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METAFÍSICA - ARISTÓTELES (RESUMO)


O que se segue é um resumo da obra Metafísica de Aristóteles, que se divide em catorze livros. Aristóteles apresenta a Metafísica como filosofia primeira que busca as causas primeiras da realidade. São discutidos importantes conceitos como a noção de ser, substância, ato/potência, forma/matéria e a natureza das realidades matemáticas. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 

 

Livro A ou I 

A Metafísica primeira ou "filosofia primeira" é a busca das causas primeiras da realidade. 

 

Todos os seres humanos tendem naturalmente ao conhecimento. O que distingue quem tem conhecimento de quem não tem é a capacidade de ensinar. O conhecimento está relacionado com o saber acerca de certos princípios e causas. Chamamos de sábio àquele que possui esse tipo de saber. A palavra “sábio” pode ter seis sentidos: (i) aquele que conhece todas as coisas que são possíveis de se conhecer; (ii) aquele que é capaz de conhecer às coisas que são difíceis para o entendimento comum; (iii) aquele que possui maior conhecimento das causas; (iv) aquele que é capaz de ensinar os outros; (v) aquele que escolhe o conhecimento por si mesmo; (vi) aquele que conhece os saberes superiores. 

O saber mais superior é aquele que especula sobre os princípios primeiros e as causas. As causas são entendidas em quatro diferentes sentidos: (i) no sentido de essência, forma ou substância; (ii) no sentido de matéria ou substrato; (iii) no sentido de princípio do movimento(iv) no sentido de finalidade. Os primeiros filósofos afirmaram o princípio material como sendo o fogo, o ar ou a água, outros como o único, outros como uma pluralidade de princípios materiais. 

Depois do pensamento desenvolvido pelos primeiros filósofos, surgiu o pensamento de Platão. Segundo ele, as coisas sensíveis estão em contínuo fluxo e dessas coisas não se pode construir saberes. No entanto, para além da realidade sensível, existiria uma outra realidade, a das Ideias. A filosofia platônica recorre, assim, apenas a dois tipos de causas: a causa formal (as ideias) e a causa material (as coisas sensíveis). Essa filosofia é problemática, pois, que vantagem trazem as ideias para o conhecimento, se elas não são causa nem de movimento nem da mudança? As ideias não podem servir ao saber das coisas sensíveis se não são imanentes às coisas sensíveis. 

 

Livro Alfa Elatton ou II 

 A Metafísica é o conhecimento da verdade e a verdade é o conhecimento das causas. 

 

filosofia é o conhecimento da verdade, porque seu fim é a verdade. Não podemos conhecer a verdade sem conhecer a causa. É evidente que existe um princípio primeiro e que a causa dos seres não são nem uma série infinita, nem um número infinito de espécies. Primeiro, é impossível retroceder infinitamente quanto às causas, sejam elas materiais, formais, motoras ou finais. Para que haja causas intermediárias, não importam quantos sejam, precisa haver uma causa primeira, portanto, se nada é primeiro, não existe causa. Segundo, se fossem infinitas em número as espécies de causas, o conhecimento seria impossível, pois, não é possível, num tempo infinito, ir ao infinito por sucessivos acréscimos. 

 

Livro B ou III 

 O método próprio da Metafísica é o método aporético. 

 

Com relação à metafísica, algumas dificuldades se apresentam em relação à construção desse saber. Essas dificuldades podem ser colocadas na forma de quinze aporias: 

Primeira aporia: se a investigação sobre as causas é tarefa de um único saber ou mais de um: parece que o estudo de cada uma das causas é objeto de um saber diferente, pois em muitos seres não estão presentes todos os princípios. Desse modo, existe mais de um saber das causas e dos diferentes princípios. 

Segunda aporia: se é tarefa da metafísica considerar só os princípios primeiros da substância ou também os princípios sobre os quais se fundam todas as demonstrações: não parece razoável que seja um só o saber que estuda os princípios de demonstração, que são as convicções comuns das quais todos partem para demonstrar algo. 

Terceira aporia: se existe um único saber para todas as substâncias ou se existe mais de um: não parece razoável que seja um só o saber de todas as substâncias, porque se assim fosse, seria também único o conhecimento demonstrativo de todos os atributos, dado que todo saber demonstrativo de determinado objeto estuda seus atributos a partir de axiomas. Portando, tratando-se de um mesmo gênero caberá a um mesmo saber estudar seus atributos a partir de axiomas. 

Quarta aporia: se a investigação metafísica trata só das substâncias ou também das propriedades das substâncias: essa questão é de difícil solução, pois se ambas as coisas fossem tarefa do mesmo saber, então haveria um conhecimento demonstrativo também da substância, o que não parece existir. Por outro lado, se os atributos devem ser estudados por um saber diferente, que saber seria esse? 

Quinta aporia: se devemos dizer que só existem substâncias sensíveis ou se além dessas existem também outras: parece que as formas devem ser entendidas como imanentes às coisas sensíveis, é absurdo pensar numa realidade de ideias independentes e fora da realidade sensível. 

Sexta aporia: se os princípios e os elementos são os gêneros ou os constitutivos materiais nos quais se decompõe cada coisa; a definição da substância é uma só, no entanto, é preciso distinguir dois modos: uma é a definição formulada com base nos gêneros e outra é a definição que oferece os constitutivos materiais dos quais são feitas as coisas. 

Sétima aporia: se os gêneros são os últimos que se predicam dos indivíduos ou se são os primeiros: sendo os universais os princípios por excelência, é evidente que os princípios são os gêneros mais elevados 

Oitava aporia: se além da matéria existe uma causa subsistente por si ou não: nós só conhecemos todas as coisas na medida em que existe algo uno, idêntico e universal, além disso, é preciso haver algo eterno, pois é necessário que o que advém advenha de outro e, não podendo haver uma regressão infinita, é preciso haver algo eterno e imóvel. 

Nona aporia: se os princípios são limitados quanto ao número ou quanto à espécie: esta questão instaura uma dificuldade, se os princípios só tem unidade específica, nada poderá ser numericamente um, mas se os princípios têm unidade numérica, não poderá haver nada além dos próprios elementos. 

Décima aporia: se os princípios das coisas corruptíveis e das incorrutíveis são idênticos ou diversos; esta questão instaura mais uma dificuldade, se os princípios das coisas corruptíveis fossem corruptíveis, eles também precisariam derivar de outros princípios o que levaria a um regresso infinito, mas se esses princípios fossem incorruptíveis, carece de explicação por que desses princípios derivam coisas corruptíveis enquanto de outros derivam coisas incorruptíveis. 

Décima primeira aporia: se o Ser e o Um são ou não a substância das coisas; ambas as posições apresentam dificuldades, quer o Um seja substância em si e por si, quer não seja. Em qualquer caso, não é claro como do Um as grandezas podem ser geradas. 

Décima segunda aporia: e os números, as linhas, as figuras e os pontos são substâncias ou não: se essas coisas não são substâncias, não existe absolutamente nenhuma substância e nenhum ser, pois certamente seus acidentes não podem ser chamados seres. Por outro lado, se tais coisas forem substâncias, não se vê em que corpos eles se encontram, pois é impossível que se encontrem nos corpos sensíveis e, então, não haverá nenhuma substância. 

Décima terceira aporia: se devemos admitir a existência de realidades além das sensíveis: parece ser necessário admitir a existência das Ideias para além das realidades sensíveis, embora isso crie diversas dificuldades. 

Décima quarta aporia: se os princípios são em potência ou em ato: se os princípios não existem em potência, então deve haver algo anterior a eles; mas se são potências, então seria possível que atualmente não existisse nenhum dos seres. 

Décima quinta aporia: se os princípios são universais ou se são particulares: se os princípios são universais, não podem ser substâncias, pois nenhum dos atributos universais expressam algo determinado enquanto a substância é algo determinado. Mas se os princípios não são universais, mas existem ao modo de indivíduos, não serão objeto de conhecimento. 

 

Livro Gama ou IV 

A Metafísica lida com o ser enquanto ser 

 

metafísica é o conhecimento que lida com o ser enquanto ser e as propriedades que lhe competem enquanto tal, o que a difere de todo saber particular. A investigação metafísica sobre as causas e os princípios supremos é a busca das causas e princípios de uma realidade que é por si. Assim, a metafísica busca as causas do ser enquanto ser. O ser se diz em múltiplos significados, mas sempre em referência a uma unidade e a uma realidade determinada. Algumas coisas são ditas ser porque são substâncias, outras porque são afecções das substâncias, outras porque são vias que levam à substância, ou porque são as qualidades ou até negações dos atributos ou até mesmo negações da própria substância. Por isso, até mesmo do nada, dizemos que 'é' nada. 

ser e o Usão a mesma coisa e uma realidade única, enquanto se implicam reciprocamente um ao outro. Além disso, a substância de cada coisa é uma unidade de modo que ela é essencialmente um ser. À metafísica pertence o estudo do ser enquanto ser e das propriedades que a ele se referem, e que cabe a ela estudar não só as substâncias, mas também suas propriedades, os contrários, o anterior e o posterior, o todo e a parte e outras noções semelhantes. 

À metafísica compete também o estudo dos axiomas e, em primeiro lugar, do princípio da não-contradição. O filósofo deve investigar os princípios dos silogismos e o princípio mais seguro de todos é o de que é impossível que a mesma coisa, ao mesmo tempo, pertença e não pertença a uma mesma coisa, segundo o mesmo aspecto. Do princípio da não-contradição decorre também o princípio do terceiro excluído, segundo o qual é impossível que exista um termo médio entre os contraditórios, mas é necessário afirmar ou negar, do mesmo objeto, um só dos contraditórios, qualquer que seja ele. 

 

Livro Delta ou V 

  As causas são princípios, isto é, termos primeiros a partir dos quais algo é gerado 

 

A palavra princípio pode ter diferentes significados: (i) a parte de uma coisa de onde se pode começar a mover-se; (ii) o melhor ponto de partida para cada coisa; (iii) a parte originária e inerente à coisa a partir da qual ela deriva; (iv) a causa primeira e não imanente da geração; (v) aquilo por cuja vontade se movem as coisas que se movem e mudam as coisas que se mudam; (vi) o ponto de partida para o conhecimento de uma coisa. Portanto, é comum a todos os significados de princípio o fato de ser o primeiro termo a partir do qual algo é gerado ou conhecido. 

Já a palavra causa pode ter os seguintes sentidos: (i) a matéria de que são feitas as coisas; (iia forma e o modelo; (iiio princípio primeiro da mudança e do repouso; (ivo fim ou propósito de uma coisa.  

A palavra elemento, por sua vez, pode ter os seguintes significados: (i) o primeiro componente imanente do qual é constituído uma coisa e que é indivisível em outras espécies; (ii) o que sendo um e pequeno, pode servir a muitas coisas. Comum a ambos os significados é o de que o elemento de cada coisa é o constitutivo primeiro a ela imanente. 

Outra palavra importante é natureza, que pode querer dizer: (i) a geração das coisas que crescem; (iio princípio originário e imanente, do qual se desenvolve o processo de crescimento da coisa que cresce; (iiio princípio do primeiro movimento que se encontra em cada um dos seres naturais; (ivo princípio material originário do qual é feito ou do qual deriva algum objeto natural; (v) a substância dos seres naturais; (vi) a forma. Disso fica claro que por natureza, em seu sentido originário e fundamental, significa a substância das coisas que possuem o princípio do movimento em si mesmas e por sua essência. 

Já a palavra necessário pode ter os seguintes sentidos: (i) aquilo sem cujo concurso não é possível viver; (iio que obriga e a obrigação; (iii) é necessário que seja assim o que não pode ser diferente do que é; (iva demonstração, em que a conclusão se segue necessariamente das premissas. 

Um, por sua vez, pode significar: (i) o que é dito por acidente; (iido que dizemos “um por si”. Algumas coisas são unidade quanto ao número, outras quanto à espécie, outras quanto ao gênero, outras por analogia. 

Ser pode ter os seguintes significados: (i) aquilo que é acidentalmente; (ii) todas as acepções do ser segundo as figuras das categorias; (iiiaquilo que é verdadeiro; (iv) o ser em potência ou em ato. 

A palavra substância pode significar: (i) os corpos simples; (iio que é imanente às coisas que não se predicam de um substrato e que é causa de seu ser; (iii) as partes imanentes às coisas, cuja eliminação comportaria a eliminação do todo; (iva essência. 

Outras noções importantes são: idêntico (aquilo que é o mesmo em acidente ou essencialmente), diverso (aquilo que não é o mesmo em espécie, matéria ou substância), oposto (aquilo que é contrário, contraditório, extremo ou separado), anterior e posterior (em princípio, conhecimento, propriedade), potência (princípio do movimento, da mudança ou a capacidade), quantidade (o que é divisível em partes imanentes e das quais cada uma é, por sua natureza, algo uno e determinado), qualidade ( a diferença da substância, os objetos imóveis da matemática, as afecções da substância em movimento, a virtude e o vício), relação (se diz das coisas que são relativas por si mesmas ou acidentalmente), perfeito (aquilo fora do qual não se pode encontrar nem sequer uma das partes, o bem ou todas as coisas que alcançam o fim que lhes convém), limite (o termo extremo de cada coisa, a forma, o fim de cada coisa, a essência), disposição (o ordenamento das partes de uma coisa). 

 

Livro E ou VI 

 A Metafísica também é teologia 

 

Se existe o divino, não há dúvidas de que ele é o gênero mais elevado de realidade, de modo que a metafísica pode ser entendida como teologia, sendo essa a filosofia primeira. Assim, a Metafísica também é teologia na medida em que lida com a causa dos seres divinos.  

 

Livro Z ou VII 

A substância é um princípio ou uma causa, sendo principalmente a forma. 

 

ser tem muitos significados, ser significa, de um lado, a essência e algo determinado, de outro, a qualidade, a quantidade e cada uma das outras categorias. No entanto, o significado primeiro de ser é o de essência, que indica a substância. A substância é entendida em pelo menos quatro significados principais: considera-se que a substância de uma coisa seja a essência, o universal, o gênero e o substrato 

O substrato é aquilo de que são predicadas todas as coisas. Chamamos de substrato primeiro em certo sentido, a matéria, noutro sentido a forma e num terceiro sentido o que resulta do conjunto de matéria e forma. Quanto ao significado de substância como essência, entendemos por essência de cada coisa como aquilo que a coisa é por si mesma e que consiste na definição da coisa. 

Fala-se também da substância no sentido do universal. É impossível que alguma substância seja constituída por universais, porque o universal indica somente de que espécie é uma coisa e não indica algo determinado. A substâncias não deve ser concebida como as ideias platônicas, mas sim como formas imanentes às coisas. A substância é um princípio e uma causa, no sentido da causa formal de algo. Assim, a substância é a causa da matéria, isto é, a forma pela qual a matéria é algo determinado. 

 

Livro H ou VIII 

matéria e a forma podem ser identificadas com a potência e o ato 

 

A substância é o substrato, o qual, em um primeiro sentido, significa matéria, num segundo sentido, significa a forma e num terceiro sentido, significa o composto de matéria e forma. A substância no sentido de substrato e de matéria é a substância que existe em potência, a mudança opera a passagem da matéria que possui a forma em potência para a posse da forma em ato. O ato e a forma são diferentes para as diferentes matérias. A substância é, por um lado matéria, por outro, forma e ato, e, num terceiro sentido, o conjunto de matéria e de forma 

 

Livro Teta ou IX 

 O ato tem prioridade sobre a potência e sobre todo princípio de mudança 

 

De todas as potências existentes, algumas são inatas, como os sentidos, outras são adquiridas pelos sentidos, como aprender a tocar uma flauta, e, outras são adquiridas pela instrução, como as artes. O que é em potência é, potencialmente, algo determinado, num tempo determinado e de modo determinado. Alguns seres são capazes de mover-se segundo a razão e suas potências são racionais, enquanto outros seres são privados de razão e suas potências são irracionais. No caso das potências irracionais, quando o agente e o paciente se encontram em conformidade com seu poder, necessariamente age e o outro sofre, já as potências racionais, não comportam essa necessidade. 

O ato, por sua vez, é o existir de algo. Nem todas as coisas se dizem em ato do mesmo modo, mas só por analogia: como isto está para isso ou relativamente a isso, assim como aquilo está para aquilo ou relativamente àquilo. O ato é anterior à potência. Todo ato é anterior à potência segundo a noção, pois a noção de ato, necessariamente, precede o conceito de potência e o conhecimento do ato precede o conhecimento da potência. O ato também é anterior à potência segundo a substância, primeiro porque as coisas que na ordem da geração são últimas, na ordem da forma e substância são primeiras, segundo porque tudo o que advém procede na direção de um princípio e o fim é o ato em função do qual ocorre a mudança. 

 

Livro I ou X 

O Um e o múltiplo não são o princípio de todas as coisas 

 

Os significados que indicam as coisas das quais afirmamos unidade em sentido primário e por si, e não por acidente, reduzem-se a quatro principais: (i) Um é o contínuo: seja o contínuo em geral, seja, sobretudo, o que é contínuo por natureza; (ii) Um é o que é inteiro: o que tem certa figura e certa forma; (iii) O que é Um por número: no caso o indivíduo; (iv) O que é Um por forma: o que é indivisível pelo conhecimento.  O Um e o múltiplo são opostos, assim como o indivisível e o indivisível. Ao Um pertence o idêntico, o semelhante e o igual, enquanto ao múltiplo pertencem o diverso, o dessemelhante e o desigual. 

O Um não é substância, mas predicado, pois nenhum dos universais pode ser substância. Além disso, o próprio ser não pode ser uma substância no sentido de algo uno e determinado, existindo separado da multiplicidade das coisas, enquanto ele é comum a todas as coisas, é apenas um predicado e, do mesmo modo, o um não pode ser substância, justamente porque o ser e o um são predicados universais. 

 

Livro K ou XI 

A Metafísica é também o estudo dos axiomas matemáticos. 

 

matemático desenvolve sua investigação acerca das noções obtidas por abstração, prescindindo de todas as características sensíveis, conservando apenas a quantidade, a continuidade, a uma, a duas ou as três dimensões, e estuda os atributos que lhes competem enquanto são quantidade e continuidade. Como também o matemático se serve dos axiomas comuns, mas de maneira particular, será tarefa da metafísica estudar também os princípios utilizados pelo matemático. 

 

Livro Lambda ou XII 

O Primeiro Motor como sendo o "Pensamento do Pensamento" 

 

A substância sensível é sujeita à mudança. As mudanças são de quatro tipos: (i) segundo a essência: geração e corrupção; (ii) segundo a qualidade: alteração; (iii) segundo a quantidade: aumento e diminuição, e; (iv) segundo o lugar: translação.  A matéria e a forma não se geram. Tudo o que muda é algo, muda por obra de algo e muda em algo. Aquilo pelo que ocorre a mudança é o motor próximo, o que muda é a matéria, aquilo a que tende a mudança é a forma. 

Toda substância se gera de outra que tem o mesmo nome. As substâncias se geram ou por arte ou por natureza, ou casualmente ou espontaneamente. A arte é o princípio de geração extrínseco à coisa gerada, a natureza é o princípio de geração intrínseco à coisa gerada, as outras causas da geração são privações dessas duas. As causas motoras existem anteriormente ao objeto, as causas formais só existem junto com o objeto. As causas e os princípios das coisas são individualmente diversos, mas analogamente idênticos. 

Necessariamente existe uma substância eterna e imóvel, pois se todas as substâncias fossem corruptíveis, então tudo o que existe seria corruptível. Mas é impossível que o movimento se gere e se corrompa, porque ele sempre foi, e também não é possível que se gere e se corrompa o tempo, porque não poderia haver o antes e o depois se não houvesse tempo. Portanto, o movimento é contínuo, assim como o tempo, pois o tempo ou é a mesma coisa que o movimento ou uma característica dele. 

Para que haja movimento é preciso existir um princípio motor e eficiente, que seja em ato, sem potência e privado de matéria. Há, portanto, uma substância suprassensível, imóvel e eterna, movente do universo. Existe algo que sempre se move continuamente, e é o movimento circular, de modo que o primeiro céu deve ser eterno. O primeiro movente move como o que é amado, enquanto todas as outras coisas movem sendo movidas. A primeira forma de mudança é o movimento de translação, que é circular. 

primeiro movente é um ser que existe necessariamente, e enquanto existe necessariamente, existe como Bem e, desse modo, é Princípio. Desse Princípio, portanto, dependem o céu e a natureza. E o seu modo de viver é o mais excelente e nesse estado Ele está sempre. O pensamento que é pensamento por si, tem por objeto o que por si é o mais excelente, e o pensamento que é assim maximamente tem como objeto o que é excelente em máximo grau. Deus se encontra sempre nessa condição excelente, Ele é inteligência e vida. Dizemos, assim, que Deus é vivente, eterno e ótimo, Deus é Vida perenemente contínua e eterna. 

O Princípio e o primeiro dos seres é imóvel e produz o movimento primeiro, eterno e único. Junto com o movimento simples do Todo há também outros movimentos eternos de translação, que é o movimento dos planetas. É necessário que cada um desses movimentos seja também produzido por uma substância imóvel e eterna. Por isso, é preciso admitir que existem muitas substâncias eternas e imóveis. 

 

Livro M ou XIII 

As realidades matemáticas e as ideias não são substâncias que existem de maneira separada 

 

Os entes matemáticos não são realidades que existem separadas das coisas sensíveis, pois não são anteriores às sensíveis na ordem da noção, pois são resultado da abstração das coisas sensíveis. Por outro lado, os entes matemáticos também não podem existir imanentes às coisas sensíveis. Assim, a matemática, não é um conhecimento sobre as coisas sensíveis, mas também não trata de objetos separados das coisas sensíveis.  

Quanto a doutrina socrático-platônica das Ideias, essa teoria traz uma série de problemas. O mais difícil está em que a suposição das Ideias não traz nenhuma vantagem para compreender os seres sensíveis. Pois, essas Ideias não são causa nem de movimento, nem de mudança. Além disso, as Ideias não favorecem nem o conhecimento das coisas sensíveis, nem ao ser das coisas sensíveis, dado que não são imanentes às coisas sensíveis das quais participam. 

 

Livro N ou XIV 

 É impossível que as realidades matemáticas sejam o princípio de todas as coisas. 

 

número, tanto em geral como o número composto de puras unidades, não é causa eficiente das coisas, não é essência e forma das coisas e também não é causa final delas, pois os entes matemáticos não existem separados das coisas sensíveis e não são princípios. 


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