O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA (RESUMO)
O que se segue é um resumo do livro “O Nascimento da Tragédia” de Friedrich Nietzsche. Nietzsche foi um
filósofo e filólogo prussiano que no livro em questão aborda as origens da
tragédia grega e defende o renascimento da arte trágica na cultura alemã.. Os
subtítulos adotados neste resumo foram baseados no resumo comentado feito por Jean
Pires de Azevedo Gonçalves. É importante colocar que este
resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem
paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor
original.
O APOLÍNEO E O DIONISÍACO
1. O progresso da
arte está ligado à duplicidade do apolíneo e do dionisíaco. Há no mundo grego
uma enorme contradição entre a arte
figurada plástica (apolínea) e a arte
não-fugurada da música (dionisíaca). Apolo é o deus do mundo figurado dos
sonhos, da aparência e da individualidade enquanto Dionísio é o deus da
embriaguez extática, da realidade inebriante.
2. Os
impulsos artísticos, sem a mediação do artista humano, irrompem da própria
natureza. Todo artista é um “imitador”, quer como artista onírico apolíneo, quer como artista extático dionisíaco, ou ao mesmo tempo como artista onírico e extático, como é o
caso da tragédia grega.
3. Apolo
é o pai de todo o mundo olímpico com seus deuses. Os gregos diante dos
sofrimentos da existência, para conseguirem viver, tiveram de criar o mundo onírico dos deuses olímpicos. A criação
onírica dos deuses olímpicos é a materialização do impulso apolíneo à beleza.
4. Enquanto
Dionísio se relaciona com o Uno-primordial
(impulso primordial comum a todos os indivíduos, pelo qual se universaliza a
arte), Apolo se aproxima do princípio
individual (impulso individual
que diferencia o indivíduo da universalidade). Esse endeusamento da
individuação só conhece uma lei: a observação das fronteiras do indivíduo (a
“medida”). Assim, Apolo é deus da individuação e da medida.
A ORIGEM DA TRAGÉDIA
5. O
espírito dionisíaco-apolíneo tem suas sementes germinais na poesia grega
representada por Homero e Arquíloco, a partir desses germes é que se originou a
tragédia. Apolo está associado à poesia
épica (Homero) e Dioniso, à poesia
lírica (Arquíloco).
6. Arquíloco
foi quem introduziu a canção popular
na literatura. A canção popular, se apresenta como espelho musical do mundo,
como melodia original, que busca uma aparência onírica paralela e a exprime na
poesia. Na poesia épica a linguagem
imita a aparência, já na poesia lírica
a linguagem imita a música (canção popular).
7. A
tradição afirma que a tragédia se originou do coro trágico. O coro não está associado nem a uma questão
político-democrática, nem à ideia de um espectador ideal (Schlegel), antes é
uma muralha viva contra o mundo real (Schiller) tornando-se um consolo metafísico para o grego. Só a
arte pode transformar o absurdo da existência em representações sublimes e
cômicas com as quais é possível viver.
8. A
tragédia grega pode ser compreendida como sendo o coro dionisíaco que sempre se
descarrega em um mundo apolínico de imagens. O dionisíaco se revela na figura
do sátiro, que simboliza a
onipotência sexual da natureza, o sátiro representa a verdade da natureza
contra a mentira da civilização.
9.
Tudo o que na parte apolínea da tragédia grega chega à superfície, no diálogo,
parece simples, transparente, belo. Na tragédia o elemento apolíneo mascara o
elemento perturbador dionisíaco, isso pode ser percebido em mitos como o de
Édipo e de Prometeu.
O SUICÍDIO DA TRAGÉDIA
10.
A tragédia grega tinha por assunto, em sua forma mais antiga, apenas os
sofrimentos de Dionísio. Nunca até Eurípides, deixou Dionísio de ser o herói
trágico, ao contrário, todas as figuras célebres do palco grego, Prometeu,
Édipo e assim por diante, são tão-somente máscaras daquele herói primitivo,
Dionísio.
11. A
tragédia morreu de forma diferente de outras espécies de artes, ela morreu
tragicamente por suicídio enquanto as outras expiraram com a morte avançada.
Esse suicídio se deu por Eurípedes com a nova
comédia ática.
12. A
tendência de Eurípedes consistiu em tentar tirar o elemento dionisíaco da
tragédia e voltar a construí-la de maneira nova sobre uma visão de mundo
não-dionisíaca. A nova comédia de Eurípedes não traz nem a voz de Apolo, nem a
de Dionísio, mas a voz de Sócrates. A essência desse socratismo estético é a lei segundo a
qual tudo deve ser inteligível para ser
belo.
13. O
ponto central da tendência socrática está em condenar a arte vigente como falta
de compreensão, de modo que Sócrates, que se considera único e superior por
reconhecer que nada sabe, assumiu como função corrigir a existência e ser
precursor de uma arte nova e inteiramente diferente.
14. Para
Sócrates a arte trágica não dizia a verdade e se dirigia a pessoas que não tem
muita inteligência de modo que o filósofo deveria se manter afastado dela. Nos
diálogos de Platão, a arte é considerada uma cópia da cópia de modo que ela é
inferior ao conhecimento teórico.
15. Com
Sócrates nasce o homem teórico a
quem importa mais a busca da verdade do que a própria verdade. O homem teórico
marca o início de uma nova era que se inicia com a morte da tragédia.
O RENASCIMENTO DA TRAGÉDIA
16. Como
já foi considerado, a arte não é derivada de um único princípio, mas sim da
duplicidade entre o a arte plástica,
como arte apolínea, e a música, como arte dionisíaca. Schopenhauer foi o grande pensador que reconheceu
na música o caráter único por não
ser um reflexo do fenômeno, mas sim da Vontade, a coisa em si.
17. A
música é uma arte essencialmente dionisíaca. A arte dionisíaca busca
convencer-nos da eterna alegria da existência sendo um consolo para os horrores
da existência. Essa alegria não está nos fenômenos, mas por traz deles, no uno
vivente, com cujo gozo procriador estamos fundidos. A obra de arte trágica dos gregos
se originou do espírito da música. A
tragédia saiu de cena com a concepção teórica do mundo, no entanto a música
aparece como resistência dionisíaca a essa concepção teórica, mas não a música
degenerada em pintura musical, mero reflexo
da aparência, mas a verdadeira música, a força criadora dos mitos.
18. A
vontade é insaciável, busca-se resistir a ela por meio de três graus de ilusão:
(i) ilusão socrática: pelo conhecimento, (ii) ilusão artística: por meio da arte ou (iii) ilusão trágica: através do consolo metafísico. A partir
dessas ilusões há ou uma cultura alexandrina
(socrática), ou então grega (trágica),
ou budista (artística). O mundo
moderno está preso à cultura alexandrina, tendo como ideal o homem teórico. Kant e Schopenhauer, ao
mostraram os limites da pretensão do saber teórico, representam uma vitória
contra a cultura alexandrina de modo que eles dão início a uma nova cultura
trágica.
19. A
cultura socrática-alexandrina pode
ser caracterizada como cultura da ópera,
a ópera subordina a música à palavra sendo o nascimento do homem teórico, não
do artista.
20. Somente
no renascimento da antiguidade grega
(renascimento da tragédia) podemos
encontrar esperanças para uma purificação e renovação do espírito alemão por
meio da música.
21. Somente
dos gregos é possível aprender a importância do despertar da tragédia para a
vida de um povo. A força da tragédia tem o enorme poder de purificar e excitar
a vida de um povo além de ter o poder de levar a música à sua perfeição e de
colocar ao seu lado o mito trágico.
22. Com
o renascimento da tragédia renasceu também o ouvinte estético que com o auxílio da música pode mergulhar nos
mais delicados mistérios das emoções inconscientes.
23. O
homem teórico é o homem sem mito, enquanto o ouvinte estético é capaz de
compreender o milagre do mito. O renascimento da tragédia no espírito alemão
tem sua esperança no renascimento do
mito alemão a partir da música e do exemplo dos gregos.
24. A
existência e o mundo somente parecem ser justificados como fenômenos estéticos: nesse sentido o mito trágico nos deve convencer de que mesmo o feio e o desarmonioso
são um jogo artístico que a vontade, na eterna plenitude de seu prazer, joga
consigo mesma. Só a música pode dar uma ideia do que significa essa justificação do mundo como fenômeno
estético. Há, assim, um íntimo parentesco entre a música e o mito trágico de
modo que um depende do outro, na tragédia encontramos, renascido da música, o
mito trágico e é nele que se deve colocar a esperança diante da degradação
vivida pelo espírito alemão.
25. Música
e mitos trágicos são expressões
idênticas da capacidade dionisíaca do povo, sendo inseparáveis um do outro,
ambos justificam a própria existência do “pior dos mundos”. O dionisíaco,
medido no apolínio, revela-se como a força artística eterna e primitiva, que dá
origem a todo o mundo dos fenômenos. Ambos os impulsos artísticos, o dionisíaco
(elemento perturbador) e o apolíneo (máscara que permite suportar os elementos
trágicos da existência), veem-se obrigados a desenvolver as suas forças em
proporções recíprocas.
Comentários