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LILITH - A DEMÔNIA BANIDA DA BÍBLIA?

     De acordo com alguns, Lilith foi criada do pó da Terra assim como Adão, mas por se negar a deitar-se sob ele no coito, rebelou-se contra a autoridade masculina, abandonou o Éden e habitou como uma demônia no deserto. Logo em seguida, Eva foi criada em real papel de submissão. É importante salientar que essa ideia de Lilith como predecessora de Eva, aparece no Alfabeto de Ben – Sira composto por volta do século VII d. C., isto, é uns 2 milênios após a data tradicional para a escrita do Gênesis. As bases para essa Teoria são refutadas abaixo:



      1.      TEORIA DOCUMENTÁRIA


   A base para dizer que o mito de Lilith como predecessora de Eva pudesse fazer parte do relato original do Gênesis, é baseada na Teoria JEPD, segundo a qual o Pentateuco seria um conjunto de fragmentos de diferentes autores reunidos como se fosse uma mesma obra de um mesmo autor. Seriam 4 os documentos que teriam sido reunidos por Esdras para compor o Pentateuco: Jeovista (J), Elohista (E), Deuteronomista (D) e Sacerdotal (P), compilados por volta do séc. V a.C. A base inicial para a Teoria Documentária, como se percebe pelo nome dos documentos, seria o uso de títulos diferentes para Deus e supostos textos que indicam composições.

       A Teoria Documentária só ganhou sua forma popularizada com Julius Wellhausen, em 1876 d.C. No entanto, não é difícil perceber que nomes diferentes para Deus numa mesma obra revela simplesmente os diferentes atributos e manifestações do Divino e que o estilo de um livro varia naturalmente de acordo com os assuntos em foco. Ainda não há manuscritos circulantes encontrados que reforce a existência de documentos que teriam formado a composição final do Pentateuco.

      Em favor da posição tradicional da autoria mosaica, devemos lembrar: (i) O testemunho interno da obra do Pentateuco atribui a autoria dos 5 livros a Moisés. (iii) Os livros históricos posteriores consideram Moisés o autor do Pentateuco; (iii) Os livros constituem uma unidade literária-textual, não um arranjo de documentos fragmentados; (iv) O Pentateuco possui uma unidade histórica e (v) Há uma unidade temática no Pentateuco. Não há, portanto, base sólida para defender que o Gênesis é um conjunto de fragmentos do qual durante o processo de compilação preferiu-se omitir o mito de Lilith.


       2.      VERSÍCULOS QUE APOIARIAM A TEORIA


       As três passagens principais para supor que Eva foi a segunda mulher de Adão, e não a primeira, são Gênesis 1.27, que relata a criação de “macho e fêmea” antes do relato do capítulo 2.5ss, sendo entendida que a “fêmia” do capítulo 1 é Lilith e a mulher do capítulo 2, Eva; o texto em que Adão diz “agora sim” essa é carne da minha carne (Gênesis2.23), como se Adão estivesse fazendo um contraste entre Eva e Lilith; e Isaías 34.14 que cita Lilith habitando no deserto.
       Quanto ao primeiro texto, é importante salientar que Gênesis 1.1 – 2.4 e Gênesis 2.5ss formam dois capítulos, o que acontece é que o primeiro capítulo é prólogo do segundo. Sendo assim o primeiro bloco introduz a criação do primeiro casal, enquanto o segundo detalha a questão. Não faz, portanto, o mínimo sentido achar que 1.27 trata de um “Adão andrógeno” ou da criação de Lilith. Quanto a 2.23, o “agora sim”, contextualmente, é emitido diante da constatação de que um homem não pode casar com animais. A mulher (Eva), esta sim, pode formar um casal com o homem, já que casamento é a união entre um homem e uma mulher, e não entre um homem e um animal. Por fim, Isaías 34.14, por ser uma lista de animais habitando o deserto é coerente com as traduções que vertem lilith por “coruja” ou algo similar. Nenhum dos versos que supostamente apoiariam o mito, quando analisados em seu contexto, se adequam a ideia.

        Por fim, é simples e claro que o mito de Lilith não poderia fazer parte de Gênesis visto que o mito não combina nem um pouco com o livro, cujo estilo é essencialmente histórico. O Pentateuco raramente faz alusão a demônios e coisas do tipo e qualquer um que leia Gênesis perceberá que não há como cogitar a possibilidade de que essa estória pudesse constar no livro.  



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Bruno dos Santos Queiroz

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