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SUMA TEOLÓGICA I - QUESTÕES 12 - 18 (RESUMO)


       O que se segue é um resumo das questões 12 a 18 da Primeira Parte da Suma Teológica de Tomás de Aquino. Nas questões 1 a 11, foi considerado como Deus é, em si mesmo, a partir da questão 12 é discutido sobre como Deus é, em relação ao nosso conhecimento, isto é, enquanto conhecido pelas criaturas. As questões 12 a 18 tem por tema o conhecimento divinoÉ importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

QUESTÃO 12: COMO DEUS É CONHECIDO POR NÓS?

        (1) Como um ser é conhecível enquanto atual, Deus sendo Ato puro, sem nenhuma potência, é, em si mesmo, soberanamente conhecível. (2) Enquanto as coisas corpóreas não podem estar em essência em quem as vê, mas apenas em imagem, Deus, sendo incorpóreo, não pode ser visto, em sua essência, por nenhuma imagem criada. (3) Ainda, sendo Deus incorpóreo, ele não pode ser visto com os olhos do corpo. (4) Desse modo, é impossível ao intelecto criado ver a essência de Deus pelas suas faculdades naturais, pois Deus excede nossa natureza. Assim, o intelecto criado não pode ver a Deus, por essência, a menos que Deus, por graça, se lhe una e se lhe torne inteligível.
       (5) Tudo o que é elevado acima da natureza própria é necessário que tenha uma disposição, que lhe seja superior, por onde, é necessário que seja acrescentada ao intelecto criado alguma disposição sobrenatural, para que se eleve a Deus. A este acréscimo dá-se o nome de iluminação do intelecto. (6) Desta iluminação participa quem tem mais caridade, logo quem mais caridade tiver mais perfeitamente verá a Deus e mais feliz será. (7) Sendo Deus infinito e a mente humana finita, nenhum intelecto criado pode compreender a Deus, (8) assim, não podemos saber tudo sobre Deus.
      (9) conhecer as coisas pelas semelhanças delas em nós existentes é conhecê-las em si mesmas ou nas suas naturezas próprias; mas, conhecê-las por meio das imagens delas preexistentes em Deus, é vê-las em Deus. Por isso, o conhecimento que têm das coisas os que as veem em Deus mesmo, cuja essência contemplam, não é um conhecimento mediante outras imagens, mas mediante a só essência divina presente ao intelecto, pela qual também Deus é visto. (10) Sendo que as coisas não são vistas em Deus por imagens ou representações, mas pela essência una de Deus, elas são vistas simultaneamente e não sucessivamente.
      (11) Sendo que Deus excede a nossa natureza e estando nós ainda presos à matéria corpórea, não podemos ver a Deus em essência enquanto vivermos nesta vida mortal. (12) No entanto, embora não possamos chegar a ver a essência divina, podemos chegar ao conhecimento da existência e dos atributos de Deus a partir do conhecimento sensível à medida que compreendemos o mundo sensível como tendo Deus por causa. Este tipo de conhecimento que se principia nos sentidos pode ser chamado de conhecimento natural. (13) No entanto, pela revelação da graça alcançamos um conhecimento mais perfeito de Deus do que pelo conhecimento natural, pois a luz natural do intelecto é reforçada pela iluminação da graça.

QUESTÃO 13: DOS NOMES DIVINOS

      (1) Na medida em que algo pode ser conhecido por nós, ele pode ser por nós nomeado e, na medida em que conhecemos a Deus por meio da criação, podemos nomeá-lo por meio das coisas criadas. (2) Sendo Deus simples, todos os nomes exprimem sua substância. (3) Conhecemos a Deus pelas perfeições que dele procedem para as criaturas, as perfeições mesmas que os nomes significam, como bondade, se predicam de Deus propriamente, embora quanto ao modo de significar, não e lhe atribuem propriamente, pois, esse modo é próprio das criaturas. (4) No entanto, embora Deus seja simples e uno, os nomes atribuídos a Deus não são sinônimos, porque designam a essência divina sob noções múltiplas e diversas.
       (5) Sendo Deus Infinito e as criaturas finitas, os nomes não são predicados a Deus em sentido unívoco (totalmente idêntico), nem em sentido equívoco (totalmente diferente), pois assim não poderíamos conhece-lo, mas em sentido analógico (semelhante). (6) Na medida em que as criaturas derivam de Deus suas perfeições, os nomes que as significam são predicados de Deus, antes de serem das criaturas. (7) Certos nomes, que implicam relação de Deus com a criatura, dele se predicam temporalmente e não, eternamente, como quando dizemos que Deus é Salvador, Criador ou Senhor.
       (8) O nome de Deus foi imposto para significar a natureza divina. (9) Sendo o nome de Deus imposto para significar a natureza divina e não sendo esta multiplicável resulta, que o nome de Deus é realmente incomunicável, mas pode ser comunicável conforme a opinião dos que creem em deuses. (10) O nome de Deus não é tomado, nas três significações propostas, nem unívoca, nem equívoca, mas analogicamente, quando dizemos que um ídolo é Deus, queremos, com o nome de Deus, designar um ser que a opinião dos homens considera tal, por onde, é manifesto que são diferentes as significações desse nome; mas, uma delas está contida nas outras e, portanto, é claro que tal nome é predicado analogicamente.
      (11) Nas Escrituras, Deus se nomeia como “Aquele que é” (Êxodo 3.14), este é, por excelência o nome próprio de Deus, designando Deus como o próprio Ser, aquele cuja essência é a existência e como aquele que existe em um eterno presente. (12) Alguns argumentam que só se podem fazer proposições negativas sobre Deus, no entanto, a fé contém certas proposições afirmativas como “Deus é Trino”, “Deus é Onipotente” e, visto que a fé não contém nada falso, podemos formar, verdadeiramente, a respeito de Deus proposições afirmativas.

QUESTÃO 14: DO CONHECIMENTO DE DEUS

       (1) A imaterialidade de um ser é a razão que o torna capaz de conhecimento e, sendo Deus o ser sumamente imaterial, Ele é, por excelência, dotado de conhecimento. (2) Deus se conhece a si mesmo e por meio de si mesmo, pois, sendo Deus Ato puro, seu intelecto é idêntico ao inteligível. (3) Todo ser que a si mesmo se intelige, a si mesmo se compreende. Ora, Deus intelige-se a si mesmo. Logo, a si mesmo se compreende. (4) E, sendo o ser de Deus sua própria substância e, como para Deus, ser é inteligir, o inteligir de Deus é a sua própria substância.
       (5) Deus conhece necessariamente seres de si diferentes, pois como causa de todos os seres, todos os seres preexistem em Deus de modo que Deus, em si mesmo, vê todos os seres. (6) Deus conhece todos os seres, não só em geral, não apenas enquanto entes, mas enquanto distintas uma das outras, enquanto seres. (7) Na medida em que Deus vê todas as coisas simultaneamente, ele não vê as coisas por conceitos, indo de um ao outro, seu conhecimento não é discursivo.
      (8) O conhecimento de Deus é a causa das coisas, pois o ser de Deus é seu conhecimento, Deus, pela Sua inteligência causa as coisas. Deus conhece todas as coisas, não porque elas existem, antes, todas as coisas existem porque Deus as conhece. (9)  Deus conhece todas as coisas de qualquer modo que existam, mesmo coisas que nunca existiram, nem existem, não virão a existir, são conhecidas por Deus de modo que Deus conhece mesmo aquilo que não é. (10) Conhecendo todas as coisas, Deus conhece até mesmo o mal ainda que não seja Ele a causa do mal. (11) Seu conhecimento abrange não só os universais, mas também aquilo que é singular. (12) Seu conhecimento é infinito e o próprio infinito é conhecido por Deus. (13) Deus conhece até mesmo os futuros contingentes. (14) Ele conhece tudo o que pensamos e tudo o que pode ser enunciado.
      (15) Sendo o conhecimento de Deus a sua substância, e sendo a sua substância absolutamente imutável, resulta necessariamente, que o seu conhecimento é absolutamente invariável. (16) Por fim, deve ser dito que Deus tem, das coisas, conhecimento especulativo pois, sendo o conhecimento especulativo superior ao prático e, visto que a Deus devemos atribuir o que é mais nobre, Deus tem conhecimento especulativo das coisas.

QUESTÃO 15: DAS IDEIAS

       (1) Por ideias entende-se a forma de um ser, existente fora deste e sendo seu exemplar. As ideias existem na mente divina e são os exemplares a partir dos quais Deus criou o mundo. (2) Dado que não se pode ter uma ideia do todo da criação sem as ideias das partes que a constituem, há na mente divina muitas ideias. (3) Ais ideias não são só exemplares a partir dos quais Deus criou todas as coisas, mas também os princípios pelos quais as coisas são conhecidas. Como princípio cognoscitivo, a ideia diz respeito a todas as coisas conhecidas de Deus de modo que Deus tem ideia de tudo o que conhece.

QUESTÃO 16: DA VERDADE

      (1) A verdade é a correspondência da coisa com o intelecto. A verdade é o termo para o qual tende o intelecto de modo que a verdade, em seu sentido primário, reside no intelecto, não nas coisas. (2) É compondo e dividindo que o intelecto julga a conformidade da coisa com a forma dela apreendida de modo que a verdade existe no intelecto que compõe e divide. (3) Cada ser é cognoscível na medida em que é de modo que ser e verdade são termos conversíveis. (4) Além da verdade, o bem também se converte no ser, mas é preciso dizer que a verdade é anterior ao bem, sendo mais próxima do ser pois, a verdade diz respeito ao próprio ser, simples e imediatamente, ao passo que a noção do bem se segue ao ser, enquanto este é, de certo modo, perfeito. Ainda, a verdade existe em certas coisas, nas quais não existe o bem, é o caso das matemáticas. Assim sendo, a verdade é anterior ao bem.
       (5) Deus é a Verdade (João 14.6), pois o Seu ser é seu próprio inteligir. (6) A verdade existe primariamente no intelecto e, posteriormente, nas coisas, enquanto estas se ordenam ao intelecto divino. Se, portanto, considerarmos a verdade em sua noção própria, enquanto existente no intelecto, então, em muitos intelectos criados, existem muitas verdades. Se, porém, considerarmos a verdade enquanto existente nas coisas, então estas são todas verdadeiras, em virtude de uma primeira verdade, à qual cada uma delas se assemelha, segundo a sua entidade. E, assim, embora muitas sejam as essências ou as formas das coisas, uma só é a verdade do intelecto divino, em virtude da qual se denominam verdadeiras.
       (7) É só na medida em que a verdade existe na mente divina é que ela pode ser dotada de eternidade. Se nenhum intelecto fosse eterno, nenhuma verdade sê-lo-ia; mas, porque só o intelecto divino é eterno, só nele a verdade tem a sua eternidade. (8) a verdade do intelecto divino é imutável; ao passo que é mutável a do nosso, não porque seja sujeito à mutação, mas porque o nosso intelecto se muda, da verdade para a falsidade; pois, assim, as formas podem-se considerar mutáveis. Mas, a verdade do intelecto divino é aquela pela qual as coisas naturais se chamam verdadeiras, e é absolutamente imutável.

QUESTÃO 17: DA FALSIDADE

       (1) Como o verdadeiro e o falso se opõem, e os contrários têm o mesmo sujeito, necessariamente há de existir, em primeiro lugar, a falsidade, na potência onde, em primeiro, existe a verdade, isto é, no intelecto. Ora, nas coisas não há verdade nem falsidade, senão pela relação delas com o intelecto de modo que uma coisa se pode chamar falsa pela relação essencial com o intelecto de que depende e a que se compara por si. (2) A falsidade pode existir nos sentidos na medida em que os sentidos podem julgar falsamente e, também (3) no intelecto, pois o intelecto pode enganar-se no compor ou dividir, atribuindo à coisa algo que dela não resulte ou lhe seja contrário. (4) Desse modo, a falsidade é o contrário da verdade, assim como a verdade estabelece a acepção adequada à coisa, a falsidade, a que não é adequada. Logo, é manifesto, que a verdade e a falsidade são contrárias.

QUESTÃO 18: DA VIDA DE DEUS

       (1) O inteligir é próprio dos seres vivos, existem seres vivos e seres não-vivos, consideram-se viventes todos os seres que por si mesmos se movem ou agem. Ao contrário, os seres que por natureza não se movem nem agem por si mesmos não podem chamar-se vivos. (2)  Por vida entende-se não as operações de mover e agir em si, mas à substância à qual convém, por naturezas, estas operações. (3) A vida existe em Deus, por excelência, de maneira própria pois, o modo de viver dos que têm intelecto é mais perfeito, pois movem-se a si mesmos mais perfeitamente e, sendo Deus inteligente, conclui-se que tem vida perfeitíssima e sempiterna, porque o seu intelecto é perfeitíssimo e sempre atual. (4) A vida de Deus é o seu inteligir. Ora, em Deus são idênticos o intelecto, o que é inteligido e o próprio inteligir. Logo, tudo o que está como inteligido, em Deus, é o seu próprio viver ou a sua vida. Portanto, estando em Deus todas as coisas que ele fez, como inteligidas, resulta que todas são a sua própria vida divina.

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