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SUMA TEOLÓGICA I - QUESTÕES 19 - 26 (RESUMO)



       O que se segue é um resumo das questões 19 a 26 da Primeira Parte da Suma Teológica de Tomás de Aquino. As questões 12 a 18 discutiram o tema do conhecimento divino, agora, das questões 19 a 24, Aquino trata do que pertence à Vontade divina. O primeiro tratado será sobre a vontade mesma de Deus (19); o segundo sobre o que pertence à vontade, em absoluto – o amor de Deus, Sua justiça e misericórdia (20-21); o terceiro sobre o que pertence ao intelecto, em relação com a vontade - a providência, a respeito de todos os seres; da predestinação, da reprovação e do que delas depende, em relação especialmente ao homem, em ordem à salvação eterna (22 -24). A questão 25 considera a Potência divina e a questão 26 da Beatitude divinaÉ importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.


QUESTÃO 19:  DA VONTADE DE DEUS

       (1) Tendo Deus intelecto, necessariamente também tem vontade, pois esta acompanha aquele. (2) Deus não somente quer a si mesmo, mas também quer coisas diversas a si, a si, porém como fim, às coisas diversas como meios. (3) Os meios Deus não quer necessariamente de modo que não é necessário de necessidade absoluta, que Deus queira coisas diversas de si. (4) Assim, a vontade de Deus, não a necessidade, é a causa das coisas. A isso é possível apresentar três razões: (i) sendo Deus o primeiro na ordem das causas agentes, necessariamente há de agir pelo intelecto e pela vontade; (ii) o ser divino não sendo determinado, não age por necessidade de natureza, mas pela determinação da sua vontade; (iii) visto que, as coisas preexistem em Deus de modo inteligível, também dele procedem de modo inteligível e, consequentemente, ao moda da vontade.
       (5) De nenhum modo a vontade de Deus tem causa, pois, sendo a causa sempre maior que seu efeito e nada sendo maior que a vontade de Deus, não se deve buscar uma causa para a vontade de Deus. (6) A vontade de Deus sempre se cumpre, pois sendo a vontade de Deus a causa universal de todas as coisas, é impossível que ela não consiga seu efeito de modo que o que escapa à vontade divina, numa ordem, entra nela por outra.  (7) Sendo a substância e o conhecimento de Deus imutáveis, a vontade de Deus é absolutamente imutável. (8) Deus quer que algumas coisas se façam necessariamente, enquanto outras, Deus quer que se façam contingentemente de modo que a vontade de Deus não impõe necessidade a todas as coisas.
      (9) Deus de nenhum modo quer o mal moral, mas quer o mal de pena, querendo algum bem ao qual se une esse mal. (10) Sendo que as coisas diversas, Deus não as quer necessariamente, em relação a elas, Deus tem livre-arbítrio. (11) Embora a vontade de Deus seja una, a vontade pode ser atribuída a Deus propriamente ou metaforicamente. A vontade propriamente dita se chama beneplácito e a vontade metaforicamente dita se chama de vontade de sinal. (12) Pode se distinguir cinco sinais da vontade divina:  operação (diretamente, quando uma coisa é feita em si mesma), permissão (indiretamente, quando não há impedimento para o operante), preceito (por meio de outro, ordenando a fazer o que se quer), proibição (proibindo o que não se quer), conselho (por meio de uma persuasão).

QUESTÃO 20: AMOR DE DEUS

       (1) Deus é amor. (2) Deus ama tudo o que existe, porque tudo o que existe, na medida em que existe, é bom. Sendo o amor querer o bem do objeto amado, a cada ser existente Deus quer algum bem. (3) Quanto ao ato da vontade que é uno, Deus ama a todos os seres igualmente, no entanto, quanto ao bem mesmo que se quer ao objeto amado, na medida em que existem seres melhores que os outros, Deus ama a uns seres mais do que outros. (4) Desse modo, Deus ama sempre mais os seres melhores.

QUESTÃO 21: DA JUSTIÇA E DA MISERICÓRDIA DE DEUS

       (1) Na medida em que Deus distribui a todos os seres o que convém a dignidade de cada um, de modo que Deus é Justo. (2) A justiça de Deus, que constitui a ordem de todas as coisas, conforme a ideia de sua sabedoria, que lhes serve de lei, chama-se convenientemente verdade. (3) Deus também é misericordioso e pela misericórdia, a perfeição dada às coisas por Deus eliminam-lhes todos os defeitos.  (4) Há justiça e misericórdia em todas as obras de Deus. Tudo o que Deus faz, nas criaturas, o faz em ordem e proporção convenientes, e nisso consiste a essência da justiça e a obra da justiça divina sempre pressupõe a da misericórdia pela qual Deus, pela abundância de sua bondade, dispensa o devido a uma criatura mais largamente do que o exigiriam as proporções dela.

QUESTÃO 22: DA PROVIDÊNCIA DE DEUS

      (1) Chamamos de providência divina à razão da ordem dos seres para um fim. (2) Todos os seres estão sujeitos à providência divina, não só universal, mas também singularmente, pois, sendo a providência de Deus a razão da ordem de todas as coisas para o fim, todos os entes estão necessariamente sujeitos à providência divina. (3) Duas coisas cabem à providência:  a razão da ordem dos seres a quem ela provê a um fim e a execução dessa ordem, a que se chama governo. Quanto à primeira, Deus, tendo no Seu intelecto a razão de todos os seres, a todos provê imediatamente. Quanto à segunda, que governa os inferiores pelos superiores, Deus emprega certos seres médios. (4) Pertence à providência divina criar todos os graus de seres, por isso, adaptou causas necessárias a certos efeitos, para estes se realizarem necessariamente, a outros, porém, causas contingentes, para se realizarem contingentemente.

QUESTÃO 23: DA PREDESTINAÇÃO

       (1) Convém a Deus predestinar os homens pois pertence à providência divina ordenam os seres criados a um fim, incluindo os homens à vida eterna. (2) A predestinação não é uma realidade nos predestinados, mas no predestinador pois a predestinação é uma certa razão da ordem de determinados seres para a salvação, existente na mente divina. (3) Assim como a predestinação pela qual Deus ordenou certos homens à vida eterna faz parte da providência, a reprovação, pela qual Deus odeia e reprova aos que não quer o bem da vida eterna. (4) O conceito de predestinação pressupõe o de eleição, pois Deus predestina a uns e não a outros. (5) A predestinação não se baseia em méritos previstos por Deus, só a divina vontade é a razão da eleição de uns para a glória e da reprovação de outros.
       (6) A predestinação é certíssima e infalivelmente produz seu efeito. (7) O número dos eleitos também é certo, embora só Deus o conheça. (8) Duas coisas se devem considerar na predestinação: a preordenação divina em si mesma e seu efeito. Quanto à preordenação, de maneira alguma a predestinação pode ajudar-se das orações dos santos, pois estas não fazem que ninguém seja predestinado por Deus, quanto ao efeito, no entanto, a predestinação se ajuda das orações dos santos, pois a providência divina não provê apenas o fim, mas também os meios.

QUESTÃO 24: DO LIVRO DA VIDA

      (1) Em relação a Deus, falamos metaforicamente do livro da vida, este livro é a inscrição dos predestinados. (2)  Sendo a inscrição ou conhecimento dos eleitos à vida, o livro da vida só concerne à vida gloriosa dos predestinados. (3) Uma pessoa é ordenada à vida eterna por duas causas: por predestinação divina, que nunca falha e pela graça, que depois de recebida pode ser perdida mediante o pecado mortal, e nesse sentido se pode dizer que alguém é riscado do livro da vida.

QUESTÃO 25: DA POTÊNCIA DIVINA

       (1) Há duas espécies de potência: a potência passiva (princípio de sofrer a ação exterior), que de nenhum modo existe em Deus, e a potência ativa (ser princípio ativo de um efeito), que deve ser atribuída a Deus, soberanamente. (2) Sendo o ser de Deus pelo qual ele age, infinito, a potência divina também é infinita. (3) Deus é Onipotente, mas isso deve ser entendido no sentido de que Deus pode tudo o que é absolutamente possível, o que exclui o contraditório, (4) como tornar o passado inexistente.
       (5) Na medida em que Deus não age como que por necessidade de natureza e na medida em que a sabedoria divina não está determinada a nenhuma ordem dos seres com exclusão de qualquer outra, podemos concluir que Deus pode, absolutamente falando, fazer coisas diferentes do que faz. (6) Na realidade. Deus poderia fazer coisas melhores que as que faz.

QUESTÃO 26: DA BEATITUDE DIVINA

        (1) A Deus convém a máxima beatitude, pois, o que se entende por beatitude é o bem perfeito da natureza intelectual, o qual compete conhecer a suficiência do bem que possui. Sendo Deus, perfeito e inteligente, a máxima beatitude lhe convém. (2) Dado que a beatitude significa o bem perfeito da natureza intelectual, devemos atribuir a Deus a beatitude pela inteligência, isto é, Deus é feliz pelo intelecto.
       (3) A beatitude de natureza intelectual consiste num ato do intelecto, no qual podemos considerar dois elementos: o objeto do ato, que é o inteligível, e o próprio ato, que é o inteligir. Considerada, pois, em relação ao seu objeto, a beatitude é só de Deus, porque só é feliz que intelige Deus. Mas, relativamente ao ato de quem intelige, a beatitude é algo de criado, nas criaturas feliz embora em Deus seja algo de incriado. (4) A beatitude é uma certa perfeição, dado que a divina perfeição inclui todas as outras, a beatitude divina inclui todas as outras. Quanto à felicidade contemplativa, Deus tem contínua contemplação de si e de todos os seres, quanto à felicidade ativa, tem o governo de todo o universo, quanto à felicidade terrena, tem a alegria de si mesmo e de todos os demais seres.

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