GÊNERO E SEXUALIDADE - ANTHONY GIDDENS (RESUMO)


O que se segue é um resumo do capítulo Género e Sexualidade do livro Sociologia do sociólogo britânico Anthony Giddens. Neste capítulo, Giddens trata das diferenças de gênero, das teorias que tentam explicar as desigualdades entre os gêneros, da masculinidade, da homossexualidade e da prostituição. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 


Qual a origem das diferenças entre homens e mulheres? Para responder a esta questão é necessário fazer uma distinção importante entre sexo e gênero. De um modo geral, os sociólogos utilizam o termo sexo para se referirem às diferenças anatômicas e fisiológicas que definem o corpo masculino e o corpo feminino. Em contrapartida, por gênero entendem-se as diferenças psicológicas, sociais e culturais entre indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino. O gênero está associado a noções socialmente construídas de masculinidade e feminilidade; não sendo necessariamente um produto direto do sexo biológico de um indivíduo. A distinção entre sexo e gênero é fundamental, pois muitas diferenças entre homens e mulheres não são de origem biológica. 

Existem três grandes abordagens sobre as diferenças entre homens e mulheres: (i) a dos que defendem a existência de uma base biológica nas diferenças de comportamento entre homens e mulheres: alguns autores defendem que os aspectos da biologia humana - dos hormônios aos cromossomos, do tamanho do cérebro à genética - são responsáveis pelas diferenças congênitas no comportamento entre homens e mulheres; (ii) a dos que e dão particular importância à socialização e à aprendizagem dos papéis de gênero: esta abordagem estabelece uma distinção entre sexo biológico e gênero social - uma criança nasce com o primeiro e desenvolve-se com o segundo; (iii) a dos que pensam que nem o género nem o sexo têm uma base biológica, sendo totalmente construídos a nível social: afirmam que se deveria considerar tanto o sexo como o gênero enquanto produtos construídos socialmente. 

Em quase todas as sociedades, o gênero é uma forma significativa de estratificação social. O gênero é um fator crítico na estruturação dos tipos de oportunidade e das hipóteses de vida que os indivíduos e os grupos enfrentam, influenciando fortemente os papéis que desempenham nas instituições sociais, da família ao Estado. De um modo geral, os papéis dos homens são muito mais valorizados e recompensados do que os das mulheres: em quase todas as culturas, as mulheres assumem a responsabilidade primária de educar os filhos e ocupar-se das atividades domésticas, enquanto os homens assumem tradicionalmente a responsabilidade de sustentar a família. A divisão de trabalho prevalecente entre sexos levou os homens e as mulheres a assumirem posições desiguais em termos de poder, prestígio e riqueza. 

Existem duas grandes diferentes teorias que tentam explicar a desigualdade de gênero(i) funcionalismo: entende que as diferenças de gênero contribuem para a estabilidade e integração sociais; (ii) feminismo: se preocupa na sua totalidade com a posição desigual das mulheres na sociedade. Existem, no entanto, diferentes tipos de feminismo: (i) feminismo liberal: procura explicações para as desigualdades de gênero nos comportamentos sociais e culturais, não concebem a subordinação das mulheres como parte de um sistema ou estrutura maior, mas a compreendem a partir de fatores circunstanciais; (ii) feminismo radical: assenta na crença de que os homens são responsáveis pela exploração das mulheres e beneficiam desse fato e considera o patriarcado como o domínio sistemático dos homens sobre as mulheres; (iii) feminismo negro: defende que não há uma forma unificada de opressão de gênero, isto é, o machismo não é vivido da mesma forma por todas as mulheres, entende-se que é preciso considerar a influência do poderoso legado da escravatura, da segregação e do movimento dos direitos civis sobre a desigualdade de gênero na comunidade negra. 

masculinidade também é estudada pelos sociólogos. Uma teoria sociológica que tenta entender a masculinidade foi proposta por R. W. Connell. Segundo Connell, as masculinidades constituem um elemento crítico na ordem de género e não podem ser entendidas isoladamente das feminilidades que as acompanham ou partindo destas. Connell apresenta três aspectos da sociedade que interagem para formar a sua ordem de gênero(i) trabalho: consiste na divisão sexual do trabalho em casa (no referente às responsabilidades domésticas e à educação das crianças) e no mercado de trabalho (em que surgem a segregação profissional e a desigualdade de salários); (ii) poder: funciona através das relações sociais, como a autoridade, a violência e a ideologia nas instituições, no Estado, na vida militar e doméstica; (iii) catexia: diz respeito à dinâmica nas relações íntimas, emocionais e pessoais, incluindo o casamento, a sexualidade e a educação das crianças. 

Connell acredita existirem muitas expressões diferentes de masculinidade e de feminilidade. O nível da sociedade, estas versões contrastantes organizam-se numa hierarquia orientada à volta de uma premissa definida - o domínio dos homens sobre as mulheres. Connell utiliza “tipos ideais” estilizados de masculinidades e feminilidades na sua hierarquia. No topo desta, encontra-se a masculinidade hegemônica, que domina todas as outras masculinidades e feminilidades na sociedade. 

No entanto, podemos dizer que vivemos uma crise da masculinidade. Isso significa que as noções tradicionais de masculinidade estão a sofrer uma erosão. Algumas das áreas em que as identidades masculinas parecem estar mudando são: (i) desemprego: o papel masculino de angariador do “sustento” tem sido seriamente posto em causa pelo desemprego; (ii) criminalidade: no passado, os jovens, mesmo em bairros com um elevado índice de criminalidade, tinham um conjunto de objetivos bem definidos na vida - conseguir um emprego fidedigno e ser o sustento da famílias, mas tal objetivo é cada vez mais difícil de alcançar; (iii) crise de sentido: os homens estão em crise em relação ao seu próprio valor e utilidade; (iv) representação nos meios de comunicação: na cultura popular, na imprensa, na publicidade e na moda, surgiu a imagem de um novo homem, sexualizado e sensível. 

No momento em que as noções tradicionais de gênero se transformam, também as concepções sobre a sexualidade estão sofrendo mudanças drásticas. Se a sexualidade foi “definida” outrora em função da heterossexualidade e da monogamia no contexto das relações matrimoniais, há agora uma aceitação cada vez maior de diversas orientações e comportamentos sexuais. Toda cultura possui normas sexuais, mas elas variam de sociedade para sociedade. Por exemplo, existem culturas em que a homossexualidade é tida como aceitável enquanto em outras é condenada. 

As atitudes dos ocidentais em relação ao comportamento sexual foram, durante quase dois mil anos, moldadas primariamente pelo Cristianismo. Nos dias de hoje, entretanto, as atitudes tradicionais em relação à sexualidade coexistem com atitudes muito mais liberais, que se desenvolveram especialmente na década de 1960. A invenção da pílula contraceptiva para as mulheres permitiu fazer uma separação clara entre o prazer sexual e a reprodução.  

Nesse processo de transformação, a homossexualidade foi também ganhando maior aceitação. Podemos distinguir quatro tipos de homossexualidade na cultura ocidental moderna: (i) homossexualidade casual: é um encontro homossexual passageiro que não estrutura de forma substancial a vida sexual de uma pessoa; (ii) atividades situadas: atos homossexuais que ocorrem regularmente, mas não se tomam a principal preferência de um indivíduo; (iii) homossexualidade personalizada: caso dos indivíduos que têm preferência por práticas homossexuais, mas se encontram isolados dos grupos onde estas são facilmente aceites; (iv) homossexualidade como modo de vida: abrange indivíduos que “se assumiram” e fazem da associação a outras pessoas com preferências sexuais semelhantes uma parte fundamental das suas vidas. 

A homossexualidade não é uma doença e não está associada de modo específico a qualquer forma de distúrbio psiquiátrico. A semelhança dos termos racismo e sexismo, por heterossexismo designa-se um processo em que os indivíduos não heterossexuais são categorizados e discriminados com base na sua orientação sexual. Por homofobia entende-se o medo e o desprezo por indivíduos homossexuais. Há toda uma luta por parte da comunidade homossexual por legalização e reconhecimento. Um número cada vez maior de ativistas gay reivindica a legalização do casamento homossexual. 

Outro fenômeno relacionado à sexualidade que merece consideração diz respeito à prostituição. A prostituição pode definir-se como uma prestação de favores sexuais em troca de dinheiro. Os tipos de prostituição podem ser classificados de acordo com dois termos: (i) compromisso ocupacional: consiste na frequência com que uma mulher se envolve na prostituição; (ii) contexto ocupacional: designa o tipo de ambiente de trabalho e o processo de interação em que uma mulher está inserida. A prostituição envolve frequentemente crianças. Mas, se tratando das mulheres, podemos entender que a prostituição reflete, e até certo ponto ajuda a perpetuar, a tendência dos homens para tratar as mulheres como objetos que podem ser “usados” para fins sexuais. A prostituição reflete, num determinado contexto, as desigualdades de poder entre homens e mulheres. 

 

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