MANIFESTO CONTRA O DENOMINACIONALISMO

         
       
        Infelizmente o Protestantismo encontra-se dividido em diversas denominações e, essas, por sua vez, continuam a se proliferar, como células em constante processo de multiplicação. O objetivo deste texto é questionar o denominacionalismo e reafirmar a unidade da Igreja Visível. O denominacionalismo esconde a verdade de que os cristãos evangélicos tem muito mais coisas em comum do que parece.

       É um erro pensar que "catolicidade" e "unidade" sejam termos que devam ser aplicados somente à Igreja Invisível e que devemos nos conformar com o fato de haver inúmeras denominações religiosas professando a Fé Cristã. Embora fale de denominações (como existindo, não como devendo existir - XXIII.III), a Confissão de Fé de Westminster afirma que a Igreja Visível, também é "católica" e "universal" (XXV.II). 
       É natural que exista uma variedade dentro do Cristianismo. Agostinho dizia: "Nas coisas essenciais, a unidade; nas coisas não essenciais, a liberdade; em todas as coisas, amor."  Houve um reverendo ligado à história da Igreja Presbiteriana de Araguari que é lembrado como aquele que "tentou uma aproximação entre as várias denominações evangélicas."(Waldete Tilmann Ribeiro da Silva e Jonas Alves da Silva, Igreja Presbiteriana de Araguari: Uma Trajetória de Cem Anos (1893-1993). Araguari, 1993 - sobre o Rev. Miguel Rizzo Junior.) 
       O que este este Manifesto propõe ou sugere é mais do que uma mera aproximação entre as denominações, embora esse possa ser o primeiro passo. A princípio, falamos de abolir a própria ideia de denominação e olhar para os grupos de cristãos que se reúnem como "igrejas locais", antes de pensarmos em denominações. 
        O Credo Apostólico nos une! Se uma igreja local, por exemplo, crê nas doutrinas básicas do Cristianismo (SBT: Salvação pela graça, Bíblia como Palavra de Deus e Trindade como um só Ser divino em três pessoas distintas), antes de me preocupar com sua orientação religiosa"denominacional", devo lembrar que tenho diante de mim uma "igreja cristã". 
       Isso significa também que enquanto essa igreja crê nessas doutrinas centrais e pratica a disciplina e ministra os sacramentos (Batismo e Ceia), sou proibido de chamá-la de "herética" ou "apóstata". Seus membros, por mais pecadores que sejam e seus cultos, mesmo que tenham problemas, são "cristãos", pois, enquanto igreja eles creem nas doutrinas cardeais da Fé Evangélica. 
     Daí a importância de distinguirmos divergências teológicas de heresia. Ser aniquilacionista ou imortalista; pentecostal, continuísta ou cessacionistaamilenistapré-milenista ou pós-milenista; calvinista ou arminiano, etc. são questões nas quais um não pode chamar o outro de "herege" e são assuntos que não justificam cismas ou divisões. Por outro lado, uma igreja se torna "apóstata" ou "herética" quando confessa crenças como o arianismo, pelagianismoeutiquianismo, nestorianismo, etc. Essas crenças podem ser chamadas de "heresias de perdição": 
       Ainda, podemos chamar de "herege" (cismático) quem promove alguma divisão em igrejas cristãs, mesmo que não defenda uma heresia doutrinária. Lembrando, igreja cristã é toda aquela que confessa o Credo Apostólico, crê na salvação pela graça,  na Bíblia como Palavra de Deus e na Trindade como um só Ser divino em três pessoas distintas (SBT) e pratica a disciplina eclesiástica e ministra os sacramentos (Batismo e Eucaristia). Eu que já fui cismático no primeiro sentido, hoje me arrependo profundamente, mas pior ainda é quando alguém, além de cismático é "herege" no sentido de adotar alguma heresia de perdição (arianismo, pelagianismo, nestorianismo, etc.):

     "A origem de onde nasceram frequentemente e continuam nascendo as heresias é a seguinte: há mentes perversas e sem paz, que, discordando em sua perfídia, não podem suportar a unidade... Esses são os que, por própria iniciativa e sem chamamento divino, se põem a encabeçar temerários grupinhos. Contra toda a lei da ordenação, se constituem superiores e, sem que ninguém lhes dê o episcopado, se atribuem a si mesmos o nome de bispos... (Estes) estão sentados em cátedras de pestilência, porque são peste infecciosa da fé. Mestres na arte de corromper a verdade, eles enganam com bocas de serpente, vomitando de suas línguas pestilentas peçonhas mortíferas. Os seus discursos brotam como chaga cancerosa, o trato com eles deixa no fundo de cada coração um veneno mortal.'' - Cipriano de Cartago. Da Unidade da Igreja 10.1,3. 

        Outra consequência de me colocar contra o denominacionalismo, é que quando a Confissão de Fé de Westminster fala que há "igrejas particulares, que são mais ou menos puras", isso não deve ser entendido como "há denominações mais puras ou menos puras", mas sim "há igrejas locais mais puras ou menos puras". Isso pode significar que uma igreja local ligada a uma denominação pentecostal, por exemplo, pode ser mais pura que uma igreja local ligada a uma denominação reformada se a igreja local pentecostal abraçar com mais amor o Evangelho em suas doutrinas centrais do que a igreja local de denominação reformada em questão.  
         Isso significa que é bom suspender as placas doutrinárias, olhar para igrejas locais antes como "igrejas cristãs" do que como de uma ou de outra denominação, cultivar o costume de vez ou outra visitar diferentes igrejas de diferentes denominações, manter contato com irmãos e pastores de diferentes orientações teológicas. Significa promover maior unidade entre as igrejas e chamar de "irmão" e "cristão", e tratar assim, qualquer um que crê em Cristo como Senhor e Salvador, seja ele arminiano, pentecostal, calvinista, aniquilacionistaimortalista, etc.  
       Significa, ainda, considerar como imoral qualquer cisma em qualquer igreja cristã, por mais problemática que ela seja. Por outro lado, significa continuar considerando cristãs mesmo igrejas que surgiram de cismas, desde que elas abracem as verdades essenciais do Evangelho. 
         Mas, mais profundo do que isso, o pensamento proposto neste Manifesto é que lutemos pela abolição do denominacionalismo. Olhemos para um dia em que deixarão de existir divisões denominacionais, em que haverá uma só Igreja Ecumênica que abriga debaixo do seu teto qualquer um que creia nas verdades essenciais do Evangelho, que tal Igreja não exija que seus membros confessem mais do que é necessário crer para entrar no Reino dos Céus e acolha em seu seio pessoas com diferentes orientações teológicas em assuntos secundários. 
         Até lá, eu mesmo, arrependido de um dia ter sido cismático, me proponho a esquecer as divergências denominacionais e a viver uma experiência eclesiástica mais integradora. Graças a Deus estou rodeado de igrejas cristãs, muitas delas não são da mesma orientação teológica que eu, mas são igrejas cristãs que em seus cultos (mesmo que problemáticos) adoram o Deus Triúno e enquanto adorarem o Deus Triúno, estou proibido de considerá-las apóstatas ou idólatras. Mas, para além de eu ter uma experiência eclesiástica integradora, alimento a mesma esperança de C.S. Lewis: 

"Temos a esperança de que as atuais divisões em nosso seio, inúteis e malignas, sejam uma doença da infância: nossos dentes de leite ainda estão nascendo."  (Cristianismo Puro e Simples, Livro IV, 11)

       Oremos e lutemos por uma Igreja Visível que manifeste ao mundo sua unidade e catolicidade: 

''Assim muitos são os raios do sol, mas uma só é a luz, muitos os ramos de uma árvore, mas um só é o tronco preso à firme raiz. E quando de uma única nascente emanam diversos riachos, embora corram separados e sejam muitos, graças ao copioso caudal que recebem, todavia permanecem unidos na fonte comum. Se pudéssemos separar o raio do corpo do sol, na luz assim dividida já não haveria unidade. Quando se quebra um ramo da árvore, o ramo quebrado já não pode vicejar. Se separamos um regato da fonte, ele secará. Igualmente a Igreja do Senhor, resplandecente de luz, lança seus raios no mundo inteiro, mas a sua luz, difundindo-se em toda a parte, continua sendo a mesma e, de modo nenhum, é abalada a unidade do corpo. Na sua exuberante fertilidade, estende os seus ramos em toda a terra, derrama as suas águas em vivas torrentes, mas uma só é a cabeça, uma a fonte, uma a mãe, tão rica nos frutos da sua fecundidade. Do parto dela nascemos, é dela o leite que nos alimenta, dela o Espírito que nos vivifica.'' - Cipriano de Cartago. Da Unidade da Igreja 1.5.3-6. 

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