A CRIAÇÃO - NORMAN GEISLER (RESUMO)


O que se segue é um resumo da parte II do volume II da Teologia Sistemática do filósofo tomista e calvinista moderado, Norman Geisler. O assunto tratado nessa parte é a criação, a doutrina da criação é tratada tendo em vista tanto que Deus criou todas as coisas a partir do nada pelo seu poder, quanto que Deus sustenta todas as coisas e controla tudo pela sua providência. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

I. VISÕES ALTERNATIVAS SOBRE A CRIAÇÃO 

Há três visões alternativas sobre a criação: (i) materialistas: creem na criação a partir da matéria (ex materia), os materialistas geralmente acreditam que a matéria é eterna, que não existe a necessidade de um Criador e que os seres humanos não são, nem imortais, nem únicos; (iipanteístas: acreditam que a criação sai de Deus (ex Deo). Para os panteístas, não há distinção absoluta entre criatura e Criador, há uma relação eterna entre o Criador e a criação, o mundo é do mesmo “material” que Deus e os seres humanos são Deus; (iiiteístas: afirmam que a criação foi feita por Deus do nada. Os teístas creem que só Deus é eterno, que o mundo teve um começo, que o mundo foi criado do nada, que só Deus pode criar, que a criação não é eterna, que há uma diferença absoluta entre o Criador e a criação e que o nada a partir do qual Deus criou é o nada absoluto. 
É importante fazer uma distinção entre "criação a partir do  nada" e "criação pelo nada". Os teístas concordam que "do nada nada vem" no sentido de que nada pode surgir pelo nada. Os teístas observam que criação a partir do nada não é o mesmo que criação pelo nada, pois Deus criou o mudo pelo seu próprio poder. Para o teísmo, a criação do nada não significa criação pelo nada, significa, somente que Deus criou o universo sem a ajuda de qualquer matéria preexistente, mas ele criou o universo pela sua própria onipotência infinita. 
O Cristianismo adota a posição teísta. Além de ser distinta de outras visões por causa da criação ex nihilo, a doutrina cristã da criação é caracterizada por várias outras características, entre elas se incluem: (i) a fonte da criação: a fonte da criação é o Deus teísta que é uma Trindade; (iio conteúdo da criação: Deus criou tudo o que existe, todos os seres foram criados por Deus, (iiio método: a palavra de Deus é o método da criação, Deus criou todas as coisas pelo seu poder e vontade; (iii) o tempo da criação:  o universo teve um ponto inicial que é temporal e não eterno, o tempo e o espaço foram criados com o universo e; (iiio propósito da criação: o propósito de Deus para criar é para que a criatura adore a Ele.  

II. A ORIGEM DA CRIAÇÃO MATERIAL  

A criação é uma doutrina importante da Bíblia. A palavra criar (bara') é usada com relação a três grandes acontecimentos em Gênesis 1: (i) a criação da matéria (Gênesis 1.1): a matéria foi criada do nada e por Deus, a criação material é contingente, finita, espacial, temporal e boa; (iia criação dos seres vivos (Gênesis 1.21): Deus é a origem da vida, vida envolve unidade, diversidade, fecundidade, estabilidade e domínio e; (iii) a criação dos seres humanos (Gênesis 1.27): de acordo com a Bíblia, Deus criou o homem do pó da terra e a mulher a partir da costela do homem, e estabeleceu o casamento entre homem e mulher como vitalício. A natureza dos seres humanos inclui a sua dignidade, unidade de alma e corpo, e comunidade com o grupo de indivíduos. 
 A visão bíblica sobre a natureza humana nos leva a nos opormos a toda forma de racismo. A ideia que há um a raça superior, seja de qual for a cor, é contrária ao ensino mais fundamental da Bíblia. Como previamente estabelecido, há somente um a raça, a raça humana, e todos nós somos parte dela. Por fim, é importante considerar o propósito da criação da humanidade. Deus criou os humanos para glorificá-lo e para desfrutar da criação.  
Quando se discute a origem da criação material é preciso considerar o debate entre o Criacionismo e o Evolucionismo. Sobre essa discussão, é importante considerar aqui três posições: (i) Evolucionismo teísta: é a crença de que Deus usou a evolução com o meio de produzir as formas de vida física neste planeta; (ii) Criacionismo da Terra Jovem: é a crença de  que tudo foi criado em seis dias sucessivos literais de vinte e quatro horas a alguns milhares de anos; (iii) Criacionismo da Terra Antiga: creem que a criação da Terra abrange milhões e até bilhões de anos, mas negam a macroevolução.  

III. A CRIAÇÃO DAS CRIATURAS ESPIRITUAIS (OS ANJOS) 

Além do mundo material e da humanidade, Deus também criou criaturas espirituais chamadas anjos. O estudo sobre os anjos chama-se angeologia. Como Deus, os anjos são imateriais, sendo puros espíritos. Os anjos não têm gênero, são imortais, são pessoas e possuem livre-arbítrio. Eles também possuem grande inteligência, beleza e poder. Os propósitos dos anjos são glorificar e servir a Deus, refletir os atributos divinos, aprender a sabedoria e graça de Deus e ministrar aos eleitos de Deus.  
Considerando que os anjos não se reproduzem, o número de anjos é fixo desde que foram criados, a quantidade de anjos é inumerável para nós. Há um a hierarquia no grupo dos anjos bons e também no dos anjos maus (demônios). Entre os anjos bons, no topo está o arcanjo (Miguel), depois os primeiros príncipes, depois os querubins (guardiões da glória de Deus), depois seres viventes (adoradores de Deus), depois serafins (proclamadores da santidade de Deus), depois anjos comuns (mensageiros). Entre os anjos maus, a hierarquia é Satanás, reis de países, príncipes, autoridade, poderes, domínios e espíritos.  
A esfera geral dos anjos é o céu. Os anjos podem fazer coisas sobre-humanas, como percorrer grandes distâncias em pouco tempo, fazer milagres, materializar-se e não ocupar espaço. Os anjos são espirituais, criados, finitos, possuem simplicidade relativa, são eviternos e não são mutáveis na essência, mas apenas na vontade. Eles são superiores aos seres humanos, são imortais e irredimíveis. 

IV. O SUSTENTO DA CRIAÇÃO 

A criação é dependente de Deus, não só em relação ao seu vir-a-existir passado, mas também ao seu continuar existindo presente. Nesse sentido, Deus é tanto a Causa originadora quanto a Causa sustentadora de tudo que existe. Deus é a Causa inicial e a Causa conservadora de tudo o que existe. Deus foi ativo na produção e reprodução da vida. Ele foi operativo na geração do mundo, e desde então Ele tem sido operativo em governar o mundo. 
A causalidade sustentadora de Deus se deriva da própria natureza da criação na medida em que a existência da criação não é necessária, mas contingente. Deus não só continuamente age sustentando a existência de todas as coisas, mas Ele também está ativo intervindo na criação. Ele é o Sustentador da criação e o Operador na criação. Deus age no m undo de dois modos: por intervenção direta ou imediata (como na criação), e por ação indireta ou mediata (como na preservação).  

V. A TRANSCENDÊNCIA E A IMANÊNCIA DE DEUS NA CRIAÇÃO 

Deus é transcendente acima da criação e imanente na criação, quer dizer, Deus está além (ou fora) do mundo e no mundo. Isso difere o teísmo tanto do panteísmo que admite só a imanência de Deus quanto do deísmo que enfatiza só sua transcendência. A transcendência de Deus segue-se do fato de que ele é infinito, soberano e majestoso. A imanência de Deus, por outro lado, segue-se do fato de que Deus está na criação como sua causa e de que como infinito, Deus inclui em si toda a criação.  

VI. A SOBERANIA DE DEUS NA CRIAÇÃO 

Soberania é a regência de Deus sobre toda a realidade. A soberania de Deus se baseia-se em outros dos seus atributos, sobretudo a onipotência, a onibenevolência, a onisciência e a onissapiência. Considerando que Deus é Todo-poderoso, Todo-bom, Todo-conhecedor e Todo-sábio, Ele sabe a melhor coisa a fazer e tem o poder para fazer. Além disso, visto que Deus é antes de todas as coisas, criou todas as coisas, sustenta todas as coisas, está acima de todas as coisas, e possui todas as coisas, Ele é o soberano legítimo de todas as coisas. 
A soberania de Deus não contradiz o livre-arbítrio de suas criaturas livres. Mesmo sem o exercício da influência persuasiva divina nas criaturas livres, Deus pode controlar o destino de todas as coisas simplesmente pela sua presciência infalível de como cada criatura livre escolherá exercer a liberdade. 

VII. A PROVIDÊNCIA DE DEUS NA CRIAÇÃO 

Enquanto a soberania de Deus é o fato de que Deus controla todas as coisas, sua providência é o meio pelo qual Ele controla tudo. A providência de Deus se relaciona ao meio pelo qual Ele controla a sua criação para realizar a sua vontade soberana para ela. Também fala do seu cuidado pelas suas criaturas em ocasionar os seus propósitos. 
Pela sua sabedoria infinita, Deus estabeleceu uma meta definida e usará os melhores meios para alcançá-la. Por causa da sua bondade infinita, Ele se certifica de que fará o melhor pelas suas criaturas, e a sua justiça infinita torna certo que tudo seja governado com justiça, punindo o mal e recompensando o bem. A providência é o meio pelo qual isso é executado no universo. A providência é o meio termo entre dois extremos: o fatalismo, que nega o livre-arbítrio e o indeterminismo, que nega o controle de Deus.  
A providência é: (i) pessoal: porque Deus é um Ser pessoal que se preocupa com as pessoas e as coisas que Ele fez; (iipensativa:  porque Deus é um a Pessoa inteligente que pensa profundamente no cuidado da criação; (iiicuidadosa: porque Deus é um a Pessoa amorosa que cuida das suas criaturas; (iiiuniversal: porque Deus é Todo-conhecedor e Todo-amoroso e, por conseguinte, Ele conhece e cuida de tudo que Ele fez; (ivparticular: porque na onisciência de Deus nada escapa do seu cuidado onibenevolente; (v) eficaz: porque Deus é onipotente, e nada impede a realização da sua vontade; (vi) sobrenatural: porque o Deus Todo-poderoso existe além (fora) do mundo natural e pode intervir nele.  
Ante a providência de Deus, surge o problema do mal. É importante dizer que Deus permite o mal visando um propósito bom. Deus exerce controle providencial geral e particular sobre cada criatura. O mal é permitido para o fim último e bom. Nada em toda a criação escapa do olhar cuidadoso e preocupação amorosa de Deus. 


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