DA INTERPRETAÇÃO – ARISTÓTELES
NOME E VERBO
Os
sons emitidos pela fala são símbolos das paixões da alma. Os caracteres
escritos são os símbolos dos sons emitidos pela fala. Como a escrita, a fala não é a mesma em toda parte, já
as paixões da alma são as mesmas em toda parte, assim como os objetos que
representam.
Existem pensamentos desacompanhados de
verdade ou falsidade, como um conceito não dividido, nem combinado e há
pensamentos que encerram verdade ou falsidade, que é quando se predica dele o ser ou o não-ser. Um verbo ou um nome em si mesmo é semelhante um
conceito não combinado.
O nome
é um som que possui significado por convenção. Isto é, nenhum som é
naturalmente um nome, converte-se em um tornando-se um símbolo. As partes dos
nomes simples são completamente desprovidos de significado e no caso das partes
dos nomes compostos, elas possuem um
certo significado, embora não separado do todo.
O verbo
é o que, além de transmitir um significado particular, possui uma
referência temporal. O verbo é uma indicação de alguma coisa predicada de um
sujeito ou neste encontrada presente. O verbo indica o presente, enquanto os tempos
verbais indicam todos os tempos, exceto o presente. Os verbos por si mesmos
significam alguma coisa, mas não chegam a expressar juízos positivos ou
negativos.
NEGAÇÃO, AFIRMAÇÃO, SENTENÇA E PROPOSIÇÃO
A sentença
é a fala dotada de significação. As sentenças que encerram verdade ou
falsidade, em si mesma são chamadas de proposição.
Todas as proposições exigem a presença de um verbo ou de uma flexão
verbal. Quanto às proposições simples, o primeiro tipo é a afirmação simples, e o
segundo tipo é a negação simples. Uma proposição simples é, portanto, um
enunciado falado com significado que afirma ou nega a presença de alguma coisa
num sujeito no tempo presente, passado ou futuro.
Chamamos de afirmação uma proposição que afirma
algo de alguma coisa e de negação a
proposição que nega algo de alguma
coisa. Chamamos de contradição um
par formado por uma proposição afirmativa e uma negativa (que enunciem os
mesmos predicados e sujeitos) em oposição.
As coisas universais podem ser predicadas de muitos sujeitos, enquanto as
coisas particulares são aquelas que
não são predicadas de muitos sujeitos. Considerando duas proposições (uma
afirmativa e outra negativa) sendo universais em sua forma e tendo um universal
por sujeito, temos duas proposições
contrárias. Chamamos de opostos
contraditórios a uma afirmação e negação quando aquilo que indica
universalmente, a outra não indica universalmente. Contrários não podem ser
ambos ao mesmo tempo verdadeiros, mas contraditórios, às vezes, podem ser ambos verdadeiros.
Uma proposição
singular ou una é aquela que
afirma ou nega uma única coisa de alguma coisa. Todas as afirmações e todas as
negações têm que ser ou verdadeiras ou falsas. Sendo assim, nada acontece por
acaso. Todos os acontecimentos têm que se produzir por necessidade. Os eventos
futuros se produzem necessariamente.
Os acontecimentos podem ocorrer ou podem
não ocorrer. Isso vale para todos os eventos que são potenciais. Fica claro que
nem tudo é ou se produz por necessidade. Todas as coisas têm que ser ou não ser, têm que vir a ser ou não vir a ser. Não se pode, no entanto,
determinar qual alternativa tem que se produzir (vir a ser) neste ou naquele tempo futuro.
Afirmações e negações consistem de um nome e de um verbo. No caso
da presença de dois outros termos, e o termo é ser usado como terceiro, haverá dois distintos tipos de
afirmações e negações. Pode-se transpor o sujeito e o predicado sem acarretar
qualquer alteração no significado das afirmações e negações de uma sentença.
Afirmar ou negar um só predicado de
muitos sujeitos ou muitos predicados de um só sujeito não constitui uma
proposição afirmativa ou negativa, a menos que se o denotado pelo múltiplo no
seu conjunto constitua uma alguma coisa.
A questão
dialética deve ser estruturada de moda a possibilitar ao respondente
enunciar entre duas repostas contraditórias. Nas predicações que não possuem nenhuma
contradição inerente, se os nomes forem substituídos por definições e os
predicados não forem acidentais, o particular poderá também ser o sujeito das
proposições simples.
As expressões compostas contendo é e não
é são mutuamente contraditórias. Proposições contraditórias nunca podem ser
verdadeiras relativamente a um único sujeito. A negação de "possível de ser" é "não possível de ser", de igual modo
o contraditório da proposição "É
contingente que seja" é "Não
é contingente que seja", o mesmo vale paras proposições similares,
como "É necessário" e
"É impossível".
As consequências
disso são:
Juízos
contrários são aqueles que detêm dois sentidos contrários. Classificamos
como juízos contrários aos juízos verdadeiros os juízos nos quais há erro, e
estes têm a ver com a geração. A geração
significa a transição de um de dois extremos para o outro, sendo o erro esta
transição. O juízo mais verdadeiro é
aquele feito acerca da essência da coisa, de modo similar o juízo mais falso é
aquele sobre sua essência.
A contrariedade de um juízo se acha
sempre na negação ou não se acha em lugar nenhum. No caso das coisas que não
possuem contrários, o juízo falso é aquele que nega o que o verdadeiro afirma.
Já os juízos verdadeiros jamais podem ser contrários. Juízos verdadeiros e
proposições verdadeiras jamais podem ser contrários entre si. Duas proposições contrárias
têm que predicar qualidades contrárias, as quais jamais podem ser
simultaneamente inerentes a um sujeito idêntico.
Condensado de: Aristóteles (384-322 a.C.). Da Interpretação in Órganon.
Edipro, 2º ed. 2010.
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