PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA
O objetivo deste texto é apresentar de maneira básica e breve a psicopatologia psicanalítica a partir da divisão de três estruturas de personalidade: a psicose, a neurose e a perversão. O livro básico usado como referência foi o Neuroses de Manuel Iguinácio Quiles.
Por volta dos três anos de idade, a criança tem a ilusão da universalidade do pênis, acreditando que tudo e todos possuem um pênis. A descoberta de que existem pessoas que têm pênis e pessoas que não têm pênis gera uma angústia pelo medo da castração. Há três mecanismos de defesa para lidar com essa angústia:
(1) Verdranngung (recalque): recalcar a castração, manter no inconsciente ideias ligadas às pulsões que ameaçariam provocar desprazer. O recalque ocorre em três momentos. Há o recalque originário, que possibilita a criação de um núcleo inconsciente no qual serão fixados os recalcados posteriores; o recalque secundário, que é o recalque propriamente dito e o retorno do recalcado, no qual o recalcado retorna na forma de sonhos, atos falhos, esquecimentos, etc. Este é o mecanismo de estruturação da neurose.
(2) Verleugnung (denegação): Recusa, renegação da castração. Há uma não aceitação da castração. Este é o mecanismo da perversão, na qual desaparecem as leis, há a possibilidade de um fetiche como substituto do pênis, ocorre uma clivagem do eu, em que uma parte aceita a castração e a outra rejeita e ocorre uma manutenção da disposição perverso-polimorfa.
(3)Verwerfung (rejeição): Recusa de que há ausência de pênis na mulher. É a rejeição, repúdio ou foraclusão da castração. É o mecanismo estruturante da psicose no qual há um transtorno de percepção, uma ruptura com a realidade e a criação de uma realidade nova.
Consideremos com mais detalhes cada uma dessas estruturas de personalidade:
PSICOSE
A Estrutura da Psicose se forma quando a criança não aceita, isto é recusa/renega (Verwerfung - rejeição), as diferenças sexuais anatômicas e, portanto, não dá inscrição psíquica a elas, rejeitando a realidade e também a ameaça de castração, ou seja, essa criança permanece com os dois objetos de prazer e amor, sua mãe e seu Falo, nesse caso, não será delimitada a separação entre mãe e criança. Há uma substituição da realidade dolorosa pelo delírio.
Como exemplos de psicose se pode citar: a esquizofrenia, que está relacionada com a fase oral primária que tem a ver com o sugar, a psicose maníaco-depressiva, que tem a ver com a fase oral secundária relacionada com o morder e devorar e a paranoia, ligada à fase anal secundária relacionada com o expulsar.
PERVERSÃO
A perversão é a estrutura oposta à neurose, na qual a libido é fixa a uma pulsão parcial como na sexualidade infantil. Existe uma oscilação constante entre duas potencialidades, no perverso, neutralizando a dinâmica do seu próprio desejo. Primeiramente o perverso está convicto de que a mãe não tem pênis, diante da castração feita pelo pai. Posteriormente, para o perverso, o horror da castração não existiria se a mãe não se comprometesse com o pai na falta de seu desejo. A partir disso, em compensação, o perverso entende a possibilidade dele não ser castrável, a partir do fantasma de um pai que não é castrável.
Na renegação, a percepção da castração é mantida, mas a representação do pênis é deslocada para outro objeto pela afirmação inconsciente de sua existência. Assim surge o fetiche, que é um substituto para o pênis materno. No perverso há uma clivagem do eu que se caracteriza pela coexistência, no cerne do eu de duas atitudes contrastantes, uma que consiste em recusar a realidade (renegação), outra, em aceitá-la.
O desafio à lei (lei da castração) tem como finalidade provar que tal lei não existe, assim, o perverso transgride a lei para provar que a mesma não existe. O perverso é levado, primeiramente, à lei do pai (e à castração) como fronteira da existência a fim de demonstrar que sempre há o risco de transpassá-la, para isso faz-se necessário então, a presença de um espectador/ cúmplice que assiste petrificado às ações do perverso, intensificando o gozo deste devido à reiteração metonímica deste terceiro inaugural que a fez nascer tanto quanto a sustentou, a mãe.
NEUROSE
A neurose é uma estrutura de personalidade caracteriza por um conflito psíquico ou luta interior entre o desejo que exige satisfação e as defesas que se opõem a ele. Esta luta interior provoca a angústia. São sintomas que aparecem em todo tipo de neurose: angústia, culpa, inibições, problemas sexuais, problemas com agressividade, fadiga, tensão, problemas intelectuais e perturbação do sono.
As neuroses se dividem em três quadros clássicos:
(i) Neurose obsessiva: tipo de neurose caracterizada por ideias obsessivas, compulsões e rituais. As ideias obsessivas são pensamentos considerados absurdos, obscenos ou ridículos que se repetem na mente do sujeito contra a sua vontade. As compulsões dizem respeito a comportamentos ridículos, sacrilégicos e criminiais que a pessoa se sente empurrado a fazer, sente vontade, mas geralmente não faz. Os rituais são cerimoniais, condutas estritamente regradas que o sujeito obriga-se a cumprir. Os obsessivos têm "crises" de culpa, são perfeccionistas ,são sujeitos supermoralistas, sempre criticando e observando na conduta dos outros tudo o que diz respeito a sexualidade, agressividade, paixões etc. São sujeitos de pensamento lógico exagerado, tendentes à intelectualização e categorização. Os principais mecanismos de defesa da neurose obsessiva são o isolamento (consiste em separar a ideia do afeto), o deslocamento (ideias e atos compulsivos se tornam substitutos de ideias e impulsos reprimidos), a anulação re-troativa (os rituais e cerimoniais obsessivos são procedimentos mágicos destinados a anular fantasias sexuais ou agressivas) e a formação reativa (as ideias e atos compulsivos revelam a tendência para o oposto, a superlimpeza revela uma tendência para a sujeira, a supermoralidade substitui tendências imorais).
(ii) Neurose fóbica: é caracterizada pela localização da angústia em pessoas, coisas e situações, que se tornam, assim, objeto de um terror paralisante. A neurose fóbica envolve a repressão de um impulso sexual ou agressivo, a projeção do impulso no externo e o deslocamento em que o impulso se disfarça em algo simbólico. Assim, a agarofobia pode esconder o medo da solidão, o erotismo do equilíbrio ou da oportunidade de aventuras sexuais "abertas". Na claustrofobia, o temido é o estreito que simboliza a excitação sexual da qual se deseja fugir. No medo de altura, a altura é simbolo do orgasmo. No medo de escuridão, a escuridão representa o espaço vazio no qual se projetam conteúdos reprimidos ameaçadores. No tímido, há fortes impulsos exibicionistas e voyeuristas reprimidos. Os temores mórbidos às doenças podem ser explicados como o medo de ser castrado por ter desejos proibidos. Já a zoofobias estão relacionadas com temores infantis.
(iii) Neurose histérica: é aquela na qual ocorre um predomínio de sintomas corporais. O histérico, mais do que os outros neuróticos, tem problemas com a sua sexualidade: há uma repressão, um recalque fundamental da sexualidade por complicações genitais. Os mecanismos específicos de histeria são o recalque (repressão) e a conversão (é a transposição de um conflito psíquico em sintomas corporais).
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