LEIA TAMBÉM (CLIQUE NA IMAGEM)

SOBRE A SEITA TEONOMISTA DA QUAL FIZ PARTE




Este artigo foi originalmente publicado em 2019 para relatar minha experiência em uma seita da qual fui vítima. Em 2021, tomei conhecimento de que o líder da seita havia sido excluído e que o grupo seguiu por outros caminhos. Após confirmar com uma pessoa do grupo que a igreja passou por uma transformação, decidi retirar o texto do ar, pois ele poderia não refletir mais as crenças e o funcionamento atual do grupo.

Agora, em 2024, decidi deixar o texto público novamente com algumas alterações, uma vez que parece que o grupo não existe mais. As mudanças são as seguintes:

1. Não mencionarei mais o nome original da Igreja, referindo-me ao grupo apenas como "seita teonomista de Uberlândia". Isso visa evitar a associação do nome da Igreja com a classificação de seita ou com informações que possam não refletir o estado posterior do grupo.
2. Esclareço que o grupo pode ser classificado como seita apenas enquanto esteve sob a liderança de Lucio Antônio de Oliveira. Como não acompanhei os acontecimentos posteriores, não posso afirmar se o grupo ainda se enquadraria nessa classificação.
3. Ainda que o grupo tenha sido uma seita sob a liderança mencionada, não considero que os membros do grupo sejam pessoas ruins. Assim como eu, eles foram vítimas de uma liderança sectária. Portanto, não tenho nada contra as pessoas que fizeram parte do grupo e mantenho gratidão pelas amizades que tive.

Por que decidi republicar o texto com ajustes, mesmo que o grupo não exista mais?

1. O antigo líder da seita ainda mantém críticas contra mim em seu blog pessoal, além de negar ter sido líder de uma seita (aqui). Este texto serve como prova de que ele realmente foi líder de uma seita.
2. Para registrar o que aconteceu com a seita, estabelecendo fatos e evidências sobre os eventos que ocorreram.
3. Para alertar outras pessoas sobre os perigos da teonomia e do reconstrucionismo, mostrando que essa ideologia não é inofensiva.
4. Para defender a Igreja Presbiteriana que foi prejudicada pela seita, registrando as verdadeiras razões pelas quais ela surgiu.

---


Por vezes nos encontramos diante de deveres éticos difíceis de cumprir. Um dever ético que me tem sido imposto há um tempo é o de denunciar uma seita perigosa, que prejudicou efetivamente a saúde psicológica de jovens e que promove uma teoria política que se executada produziria um Estado que condenaria homossexuais à morte e legitimaria a escravidão. Nada escrito aqui é com base em ressentimento ou desejo de vingança, pelo contrário, tudo que se segue é por um desejo sincero de estabelecer a verdade e seguir o que acredito ser eticamente um dever meu. Busquei ser o mais fiel possível aos fatos e trazer elementos que provem o que estou dizendo.
É comum vermos testemunhos e relatos de pessoas que sofreram na mão de seitas perigosas, apesar de toda lavagem cerebral sofrida nessas seitas, essas pessoas tiveram coragem de denunciar os abusos e maltrato que sofreram. Fizeram isso com medo e receio, pois as seitas nos fazem sentir culpados quando as questionamos, elas nos ameaçam com a condenação eterna e escravizam nossas mentes com o medo. Essas pessoas, no entanto, tinham amigos nas seitas, sabiam do perigo que elas representam e sentiram compungidas por um dever ético a denunciar as seitas para proteger pessoas, para evitar que outros fossem enganados e denunciar a maldade delas. 
O objetivo deste artigo é apresentar a seita teonomista que fiz parte e que era liderada pelo autodeclarado pastor “Lucio Antônio de Oliveira”, seita que realizava suas reuniões e práticas na cidade de Uberlândia - MG. O pastor alega ter sido ordenado por "eleição", a eleição, foi no entanto, meramente simbólica, pois o líder já havia dito antes que outra pessoa não poderia ser elegida como o pastor a não ser ele. A maior parte do grupo era constituída por alunos da UFU, que buscavam sempre ter influência acadêmica na medida do possível. Inclusive, um estudante da UFU que conhece o grupo, preocupado escreveu: 
“Esse grupo é composto por pessoas extremamente radicais e preconceituosas que ganham outras pessoas através da aparente educação, simpatia e carisma que eles, inicialmente, apresentam. Dizem eles que, para conquistar a confiança de uma pessoa, deve-se primeiramente agir assim, pois fica mais fácil implantar seus ideais nelas. É assim que eles aumentam seu grupo cada vez mais. Infelizmente muitas pessoas da UFU sabem da existência desse grupo, inclusive professores, mas não fazem nada” 
Para entender sobre o grupo, é importante apresentar, sua história, crenças e práticas, mostrando porque esse grupo pode ser considerada uma seita, uma seita por sinal extremamente perversa. 

I. HISTÓRIA DA SEITA 

Lucio Antônio de Oliveira, o fundador da seita, sempre teve uma relação conflituosa com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Disciplinado por causa de um divórcio polêmico e acusando sempre as lideranças da igreja de serem “heréticas” e não suficientemente fiéis à “fé reformada”, Lucio passou a condenar o presbiterianismo brasileiro de estar contaminado de “pentecostalismo” e “teologia da prosperidade”. Sua relação com a igreja presbiteriana sempre foi marcada por atitudes de rebeldia e insubmissão. 
Com o tempo, Lucio foi conseguindo organizar em torno de si um grupo de jovens na cidade de Uberlândia. A maioria desses jovens eram universitários e viam nele uma espécie de líder e mentor intelectual e no seu grupo um espaço de acolhimento para universitários longe da família. 
 Por meio de um programa aplicado numa escola bíblica dominical em uma igreja presbiteriana em Uberlândia, Lucio instituiu um curso que serviu para doutrinar em suas ideias radicais, seus jovens seguidores. O curso se divide em três partes, na primeira, os alunos são apresentados a princípios biblicistas-fundamentalistas de hermenêutica, em seguida eles recebem aulas sobre Credo Apostólico, parte do curso que se ocupa em grande medida em apresentar a visão reformada como sinônimo de visão cristã sob a ideia de que o calvinismo e o evangelho são o mesmo e caracterizando como “heréticos” aqueles que discordam dessa visão e das doutrinas ensinadas pelo grupo. Por fim, os alunos, já doutrinados e tendo sofrido uma “lavagem cerebral”, são introduzidos a um estudo da Lei, hoje sob o ponto de vista teonomista, que prega uma restauração da Lei do Antigo Testamento. 
Para que os alunos sejam devidamente doutrinados e introduzidos gradualmente nas ideias radicais do grupo, eles são orientados a não se anteciparem quanto ao que será ensinado, e a lerem coisas que somente tenham a ver com o estágio do curso em que estão. É verdade que antes do grupo se tornar oficialmente teonomista, essa ordem de assuntos já existia e não há nada de errado nessa ordem de temas em si. Mas a partir do momento em que o grupo assume a teonomia, é importante perceber que é só no último estágio do curso que os membros entram em contato com o ensino mais radical da seita. Por meio desse curso, os membros do grupo são, assim, doutrinados de tal forma que as ideias do grupo sejam gravadas em suas mentes, todo o modo de pensar do grupo é moldado de tal forma que é quase impossível se libertar das ideias impostas pela seita. O processo de doutrinação da seita escraviza a mente e fecha-a a qualquer possibilidade de dúvida e questionamento. 
Tendo se saído bem em doutrinar uma quantidade razoável de jovens seguidores, Lucio rompeu com a Igreja Presbiteriana do Brasil, dividindo uma igreja sob o falso pretexto de estar lutando contra um pastor herege. Acusando o culto de todas as igrejas da região de serem “idólatras” e “apóstatas”, o grupo se separou de todas as igrejas e iniciou um movimento independente. A verdade é que o grupo já funcionava de maneira independente antes da divisão oficial, tendo processos de disciplina e marcando culto alternativo no mesmo horário do culto da igreja. Aqui se pode ler a carta que o grupo enviou à igreja para justificar a divisão, a carta foi elaborada antes mesmo da decisão ter sido oficializada, o que mostra que ela já estava decidida antes de tentar chegar a um acordo com a igreja. O documento pode ser lido (aqui).
O líder do grupo não se importou com o mal que essa divisão causou à congregação presbiteriana da qual o grupo se separou. Todo o cisma, sob falsos pretextos, foi movido, na realidade, por rebeldia e revolta, seguidores cegos de seu líder, fundamentalista fanático, insubmisso contra qualquer autoridade. Movidos pela arrogância desse líder, esses jovens se consideraram donos da verdade e autorizados a enfrentar lideranças religiosas de maneira agressiva e prepotente.  
A Igreja foi fundada no dia 07 de Outubro de 2017. Lucio se declarou uma espécie de “novo Lutero” e disse, aproveitando-se do fato de que a igreja foi fundada no mês que se comemorava 500 anos de reforma protestante, que o grupo estava repetindo o que Lutero fez. Assim, a igreja presbiteriana foi comparada à igreja medieval dita “apóstata” enquanto o grupo se nomeou como novos Luteros, corajosos contestadores das lideranças eclesiásticas e iniciadores de um movimento que, críamos nós, revolucionaria o mundo.  
Fundada sobre mentiras, difamações, brigas, disputas e contendas, a seita desde o começou foi marcada por escândalos, conflitos e polêmicas. Logo Lucio foi revelando suas posturas autoritárias, incapaz de mudar de ideia, pronto a condenar, demonizar e expulsar qualquer um que dele discordasse. As ideias radicais de Lucio e que foram adotadas sem questionamento pelo grupo foram se tornando cada vez mais claras e são essas crenças que serão consideradas na próxima seção. 
 A seita coloca seus membros sob forte cobrança, tanto de conhecimento, quanto de prática moral, quantidade de horas de estudo e de fidelidade e dedicação exclusiva à seita. Questionamentos são tidos como “mentiras” e “difamações” e são fortemente repreendidos. Os que não conseguem cumprir as exigências do grupo são expulsos, rejeitados, ostracizados e demonizados. Qualquer que discorde do grupo é visto como “inimigo” e “traidor”. Nesse contexto autoritário e altamente exigente, alguns membros começaram a desenvolver crises psicológicas, incluindo crises de ansiedade, depressão, pânico e esquizofrenia. No entanto, o grupo assumiu a posição de que tais crises eram “pecado”, aconselhou seus membros a não buscarem tratamento psicológico ou psiquiátrico e adotou medidas de punição para lidar com os casos.  
 

II. CRENÇAS DA SEITA

A seita pode ser considerada como parte do ultra-puritanismo. A principal doutrina que os alinha ao ultra-puritanismo é a crença no chamado princípio regulador do culto. De acordo com uma leitura radical desse princípio, todo culto que não é feito em conformidade com o padrão puritano é apóstata e idólatra. Isso inclui cultos em que o pregador cometa erros doutrinários em sua pregação, em que haja avisos durante o culto, teatros ou danças, manifestações de dons espirituais sobrenaturais ou qualquer elemento não considerado litúrgico pelos puritanos. 
 É importante considerar que o princípio regulador do culto é uma doutrina clássica da tradição reformada e que ele não torna um movimento uma seita, o que está sendo considerado aqui é a leitura ultra-puritana feita desse princípio para justificar o exclusivismo. A seita em questão acreditava ser a única na região inteira a ter um culto puro, isso significa que eles consideram idólatras, heréticas e apóstatas, todas as inúmeras igrejas que existem em Uberlândia e região. 
A segunda crença da seita que merece consideração é o reconstrucionismoreconstrucionismo é a doutrina político-teológica que pretende reconstruir na contemporaneidade um Estado teonomista ou teocrático. Os reconstrucionistas propõem pena de morte para dezenove categorias sociais, 
apoiam a censura e a escravidão, se opõem à liberdade religiosa e defendem a morte de homossexuais, adúlteras e pessoas que possam ser tidas como “propagadoras de falsas doutrinas”.  Quem quiser ler mais sobre o reconstrucionismo, pode consultar este texto: O Reconstrucionismo e o perigo do cristofascismoQue a seita adotava essa ideologia pode ser visto a partir do print a seguiur de uma palestra da seita:

    Abaixo há um print do que estava no site oficial da seita, dizendo que eles possuem em comum com o nazismo, a defesa da pena de morte para homossexuais:


 Os seguinte prints também mostra o líder da seita defendendo escravidão como algo "bom, belo e pertinente". A passagem bíblia a qual ele se refere tem o seguinte trecho: "Se alguém ferir a pauladas o seu escravo, e ele morrer na hora, o que bateu será castigado. Mas, se o escravo morrer só um ou dois dias depois, o dono não será castigado, porque ele é propriedade do seu senhor." - Êxodo 21.20 - 21 






A terceira doutrina que merece especial consideração é o nouteticismo. O nouteticismo é a doutrina segundo a qual os transtornos mentais são pecados e que não devem ser tratados do ponto de vista médico ou psicológico, mas do ponto de vista hamartiológico, isto é, como pecados que devem ser condenados e dos quais a pessoa que sofre deve ser culpada. O nouteticismo muitas vezes diz que se submetido ao tratamento religioso, num período de 6 a 8 semanas, caso a pessoa continue tendo crises psicológicas, ela deve ser considerada como impenitente, isto é, falsamente arrependida e, assim, excomungada.  Quem quiser conhecer mais sobre o nouteticismo, pode consultar este texto: O que há de errado com Jay Adams?. Neste post pode ser verificado a adoção da posição nouteticista de Jay Adams pelo líder da seita (aqui). 

Aqui se vê o perigo desta seita. A seita é por si mesma adoecedora e cria um ambiente propício para o surgimento ou agravamento de transtornos psicológicos. Esses transtornos serão, dentro da seita, tratados com métodos punitivos travestidos de “disciplina eclesiástica”. Métodos de culpabilização que agravam o caso e que podem culminar em medidas de ostracismo e isolamento. Estamos falando de uma seita que pode potencialmente matar, levar pessoas ao suicídio e que apregoa abertamente a morte. 
A última doutrina a ser mencionada é muito própria do grupo, pode ser chamada de excomunhão ostracista. É comum religiões adotarem medidas de excomunhão em casos extremos. Grupos religiosos mais radicais, como as Testemunhas de Jeová, adotam medidas de excomunhão em que a pessoa é ostracizada, desassociada. Mas nenhuma seita que eu conheço tem uma medida de excomunhão tão radical quanto a da seita aqui considerada. 
Na seita, após medidas punitivas, um membro pode ser, por um processo impessoal, notificado de que não pode mais frequentar as reuniões do grupo. A pessoa expulsa é, em seguida, demonizada para o grupo e tratada como inimiga. Se a pessoa for considerada “perigosa” para a seita, os membros são orientados a não manterem contato com o expulso e até a bloqueá-lo nas redes sociais. Além de ser proibido de ir às reuniões da seita, a pessoa é orientada a ficar em casa isolada, sem contato com outros cristãos e interditada a procurar outra igreja para fazer parte ou para ir. Que o ostracismo é prática da seita pode ser lida neste post de um dos membros (aqui).  



De acordo com o líder da seita, uma pessoa pode, inclusive, ser disciplinada caso vote em um candidato político não apoiado por eles. Há uma defesa aberta do voto de cabresto.  Em um sermão na seita é dito: “Você não tem liberdade  de voto”, que se um membro de sua igreja votar em alguém que ele não indica, deverá ser  “disciplinado” pela Igreja, que pessoas podem ser “intimidadas” pelo pastor sobre em quem  votar e que mesmo o voto sendo secreto, não adianta a pessoa mentir sobre em quem votou,  porque Deus sabe tudo”. Segundo ele:: “Voto de cabresto é voz profética, o pastor pode falar ‘é pecado votar neste candidato’”, se a pessoa desrespeitar o pastor, de acordo com o sermão, ela deve ser “disciplinada" (vídeo aqui). Nas eleições de 2018, o líder da seita criou até mesmo um abaixo assinado entre pastoras em favor de instruírem os cristãos a votarem em Bolsonaro:



Eu vivi todo um processo horrível de ostracismo por parte do grupo e infelizmente não fui o único, um relato do que eu sofri pode ser lido (aqui). Quantos mais terão que sofrer nas mãos dessa seita para que seu perigo seja percebido? 



 
Depois de expulso fiquei internado em um hospital por causa de crises esquizofrênicas, durante essas crises eu fiz coisas que eram potencialmente perigosas para minha vida, como passar álcool por todo corpo ou invadir uma casa em surto psicótico e ser agredido fisicamente pelo proprietário. Por causa da gravidade desses surtos, eu precisei ficar internado em um hospital e dopado com remédios fortes e injeções. Ainda assim, a seita não deixou de considerar meu estado como pecado que precisava ser punido, além de defenderem que era errado buscar ajuda médica ou psicológica. É possível conferir uma foto minha de quando eu fiquei internado no hospital (aqui). Até hoje tenho de tomar remédios psiquiátricos, tanto contra depressão, quanto contra esquizofrenia. 
Após as crises psicológicas (passei seis meses em estado psicótico), por causa da culpa que a seita impôs sobre mim e pelo sentimento de inutilidade, eu pensei várias vezes em suicídio e passei por uma fase de depressão bastante pesada em que a única coisa que eu conseguia pensar era em me matar. A seita continuou a dizer que minha depressão era uma desculpa para meus pecados e que eu deveria permanecer isolado e excluído.  
Deve nos assustar quando um líder religioso sabendo das crises de depressão de um membro e estando diante de mensagens como as do print a seguir, diz que as mensagens enviadas provam que eu não estava em crise e chama minhas crises de "transgressões". Quem vê alguém dizendo estas coisas e chega à conclusão de que a pessoa não está em crise psicológica, mas em estado de transgressão que precisa ser punido? 







    Curioso que o argumento usado contra a hipótese da crise foi a temporalidade, crises psicológicas, pensa o líder da seita, não podem durar meses. Será que o líder da seita tem a menor noção do que seja uma crise psicológica? De acordo com estudos científicos alterações mentais e emocionais, no caso de depressão, podem perdurar não só por dias, ou meses, mas até por anos (confira artigo sobre aqui). De acordo com um psiquiatra, surtos de esquizofrenia podem durar dias, semanas, meses ou até períodos mais longos (aqui).


Crises psicológicas existem, elas são reais. Ninguém tem crises porque  quer, crises psicológicas não são pecados, nem resultados de possessão demoníaca. O que uma pessoa diz ou faz em surto ou crise precisa ser compreendido como não sendo resultado da vontade da pessoa que sofre, pois falas ditas ou mensagens enviadas em crise psicológica são expressões de um estado de humor e consciência alterados sobre o qual a pessoa não tem controle. Profissionais especializados com melhor conhecimento e estudo me diagnosticaram como CID - 10 F20.0 (como pode ser comprovado pela imagem abaixo). Graças ao tratamento psicoterápico e medicamentoso me encontro em estado estabilizado e sem crises.


    A Band fez uma reportagem sobre meu caso (assista ela aqui). A manchete não é exata, na verdade, eu não fui expulso por causa da homossexualidade. Na verdade, antes de entrar na seita, eu havia passado 5 anos sem nem me masturbar. Foi só depois de um tempo na seita, que passei a ver pornografia homossexual e que servia de gatilho para minhas crises psicológicas. É só depois de um tempo, já expulso da seita, que eu me assumi e tive a minha primeira experiência de sexo.Eu nunca me relacionei sexualmente com homem algum enquanto estava na seita. Eu continuei considerando homossexualidade pecado um bom tempo depois que saí da seita e só me permitir praticar a homossexualidade depois que eu cheguei à conclusão de que não era pecado. 

III. O GRUPO ERA UMA SEITA? 

Será que ainda é preciso dizer mais alguma coisa para provar que o grupo em questão era uma seita? O termo grego para seita é "αἵρεσις" (háiresis), esse termo não significa algo como "heresia" no sentido de uma falsa doutrina, seu significado originário seria mais ou menos algo como "grupo faccioso", "partido que causa divisões". Uma seita apresenta as seguintes características que estavam todas presentes no grupo em questão. Uma Seita é: 
(i) um grupo ou partido faccioso que divide igrejas; 
(ii) um grupo que se propõe como especial ou exclusivo, algo como a "verdadeira igreja" ou a "igreja pura", com um "culto puro", "uma doutrina pura";  
(iii) um grupo que condena as demais religiões, denominações e igrejas como "apóstatas", "falsas" ou "corrompidas". 
Além dessas características, as seitas podem ser identificadas pelos seguintes aspectos que faziam parte do grupo: 
 (ivvitimismo: elas se sentem sempre "perseguidas", o discurso delas é que elas são vítimas de difamações, calúnias e da maldade dos homens. O vitimismo é uma técnica usada pelas seitas para tomar qualquer crítica a elas como "perseguição".  
(v) Ostracismo: elas expulsam, excomungam e desassociam pessoas de forma desumana, proibindo que seus membros mantenham contato com a pessoa excluída e a expondo publicamente e de forma vergonhosa.  
(vi) As seitas creem estar cumprindo uma missão divina especial, fazem tudo em nome de Deus e acreditam que Deus vai "punir" os que discordam delas. 
(vii) As seitas tratam como "inimigos" qualquer um que delas discorde, demonizam qualquer um que as questione; por fim,  
(viii) as seitas buscam controlar a vida de seus membros, controlam o que eles devem ou não devem ler, quais cursos e empregos podem ou não ocupar, o que precisam estudar e o que lhes é ou não permitido conhecer e pensar. Elas monopolizam a vida de seus membros e exigem deles dedicação total e devoção exclusiva. 
        A presença de alguns destes pontos no grupo pode ser confirmada lendo este post do próprio líder da seita (aqui).




CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O grupo em questão possuía um método de proselitismo que engana. Os membros eram orientados a se aproximarem de pessoas fora do grupo, fazer amizade com elas sem revelar suas ideias radicais, tornar-se pessoas que as ajudam em dificuldades para que elas confiem nos membros do grupo e depois introduzi-las aos poucos ao grupo e, paulatinamente, à medida em que a pessoa estiver ligada ao grupo e confiante em seus membros, ir apresentando a ela as ideias mais radicais. 
Eles também têm um projeto de dominação, não surpreendentemente outro nome para reconstrucionismo é dominionismo. No grupo, eramos orientados a ocupar espaços na sociedade, como cátedras na Universidade. Para isso, orientavam-nos a manter em segredo nossas ideias radicais durante a formação, até que nos tornássemos professores universitários. Hoje essa seita teonomista não existe mais, mas existem núcleos ou grupos teonomistas por aí, que possamos ser cuidadosos para não cair nessa ideologia né em qualquer tipo de seita.
Repito o que eu disse sobre  não culpar os membros em si pelo que aconteceu. Eu responsabilizo, sobretudo, o líder da seita pelos males que o grupo causou. Acredito que o grupo foi formado por jovens de bom coração, mas que foram iludidos, assim com eu. Creio na justiça divina, no amor e no perdão e não guardo mágoa ou ressentimento de ninguém do grupo. 


Comentários

VEJA TAMBÉM

20 MITOS DA FILOSOFIA

20 MITOS DA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

20 MITOS DA TEOLOGIA

ILUSTRANDO A SUBDETERMINAÇÃO DOUTRINÁRIA DA BÍBLIA

METAFÍSICA DE UMA PERSPECTIVA QUASI-REALISTA - SIMON BLACKBURN (RESUMO)

TEXTOS BÍBLICOS ABSURDOS

DISPOSIÇÕES MENTAIS - SIMON BLACKBURN

ÉTICA QUASI-REALISTA - SIMON BLACKBURN (RESUMO)