre que o corpo. (2) É impossível haver matéria
em Deus, primeiro porque esta é
potencial, segundo porque a matéria só
é boa por participação na forma e terceiro
porque todo agente age pela sua forma e sendo Deus o agente primeiro, é
essencialmente a sua forma. Assim, Deus não é composto de matéria e forma. (3) Deus
é idêntico à sua essência, pois, não
sendo Deus composto de matéria e forma, há de por força ser a sua divindade e o mais que dele se predicar. (4)
Deus é não somente sua essência, como também a sua existência, pois em Deus tudo é atualidade.
(5)
Deus é o princípio de todos os seres, logo Deus não pertence
especificamente a nenhum gênero. (6) Em Deus não pode haver acidentes, pois ele existe por si mesmo
em seu ser. (7) Deus é absolutamente simples, pois nele não há composição
de partes quantitativas. (8) Assim,
também é preciso afirmar que Deus não pode fazer parte de nenhum composto de
modo que ele não entra na composição de nenhum ser.
QUESTÃO 4: DA PERFEIÇÃO DE DEUS
(1) Deus
é o Ser Perfeito no máximo grau, pois nada lhe falta. (2) Deus encerra em si as perfeições de todos os seres, sendo o ser
universalmente perfeito. (3) As
coisas criadas por Deus, primeiro e universal princípio de todos os seres, com
ele se assemelham, enquanto seres.
QUESTÃO 5: DO BEM EM GERAL
(1) O bem e o ser, embora
idênticos, se diferem racionalmente, pois o bem acrescenta à noção de ser a de
desejável. (2) O ser é logicamente
anterior ao bem, pois o ser é concebido pelo intelecto em primeiro lugar. (3) Todo ser, como tal, é bom, pois é
atual e, de certo modo, perfeito, porque toda atualidade é perfeição. (4) Um ser é considerado bom na medida
em que é perfeito e é perfeito na medida em que nada lhe falta e para um ente
ser perfeito e bom é necessário que tenha a forma (espécie) que determina seu modo, por fim o ser atual age e tende para o que formalmente lhe
convém; e isso pertence à ordem. Sendo
assim, a noção de bem e perfeição implicar o modo, a espécie e a ordem. (5) O bem é aquilo que é honesto,
útil e desejável.
QUESTÃO 6: DA BONDADE DE DEUS
(1) Ser
bom e desejável convém a Deus de modo excelente. (2) Deus é o Sumo Bem,
pois nele o bem existe de modo excelentíssimo. (3) Só Deus é bom pela sua essência, pois nele a essência é a
existência. (4) Cada ser é bom pela
divina bondade, princípio primeiro exemplar, efetivo e final de toda bondade.
Contudo, cada realidade é considerada boa também por uma semelhança da divina
bondade, que lhe é inerente, que é a sua forma própria e o fundamento essencial
das suas denominações. De modo que há uma só bondade, em virtude da qual todas
as coisas são boas; e, por outro lado, há muitas bondades.
QUESTÃO 7: DA INFINIDADE DE DEUS
(1) Como primeiro
princípio, Deus é infinito, eterno e incircunscritível. (2) Além de Deus, pode
existir o infinito relativo, mas não, o absoluto, pois somente Deus pode ser infinito por essência. (3) Uma coisa é ser infinito em
essência e outra, em grandeza. Todo corpo tem superfície e
portanto é finito, por lhe ser ela o limite. Logo, todo corpo é finito,
podendo-se dizer o mesmo da superfície e da linha. Logo, nada é infinito em
grandeza. (4) É impossível existir
uma multidão infinita atual, pois
todos os seres criados estão compreendidos em um certo número. No entanto, pode
existir uma multidão infinita potencial.
QUESTÃO 8: DA EXISTÊNCIA DE DEUS
NAS COISAS
(1) Deus está em
todas as coisas, não como parte da essência ou como acidente de cada uma delas,
mas como o agente está presente ao que aciona. (2) Deus está presente em todos os lugares, não como um corpo que
ocupa um lugar, mas como aquele que enche todos os seres, dando-lhes o ser e a
virtude locativa. (3) Deus está em
todos os seres pelo seu poder (pois
todos os seres físicos ou espirituais são-lhes sujeitos), pela Sua presença (porque tudo está descoberto
diante dele) e pela sua essência (porque
é a causa do ser de todas as coisas). (4)
Assim, estar em toda parte, primariamente e por si, é próprio de Deus.
QUESTÃO 9: DA IMUTABILIDADE DE DEUS
(1)
Sendo Deus Ato puro, isto é, não possuindo potência, sendo o primeiro motor
imóvel e sendo perfeito, Ele é Imutável.
(2) Só Deus é imutável; tudo o que
fez é mutável porque veio do nada. Toda criatura tem o poder de mudar: ou substancialmente, como os corpos
corruptíveis; ou só localmente, como
os corpos celestes; ou pela relação com o
fim e pela aplicação da virtude própria a diversos objetos, como os anjos.
E, universalmente, todas as criaturas,
em geral, são mutáveis em relação ao poder do Criador, de quem depende o ser ou
o não-ser delas.
QUESTÃO 10: DA ETERNIDADE DE DEUS
(1)
Por duas características se conhece a eternidade: (i) o que nela está é interminável, isto é, não tem princípio nem
fim e, (ii)
justamente por não ter sucessão, a eternidade existe total e simultaneamente. (2) A noção da eternidade resulta da
imutabilidade, assim, sendo Deus imutável, é também Eterno. Deus não só é
eterno, como é a sua eternidade. (3) Visto
que só Deus é imutável e dado que a eternidade decorre da imutabilidade, só
Deus é propriamente Eterno. No entanto, assim como os seres recebem de Deus a
imutabilidade, nessa mesma lhe participam da eternidade.
(4)
Enquanto no tempo há
anterioridade e posterioridade, na eternidade existe toda simultaneidade, desse
modo o tempo e a eternidade não se
identificam. (5) Entre o tempo e a
eternidade, existe o evo. O evo
existe todo e simultaneamente; mas ao mesmo tempo comporta em si antes e
depois. (6) O evo é mais simples que
o tempo e mais se aproxima da eternidade. Assim, sendo o tempo um só, com maior
razão há só um evo.
QUESTÃO 11: DA UNIDADE DIVINA
(1) A unidade não acrescenta nada ao ser, pois unidade significa indivisão e o ser de qualquer coisa
consiste em sua indivisão. (2) A
unidade se opõe à multiplicidade,
pois enquanto a unidade funda-se na indivisibilidade,
a multiplicidade implica a divisão. (3) Deus é Uno, primeiro, porque ele
é simples, segundo, porque ele é
totalmente perfeito e por isso único e, terceiro,
pois a unidade da ordem do mundo poderia depender só de um único ordenador. (4) Por ser indiviso ao máximo e
absolutamente simples, Deus é ao máximo uno.
Comentários