TEOLOGIA SISTEMÁTICA VOLUME I PARTE II - NORMAN GEISLER


       O que se segue é um resumo da segunda parte do volume I da Teologia Sistemática do filósofo tomista e teólogo calvinista moderado Norman Geisler. São tratados os seguintes assuntos relacionados à bibliologia(i) a origem e inspiração da Bíblia; (iiJesus e a Bíblia; (iiia igreja histórica sobre a Bíblia; (iv) a história da crítica bíblica destrutiva; (v) o liberalismo; (vi) a neo-ortodoxia; (vii) o neo-evangelicalismo(viiievangelicalismo(ix) o fundamentalismo extremado; (x) a historicidade e canonicidade do Antigo Testamento e; (xi) a historicidade e canonicidade do Novo Testamento. É importante colocar que este resumo é apenas uma apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A ideia é de que o texto permaneça do autor original.

I. A ORIGEM E A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA 

              A Bíblia é um livro inspirado por Deus e autoritativo em relação a (i) tudo o que diz; (ii) suas palavras. (iiseus tempos verbais e (iiiseus detalhes. Assim, a inspiração abrange tudo o que a Bíblia ensina, sugere ou implica. Pode-se definir inspiração como operação sobrenatural do Espírito Santo que por meio de autores humanos escolhidos, investiu as palavras exatas da Bíblia como idênticas à própria Palavra de Deus, inerrante em tudo o que ensina e implica, constituindo-se a autoridade final de fé e prática de todo cristão. O modus operandi da inspiração pode ser chamado de modelo de personalidades providencialmente preparadas, isto significa que Deus preordenou as vidas, estilos e personalidades dos autores bíblicos de modo que eles livremente escreveram exatamente a Palavra de Deus. Com base nisso pode-se defender a inerrância bíblica da seguinte forma:  
(1) Deus não pode errar; 
(2) A Bíblia é a Palavra de Deus; 
(3) Logo, a Bíblia não pode errar. 
       A Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana. Contra isso existem dois erros: (i) arianismo bibliológiconegação ou diminuição das características divinas da Bíblia pela afirmação de seus traços humanos; (iidocetismo bibiológicoafirmação exagerada das propriedades divinas das Escrituras pela negação ou diminuição de seus elementos humanos. Assim como Cristo é Deus-Homem, a Bíblia é divino-humana (teantrópica), no entanto, a Bíblia não é Deus e não deve ser adorada. A união teantrópica significa que a Bíblia é adaptada à finitude humana sem acomodação ao erro.  
       No entanto, é importante dizer que esta inspiração não significa que: (i) todas as partes de uma parábola transmitam uma verdade; (iitudo o que está registrado que alguém disse seja verdadeiro; (iiinão haja figuras de linguagem; (ivas afirmativas factuais sejam precisas de acordo com os padrões modernos; (v) as afirmações acerca do Universo tenham sido feitas a partir da perspectiva astronômica moderna; (vi) todas as citações das Escritura devam ser literais; (viitodas as citações das Escrituras devam ter a mesma aplicação do contexto original; (viiia verdade só possa ser dita de uma forma; (ixtudo o que o autor acreditava seja verdadeiro; (x) a verdade seja revelada de forma exaustiva; (xi) as citações impliquem a veracidade total da obra citada: (xiia construção gramatical sempre siga a forma usual. Tudo na Bíblia é igualmente inspirado, mas não igualmente importante.  
       Cabe agora refutar as objeções contra a inerrância bíblica: 
OBJEÇÃO 1: A Bíblia é um livro humano, livros humanos sempre apresentam erros. 
Resposta: Nem sempre os livros humanos apresentam erros.  
OBJEÇÃO 2: A Bíblia é um livro humano, livros humanos às vezes apresentam erros, logo a Bíblia apresenta erros. 
Resposta: A conclusão excede as premissas (non-sequitur), o fato de livros, às vezes, apresentarem erros não significa que a Bíblia apresente. 
OBJEÇÃO 3: Os seres humanos podem errar, a Bíblia é um livro humano, logo a Bíblia pode errar.  
Resposta: Os autores bíblicos quando escreveram os seus livros não estavam livres para errar já que Deus os inspirou de maneira irresistível.  
OBJEÇÃO 4: A depravação total se estende a todas as esferas humanas, inclusive à linguagem. Tendo a Bíblia sido escrita em linguagem humana, esta depravação também se estende à Bíblia.  
Resposta: A depravação total não significa total inabilidade quantitativa, homens decaídos ainda preservam a imagem de Deus. O fato do perfeito Jesus ter falado em linguagem humana mostra que é possível usar a linguagem humana sem cometer erros.  

II. JESUS E A BÍBLIA 

       Aa autoridade de Jesus foi atestada por milagres e Cristo afirmou a inspiração da Bíblia e historicidade de seus relatos. No entanto, algumas teorias críticas tem levantado objeções a isso, podemos citar:  
(1) Teoria da Acomodação: Esta teoria defendida por Johann Sember diz que quando Jesus afirmou a inerrância bíblica ele estava acomodando-se às crenças judaicas da sua época para estabelecer um ponto de partida para transmitir sua mensagem espiritual. Contra isso, pode-se apresenta três respostas: (i) o modelo pregado pela vida de Jesus revela que ele fez exatamente o contrário do que se acomodar com os ensinos falsos de sua época; (iia acomodação ao erro é contrária ao caráter incorrupto de Jesus; (iiio erro é contrário à natureza divina.  
(2) Teoria da Limitação Humana de Cristo: Esta teoria argumenta que como ser humano Jesus tinha um conhecimento limitado e se Jesus foi verdadeiramente humano em todos os aspectos, ele poderia ter tido a experiência naturalmente humana de cometer erros. Esta teoria ignora que a pessoa de Cristo, embora divina e humana, é uma só e esta pessoa não pode errar. 
(3) Teoria da KenosisEsta teoria defende que Jesus na sua encarnação deixou o atributo divino da onisciência de modo que ele desconhecia muitas verdades. Contra esta teoria, o ensino bíblico é o de que Jesus esvaziou-se de suas prerrogativas divinas, não de sua divindade. 

III. A IGREJA HISTÓRICA SOBRE A BÍBLIA 

       A inspiração das Escrituras foi ensinada pelos pais da Igreja, incluindo os pais apostólicos e subapostólicos, os pais antinicenos e nicenos e os pais medievais. Foi também ensinada por Martinho Lutero, João Calvino, Últico Zuínglio, Jacó Armínio, John Wesley, Adam Clarke e Richard Watson e por diversas declarações de fé como a Confissão de Gália, o Sínodo de Dort, a Confissão Belga, os Trinta e Nove artigos da Igreja da Inglaterra, a Confissão de Westminster, a Confissão da Filadélfia e a Declaração de Fé de New Hampshire. Até mesmo o Catolicismo Romano e a Ortodoxia Oriental sustentam a inspiração da Bíblia.  

IV. A HISTÓRIA DA CRÍTICA BÍBLICA DESTRUTIVA 

       Pode-se falar da crítica bíblica em dois sentidos: (i) baixa crítica: busca reconstruir o texto original através dos manuscritos disponíveis; (ii) alta crítica: busca descobrir qual a fonte real do texto original, pode ser positiva quando faz isso de maneira construtiva ou negativa quando faz isso de maneira destrutiva. É em relação à crítica bíblica destrutiva que esta seção pretende tratar. 
       Pode-se citar diferentes linhas filosóficas que lançaram as bases para o surgimento da crítica bíblica destrutiva: 
(1) Indutivismo de Francis Bacon: alega que toda verdade pode ser descoberta por indução e pode ser conhecida experimentalmente. Esta corrente criou uma separação completa entre o campo da razão e ciência e o campo da fé e religião.  
(2) Materialismo de Thomas Hobbes: defende que não existe infinito, que o Universo é corpóreo e é tudo o que existe. Hobbes se engajou em um processo de dessobrenaturalização do Evangelho, dizia que no campo da religião precisamos viver pela “vontade de obedecer” a religião imposta pelo Estado. Hobbes faz uma separação entre verdade espiritual (revelação divina) e verdade cognitiva (razão humana). 
(3) Anti-seobrenaturalismo de Baruch Spinoza: Spinoza acreditava que o Antigo Testamento teria sido redigido por Esdras em 400 a.C., rejeitou a historicidade da ressurreição de Cristo, acreditava que a Bíblia contém a Palavra de Deus, negou a possibilidade de milagres e negou que escritores bíblicos tivessem recebido uma revelação sobrenatural. 
(3) Ceticismo de David Hume: rejeitou a alegação de que a Escritura é inspirada, negou a divindade de Cristo e os milagres. 
(4) Agnosticismo gnosiológico de Immanuel Kant: defendeu que conhecemos somente o que aparece (fenômeno) e não o que realmente existe (númeno). Criou uma dicotomia entre fato e valor, objetivo e subjetivo e entre razão pura e razão prática que levou à posição de que mesmo que não seja possível pensar que Deus existe, podemos viver como se Ele existisse.  
(5) Romantismo: Foi uma reação ao racionalismo que reavivou a ênfase nos sentimentos, em celebridades e em movimentos heroicos do passado e não em ideias ou instituições. Este movimento tem vários representantes: Jean Jacques Rousseau, Gotthold Lessing, Johan Wolfgang von Goethe, Johan Cristoph, Friedrich von Schiller e Johann Christian Friedrich Holderlin. 
(6) Deísmo: O deísmo nega a existência de milagres sobrenaturais, nega a interação de Deus para com o mundo, afirmam ser impossível uma revelação sobrenatural. Foi defendido por Herbet de Cherbury, John TolandAntonhy Colliuns, Thomas Woolston, Matthew Tinda, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Stephen Hopkins, Thomas Paine e Immanuel Kant. 
(7) Transcendentalismo de Georg Hegel: defende que a História é o próprio desdobrar-se de Deus no mundo temporal, a apropriação progressiva do mundo por parte do Espírito absoluto. Os estágios progressivos da presença do Espírito Absoluto vão da religião à arte e da arte à filosofia ganhando mais abstração a cada nível. Enquanto na religião Deus se torna homem, na Filosofia o homem se torna Deus. 
(8) Cientificismo de August Comte: Defende um processo de desenvolvimento humano em três estágios: (i) teológico: estágio infantil e mítico; (ii) metafísico: estágio jovem e lógico e; (iii) científico: estágio adulto e positivista. 
(9) Evolucionismo de Charles Darwin:  Darwin abandonou gradualmente sua fé no Cristianismo e tornou-se um agnóstico. Substituiu Deus pela Seleção Natural. 

       Além dessas bases filosóficas, existem posicionamentos religiosos que também lançaram as bases para a crítica bíblica destrutiva: 
(1) PietismoMovimento representado por pessoas como Felipe Jacó Spener e Augusto Hermann Francke que enfatizava a importância dos sentimentos, da devoção, da simplicidade e da experiência pessoal como formas de fugir da ortodoxia fria do Escolasticismo. 
(2) Liberalismo de Friedrich SchleiermacherSchleiermacher acreditava que todos os homens têm um senso religioso de dependência do todo. Defendeu que nenhuma autoridade externa assume a precedência sobre a experiência imediata dos crentes. Rejeitou as doutrinas do nascimento virginal de Cristo, da Trindade e da Volta de Cristo. 
(3) Existencialismo de Søren Kierkegaard: embora ortodoxo, Kierkegaard acreditava que mesmo seus oponentes do Cristianismo provassem a falsidade da Bíblia (fato), os cristãos deveriam continuar acreditando na veracidade da Bíblia. 

       Mostrada as bases da crítica bíblica destrutiva, pode-se apresentar agora manifestações teológicas desta crítica: 
(1) Richard Simon: negou a autoria mosaica do pentateuco. 
(2) Jean Astrucacreditava que os capítulos 1 e 2 de Gênesis foram escritos por autores diferentes. Enfatizou as distinções entre palavras como ElohimJehovah Elohim El Elyon. 
(3) Johann Salomo Semlerprimeiro defensor da teoria da acomodação segundo a qual Cristo adaptou a sua linguagem às opiniões vigentes entre os judeus de sua época acerca do Antigo Testamento. 
(4) Gotthold Ephraim Lessingpostulou uma única fonte hebraica ou aramaica por detrás das narrativas dos Evangelhos e retratou Jesus como um Messias meramente humano. 
(5) Johann Gottfried Eichhornfez comparações científicas entre os livros bíblicos e outros escritos semíticos, dividiu Gênesis entre as fontes jeovista e eloísta e fez distinção entre o código de leis popular e o sacerdotal do pentateuco. 
(6) Heintich Eberhard Gottlob Paulustentou transformar os milagres dos Evangelhos em fatos corriqueiros. 
(7) Wilhelm Martin Leberrecht de Wetteconsiderava os milagres bíblicos como metáforas e alegorias. 
(8) David Friedrich Strauss: defendeu a tese de que os evangelhos seriam uma mitologia não-intencional criada pela piedade do início do segundo século mergulhada na expectativa messiânica do Antigo Testamento e ansiosa para provar que Jesus era o messias.  
(9) Teoria JEPD: defendida por Karl Heinrich Graf, Abrahan Keuenen e Julius Welhausen, considerava Esdras o compositor final da Torá e proporam a hipótese de que o Pentateuco tinha quatro fontes documentais: jeovista, eloísta, sacerdotal e deuteronomista 
(10) Ferdinand Christian Bauracreditava que no primeiro século houve um embate entre a tese judaizante de Pedro e a tese anti-judaizante de Paulo que fez surgir no segundo século uma síntese que é o Evangelho de João. Acreditava que apenas Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas eram epístolas autenticamente paulinas. 
(11) Rudolf Bultmandefendia uma desmitologização do Novo Testamento. Defendia que Cristo não se levantou do túmulo de José de Arimateia, sua ressurreição ocorreu foi no coração dos discípulos. Dizia que as verdades transcendentais da fé não podem fazer parte do mundo objetivo espaço-temporal.  

V. O LIBERALISMO  

       Pode-se dividir o Liberalismo em duas partes, o Liberalismo Clássico representado por L. Harold DeWolf e Harry Emerson Fosdick e o Liberalismo Neo-clássico representado pela chamada Teologia do Processo 
       L. Harold DeWolf acreditava que: (i) um certo grau de acomodação do ensino cristão à cultura é inevitável; (iia teologia natural serve para corrigir alguns dos erros produzidos pela Teologia bíblica; (iii) o leitor não deve se tornar indevidamente preocupado com passagens que parecem contradizer o conhecimento científico; (iva Bíblia em si não é a Palavra de Deus; (v) a Bíblia não é de forma alguma infalível; (vi) a inspiração é um aumento dos poderes naturais nos seres humanos; (vii) os ensinos da Bíblia devem ser interligados com os da cultura em unidade. 
       Harry Emerson Fosdick acreditava que: (i) existem livros da Bíblia que estão em níveis espirituais superiores em relação a outros; (ii) nenhuma abordagem é capaz de harmonizar de forma consistente as contradições da Bíblia; (iii) a Bíblia apresenta uma cosmologia antiquada; (iv) a teoria JEPD estava correta; (v) o Antigo Testamento exibe muitas atitudes imorais permitidas pelos homens e atribuídas a Deus; (vi) é impossível que um livro escrito de dois a três mil anos atrás pudesse ser usado hoje sem receber algum tipo de adaptação ao pensamento moderno. Posteriormente Fosdick parece ter voltado atrás neste ponto.  
       Quanto ao Liberalismo Neo-clássico pode-se citar como representante Schubert Ogden que acreditava que: (i) a Bíblia não é, nem pode ser, a nossa autorização suficiente para as verdades teológicas; (ii) o testemunho apostólico é encontrado no Novo Testamento, mas não é o Novo Testamento; (iii) precisamos reconhecer uma autoridade teológica mais elevada do que o cânon das Escrituras pois a autoridade das Escrituras seria limitada; (iva autoridade da Bíblia é funcional, não essencial, a Bíblia seria autoritativa na medida em que traz Cristo a nós; (v) o cânon da Igreja deve ser colocado no Jesus- Kerygma. 
       Embora tenha como elemento positivo enfatizar o lado humano da Bíblia, o Liberalismo se oporia à visão da Bíblia sobre si mesma, à visão de Cristo sobre a Bíblia e à visão histórica da Igreja sobre a Bíblia. Além disso o Liberalismo seria autocontraditório na medida em que rejeita as afirmações de Jesus acerca das Escrituras.  

VI. A NEO-ORTODOXIA  

       Pode-se considerar como neo-ortodoxo a reação ao liberalismo que, contudo, também rejeitou o liberalismo. Pode-se citar como exemplos deste pensamento Karl Barth que cria numa salvação universalista e acreditava que na Bíblia há superstições óbvias e contradições; Emil Brunner que dizia que seria perigoso identificar a Bíblia com a Palavra de Deus, entendendo que a Bíblia seria um instrumento pelo qual Cristo fala conosco, entendia, ainda, que a Bíblia possui contradições e imprecisões e que a revelação e a verdade seriam uma Pessoa que se revela na experiência “eu-Tu”, não um livro que só pode se experenciar na relação eu-algo e; John Baillie que entendia que a leitura inteligente da Bíblia depende da capacidade de nossa mente de distinguir a verdade imutável das preconcepções culturais e cosmológicas, imperfeições, imprecisões e contradições. 
       Embora a neo-ortodoxia esteja correta em que devemos enfatizar mais Cristo do que a Bíblia, ela é inconsistente com o ensino da Bíblia sobre si mesma, de Cristo sobre a Bíblia e da igreja histórica sobre a Bíblia.  

VII. O NEO-EVANGÉLICALISMO  
       neo-evangelicasmo é uma visão adotada predominantemente por reformados que se desvia da visão evangélica tradicional sobre a Bíblia. Seu principal representante é G.C. Berkouver que ensinava que: (i) a voz de Deus pode ser ouvida dentro da Escritura; (ii) a doutrina da inspiração orgânica seria a visão correta sobre a inspiração bíblica; (iii) a Bíblia é inspirada naquilo que foi a intenção dela comunicar; (iv) a Bíblia possui acomodações culturais, científicas e históricas e; (v) a Bíblia expressa cosmovisões míticas e antiquadas. Berkouver foi seguido por Jack Rogers que defende substancialmente as mesmas coisas.  
       Uma pessoa que poderia ser colocada aqui entre os neo-evangélicos, apesar de parecer não se encachar exatamente em nenhuma posição, é C.S. Lewis que cria que(i) a voz de Deus pode ser ouvida no Antigo Testamento mesmo que terrivelmente distorcida pelo instrumento humano; (ii) a literatura é o material humano ou veículo da Palavra de Deus; (iiia Bíblia contém erros, mitos, contradições, ingenuidades e impiedades; (ivJó, Jonas e Ester não são livros históricos; (v) alguns salmos são antirreligiosos, impiedosos e diabólicos e a maior parte dos salmos são do sexto século antes de Cristo; (vi) os milagres do Antigo Testamento podem ser mitos; (viiDeus primeiro se revela em mitos e então na história e(viii) o Evolucionismo teísta é correto.  
       Embora tenha como elemento positivo enfatizar o lado humano da Bíblia, o neo-evangelicalismo se opõe à visão da Bíblia sobre si mesma, à visão de Cristo sobre a Bíblia e à visão histórica da Igreja sobre a Bíblia. Além disso o Liberalismo seria autocontraditório na medida em que rejeita as afirmações de Jesus acerca das Escrituras. 

VIII. EVANGELICALISMO 

       Evangelicalismo pode ser entendido como uma continuação da visão ortodoxa histórica sobre a Bíblia, é a visão de que a Bíblia é inerrante e inspirada podendo ser chamada de Palavra de Deus. Os representantes desta visão são Francis Turrentin, Jonathan Edwards, George Whitefield, Charles Hodge, Archibald Alexander Hodge, Benjamin Breckinridge WarfieldEvangelicalismo está em acordo com o testemunho das Escrituras, a Igreja histórica e o bom raciocínio. 

IX. O FUNDAMENTALISMO EXTREMADO 

       O fundamentalismo extremado é uma reação exagerada ao liberalismo. É representada por pensadores com ideias diversas como John Rice que se opôs à alta crítica, Peter Ruckman acreditava que a Bíblia King James era a Palavra de Deus e poderia ser usada até para corrigir o texto grego. Este tipo de visão pode ser considerada uma forma de docetismo bibliológico. 

X. HISTORICIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO 

       Há uma grande abundância de manuscritos do Velho Testamento. No século XVII, Kennicott apresentou uma lista de 615 manuscritos e Giovani de Roseli, uma de 731 manuscritos. Em 1890 foram encontrados 10.000 manuscritos em Genizá e em 1947 encontrou-se 600 manuscritos no mar morto. A segunda coleção de Firkowitch de Leningrado contém 1582 itens da Bíblia e dos massoretas. O texto hebraico padronizado do Antigo Testamento produzido por escribas judeus entre os séculos V e IX é chamado de “Texto Massorético”. 
       Embora a maior parte dos manuscritos veterotestamentários datem entre os anos 800 a 1.100 d.C., algumas cópias recebem uma datação até mesmo anterior a feita por liberais. Os rolos do Mar Morto datam do século III a.C. e o Papiro de Nash está entre o século II a.C. e o século I d.C. Os grandes manuscritos do Antigo Testamento são: (i) Oriental 4445: Contém a maior parte do Pentateuco; (iiCódice do Cairo: Contém a maior parte do restante do Antigo Testamento; (iii) Códice de Leningrado: Contém todo o Antigo Testamento; (ivCódice Babilônico: Contém os Profetas posteriores e; (v) Códice Reuchlin: Contém os profetas. 
       A precisão dos Manuscritos do Antigo Testamento pode ser reconhecida devido às rígidas regras às quais estavam submetidos os copistas. Pode-se averiguar essa precisão pela correspondência das passagens paralelas e pela comparação com a LXX (250 a.C.) e o Pentateuco Samaritano (séc. IV a.C. ou II a.C.). Quando se compara o Texto Massorético com os manuscritos do Mar Morto, mesmo tendo uns 1.000 anos de distância, há uma identidade de 95% entre eles. Isto é, não houve mudanças significativas mesmo depois de mil anos de cópias. Evidências arqueológicas apoiam a historicidade dos registros do Antigo Testamento. 
       O cânon do Antigo Testamento possui 39 livros conforme o Cânon da Palestina visto que os judeus devem ser considerados os detentores do limite do seu próprio cânon. O Novo Testamento não reconhece os livros apócrifos como Escritura, tais livros foram canonizados pela Igreja Romana no Concílio de Trento em 1546. Os protestantes aceitam os apócrifos como tendo alto valor histórico, mas não como inspirados. 

XI. HISTORICIDADE DO NOVO TESTAMENTO 

        O Novo Testamento é o escrito antigo mais bem documentado, possuímos aproximadamente 5700 manuscritos gregos, tendo manuscritos com datação bem antiga como o John Rylands P52 (117-138a.C.).  Bruce Metzger defende que o Novo Testamento está 99,5% intacto e John Robinson avalia esse nível de precisão em 99,99%. Os pais da Igreja fizeram 19368 citações do Novo Testamento que também corroboram sua veracidade e permite conhecer o texto original. 
       O cânon do Novo Testamento é constituído pelos livros escritos por apóstolos (ou por autores autorizados pelos apóstolos, isto é, por aqueles que viram Cristo ressurreto) cuja mensagem foi atestada por sinais extraordinários. A lista oficial dos 27 livros como o cânon completo do Novo Testamento é confirmada pelos Concílios de Hipona e Cártago (410). 


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