INTERAÇÃO SOCIAL E VIDA COTIDIANA - ANTHONY GIDDENS (RESUMO)


O que se segue é um resumo do capítulo Interacção Social e Vida Quotidiana do livro Sociologia do sociólogo britânico Anthony Giddens. Neste capítulo, Giddens trata do estudo da vida cotidiana, da comunicação verbal e não verbal, da conversa e dos aspectos das interações sociais. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original. 


Independentemente de onde se viva, há coisas que fazemos diariamente geralmente sem nos darmos conta de uma forma mais ou menos desatenta. Podemos chamar esse fenômeno de desatenção civil. A desatenção civil é algo que fazemos de forma mais ou menos inconsciente, mas é de uma importância fundamental no nosso dia-a-dia. Este é um dos exemplos de um fenômeno cotidiano estudado pela Sociologia.  

Há três razões que tornam importante o estudo da interação social cotidiana(i) as rotinas do dia-a-dia, com as suas interações quase constantes com outras pessoas, dão forma e estruturam o que fazemos: através do estudo da cotidianidade, podemos aprender bastante sobre nós mesmos enquanto seres sociais e acerca da própria vida social; (ii) o estudo da vida cotidiana é revelador quanto à forma como os seres humanos podem agir de modo a moldar a realidade:  o estudo da cotidianidade nos revela que a realidade não é rígida ou estática, mas uma criação das interações humanas, esta visão pode ser denominada de noção de construção social da realidade; (iii) estudar a interação social na vida cotidiana ilumina a interpretação de sistemas e instituições sociais mais amplos: todos os sistemas sociais de grande dimensão dependem dos padrões de interação social em que nos envolvemos no decorrer das nossas vidas cotidianas. 

O estudo do comportamento cotidiano em situações de interação direta é usualmente denominado microssociologia. A análise em microssociologia centra-se em indivíduos ou grupos pequenos. É diferente da macrossociologia que se debruça sobre sistemas sociais em grande escala, como o sistema político ou a ordem económica. 

A interação social depende de uma relação sutil entre aquilo que expressamos por palavras e o que queremos transmitir através de numerosas formas de comunicação não-verbal - a troca de informação e sentido através da expressão facial, de gestos ou movimentos corporais. Um dos aspectos mais importantes da comunicação não-verbal é a expressão facial da emoçãoGestos ou aspectos da postura corporal também se mostraram característicos de todas, ou mesmo da maioria das culturas. As impressões não verbais que usamos de forma não consciente indicam frequentemente que o que dizemos nem sempre corresponde propriamente ao que estamos a sentir. 

Embora usemos rotineiramente muitos sinais não verbais no nosso comportamento e recorramos a eles para entender os outros, muita da nossa interação é levada a cabo através da fala - trocas verbais casuais - que decorre durante conversas informais com outros. Os sociólogos sempre reconheceram que a linguagem é fundamental para a vida social. A Etnometodologia é o estudo dos “etnométodos” - os métodos populares ou não eruditos - usados pelas pessoas para entender o que os outros fazem e, especialmente, aquilo que dizem. 

As formas mais inconsequentes de conversa diária pressupõem uma compreensão partilhada complexa e conhecimentos trazidos a lume pelas partes envolvidas. A fala é um elemento essencial a todos os aspectos da vida social. Algumas expressões que usamos, no entanto, não são fala, consistindo em exclamações murmuradas que podem ser chamadas gritos de resposta, como quando dizemos “Ops!”. Também podemos cometer lapsos de fala, o que Sigmund Freud denominou como “atos falhos”. Segundo Freud, cometer erros de fala, incluindo uma má pronúncia, má utilização de palavras ou gaguez, nunca é realmente um fenómeno acidental. Estes erros têm motivos inconscientes e são sintoma de sentimentos reprimidos pelo inconsciente. 

As pessoas usam a expressão facial, a expressão corporal e a fala, em combinações várias, de modo a transmitir determinados significados. Em muitas situações sociais, envolvemo-nos com outros naquilo a que podemos chamar de interação desfocalizada. A interação desfocalizada tem lugar sempre que, num dado contexto, os indivíduos mostram ter consciência mútua da presença dos outros. Quando indivíduos estão na presença uns dos outros, mesmo que não falem diretamente entre si, mantém uma constante comunicação não verbal, através da sua postura corporal, facial e gestual. Já a interação focalizada ocorre quando os indivíduos prestam uma atenção direta ao que o outro diz ou faz. 

Outro aspecto importante das interações sociais são os marcadores. Os marcadores são sinais reconhecidos para assinalar o começo e o fim de determinado encontro. Outro conceito relevante para compreender as interações sociais é a noção de papel social. Os papéis são expectativas definidas socialmente que uma pessoa com um determinado status, ou posição social, segue. Pode-se fazer uma distinção entre status atribuído e o status alcançado. O status atribuído é designado ao indivíduo com base em fatores biológicos, como a raça, o sexo ou a idade. Já um status alcançado é aquele que as pessoas ganham com o seu próprio esforço. Na sociedade, alguns status podem ter prioridade sobre outros, determinando em traços gerais a posição geral de um indivíduo na sociedade. O status que recebe prioridade pode ser chamado de status primordial. 

Grande parte da vida social pode ser dividida em regiões da frente e da retaguarda. As regiões da frente são situações sociais ou encontros em que os indivíduos desempenham papéis formais - são “atores em cena”. Já as regiões da retaguarda são aquelas onde armazenamos os adereços e os indivíduos se preparam para a interação em contextos mais formais. 

Outra noção importante de ser considerada é a de espaço pessoal. Existem diferenças culturais na definição do que é o espaço pessoal. Podemos distinguir quatro zonas de espaço pessoal: (i) distância íntima: é reservada a muito poucos contatos sociais, àqueles aos quais se permitem contato regular com o corpo, como pais, filhos e amantes; (ii) distância pessoal: é a distância normal em encontros com amigos e conhecidos relativamente chegados; (iii) distância social: é a zona normalmente estipulada para contextos formais de interação, como entrevistas; (iv) distância pública: preservada por aqueles que atuam perante uma assistência. 

Compreender como as atividades são distribuídas no tempo e no espaço é fundamentai na análise de encontros, bem como para entender a vida social em geral. Toda a interação é situada – ocorre num determinado espaço e tem uma duração específica no tempo. Nas sociedades modernas, a distribuição das nossas atividades é fortemente influenciada pelo uso de relógios e pelo tempo do relógio. 

A Internet fornece outro exemplo de como as formas de vida social estão intimamente relacionadas com o modo como controlamos o espaço e o tempo. As novas formas de tecnologia, de que a Internet é exemplo, tornaram possível que interajamos com outras pessoas que nunca vimos ou conhecemos antes, e que podem estar em qualquer parte do mundo. 

 

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