A PROCESSÃO ETERNA DO ESPÍRITO SANTO
As Escrituras ensinam que o Filho é
gerado eternamente do Pai e recebe dele, por comunicação, a essência divina autoexistente
no próprio ato da geração (Provérbios 8.22-26; Miquéias 5.2; João 5.26;
Colossenses 1.19). Se a base para uma segunda Pessoa na Divindade é a geração
do Filho pelo Pai, o princípio de um terceiro modo de subsistência em Deus se
dá na processão eterna do Espírito do Pai e do Filho.
BASE BÍBLICA[1]
O Filho disse a respeito do Espírito: “Mas, quando vier o Consolador, que eu da
parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai,
ele testificará de mim.” (João 15.26). É importante notar que diferente dos
verbos no futuro usados para falar do envio do Espírito (João 14.26), o verbo “procede” (grego: “ekporeuetai”[2])
está no presente, isto é, a emanação do Espírito do Pai é contínua e estava
acontecendo no momento em que Jesus estava falando. A ideia é que Jesus enviará
o Espírito da parte do Pai no tempo (economia) porque na eternidade (imanência)
o Espírito procede do Pai. O Filho diz que ele é quem enviará o Espírito, de
modo que o Espírito também deve proceder do Filho[3]. Levando em
conta a primeira parte da Regra de Rahner (“A Trindade Econômica é a Trindade
Imanente”) que diz que a revelação da Trindade no tempo reflete aquilo que Deus
é na eternidade, o envio do Espírito da parte do Pai pelo Filho corresponde a
uma relação de emanação do Espírito do Pai e do Filho na eternidade.
Paulo escreveu: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito
de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal
não é dele.” (Romanos 8.9). Aqui, o Espírito é relacionado tanto a Deus Pai
(grego: “Pneuma Theou”), quanto a Cristo, o Filho (grego: “Pneuma Christou”)[4],
de modo que se pode dizer corretamente que o Espírito Santo procede de ambos.
A filioque
(procedência do Espírito “do Filho”) também é confirmada [5] em
Gálatas 4.6: “E, porque sois filhos, Deus
enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” O texto diz que Deus Pai “envia”
(grego: “exapesteilen” – “enviado para e a partir de” [6]) o
Espírito. Como já dito, essa manifestação econômica é um reflexo da processão
eterna do Espírito a partir do Pai. Mas o Espírito procedente do Pai também é
chamado “Espírito de Seu Filho” (grego: “Pneuma tou Huiou” [7]), de modo a proceder dele também. Esse
texto faz parte dos 50 padrões trinitárias do Novo Testamento, e, portanto
revela a relação das três Pessoas da Trindade [8].
Em
linguagem simbólica lemos no Livro de Revelação: “E mostrou-me o rio puro da
água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro.”
(Apocalipse 22.1). Se a “água da vida” nesta passagem é um símbolo do Espírito
Santo (confira: João 7.39), então o texto apresenta o Espírito como procedendo
(grego: ekporeuomenon) do (grego: “ek”) [9] Pai e do Filho. A
expressão “do” (“ek”) tem o sentido de algo que “sai das profundezas da fonte e
estendendo seu impacto sobre o objeto” [10]. Aqui, o Pai e o Filho são
apresentados em um único trono, de modo que não há duas procedências e dois princípios,
uma a partir do Pai e outra a partir do Filho, mas uma mesma procedência do Pai
e do Filho.
BASE HISTÓRICA [11]
O desenvolvimento histórico da doutrina
da processão eterna do Espírito pode ser visualizado neste pequeno esboço:
Irineu de Lyon (130 – 202): O Filho e
o Espírito Santo são as “mãos” de Deus.
Atenágoras de Atenas (133 – 190): O Espírito é a
emanação do Pai.
Tertuliano (160 – 220): O Filho e
o Espírito são porções procedentes da substância total do Pai.
Gregório de Nazianzo (329 – 390): O
Espírito Santo é consubstancial com o Pai e com o Filho.
João de Damasco (676 – 749): O
Espírito Santo procede somente do Pai e repousa no Filho.
Anselmo de Cantuária (1033 – 1109): O
Espírito Santo procede do Pai e do Filho por uma espiração única.
Gregório de Palamas (1296 – 1357): O
Espírito procede somente do Pai no nível da essência, mas procede do Pai e do
Filho no nível da energia.
Thomas Torrance (1913 – 2007): O Espírito Santo
procede da substância da Trindade, de modo que é correto dizer tanto que o
Espírito procede do Pai e do Filho, quanto que Ele procede do Pai através do Filho.
QUESTÕES
CONFESSIONAIS
De acordo
com o Credo niceno-constantinopolitano,
devemos confessar "O Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e
do Filho”. [12] O Credo
Atanasiano ordena a todos os que quiserem ser salvos que confessem: “O
Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado,
mas procedente.”[13]
De acordo com a Confissão de Fé de Westminster: “o
Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho.” [14] O Catecismo Maior de Westminster diz que:
“o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, desde toda à eternidade.”
[15] Creio que esses símbolos de fé apresentam de maneira exata e bíblica
a relação do Espírito com o Pai e o Filho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com as
Escrituras, o Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, tem sua
Origem na eternidade, emanando do Pai e do Filho. De acordo com Agostinho:
“Com
respeito às relações mútuas na Trindade, se aquele que gerou é o princípio do
gerado, o Pai é o princípio em referência ao Filho, porque o gerou. Entretanto,
não é uma investigação de pouca importância inquirir que se o Pai é também
princípio em relação ao Espírito Santo, pois está escrito: procede do Pai. Se assim for, é princípio não somente do que gera
ou faz (o Filho), mas também da Pessoa que ele dá (o Espírito). [...] [O
Espírito Santo] Saiu do Pai, sim, mas não como nascido, mas como Dom, e por
isso, não se pode dizer filho, já que nasceu como o Unigênito e nem foi criado
como nós, que nascemos para a adoção filial da graça de Deus” [16]
A doutrina da processão eterna do
Espírito deve nos mover em gratidão ao fato de Deus ter enviado a nós o
Espírito de Seu Filho, o qual aplica nos eleitos os benefícios da redenção. Louvamos
a Deus pelo maravilhoso Dom do Espírito.
FONTES:
[1] SILVA, A. A. o. (2014). A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como
igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste
Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, pp. 118, 120, 143.
[3]
GEISLER, N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio
de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, p. 1142.
[5] BERKHOF, L. (2012). Manual
de doutrina cristã. São
Paulo: Cultura Cristã, p. 64.
[16] A
Trindade, 5.15; 5.6; 5.8; 5.15 citado por: FERREIRA, F. & MYATT (2007).
Teologia Sistemática - VIDA NOVA, pp.
181 – 182.
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